quarta-feira, junho 21, 2006

Um grande desabafo do Timor Verdade

Só para desabafar...

Mais uma reflexão.

Em toda esta questão há que dizer que têm sido muitos os esquemas para paralisar a máquina do Estado. A intenção inicial foi estabelecer a mudança por dentro, no seio da FRETILIN, com uma pseudo-candidatura do embaixador timorense nos Estados Unidos e junto da ONU. Esta vinha sendo preparada com bastante cuidado e com contactos nos Estados Unidos e em Timor-Leste. Há encontros e reúniões, telefonemas que dão conta da estratégia. No entanto, em sede própria - gostemos ou não da mão no ar - os membros da FRETILIN disseram não à mudança no seio do partido e afirmaram o que pretendiam do partido.

Nesta cena estava a manobra dos que no tempo vinham apontando o dedo a Mari Alkatiri. Não vai longe na distância aqueles que se comprometiam com empresários no estrangeiro - dizendo de viva voz que era garantido o negócio a adjudicação -, mas que depois Mari Alkatiri (titular da pasta do investimento externo) não dava seguimento. Foram visitas às centenas...

Durante muito tempo a "luva" foi tentando mas não o conseguiu. Houve sempre quem apanhasse o "peixe antes de descongelado".

O investimento externo ficou em causa - alías, sempre o ficou quando estava à beira de se concretizar, com alertas de instabilidade de terroristas e de políticas internas frágeis - e o ministro do desenvolvimento - numa acção de democrata veio ligeiro demitir-se e garantir não haver espaço para o investimento no país. Logo a seguir colocou-se, "milagrosamente" ao lado de José Luis Guterres e fez-se rodear de pessoas como um ex da sua confiança não reconduzido na remodelação do Governo (César). Por sinal, este grupo mostrou-se dentro da FRETILIN e soube-se logo o porquê de estarem contra a actual liderança...

A crise "peticionária" veio a "bom motor", mas trouxe "maus ventos" e "piores casamentos".

A ambição de uns arrastou outros. É o caso de Gastão Salsinha - o promotor de crime de alta traição ao perpetrar uma tentativa de golpe de Estado. Foi ele que trouxe as armas para a rua e desde a primeira hora exigiu a demissão do primeiro-ministro. Estes homens recusaram sempre a primeira comissão organizada e sugerida pelo Presidente da República. Também rejeitaram a segunda, já com o envolvimento da Igreja Católica. A intenção não era resolver supostos assuntos internos da instituição militar, mas sim fins políticos a soldo de alguém - sejam pessoas, partidos ou até mesmo países.

Gastão Salsinha foi o braço armado de um golpe que tinha em si várias opções/soluções de concretização. Uma delas era a queda e eliminação pura e dura do primeiro-ministro e seus pares. Mas Gastão hoje está a ser poupado pelos seus pares, o seu papel chegara ao fim com a entrada em cena de Alfredo Reinado. Este último mais elaborado, mais esclarecido e até mesmo mais instruído pelos amigos australianos - que aliás conhece perfeitamente.

Gastão tinha de sair de cena pois a sua incompatibilidade militar era facilmente derrubada pelo crime de contrabando que o perseguia. A sua não promoção só a isso mesmo se deveu.

Reinado surge na sequência de confrontos em TaciTolo. Pois bem, confrontos que colocaram de um lado desertores armados e bem armados e militares em nome da Lei - não interessa se o primeiro-ministro falou ou não com Xanana Gusmão, se o tinha de o fazer, se o fez e não conseguiu-, a verdade é que não houve confrontos contra civis desarmados. Os que lá estavam tinham poder de fogo e alguém os armou. Foi Rogério Lobato? Claro que não, foram os peticionários/desertores e a sua "retaguarda". Também foi Alfredo Reinado a abrir fogo sobre as forças regulares de Defesa Nacional - mas isso não é crime. Reinado até recebeu os parabéns...

Os dias passaram e os confrontos repetiram-se. Uns teimavam em entrar na cidade - em cumprimento de um golpe de Estado armado -, outros insistiam em não os deixar. A lei e a democracia, as instituições de direito estavam a ser protegidas. Não havia confrontos bairro a bairro, não havia saque, não havia pilhagens e não havia um problema humanitário. Havia sim o medo das populações pelos homens armados que tentavam alterar a ordem democrática.

Mas havia outra motivação nos insistentes tiroteios e notícias de invasão à cidade publicitadas pela agência LUSA, aravés do seu jornalista/delegado em Dili, Eduardo Lobão: era necessário insistir numa toada de revolta sem controlo pelo Estado para permitir a entrada dos australianos. Sim dos australianos apenas e só. Até a mulher australiana do presidente dava entrevista a demonizar Alkatiri, apenas e só Alkatiri.

Eram eles que queriam entrar e que andavam há semanas a dizerem ao mundo e aos amigos timorenses que tinham forças preparadas para entrar no país - quais salvadores de uma pátria que não precisava deles para resolver os seus problemas internos.

Acabaram por entrar e com eles veio a confusão, a destruição e o medo a sério. Afinal, os maus estavam já protegidos e assim continuam.

Internamente o conflito assume proporções de crise política. Tentam paralisar o Governo, a administração pública e a máquina não sucumbe por mérito dos chefes principais que não arredaram pé e por força dos cooperantes portugueses que se mantiveram nos seus postos de trabalho.

Xanana gusmão chama a si a segurança, a defesa. Xanana Gusmão acaba por ter de reconhecer que está a trabalhar com o primeiro-ministro em "estreita articulação e cooperação institucional".

Mas Xanana Gusmão acaba por chamar também a si um constitucionalista, Pedro Bacelar Vasconcelos e este voa do aeroporto directamente de helicoptero para Balibar, está por lá até às nove da noite. Chega ao Hotel Timor pelas nove e meia. Trazido por Agio Pereira o chefe de gabinete do presidente da República.

Ao longo dessas horas de avaliação, análise da Constituição, Xanana Gusmão acaba por entender não ser fácil dissolver o Parlamento Nacional - a Constituição estava "armadilhada" nesse artigo.
Pedro Bacelar Vasconcelos só podia ajudar a fazer cumprir o Estado de Direito e não o contrário. Foi uma intervenção silenciosa mas eficaz perante a carta Magna da RDTL.

Então qual o passo seguinte? Confirmar a paralisia nacional. Dar um Parlamento sem quórum e um Governo sem departamentos que funcionassem. Falhou.
Francisco Guterres (Lu'olo) conseguiu fazer valer o seu peso e o Parlamento reuniu com quórum.

Entretanto, dentro e fora de Timor-Leste eram bastas as informações falsas sobre o posicionamento do Governo e a eventual demissão de Alkatiri. Mas o que estava em questão era a própria FRETILIN, as suas vitórias e possibilidade maior de a repetir para o próximo ano. Todos sabemos que no próximo parlamento mais de metade dos deputados da oposição não terão lugar, os seus partidos iriam e serão extintos pelo voto popular. Havia que evitar tudo isso e a FRETILIN era o mal maior.

As teias desta engrenagem foram longe demais.

O Conselho de Ministros também se reuniu e continuou a reunir - mesmo com australianos fardados a ocuparem os corredores e varandas do palácio do Governo sem autorização dos "donos da casa".

Nas entrelinhas fica um Conselho de Estado (CE) deliberativo, realizado a pedido do primeiro-ministro, do qual resulta não o recolher obrigatório, mas sim medidas restritivas às populações de Dili e que nunca foram cumpridas pelas forças internacionais - propositadamente, é claro.

Nesse histórico Conselho de Estado - acompanhado de manifestação à porta, bem orquestrada e organizada por pessoas que têm responsabilidades na vida política do país - Mário Carrascalão e outros, poucos, apelavam para a queda do Governo, para a demissão de Mari Alkatiri. Foi um dia inteiro e com uma palavra de ordem: demissão do Governo. Não conseguido, pois Xanana Gusmão, não votou essa ordem favoravelmente, surgiu a inevitavel demissão de Rogério Lobato e de Roque Rodrigues - foi o melhor que se arranjou.

O deliberativo CE dava um documento a conhecer com uma mensagem à Nação por Xanana Gusmão as medidas encontradas, mas omitia a exigência de demissão de dois ministros.

Os ministros demitiram-se, mas não foi o ponto final.

A novela continuou e vai continuar.

Dentro do Governo surgiram vozes não demissionárias que nunca pararam de se opor ao seu próprio primeiro-ministro. A saga da assinatura de acordos com as tropas australianas, onde se lhes dava poderes totais para a segurança, obrigando a acantonar a F-FDTL, e a subjugar a GNR às ordens asutralianas. Tudo isso foi conseguido, até mesmo se permitiu o transformar de grupos rebeldes em defensores da democracia e do Estado de Direito.

As tropas entraram a pedido de um Estado para ajudar a repor a ordem constituicional, mas entraram para impor a alteração constitucional. E é isto que magoa. Os timorenses mais uma vez não são donos do seu próprio destino.

Nesta orquestra, onde os músicos são muitos, há pautas que ainda não foram descobertas e há músicos que se escondem por detrás da névoa de prémios e condecorações internacionais bastas - mas, para quem acompanha Timor-Leste e dá de si pelo povo, sabe bem que o "maestro" nem fala tétum...

- continua um destes dias, creio...

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7 comentários:

Anónimo disse...

Excelente comentário!
Há um remédio para esta crise. Fazer valer o Estado de Direito e dizer em alto e bom som que é a população timorense que elege os seus representantes, e não deliquentes acobertados por metralhadoras e arrogancias.
AC
Br.

Anónimo disse...

CONCORDO!

E...MAIS?

QUAL SERÁ O PRÓXIMO EPISÓDIO?

POBRE TIMOR-LESTE!

Anónimo disse...

Parabens por este comentario pois ajuda a qualquer leitor a compreender que o "complot" pretendido como sendo da iniciativa timorense esta sob a orientacao dos estrategas da regiao. Mari Alkatiri, o homem que defende a soberania total do estado timorense FRETILIN, nao lhes convem...
Tenho apenas duas correcccoes a fazer ao comentario. O Conselho de Estado nao tem caracter deliberativo. E apenas um orgao consultivo. Quanto ao Salsinha e ao Reinaldo, os primeiros peoes avancados dos estrategas da regiao, o segundo, acompanhado por dezasseis homes, abandonadoram os seus postos armados. O Salsinha saiu desarmado assim como os restantes peticionarios. O General Matan Ruak considerou o caso do Reinaldo mais grave do que o do Salsinha. Sera que estava errrado ao afirmar isto em entrevista concedida a TVTL?

Anónimo disse...

Gusmao tells Alkatiri to quit over guns

Wanted ... Rogerio Lobato.
Photo: Andrew Meares
EAST Timor's political crisis was moving to a head last night with prosecutors yesterday ordering the arrest of the dismissed interior minister, and the President asking the Prime Minister to resign.
East Timor's Prosecutor-General, Longuinhos Monteiro, issued an arrest warrant charging former interior minister Rogerio Lobato with issuing 17 police assault rifles to former anti-Indonesian guerillas linked to the ruling Fretilin party, allegedly to form a hit-squad against rivals.
The President, Xanana Gusmao, has written to the Prime Minister, Mari Alkatiri - reported to have authorised the arms transfer - asking him to take political responsibility and resign or step aside while the allegations are investigated.
The President has convened the Council of State, a body of senior figures nominated by himself and the parliament, for a meeting today at which he is expected to press the resignation demand.
After United Nations prosecutors assembled testimony taken from the alleged Fretilin hit squad at their mountain hide-out on Monday, Mr Lobato attempted to flee the country yesterday morning, high-level government sources said.
His name was listed on the passenger manifest of a regular Air North flight to Darwin, but he was told he could not board because Canberra had blocked his entry to Australia.
Yesterday evening, Mr Lobato was still at large in his ministerial villa, and had gone to talk with Mr Alkatiri at his neighbouring residence in Dili's Farol district.
The interior minister was dismissed three weeks ago after the 3500-strong police force disintegrated and took sides in fighting between army factions. The leader of the alleged Fretilin hit squad, Vicente de Conceicao or "Commander Railos", told prosecutors they were given 17 assault rifles in early May by police acting on Mr Lobato's orders.
In the ABC's Four Corners program on Monday night, Mr Railos said he had been given orders on May 7 by Mr Lobato, in the presence of Mr Alkatiri, to eliminate political rivals.
But Mr Alkatiri yesterday indicated he would fight the allegations, and would resist growing calls for him to resign.
Mr Alkatiri said he had told Mr Railos, a delegate from Liquica, that Fretilin activists were being threatened by other groups in villages. Mr Alkatiri said he had suggested Fretilin form "popular security" arrangements for themselves but should not be armed.
In a bizarre twist, Mr Railos telephoned Mr Alkatiri yesterday morning and said he wanted to surrender his guns to Mr Gusmao. Mr Alkatiri said that, in reply, he suggested the guns should be given immediately to the police or the Australian-led military force.
Fretilin leaders yesterday expressed full support for Mr Alkatiri at a belligerent press conference at the headquarters of the party central committee.
In an interview with the Jakarta Post on Monday, Mr Alkatiri said: "If I resign now, it's going to increase tension, because of my supporters."

Sydney Morning Herald

Anónimo disse...

Pelos vistos o próximo episódio começou já iniciado com a tentativa de fuga do ex- Ministro do Interior para Darwin. O desespero começa a revelar-se.

Anónimo disse...

A lusa confirma que o acesso a casa do Ex Ministro do Interior esta a ser bloqueado por blindados australianos e que "Segundo o jornal australiano The Australian, o antigo ministro do Interior terá tentado abandonar o país, com destino a Darwin, na Austrália, mas o seu passaporte foi apreendido quando tentava embarcar no avião." lusa

Anónimo disse...

Quantos mais vão abandonar Timor-Leste?

Abandonado por Portugueses e por toda a comunidade internacional noutras alturas, eis chegada a hora de ser abandonada pelos próprios timorenses?

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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