The Australian
Nick Cater December 27, 2007
THE shy young Timorese woman lifted her top to reveal four-year-old scars from her encounter with the SGI, the Indonesian army intelligence service.
At the age of 18, Ilisiga had spent five hours behind the unmarked gates at the SGI's Dili headquarters after the 1991 massacre at the Santa Cruz cemetery. The bruises from the kicking and punching had gone but there were deep weals on her back and legs from the thrashing she received with a barbed-wire whip.
When I met her in September 1995 she was in hiding, moving from safe house to safe house like hundreds more East Timorese who had dared stand up to the Indonesian occupiers.
I had entered occupied East Timor on a brand-new passport, giving my occupation as teacher. But, from the moment I stepped off the flight from Denpasar, the only Caucasian on board, I knew they were watching. Only later did I discover how closely.
For three days I travelled the occupied country, sometimes in the boot of a c
ar, to prearranged meetings with priests and former prisoners of the SGI, investigating the brutal repression used by the Indonesians to control the annexed state.
I heard familiar tales of torture, men and women suspended by their fingers, fingernails ripped out, electric shocks, a prisoner forced to eat his own excreta.
On my third night I dined alone at a Portuguese restaurant, savouring half a bottle of Dao, as two military men finished their meal and left without paying. "That is how they behave here," the restaurant owner said. "If we gave them a bill, there would be trouble." I left a generous tip and half a bottle of red wine, promising to return to finish it the following evening.
On the fourth day I was feeling confident, cocky even. The SGI must be stupid, I thought, if they can't spot a foreign journalist in their midst. Before breakfast I went for a stroll, planning to take a sneak picture of the SGI house of torture, the hated symbol of repression.
"Where do you come from mister? Where are you going?" It would be an innocent enough inquiry in most cities in Asia, but in occupied East Timor it was a question which invited an evasive response.
As I slipped my camera from my pocket, two men dressed in civilian clothing who had been loitering outside the SGI headquarters ran after me. You are a spy, they say. You have been taking photographs. Give me your camera.
In an inspired gesture of defiance, I opened the back of the camera and pulled the film off the spool. Photographs? No, I'm just a tourist. See for yourself. One man grabbed the camera, the other pinned me to the wall. What is your name?
"Nick," I replied. "Yes, Nicholas. Nicholas Cater."
He proceeded to tell me the name of the town I had visited the day before, making a mockery of my efforts to avoid being tailed.
For two hours they interrogated me, pushed up against the bonnet of a police vehicle in the courtyard. You are not a teacher. You are a spy. Where have you been in East Timor? Write it all down. This is big trouble for you. We can keep you here as long as we like. No one knows where you are.
I was shaking, but I kept my nerve. Eventually a man arrived with my film, back from the processor, blank of course, thanks to the sun which had erased the pictures of Ilisiga and her scarred back. Thank god.
My captors conferred. An immigration official who had been summoned to watch my interrogation said he would give me a lift. To the airport. We stopped at the Hotel Turismo to collect my bags. No time to wait for your laundry, the officer said. You have a plane to catch. Like my half-bottle of Dao at the restaurant, two T-shirts and a pair of shorts became my gift to the local economy.
On the way to the airport he introduced himself as Arief and told me his story. A civil servant from Java, Arief was missing his family.
"The Timorese call us Kapan Pulang," he told me. "In their language it means: 'When are you going home?"'
As we sat in the departure terminal, Arief produced a picture from his wallet of his pretty wife in a headscarf, with twin boys. I showed him a picture of my son and daughter, looking spruce and angelic in their Hong Kong school uniforms. By the time the flight was called I felt as if we were old friends. "This is a beautiful country," I told him. "But I will be pleased to leave."
"So will I," Arief replied. "So will I."
Nick Cater was based in Hong Kong as News Limited's Asia correspondent from 1993 to 1996.
Tradução:
Exposto como espião, depois um golpe de sorte
The Australian
Nick Cater Dezembro 27, 2007
A tímida jovem Timorense levantou o seu top para revelar cicatrizes com quatro anos do seu encontro com o SGI, o serviço de informações das forças armadas Indonésias.
Quando tinha 18 anos, Ilisiga passou cinco horas por detrás da porta não marcada da sede do SGI em Dili depois do massacre de 1991 no cemitério de Santa Cruz. As nódoas dos socos e pontapés já desapareceram mas tinha profundos vergões nas costas e pernas por causa dos golpes que recebeu de um chicote com arame armado.
Quando me encontrei com ela em Setembro de 1995 ela estava escondida, a mover-se duma casa clandestina para outra como centenas doutros Timorenses que tinham ousado enfrentar os ocupantes Indonésios.
Tinha entrado no Timor-Leste ocupado com um passaporte novo, onde constava que era professor. Mas, desde o momento em que desembarquei do voo de Denpasar, sendo o único Caucasiano a bordo, soube que estavam a vigiar-me. Apenas mais tarde descobri de quão perto.
Durante três dias viajei através do país ocupado, às vezes no fundo de um carro, para arranjos pré-combinados com padres e antigos presos do SGI, a investigar a repressão brutal usada pelos Indonésios para controlarem o Estado anexado.
Ouvi histórias familiares de tortura, homens e mulheres suspensos pelos dedos, unhas arrancadas, choques eléctricos, um preso que foi obrigado a comer os seus próprios excrementos.
Na minha terceira noite jantei sozinho num restaurante Português, saboreando metade de uma garrafa de Dão, quando dois militares acabaram de comer e partiram sem pagar. "Era assim que se comportavam aqui," disse o dono do restaurante. "Se lhe passássemos a conta, haveria problemas." Deixei uma gorjeta generosa e meia garrafa de vinho tinto, prometendo acabá-la no regresso na noite seguinte.
No quarto dia, sentia-me confiante, mesmo atrevido. O SGI deve ser estúpido, pensava, se não conseguem topar um jornalista estrangeiro no meio deles. Antes do pequeno almoço dei um passeio, planeando tirar uma foto da casa de tortura do SGI, o símbolo odiado da repressão.
"Donde é que vem, senhor? Aonde é que vai?" Seria um interrogatório suficientemente inocente na maior parte das cidades na Ásia, mas no Timor-Leste ocupado era uma pergunta que pedia uma resposta evasiva.
Enquanto escondia a minha câmara na minha algibeira, dois homens em roupas civis que andavam a rondar perto da sede do SGI correram atrás de mim. És um espião, diziam . Tens andado a tirar fotos. Dá-nos a tua câmara.
Num gesto de desafio inspirado, abri a parte detrás da câmara e tirei o filme. Fotos? Não, sou apenas um turista. Vejam vocês mesmos. Um homem agarrou a câmara, o outro puxou-me contra o muro. Como é que te chamas?
"Nick," respondi. "Sim, Nicholas. Nicholas Cater."
Prosseguiu dizendo-me o nome da cidade que tinha visitado na véspera, troçando dos meus esforços para evitar ser apanhado.
Durante as duas horas em que me interrogaram, empurraram-me contra o capô de um carro da polícia no pátio. Não é professor. Onde é que estiveste em Timor-Leste? Escreve lá tudo isso. Isso é um grande problema para ti. Podemos guardar-te aqui o tempo que quisermos. Ninguém sabe onde estás.
Estava a tremer, mas mantive a calma. Eventualmente chegou um homem com o meu filme, de volta do processador, sem nada, obviamente, graças ao sol que tinha eliminado as fotos da Ilisiga e das suas costas com cicatrizes. Graças a Deus.
Os meus captores conferiram. Um funcionário da imigração que tinha sido chamado para observar o meu interrogatório disse que me daria uma boleia. Para o aeroporto. Parámos no Hotel Turismo para recolher as minhas malas. Sem tempo para esperar pela roupa lavada, disse o funcionário. Tens que apanhar um avião. Tal como a minha meia garrafa de Dão no restaurante, duas T-shirts e um par de calções tornaram-se a minha oferta para a economia local .
A caminho do aeroporto ele apresentou-se como sendo Arief e contou-me a sua história. Um funcionário público de Java, Arief tinha saudades da sua família.
"Os Timorenses chamam-nos Kapan Pulang," disse-me. "Na linguagem deles isso significa: 'Quando é que voltas para casa?"'
Quando nos sentávamos no terminal das partidas, Arief tirou uma foto da carteira, com a sua bonita mulher com lenço na cabeça, e dois filhos gémeos. Mostrei-lhe uma foto do meu filho e filha, com ar de ajuizados e angélicos no seu uniforme escolar em Hong Kong. Na altura em que fui chamado para embarcar, senti-me como se fôssemos velhos amigos. "Este é um bonito país," disse-lhe. "Mas terei prazer em sair."
"Também eu," respondeu Arief. "Também eu."
Nick Cater esteve baseado em Hong Kong como correspondente de News Limited's Asia de1993 a 1996.