sexta-feira, março 06, 2009

“Sem medo da vida”

Expresso.pt
Fev 2009 (um ano após os atentados em Timor-Leste)

“ Sem medo da vida”
Sónia Neto

Esta é a história de uma tarde em que estive com J., que quis escapar à vida e com Ramos-Horta, que acabara de escapar à morte. Unia-os uma ideia de dever. Um, para com a sua família, o outro para com o seu povo. Desde a morte do meu pai, nunca tinha tido um dia assim tão forte.

Durante meia hora J., paquistanês, não largou a mão de Atul Khare, o indiano que o Secretário-Geral da ONU escolheu para seu Representante Especial em Timor-leste.

Deitado numa cama de hospital em Darwin, uma perna engessada, o corpo cheio de marcas, aperta a mão do seu chefe. J. está ao serviço da ONU. Pede perdão por ter querido morrer.

Foi para o Suai, um lugar isolado da ilha, está só e não fala a língua local. A mulher foi para as Filipinas com a filha e ele foi em missão proteger os timorenses de si mesmos e ganhar para sustentar a família, tentando sobreviver à solidão. Por pouco não conseguia.

A corda chegou a estar pendurada e presa ao pescoço, mas alguma coisa aconteceu, não interessa o quê, e ele está ali, na cama do hospital de Darwin. Vivo.

Meia hora depois, a mesma mão é de novo apertada, com a mesma força. Ramos- Horta está deitado numa cama do mesmo hospital. Não tem por que pedir perdão, é a si que devem um pedido de desculpas, mas está tão triste quanto J.

Nunca quis morrer, mas quiseram matá-lo e ele não percebe porquê. A ele, que era o mediador, que, tal como J. tentava proteger os timorenses de si próprios, do seu passado, do seu futuro por experimentar. Aperta com força a mão de Atul Khare, como se pudesse chorar, aperta com força a minha mão, como se soubesse que eu chorava por dentro, e ouve o relato do que aconteceu nas últimas semanas.

Ramos-Horta fora eleito presidente e Xanana Gusmão, embora não liderasse o partido mais votado, tinha reunido uma coligação e encabeçava agora o novo governo. Depois da tomada de posse a situação parecia ter acalmado. Durante vários meses não tinha havido nenhum incidente grave, mas havia tensão, havia dúvidas e havia a vontade de não repetir o erro de deixar a ONU sair antes do tempo. Por isso a ida a Nova Iorque. A ONU só podia sair de Timor quando os timorenses estivessem em paz consigo.

Trinta horas de voos de Díli até Nova Iorque, para participarmos numa reunião do Conselho de Segurança onde se ia discutir o prolongamento da missão da ONU em Timor e trinta horas de voos de regresso imediato. E foi então que chegaram as notícias, trinta horas depois de termos partido. Atentados em Timor. Tentaram matar o Presidente. A reunião do Conselho de Segurança que estava marcada foi cancelada mas imediatamente seguiu-se-lhe uma outra para se condenar os atentados, à qual assisti incrédula e sem querer acreditar no sucedido.

O Representante Especial do Secretário-Geral, sempre com sentido de missão, regressou ao seu posto, mas foi preciso quase um mês até que Ramos-Horta saísse do coma induzido e pudesse receber visitas oficiais.

Dia 3 de Março, embarcámos de Díli para Darwin. Depois de visitar J., atravessámos os corredores, até encontrarmos Ramos-Horta. Que alegria, que revolta, que tristeza.
No seu quarto, ainda nos cuidados intensivos, conversámos pausadamente, muito pausadamente, como as batidas do seu coração. As nossas mãos, essas, estavam muito apertadas às suas, como se nós próprios lhe quiséssemos segurar a vida. Nesse dia, Atul Khare combinou que passaria a vir a Darwin reunir com o Presidente da República de Timor-Leste todas as semanas.

Nos dias seguintes voltei ao hospital, falámos de Timor, dos timorenses, das suas lutas. Ramos-Horta perguntou por Durão Barroso e pelas coisas na Europa e quis notícias das eleições na América. Que alivio o meu, o de sentir que as balas que o atravessaram, não lhe tinham levado o interesse natural e a astúcia politica de se manter informado acerca do que se estava a passar na cena internacional. Naquele momento estava perante o Ramos-Horta com quem trabalhei e convivi durante 6 anos. Momentos mais tarde, recordou-se o atentado, fez-se silêncio, li-lhe emails que lhe dirigiam de várias partes do Mundo, houve vontade de chorar e houve sorrisos. Mas nunca houve um riso aberto, sonoro, como os que Ramos-Horta costumava dar. Desde os atentados, nunca mais o vi rir como antes.

Passadas umas semanas J. voltou a Timor, sozinho, mas desta vez ficou em Díli. Afinal um soldado tem de sobreviver aos seus medos.

Mais tarde, Ramos-Horta regressou também a Díli, frágil mas com uma titânica determinação em prosseguir os seus ideais, os da paz e estabilidade do seu povo. Não estava só mas rodeado por uma multidão emocionada que o acompanhou até à porta da sua casa, na qual foi baleado e que, ironicamente, foi baptizada de Boulevard John Kennedy. Ramos-Horta sobreviveu.


(Sónia Neto exerceu funções de Chefe de Gabinete de Ramos-Horta entre 2001 e 2006 e foi Conselheira do Representante Especial do Secretário Geral da ONU de Abril de 2007 a Março de 2008, em Díli)

Ex-governador da ocupação entra no Governo

Díli, 05 Mar (Lusa) - Mário Viegas Carrascalão, ex-governador de Timor-Leste durante a ocupação indonésia, tomou hoje posse em Díli como vice-primeiro-ministro.

Na cerimónia da tomada de posse, o Presidente da República, José Ramos-Horta, enalteceu a “integridade” do ex-governador e referiu “um trabalho de quarenta anos em favor de Timor-Leste”.

“A História faz-lhe justiça”, afirmou José Ramos-Horta à Agência Lusa após a cerimónia.

“Todos temos em conta a integridade da pessoa e por isso, dentro da política de reformas que estamos a fazer, a presença dele será benéfica, não para o Governo mas para todo o povo”, concordou o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, em declarações à Lusa.

“Quando criticavam Mário Carrascalão como colaborador com a Indonésia, eu dizia o contrário”, salientou José Ramos-Horta sobre o ex-governador.

O novo vice-primeiro-ministro do IV Governo Constitucional timorense dirigiu o território sob ocupação indonésia entre 1982 e 1992.

“Mário Carrascalão salvou centenas de vidas, deu oportunidade a milhares de pessoas e, naquele mar de tragédia, era a única pessoa com força dentro do sistema que lutou pelos timorenses”, acrescentou José Ramos-Horta.

O Presidente da República referiu o ex-governador como um “nacionalista” timorense que “nunca abandonou o sonho da independência” de Timor-Leste.

“Ele trabalhou pelas caladas. Usou o sistema, preparando o futuro”, explicou José Ramos-Horta.

“Todos os que estão hoje no Governo e estudaram na Indonésia, devem-no a ele”, referiu também o chefe de Estado, apontando vários ministros que o rodeavam no “cocktail” que acompanhou a tomada de posse.

Fernando “La Sama” de Araújo, presidente do Parlamento Nacional, afirmou ser dessa geração que “sempre reconhece que conseguiu ir às universidades, naquela situação mesmo pobre (de Timor ocupado), graças ao governador Mário”.

“Nos primeiros tempos desconfiámos uns dos outros”, admitiu à Lusa o presidente do Parlamento, ex-líder da organização de juventude da resistência timorense nos anos 1990.

“Víamos as coisas muito curtas. Pensávamos que todos aqueles que trabalhavam com a Indonésia eram nossos inimigos, mas depois de nos conhecermos vimos que não era verdade”, afirmou Fernando “La Sama” de Araújo.

Mário Viegas Carrascalão, 71 anos, “vai ser o patriarca deste Governo”, notou José Ramos-Horta.

“Vai ser muito leal ao primeiro-ministro. Diz o que tem a dizer e não o diz nas costas”, referiu.

“Verificámos depois de 1999 que, apesar de ter servido dez anos como governador, (Mário Carrascalão) continuou uma vida extremamente modesta. Não se tornou milionário quando isso era muito fácil”, explicou o chefe de Estado.

“Como ele conhece todas as artimanhas dos que se envolvem na corrupção, é a pessoa indicada para a boa governação, a luta contra a corrupção, a reforma administrativa e a dinamização da nossa economia”, defendeu o Presidente da República.

É nessas áreas que Xanana Gusmão afirmou à Lusa pretender usar o seu segundo vice-primeiro-ministro, ao lado de José Luís Guterres, que é o número dois do Executivo para os assuntos sociais.

“Nós temos muito a corrigir e estamos a transformar as mentalidades. A figura de Mário Carrascalão dará uma imagem de credibilidade para as mudanças que queremos fazer”, acrescentou o primeiro-ministro.

Com Mário Viegas Carrascalão tomaram também posse Cristiano da Costa, novo vice-ministro da Economia e Desenvolvimento, e José Manuel Carrascalão, novo vice-ministro das Infra-estruturas.

PRM.
Lusa/fim

Xanana Gusmão reforça Governo mas não remodela "ainda"

Díli, 05 Mar (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste “ainda” não pretende remodelar o seu Governo, afirmou hoje Xanana Gusmão à Agência Lusa, explicando que decidiu reforçar o Executivo para “melhorar” o desempenho.

“Ainda não vamos remodelar. Vamos reforçar”, declarou Xanana Gusmão após a tomada de posse de três novos membros do Executivo.

“Todos os membros do Governo, novos como somos, ou como fomos, fomos postos à prova de fogo. Devo dizer que cumprimos”, acrescentou o primeiro-ministro.

“Isso não é nenhum factor para nos vangloriarmos. Ficamos é apenas com a consciência de que temos que melhorar este ano”, explicou Xanana Gusmão sobre a necessidade de alargar o Executivo.

O chefe de Governo falou à Lusa após tomar posse um novo vice-primeiro-ministro, Mário Viegas Carrascalão, e os vice-ministros da Economia e Desenvolvimento, Cristiano da Costa, e José Manuel Carrascalão, das Infraestruturas.

“Depois de percorrer cinco ministérios em Setembro do ano passado, vi a necessidade de mais um vice-primeiro-ministro”, afirmou Xanana Gusmão, sobre a decisão de convidar Mário Viegas Carrascalão para o cargo.

O Governo tinha já um vice-primeiro-ministro, José Luís Guterres.

Cristiano da Costa é da Undertim (União Nacional Democrática da Resistência Timorense) e José Manuel Carrascalão era o líder da bancada parlamentar da ASDT (Associação Social Democrata Timorense), dois dos partidos que integram a Aliança para a Maioria Parlamentar (AMP).

Xanana Gusmão, que admitiu à Lusa não saber de memória o número exacto actual dos membros do Governo, citou o Presidente dos EUA, Barak Obama, a esse propósito.

“A questão não é se o Governo é grande ou pequeno mas se o Governo cumpre e se é eficiente ou não. É nesse sentido que estamos a meter mais pessoas para produzir resultados melhores dos que já obtivemos no ano passado”, afirmou o primeiro-ministro.

“Não aumentamos o Governo para dar lugar a amigos. É mesmo uma necessidade”, frisou Xanana Gusmão.

“Nós falhámos a promessa das campanhas (eleitorais) de um Governo pequeno, mas vimos depois que a reforma não se faz num dia e que necessita de mais esforço”, reconheceu o primeiro-ministro.

Xanana Gusmão adiantou que os dois vice-primeiros-ministros terão uma divisão de tarefas, com José Luís Guterres responsável pelos assuntos sociais e Mário Viegas Carrascalão envolvido na coordenação interministerial e luta contra a corrupção.

Questionado sobre a entrada do ex-governador da ocupação no Governo do ex-comandante das Falintil, Xanana Gusmão respondeu que “não se podem colocar as coisas nesses termos”.

“O engenheiro Mário fundou um partido, o partido fez parte da Assembleia Constituinte (em 2001), ele próprio foi um parlamentar constituinte, não se pode agarrar outra vez nessas coisas”, explicou o primeiro-ministro.

“Temos em conta a integridade da pessoa e dentro da política de reformas que estamos a fazer, a presença dele será benéfica”, sublinhou Xanana Gusmão.

Mário Viegas Carrascalão, ex-governador de Timor-Leste sob a ocupação indonésia entre 1982 e 1992, fundou, após 1999, o Partido Social-Democrata.

O partido detém no actual Governo as pastas da Justiça, Negócios Estrangeiros e Economia e Desenvolvimento.

PRM.

Lusa/fim

Ramos-Horta reconhece Marcelo Caetano como atirador do 11 de Fevereiro

Díli, 05 Mar (Lusa) - O Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, disse hoje à Agência Lusa, em Díli, ter reconhecido o ex-militar Marcelo Caetano como o homem que atirou sobre ele.

"Reconheço Marcelo Caetano" como o atirador do 11 de Fevereiro de 2008, afirmou José Ramos-Horta.

"Hesitei muito durante meses", explicou o chefe de Estado, mas no último encontro que o Presidente da República teve com o ex-tenente Gastão Salsinha houve uma identificação positiva.

Nesse encontro, "o procurador-geral da República (Longuinhos Monteiro) trouxe também o Marcelo Caetano", contou José Ramos-Horta.

"Vendo com mais proximidade, reconheci que foi ele que fez os disparos, para além das provas deixadas no terreno", acrescentou o Presidente, corrigindo várias declarações em contrário feitas ao longo de 2008.

O chefe de Estado comentava a acusação formal do caso 11 de Fevereiro, entregue na terça-feira pelo Ministério Público no Tribunal de Díli.

"Aguardo pelo desfecho (do caso) que será no tribunal e ali é que as verdades serão ditas e encontradas e que a justiça será feita", declarou José Ramos-Horta.

O Ministério Públicou acusou 28 pessoas pelo duplo ataque ao Presidente da República e ao primeiro-ministro, Xanana Gusmão, quase todos ex-elementos das forças de segurança e também a ex-companheira do major Alfredo Reinado, Angelita Pires.

"Enquanto ser humano, cristão, eu os perdoo", respondeu José Ramos-Horta quando questionado sobre a possibilidade de um indulto presidencial para os acusados.

"Enquanto chefe de Estado, terei que pesar todos os elementos", ressalvou José Ramos-Horta.

"Eles, ao fim e ao cabo, são também vítimas da crise de 2006, provocada pela falha da liderança timorense, como eu sempre disse", sublinhou o Presidente timorense.
"Apesar de eu ter pago um preço elevado, não me move qualquer rancor em relação aos que dispararam sobre mim", disse.

"Pelo contrário, continuo a nutrir por eles total simpatia porque sei que é gente pequena que ficou embrulhada em toda essa tragédia por falhas da lidernça política", frisou.
As declarações de Ramos-Horta foram feitas no final de uma sessão pública em que o Presidente da República respondeu a questões da sociedade civil sobre paz e luta contra a pobreza.

José Ramos-Horta encerrou a sua intervenção recordando que o seu conceito de justiça desde 1999 para os crimes cometidos sob a ocupação indonésia.

O Prresidente da República negou que exista impunidade em Timor-Leste e reafirmou as razões que o levaram a indultar, em Maio de 2008, cerca de 90 presos, incluindo o último grupo de condenados por crimes contra a humanidade no país.

PRM.
Lusa/fim

Dos Leitores

H. Correia deixou um novo comentário na sua mensagem "Salsinha acusado de «conspiração» e Angelita Pires...":

"O grupo de Reinado e Salsinha foi acusado de vários outros crimes, incluindo homicídio tentado, dano, roubo e o crime de detenção e uso de armas de fogo para perturbação de ordem pública."

Faltou acusar aqueles que, passando salvos-condutos e chamando colonialistas aos juízes que tentaram meter essa gente na cadeia, possibilitaram que eles andassem alegadamente armados a roubar, danificar, a perturbar a ordem pública e a tentarem assassinar...

Aliás, as palavras do Procurador Felismino Cardoso são bem elucidativas:

"reconhece estar “ciente de que, talvez, por ora, não tenha chegado a todos, que de uma forma ou outra, estivessem comprometidos com o que aconteceu no dia 11 de Fevereiro de 2008”."

Timor: Melisa Caldas: “Quero ajudar na reconstrução de Timor”

Campeão das Províncias

http://www.campeaoprovincias.com/jornal/index.php?option=com_content&task=view&id=5509&Itemid=1

Escrito por Geraldo Barros
04-Mar-2009

Chama-se Melisa Ibela Diliana Silva Caldas e é a primeira cidadã timorense licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra.

Regressar a Timor e ajudar a reconstruir o país de onde a sua família emigrou quando a jovem tinha apenas cinco anos, é prioridade definida pela timorense que, por agora, se encontra a completar a formação académica com uma pós-graduação em Direitos Humanos no Instituto de Direito Internacional e da Cooperação com os Estados e Comunidades Lusófonas (Ius Gentium Conimbrigae). Em Julho, quando terminar mais esta etapa da sua passagem por Coimbra, Melisa Caldas pretende regressar a Timor e na bagagem leva a intenção de colocar ao serviço do seu país de origem e de seus pais o que aprendeu durante duas décadas em Portugal.

Melisa Caldas nasceu há 25 anos em Díli, capital de Timor Leste. Em 1989, os tempos conturbados que então agitavam aquele país bem como a intenção de proporcionar aos três filhos a oportunidade de uma vida melhor levaram os pais da jovem timorense a vir para Portugal.

Membro mais novo da família Caldas, Melisa tinha então apenas cinco anos. Embora Timor Lorosae seja presença permanente no coração e na razão, o regresso às origens deverá suceder somente daqui a alguns meses, com a intenção de “ajudar na reconstrução do país”, sonho que há muito alimenta e tem vindo a ser fortalecido através do envolvimento na Associação de Estudantes Timorenses em Coimbra, a qual preside desde Novembro de 2008.

Depois de ter frequentado o ensino primário e o liceu em Lisboa, a vinda para a Universidade de Coimbra foi inicialmente norteada pela intenção de cursar Jornalismo e libertar-se da azáfama asfixiante da capital. Quis o destino que a jovem timorense viesse a trocar as notícias pelas leis e viesse a ser ela própria notícia, ao tornar-se na primeira cidadã de Timor a licenciar-se em Direito pela Universidade de Coimbra, a mais antiga do país.

Embora não tenha sido o primeiro amor, a Faculdade de Direito acicatou em Melisa Caldas o interesse pela problemática dos direitos humanos. À pós-graduação seguir-se-á, provavelmente, um mestrado nesta nobre área.

Na pele de quem vive os problemas de Timor à distância encurtada apenas pelo pilar familiar e pela comunidade de estudantes timorenses em Coimbra, Melisa não nega que tem sido este contexto que, a cada dia que passa, reforça os laços com um país de onde saiu com apenas cinco anos e aumenta a vontade de regressar. “Mesmo tendo crescido em Portugal, sinto que tenho o dever de regressar a Timor e ajudar na reconstrução de um país que também é meu”, admite a jovem.

De Coimbra leva os valores e os princípios de uma academia com mais de sete séculos de história e de uma cidade que há muito se habituou a ser segunda casa e família para estudantes de terras mais ou menos longínquas. De Portugal, confessa ao “Campeão” uma “admiração pela cultura, pelas pessoas, pela história, pelo fado e pela gastronomia”, com o bacalhau a figurar em destaque nas ementas favoritas.

Munida de um curso de Direito, na vetusta Universidade de Coimbra, Melisa conta regressar em breve à terra dos seus antepassados onde, na área da Justiça e dos Direitos Humanos, se tudo correr bem, procurará arranjar emprego e unir-se ao esforço de outros timorenses na reconstrução do país.

Olhar crítico de quem sabe que a tarefa não se adivinha fácil, a jovem timorense reconheceu ao “Campeão” o retrato de “um país ainda marcado pelos jogos políticos de bastidores que se sobrepõem ao desenvolvimento, uma falta generalizada de quadros qualificados agravada pela fraca valorização dos recursos humanos e o pouco investimento e reconhecimento dos jovens que saíram do país para obter formação superior e que agora estão disposto a voltar e trabalhar para um futuro melhor”.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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