Tradução da Margarida:
The Australian Magazine - Sábado, Agosto 25, 2007
Por Sian Powell
Erica de Araujo era uma bébé quando escapou de Dili a arder nos braços da sua mãe. Oito anos depois de o país ter conquistado a sua independência, Sian Powell sobe às montanhas de Timor-Leste para encontrar a menina que conheceu em 1999. Descobriu uma família com dificuldades – a viver numa cabana com chão de terra, com o mínimo para comer - mas orgulhosa, resiliente, e agarrada às esperanças da sua jovem nação.
Erica de Araujo nasceu no caos fumegante da batalha em Agosto de 1999, duas semanas antes de Timor-Leste ter finalmente votado pela independência e ter terminado os 24 anos da ocupação brutal Indonésia. Começou a respirar numa barraca na capital, Dili, num bairro pobre onde nuvens de mosquitos enchiam o ar quente e o som dos disparos enchiam as noites. Na semana em que nasceu, um monte de flores cor-de-rosa foi deixado a na estrada suja perto da barraca – marcando o lugar onde um adolescente vizinho foi morto a tiro, um dos milhares que morreram na teimosa luta pela liberdade de Timor-Leste.
Erica é filha da independência de Timor-Leste -tem agora oito anos, vive livre e sem medo nas montanhas sossegadas do interior; um pouco mal nutrida, um pouco esfarrapada, mas com um optimismo ilimitado. A violência tem esporadicamente rebentado na sua terra desde a independência, irrompendo outra vez depois de ter sido nomeado um novo governo de coligação no princípio do mês. Contudo a família de Erica acredita que a nova administração é um sinal brilhante para o futuro, e que a vida melhorará.
A primeira vez que encontrei a mãe de Erica, Filomena Correa, nos bairros pobres de Dili foi antes da altura do referendo para a independência em 30 de Agosto de 1999. Amamentando Erica quando as milícias queimavam as casas, assassinavam activistas e espalhavam o terror, Filomena foi estóica sem fim. Não tinha nem comida nem dinheiro; o marido estava fora nas montanhas com os guerrilheiros. Uma vez por outra esperava por uma paragem na confusão e atravessava a cidade para mendigar às freiras em Balide, levando três crianças pequenas com ela. Partilhava uma barraca de dois quartos com telhado de zinco com o irmão, e a cama (uma placa de madeira) com os três filhos. A sua vida era uma batalha sem fim contra a fome, falta de sono e medo. Mesmo assim acreditava que tinha valido a pena a luta sangrenta pela independência. "Quero a independência," disse então. "Quero uma vida pacífica para os meus filhos."
Nesses dias, quando lutava para criar os filhos numa aldeia isolada, Filomena era filosofa sobre o futuro. Tinha expectativas altas para a duramente conquistada liberdade, mas agora, apenas tem uma grande lista de queixas, de estradas a desintegrarem-se a maus preços para o café que a família cultiva. Contudo sorri quando agarra o bébé novo, alisa o vestido de uma folha e fala sobre a escola das crianças. Algumas coisas, pelo menos, estão muito melhor do que estavam nos dias sombrios de 1999. "Não há violência aqui [nesta aldeia] agora," diz, "e somos livres."
A luta de Timor-Leste pela libertação parecia um forte caso bom contra um mal – um povo oprimido mas digno levantado contra um invasor maciço e brutal – e era enorme o apoio emocional da Austrália pelos Timorenses. Estavamos escandalizados quando as tropas Indonésias e as suas milícias correram em fúria depois da votação da independência, partindo cidades inteiras, violando, batendo e matando tantos quantos 1400 Timorenses. Enviámos tropas para a pequena meia ilha e donativos foram enviados através do Mar de Timor. Um grito imenso dos Australianos saudou a pequena equipa Timorense a marchar na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos em Sydney.
*Agora, apesar de anos de luta com instituições nascentes, ministros novatos e pobreza opressiva, Timor-Leste parece voltar a derrapar. Apenas recuperada da luta sangrenta sobre os despedimentos das forças armadas que se espalharam para as ruas da capital no ano passado, Dili está outra vez a sofrer de espasmos de violência – tragicamente mais outra vez, Timorenses lutam contra Timorenses. Soldados Australianos pesadamente armados patrulham as ruas de Dili, a ONU vive por detrás de arame farpado nas Obrigado Barracks, e o jovem país chegou perigosamente perto de ser enviado para as categorias dos Estados falhados.
Apesar de todos os problemas, a paixão dos Timorenses pela democracia tem de ser admirada. Quase oito em cada 10 eleitores registados votaram nas eleições presidenciais no princípio deste ano; a campanha das legislativas de Junho correu suavemente e de modo razoavelmente pacífico até a nomeação do novo governo desencadear uma outra vaga de queima de casas e de apedrejamentos.
Mesmo assim, depois do terror de 1999, parece um tempo de paz relativa – especialmente nos distritos exteriores. Erica vive na aldeia de Manusae, nas altas montanhas a sul de Dili. Fica a quatro horas de viagem da capital sobre estradas incríveis, rios e em certos lugares, rochas; a última parte da viagem foi a pé ao longo de um carreiro difícil.
Nenhum autocarro público ou carro privado (a não ser os de tracção às quatro rodas) podem chegar perto da aldeia. Se as pessoas de Manusae querem ver um médico ou um oficial da policia ou um funcionário do governo, andam três horas a pé até à capital do distrito de Ermera. Julio Boromeo, pai de Erica, disse que o fotógrafo e eu fomos os primeiros Ocidentais a visitar a sua casa, e um bébé gritou certamente por medo (e continuou a gritar durante algum tempo) simplyesmente com a visão das nossas caras brancas.
Manusae é uma aldeia sonolenta que cultiva café, com uma escola, uma pequena igreja e cabanas de bamboo montadas em terraços inclinados divididos por caminhos de ervas. As crianças são magras e pequenas segundo o padrão Australiano, apenas joelhos e cotovelos, mas não extraordinariamente independentes – as de cinco anos podem ser vistas sozinhas a subir os trilhos das montanhas.
Não há electricidade, por isso é silencioso – não há TV, não há rádios, não há máquinas, não há o barulho amortecido o de quem vive no Ocidente no século 21. O café é processado num moinho de água e é espalhado em sacas para secar, a madeira é partida com machados e as roupas são lavadas à mão.
No fim de 1999, Boromeo a mulher e cinco pequenas crianças (incluindo Erica, então um bébé de colo) regressaram de volta a Manusae depois dos Indonésios terem finalmente partido de Timor-Leste, a milícia local Darah Merah ter dispersado e a aldeia voltar a estar mais ou menos segura outra vez. Mas a casa de madeira e zinco da família tinha sido completamente destruída e tudo o que eles tinham tinha sido levado pelos militares Indonésios.
Boromeo tinha lutado com a Falantil, o exército da guerrilha de Timor-Leste, durante oito anos, e tinha estado no mato numa missão clandestina em Maio de 1999 quando a milícia pró-Indonésia chegou a Manusae. Ameaçaram e sovaram Filomena – então grávida de seis meses de Erica – e encostaram uma espingarda no ombro dela, pretendendo disparar contra os vizinhos dela.
Aterrorizada, juntou uns tantos pertences e três dos seus filhos e correu. (A outra filha, Florinda, de 10 anos, estava com o avô inválido noutra aldeia, onde ficou até final de 1999.) Filomena e as crianças andaram a pé durante horas até Ermera, e de lá apanharam um autocarro para a relativa segurança de Dili. Três meses mais tarde, em 30 de Agosto, 1999, juntamente com centenas de milhares dos seus compatriotas, Filomena vestiu o seu melhor vestido e esteve nas filas para votar por uma nova vida para o seu país.
Uma semana depois da votação, fugiu outra vez – desta vez a correr de Dili para fora, carregando o bébé Erica e arrastando as crianças montanha de Dare acima, a sul da capital, aconchegando-se a outros milhares que fugiam da fúria Indonésia. Era em 5 de Setembro, o dia depois de ter sido anunciado o resultado do referendo. Quase 80 por cento dos eleitores tinham escolhido a independência em vez da autonomia no seio da Indonésia e os militares estavam indignados. Depois de 24 anos de ocupação, não iam sair de Timor-Leste sem uma última, amarga explosão de raiva.
Filomena podia ver o fumo a subir da cidade a arder quando ela e os filhos trepavam montanhas acima. Em Dare, escondeu os filhos sob os arbustos numa plantação de café, onde dormiram no chão durante três semanas, comendo mandioca que mendigavam, milho e um pouco de arroz, umas vezes cozido, a maioria das vezes cru, esperando pela chegada das forças internacionais.
* Dois anos mais tarde, em 2001, Boromeo juntou-se às novas forças armadas de Timor-Leste – apenas para se tornar um dos centenas de "peticionários", os soldados que desertaram por causa de queixas de discriminação não terem sido ouvidas. Boromeo, do distrito de Ermera, é do "oeste" e acredita que os líderes das forças armadas preferem os do leste nas promoções. Os peticionários entraram em greve e acabaram por ser demitidos pelo chefe das forças armadas no ano passado, ajudando a precipitar a violência que matou 37 e deixou 30,000 Timorenses a abrigarem-se em campos de deslocados durante meses.
Agora, como muitos Timorenses, ele e a famímia espera por tempos melhores. Apesar de grato por os filhos poderem ir à escola e por haver o suficiente (apenas) para comer, Boromeo é pobre. Não há livros, brinquedos, bonecas ou jogos na família. Erica carrega o irmão mais pequeno, Jaimito de três anos, nas ancas, e ocasionalmente, por brincadeira, sobe às árvores – "É muito travessa," diz a mãe. Uma rapariga de 16 anos, Clara, ajuda Filomena no trabalho de casa por troca com refeições.
A maioria do Timorenses vivem da agricultura de subsistência e pelos padrões Ocidentais, com muita dureza. Estatísticas recentes são difíceis de obter, mas de acordo com números publicados pela UNICEF a expectativa de vida em 2003 era apenas de 50 anos; em 2002, apenas 52 por cento dos Timorenses tinha acesso à água potável e 33 por cento tinha instalações sanitárias adequadas. Em 2003, mais de uma em cada 10 crianças morriam antes de alcançar a idade dos cinco anos. Timor-Leste é ainda uma das mais pobres nações do mundo, independentemente da riqueza do petróleo que está a entrar no país.
Analistas dizem que Mari Alkatiri, o primeiro prime-ministro, governou quase sem ajuda e que uma das razões porque apenas metade do orçamento foi gasto em cada ano era porque a sua assinatura era necessária em tudo. Mesmo agora, Timor-Leste não tem um sistema de burocracia com funcionamento real - muitas vezes não se gasta dinheiro porque ninguém está preparado para tomar uma decisão.
Antes da independência, a Indonésia animou a economia de Timor-Leste com um serviço civil inchado que empregava 22,000 (há agora cerca de 12,000) e rios de gasóleo subsidiado. Contudo, ao evitar os excessos da Indonésia o Governo abraçou um muito cauteloso (muitos pensam demasiado cauteloso) gastos em bem-estar, com Alkatiri determinado a evitar a “mentalidade da dependência”.
Não que Júlio Boromeo tenha uma mentalidade de dependência. Ele reconstruiu a sua casa arruinada num mês, sem a ajuda do governo, agências de ajuda ou igreja. Num lado da montanha, com vista para vales e montanhas, tem paredes de bamboo, um telhado metálico, chão de terra batida e portas de ferro forjado. Filomena cozinha num fogo aberto, e duas bacias de plástico servem para se lavarem. Cultivam café num hectare de terreno abaixo da montanha e depois da colheita, Boromeo leva-o para Ermera às costas – uma viagem de ida e volta de seis horas.
*A vida é dura, e vai-se tornar mais dura para muita gente. Uma praga de gafanhotos e a seca diminuiu as colheitas em Timor-Leste em 30 por cento, de acordo com o Programa de Alimentação Mundial, que estima que cerca de um quinto da população precisará de assistência alimentar antes do fim do ano.
No lar de Boromeo, proteínas são delícias raras. As crianças comem principalmente mandioca, arroz e batata doce. "Havia uma galinha, acabámos de a comer," diz Filomena, a gesticular para o festim que tinha preparado em honra da visita da sua irmã. "E há mandioca no jardim."
Apesar da pobreza, a educação é um assunto forte. Todos os filhos de Filomena em idade escolar, excepto Rojina de 16 anos, que se casou em Março, estão ocupadas em obter uma educação. Mesmo a filha mais velha, Florinda de 17 anos, vive com a avó em Dili para poder acabar o liceu. Duas das crianças nascida depois da família regressar a Manusae no fim de 1999, Elefino de um ano e Jaimito de três são are obviamente muito jovens para irem à escola e Maria Agama, de cinco, começa este ano.
Agora a educação é gratuita em Timor-Leste, e Erica vai à escola da aldeia juntamente com outras 40 crianças. O professor é Timorense, e é suposto estarem a aprender Português (que o Governo decidiu adoptar como língua oficial, apesar da pouca quantidade de gente que fala Português). Erica apenas fala Tétum – língua nativa de Timor-Leste. Mas entortando os olhos e agarrando o caderno a alguns centímetros da cara ela sane escrever o nome - devagar, aparece uma palavra vacilante.
"Ainda não é fluente – é muito jovem," diz a mãe a sorrir e a alisar o cabelo de Erica.
Timor está a fazer bem a educar as crianças nas escolas. De acordo com um relatório compreensivo de pobreza publicado em 2003 pelo Governo, o Banco Mundial e as agências da ONU, entre outros (Pobreza numa Nova Nação: Análise para a Acção), a participação escolar subiu espectacularmente depois de Timor-Leste se separar da Indonésia, com oito em 10 crianças entre as idades de 12 e 15 anos matriculadas numa escola em 2001. Há muito terreno para desbravar. Quase metade da população de Timor-Leste tem menos de 15 anos, e a população adulta é pouco educada – quase três quartos dos que têm mais de 30 nunca foram à escola.
Filomena, contudo, sabe ler e escrever e fala Indonésio e como muitos Timorenses, fará muitos sacrifícios para addegurar que os filhos obtêm uma educação. "Quero que ela vá á escola ," diz de Erica. "Depois de acabar a de aqui, talvez possa ir para Dili [para mais educação]." Erica, também, já apanhou o bicho – quer continuar a aprender e ir para a universidade. "Quero ser uma médica," sussurra.
Contudo, com a nação ainda em crise, o futuro da menina está menos certo do que devia estar. As forças armadas Timorenses lutaram com a polícia Timorense no ano passado e uma investigação da ONU á violência culpou membros do antigo governo, questionando mesmo o papel do então primeiro-ministro no conflito.
Um dos causadores de problemas foi o que foi tempo atrás o comandante da polícia militar de Timor-Leste, Alfredo Reinado, que foi preso mas depois escapou . Depois de se evadir espectacularmente da tentativa das SAS Australianas para o apanhar, Reinado agora, quer aparentemente negociar com o novo Governo – mas há muitos que acreditam que qualquer perdão aumentará o clima de impunidade, tal como as tentativas do governo anterior de oferecer uma amnistia pela violência de 2006 diminuiu a fé vacilante dos Timorenses no sistema da justiça.
Há uma fotografia de Reinado espetada na parede da família Boromeo. Ele está a agarrar duas enormes espingardas cruzadas, e parece um desesperado. "Ele está ainda no mato; ele é um homem perigoso," diz Boromeo, com algum prazer. Como antigo soldado, e queixoso, tem alguma simpatia por Reinado, apesar de lamentar a violência que pôs Timor-Leste de joelhos.
"Há um ano houve a crise," diz. "Já somos independentes, mas durante um ano houve violência, e não acabou. Se não houver progresso, como com o último governo, continuará. Estamos independentes há mais de cinco anos, mas não houve progressos aqui em Timor-Leste."
Na verdade muitos dirão que Timor-Leste recuou para o caminho da anarquia e da revolta. Tantas quantas 100,000 pessoas foram forçadas a sair das suas casas e 30,000 – a maioria do leste do país – vivem agora em campos perto de Dili.
O ressentimento dos deslocados é palpável. Num eco assustador da violência Palestiniana, jovens e rapazes atiram pedras a carros, a qualquer carro, em Dili, simplesmente pela má emoção da destruição. Em Março, 95 veículos da ONU foram apedrejados, e mesmo táxis vulgares e minibuses não estão imunes. O desemprego vertiginoso - tão alto quanto 50 por cento na capital – tem alimentado a fúria e tem levado muitos a juntarem-se aos gangs guerreiros de garotos que vagueiam pela cidade.
A divisão leste-oeste aprofundou-se depois do então presidente (agora Primeiro-Ministro) Xanana Gusmão ter falado disso publicamente. Contudo os murmúrios podiam ter acalmado mais cedo se a polícia e as forçar armadas fossem instituições mais fortes. É agora largamente aceite que a ONU saiu demasiado cedo de Timor-Leste (empurrada pela Austrália e os USA para esvaziar a missão). A porta-voz da missão da ONU em Timor-Leste, Allison Cooper, argumenta que tem havido progressos na formação das estruturas do Estado, mas "as expectativas de dividendos imediatos da independência criam problemas".
Esta frustração diminuiu o apoio no partido dominante a Fretilin nas eleições de Junho. Irrompeu a violência porque apesar de a Fretilin ter ganho mais lugares no Parlamento, não podia formar um governo de coligação. Depois de oito anos de espera, as pessoas perguntam onde está a boa vida?
* Os Boromeos são devotos silenciosos católicos e apoiam o partido Democrata, que defende valores da família. Têm esperanças altas no novo Primeiro-Ministro, o herói da resistência Gusmão. "Ele é um intelectual," diz Boromeo, que apesar, da raridade de media em Manusae, se mantém extraordinariamente bem informado, talvez porque o irmão trabalho como oficial da polícia no centro regional de Gleno e faz a longa caminhada de casa para aldeia uma ou duas vezes na semana. "A coisa mais importante é os líderes manterem-se honestos," diz. "Porque o povo de Timor-Leste é muito sério. Ainda há nepotismo e conspiração. Precisamos de escolas, precisamos de médicos, precisamos da nossa saúde. Tudo é ainda feito em casa, temos ainda fome, não há edifícios."
Filomena é rápida a concordar, acrescentando que ano após ano, a estrada desintegra-se mais, Manusae fica cada vez mais isolada. "É mais difícil, não há nada cá," diz. "Os carros não chegam cá porque as estradas são tão más."
Um cachorro muito pequeno e muito sujo arranha o chão de terra e Filomena pede desculpa porque as roupas das crianças estão sujas. Mas o fotógrafo e eu chegámos sem avisar - sem telefones e serviço postal, são quase impossíveis as comunicações nas áreas rurais.
O nevoeiro cai sem aviso nestas montanhas, escondendo as estradas tortuosas e danificadas e aumentando o sentimento de isolamento. "Os minibuses não chegam cá," diz Filomena . "No tempo dos Indonésios, os carros vinham cá." Qualquer emergência pode provar fatal. Como se para dar um aviso há um pequeno túmulo no quintal; uma filha dos Boromeo morreu nos anos '90s, quando a estada estava boa mas os militares Indonésios desencadearam guerra contra os Timorenses. Boromeo não conseguiu levar a criança com febre ao médico, que devagar piorou e acabou por morrer.
Os serviços de saúde são ainda practicamente inexistentes. Nenhuma das crianças dos Boromeo é vacinada e as três nascidas desde que a família regressou a Manusae - Maria Agama, Jaimito e Elefino – chegaram todas à barraca de bamboo sem assistência médica e apenas com as mãos do pai a ajudar para as receber no mundo.
*Virgilio Guterres, que até ao ano passado foi director da rádio e TV nacional, diz que a luta dos Timorenses vulgares é impressionante. "O ano passado foi um tempo muito duro," diz. "Muita gente sentiu-se desesperada. Timorenses a lutarem uns com os outros; foi o pior tempo da nossa história . Em 1999, tínhamos um inimigo real. Mas agora é entre irmãos."
Contudo apesar das enormes dificuldades -o desemprego, os gangs, os deslocados, as colheitas mais pequenas, a violência – Guterres mantém-se esperançoso que Timor-Leste se levante da lama. "Tenho que ser optimista. Apesar de todos os problemas que enfrentamos, sou ainda optimista. Com a liberdade que temos, podemos resolver os problemas."
Júlio Boromeo, também olha para a frente para um futuro mais radioso. Tem uma família muito afeiçoada, e ambos ele e Filomena tratam das crianças para terem a certeza que nenhuma fica para trás. "Jaimito não tem um chupa-chupa," diz o pai, quando o rapazinho recua, assustado com os estrangeiros que trouxeram os doces. As crianças agarram-se aos adultos, sentam-se ao colo. Se o bébé chora é imediatamente levantado e embalado - seja pela mãe ou pelas irmãs'.
Há um crucifixo na parede da casa de entrada, que está mobilada com uma mesa e cadeiras demasiado estreitas para os grandes rabos Australianos. Uma grande catana está em cima da mesa – o instrumento de Timor-Leste para todos os propósitos. Uma caixa partida está numa prateleira e um espelho está inclinado.
Noutra parede está a fotografia de um casamento. Filomena aponta a robusta mulher idosa, a mãe do noivo. É a sua irmã, Ermelinda de Araujo, que partiu para a Austrália quando a Indonésia ocupou Timor-Leste em 1975. Ela vive agora algures em Sydney, mas sem serviço postal, rádio e telefone em Manusae, manter o contacto é quase impossível. Ermelinda visitou Dili uma vez, mas nunca veio a Manusae.
È fácil esquecer os que vivem nas silenciosas e isoladas montanhas de Timor-Leste. Contudo os lutadores Timorenses hão-de avançar, com ou sem assistência, na esperança de uma vida melhor para eles próprios e para os seus filhos.
O que é que Júlio Boromeo espera que o futuro traga? "Paz," diz acenando com a cabeça. "Paz."
- Sian Powell é um escritor de topo no The Australian e foi anteriormente o correspondente do jornal na Indonésia.
domingo, agosto 26, 2007
Timor-Leste
Por Malai Azul 2 à(s) 13:44 0 comentários
East Timor gets new oil minister
Upstream - August 24, 2007
Russel Searancke
Alfredo Pires takes over role from Jose Teixeira in new administration
East Timor has a new minister for natural resources following the recent national elections that led to a change of government.
Alfredo Pires has taken over from Jose Teixeira, who played a major role in the development of the country's oil and gas industry but who is now a member of the political opposition.
It is understood Teixeira retained his seat in the national poll but is a member of the former ruling party Fretilin.
His replacement Pires has been the natural resources advisor to the country's new Prime Minister Xanana Gusmao since 2002. Sources said Pires was educated in Australia and Macau, and has university degrees from both countries.
Sources said Pires is likely to take a cautious approach to developing the country's oil and gas industry, with his main interest said to be on improving the capability and competence of Timorese people.
There will be no rush to launch a new licensing round until more local workers are involved in its implementation.
The country has been plagued by outbreaks of civil unrest this month following the appointment of the new government.
Supporters of Fretilin are reportedly unhappy about the party not leading the new government.
On the brighter side, the country's Petroleum Fund, which was formed in August 2005, had grown to $1.2 billion as at 31 March 2007. Petroleum revenue is derived from the Bayu-Undan and Elang-Kakatua fields in the Timor Sea, although production recently stopped at Elang-Kakatua in preparation for field abandonment.
The Extractive Industries Transparency Initiative (EITI) said last week that Pires had "affirmed Timor Leste's continuing commitment to EITI and assured the international EITI Secretariat based in Oslo that the new government will move quickly to publish its first EITI report and go through the EITI validation process, in line with the country's strong track record of petroleum sector transparency".
Por Malai Azul 2 à(s) 13:01 8 comentários
Suffer the children caught in Timor crossfire
Canberra Times (Australia) - Saturday, August 25, 2007
This mountain town in Timor's eastern highlands has known its share of horrors and in recent weeks bad times returned with a wave of violent demonstrations and the alleged rape of an 11-year-old girl which some assert was a political crime.
In the 1970s, hordes of starving civilians streamed down the slopes of towering Matebian mountain to surrender to the Indonesian army here, and in the 1980s residents backing guerrilla resisters were often arrested and tortured. Wall paintings depicting legendary commanders recall this proud heritage today.
This month, a small faction of pro-Fretilin party extremists held the town hostage for a week after President Jose Ramos Horta nominated the CNRT (National Resistance Council of East Timor) party of Xanana Gusmao to lead a coalition government.
Although most-voted, Fretilin had failed to win a parliamentary majority in the June elections.
As the protests by about 40 machete- wielding, rock-throwing demonstrators intensified between August 6-10, so did the terror gripping townsfolk, many themselves Fretilin voters. Local police considered sympathetic to the rioters looked on.
CNRT official Antonio Ramos was among the first to flee, following an aborted arson attack on his headquarters in which a guard was injured. "Police did nothing, although the demonstrators were clearly committing crimes," he said.
UN security forces at the time were focusing on another outburst of fanaticism at Viqueque, further south, where 323 houses were torched and 4000 villagers fled to the mountains, according to UN deputy chief Eric Tan.
The term 'fanatic' had even become a badge of pride for rural followers of Fretilin leader Mari Alkatiri. A bus bought by the Baguia faithful to ferry delegates to last year's party congress was emblazoned with the name 'Fanatik'. During the congress, UN head Atul Khare repeatedly but vainly asked Mr Alkatiri for a strong statement denouncing violence.
By night, rocks were thrown on the roofs of targeted buildings, the usual warning of an impending attack in East Timor. These included the Catholic orphanage, housing some 45 children from the age of six to their early teens. It is run by the Salesian order and supported by Australian priest Father Chris Riley's Youth Off the Streets project.
Fretilin has been at odds with the Catholic church since its 2004 demonstrations against the Alkatiri government, denounced as a 'dictatorship'. Orphanage director Jojo San Juan is not resident full-time because he serves other mountain towns, involving long, hard travel, so the children are cared for by young workers, apart from an adult couple who live in an adjoining house.
By the night of August 9, the children were extremely fearful, as rioters' aggression grew. The streets were ablaze with burning tyres and threats escalated. The orphanage had even been pelted with rocks by day, an incident involving a 16 year old who had been in the demonstration from the beginning and led it that day, carrying the Fretilin flag. Son of poor parents, he lived in the orphanage for three months in 2004, until they were asked to remove him for disruptive behaviour.
By early evening, the danger of an attack or arson attempt was such that Carlotta, one of the two live-in assistants, took eight girls to sleep at her nearby home. The danger had heightened the previous day, after a church official requested demonstration leaders to suspend activities on August 10 so the town market could be held. They responded with menaces.
"I think the church was under threat from then on." the church official said.
Seven girls aged six to 13 remained in the female dormitory. To quell fears they slept together in twos or threes. Like most Timorese villages, Baguia only has electricity for a few hours before midnight.
Assistant Juliana Pereira, 23, has her own bedroom within the dormitory, with louvre windows facing the street.
By 10pm the girls were in bed with lights out when someone tried to force the doors.
The intruder failed, but remained on the veranda. Two girls peeped out and recognised the 16-year-old boy who left after a while.
Around midnight someone banged on Juliana's windows, and then poked a hand through the louvres, retreating after she yelled. She then slept and heard nothing of the following events.
One of two traumatised 13 year olds who were present said that at 2am the doors were kicked in by a machete-wielding youth shouting "I'll kill you all!" striking the weapon repeatedly on the bedposts.
He moved to the bed nearest the door and attacked an 11-year-old girl. Another girl who witnessed the attack said the youth had demanded to know whether his victim was "Fretilin or CNRT" and when she replied "Fretilin" he tore her clothes off and raped her.
Two girls who saw the face of the attacker illuminated by torchlight identified him as the 16-year-old.
When Juliana recalls the attack, her eyes brim with tears. "Nobody came to help us, nobody" she repeats incredulously. At dawn, they walked to the police station to report the crime. The 16-year-old was later identified walking in the street and arrested. Because there are no local facilities to detain minors, he was released. UN police spokesperson Monica Rodrigues said on 22 August that investigations were continuing, with the suspect bound to "weekly presentations to Baguia police until trial occurs". She added that Pradet, a non- government organisation (NGO) supporting trauma survivors, would provide psychological support to the victim.
First press reports quoted lurid exaggerations by priests with second-hand information, tending to discredit the story.
Scores of Fretilin supporters had invaded the orphanage, they claimed, and nine girls had been raped.
Fretilin leaders denounced claims of the party's involvement as a "bare-faced press campaign to discredit Fretilin". It condemned "an act of abuse" in Baguia as "a hideous act of an exclusively criminal nature perpetrated by a 16-year-old youth who had previously lived in the orphanage.
It had no relationship with Fretilin actions in Baguia".
None of the priests who made statements had been on the scene.Called by Juliana, Father Jojo raced to the orphanage and pieced together a first-hand account, presented in writing to Baucau bishop Basilio Nascimento.
Baguia continues without permanent UN police protection as citizens report ongoing threats, although extremists quietened nationwide after a decision last week by Mr Alkatiri that Fretilin would end a parliamentary boycott.
Australian Kirsty Sword's Alola Foundation expressed early support for the distressed children, donating a generator for 24-hour lighting, and last week ADF soldiers provided a two-day friendly security presence, much of it spent in street games with local kids.
The child whose story is doubted is a typical Timorese stick-figure of a little girl.
More than 60 Dili NGOs including UNICEF have called on politicians to stop involving children in violence. The girl's quest for justice will be watched closely, as a symbol of East Timor's most vulnerable: a child, female, and not a politician or soldier.
Por Malai Azul 2 à(s) 12:59 2 comentários
Timor-Leste: Departamento de Defesa australiano rejeita acusações de Alfredo Reinado
Lusa– 25 Agosto 2007, 00:35
Sidnei - O Departamento de Defesa australiano rejeitou as acusações do líder rebelde timorense Alfredo Reinado, de que tropas de paz australianas teriam quebrado o pescoço a dois feridos e matado a tiros dois civis.
Alfredo Reinado afirma que as mortes aconteceram durante a operação da sua captura no seu esconderijo, há cinco meses, em Same, Timor-Leste.
O brigadeiro Andrew Nikolic, porta-voz da Defesa, disse que os soldados australianos mataram a tiro cinco combatentes do grupo de Alfredo Reinado, durante a operação.
Segundo o brigadeiro, os soldados actuaram em defesa própria e nenhum civil foi morto.
Alfredo Reinado é um ex-oficial do exército timorense e liderou uma rebelião contra o governo da Fretilin, no ano passado, refugiando-se depois nas montanhas.
Lusa/Fim
Por Malai Azul 2 à(s) 12:58 0 comentários
Contestação ao Governo de Xanana Gusmão poderá tender a aumentar no próximo ano
Público – 25 Agosto 2007
Jorge Heitor
Foram detidas 17 pessoas devido ao incêndio de 26 casas e de um mercado no distrito de Metinaro, enquanto duas crianças morriam em Ermera.
Poderá muito bem ser que nesta altura se esteja a assistir a uma estratégia de enfraquecimento da contestação ao Governo de Xanana Gusmão, pois em termos constitucionais este nunca poderá ser demitido antes de decorridos seis meses sobre as legislativas de 30 de Junho. Quem o disse ontem ao PÚBLICO, num contacto telefónico, foi o deputado e antigo candidato presidencial Manuel Tilman, secretário-geral do partido Klibur Oan Timor Asuwain (KOTA).
Qualquer acção em força, da parte da Fretilin, grupo político mais votado, para tentar afastar da governação a Aliança com Maioria Parlamentar (AMP) só deverá ter lugar depois do fim do ano, considerou aquele político, perante os receios de que a situação em Timor-Leste possa não estabilizar tão depressa. E de na quinta-feira centenas de pessoas armadas de catanas terem queimado um mercado e 26 residências no distrito de Metinaro, três dezenas de quilómetros a oriente da capital, Díli, levando a 17 detenções.
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Fretilin poderá vir a aumentar a contestação em 2008
Blogue Jorge Heitor – 25 de Agosto de 2007
Poderá muito bem ser que nesta altura se esteja a assistir a uma estratégia de enfraquecimento da constestação ao Governo de Xanana Gusmão, pois que de qualquer modo, em termos constitucionais, este nunca poderá ser demitido antes de decorridos seis meses sobre as legislativas de 30 de Junho. Quem o disse ontem ao PÚBLICO, num contacto telefónico, foi o deputado e antigo candidato presidencial Manuel Tilman, secretário-geral do partido Klibur Oan Timor Asuwain (KOTA).
Qualquer acção em força, da parte da Fretilin, grupo político mais votado, para tentar afastar da governação a Aliança com Maioria Parlamentar (AMP) só deverá pois ter lugar depois do fim do ano, considerou aquele político, perante os receios de que a situação em Timor-Leste possa não estabilizar tão depressa. E de na quinta-feira centenas de pessoas armadas de catanas terem queimado um mercado e 26 residências no distrito de Metinaro, levando a 17 detenções, três dezenas de quilómetros a oriente da capital, Díli.
“O problema foi o Presidente Ramos-Horta não ter deixado a Fretilin formar Governo e esperar que o seu programa fosse derrotado duas vezes no Parlamento para depois se virar para a AMP. Entendeu que não deveria perder esse tempo, mas os custos da situação actual são muito superiores”, afirmou Tilman, que de 1980 a 1984 foi deputado português, pela Acção Social Democrata Independente (ASDI), de Sousa Franco e Magalhães Mota.
Quinta-feira, a morte de duas crianças, respectivamente de 12 e 15 anos, no incêndio de uma casa no distrito de Ermera, poderia não ter estado inserida no clima político mas haver sido simplesmente o resultado de uma rixa entre vizinhos, segundo admitiu uma porta-voz das Nações Unidas, Allison Cooper.
Xanana ainda teria convidado nas últimas semanas quadros da Fretilin para alguns lugares que tem em aberto no Executivo, como o ministério da Solidariedade Social, adiantaram fontes da AMP. Mas isso foi desmentido ao PÚBLICO por uma porta-voz do partido, Filomena Almeida, segundo a qual o líder da tendência Fretilin Mudança, José Luís Guterres, que ficou como vice-primeiro-ministro, “fez propaganda pelo CNRT para as eleições de 2007 e não pode de maneira nehuma representar a Fretilin. O partido não indigitou nem indigitaria quem quer que seja para o actual Governo, que continua a considerar inconstitucional”.
Entretanto, Ramos-Horta conferenciou no domingo passado com o major rebelde e fugitivo Alfredo Reinado, no sentido de o convidar a participar no processo de pacificação geral da sociedade, segundo anunciou em Genebra o Centro para o Diálogo Humanitário, rede independente de mediação em conflitos.
Jorge Heitor
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Food shortages
Dili-gence – 25.08.07
There have been a couple of recent articles citing a World Food Programme (WFP) report on food shortages here. The June 2007 WFP report was based on the situation as it stood in early April 2007. At that time, the wet season had been late and brief. Many rice paddies that should have been wet and soggy were bone dry.
I invite anyone to correct me here, but I understood that unseasonal rains in June kicked off an unseasonal additional planting. And hence, the local supply situation changed.
I recall an acquaintance arriving fresh off the boat and being gobsmacked at the plentiful supply of food available in the local markets. He had come expecting that food supplies were critical. When relatives ask me if I am having trouble obtaining food, you realise it is all about perceptions. I am OK - the farmer way up in the hills is the one with the problem.
The January rice shortage was related to stuffing up the supply of imported rice which TL requires every year. For the past few months, I have noted regular large shipments of imported rice coming in. These rice arrivals are noticeable as they are accompanied by a fleet of over-laden trucks escorted by UN police.
Anyway, I am not sure one can keep quoting the WFP report and its expected 30% shortfall in staple grains. Nevertheless, there is nothing wrong with beefing things up in an attempt to reduce the reliance on imported staples.
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East Timor
The Australian Magazine - Saturday, August 25, 2007
By Sian Powell
Erica de Araujo was a baby when she escaped from a burning Dili in her mother's arms. Eight years after the country won independence, Sian Powell treks into the hills of East Timor to find the girl she first met in 1999. She discovers a family doing it tough - living in a dirt-floor hut, with barely enough to eat - but proud, resilient, and clinging to hope for their young nation.
Erica de Araujo was born into the smoky chaos of battle in August 1999, two weeks before East Timor finally voted for independence and an end to 24 years of brutal Indonesian occupation. She first drew breath in a dirt-floor shack in the capital, Dili, in a slum where clouds of mosquitoes clotted the warm air and the sound of gunfire crackled through the night. In the week she was born, a mound of pink blossoms was left in the dirt road near the shack - marking the place where a teenage neighbour was shot dead, one of thousands to die in East Timor's dogged fight for freedom.
Erica is the daughter of East Timor's independence - now eight years old, living free and without fear in the quiet hills of the hinterland; a little malnourished, a bit tattered, but boundlessly optimistic. Violence has sporadically broken out in her homeland since independence, erupting again after a new coalition government was installed earlier this month. Yet Erica's family believes the new administration is a bright sign for the future, and life will begin to improve.
I first met Erica's mother, Filomena Correa, in the shambles of Dili before the momentous independence vote on August 30, 1999. Breastfeeding Erica as the militias burned houses, murdered activists and spread terror, Filomena was endlessly stoic. She had no food and no money; her husband was away in the hills with the rebel army. Every now and then she waited for a lull in the havoc and trudged across town to beg from the nuns in Balide, tugging three small children along with her. She shared a tin-roofed, two-room shack with her brother, and her bed (a wooden pallet) with all her children. Her life was an endless battle against hunger, sleeplessness and fear. Yet she believed the long and bloody struggle for independence had been worth it. "I want independence," she said then. "I want a peaceful life for my children."
These days, as she struggles to raise her children in an isolated village, Filomena is philosophical about the future. She had high expectations of East Timor's hard-won freedom, but now, instead, she has a long list of grievances, from disintegrating roads to poor prices for the coffee her family grows. Yet she smiles as she picks up her new baby, smoothes down a daughter's dress and talks about the children's schooling. Some things, at least, are much better than they were in the dark days of 1999. "There's no violence here [in this village] now," she says, "and we are free."
East Timor's struggle for liberty was seemingly a stark case of good versus evil - an oppressed but dignified people standing up to a massive and brutal invader - and Australia's emotional backing for the East Timorese was huge. We were outraged when Indonesian troops and their militia proxies ran amok after the independence vote, wrecking whole towns, raping, beating and killing as many as 1400 East Timorese. We sent troops into the tiny half-island, and donations flooded across the Timor Sea. A full-throated Australian roar greeted the tiny East Timorese team marching in the Sydney Olympics' opening ceremony.
*Now, though, after years of struggling with fledgling institutions, tyro ministers and grinding poverty, East Timor seems to be back on the skids. Barely recovered from the bloody fighting over army sackings that spilled on to the streets of the capital last year, Dili is again racked by spasms of violence - tragically, once more, East Timorese fighting East Timorese. Heavily armed Australian soldiers patrol Dili's streets, the UN lives behind coiled razor wire at Obrigado Barracks, and the young country has come perilously close to being relegated to the ranks of failed states.
Despite all the problems, the East Timorese passion for democracy has to be admired. Almost eight in 10 registered voters cast a ballot in the presidential elections earlier this year; the June parliamentary campaign went off smoothly and reasonably peacefully until the appointment of a new government prompted another wave of house-burnings and rock-throwing.
Still, after the terror of 1999, it seems a time of comparative peace - especially in the outlying districts. Erica lives in the village of Manusae, in the high hills south of Dili. It's a four-hour drive from the capital over appalling roads, rivers and, in certain places, boulders; the last leg of the journey is on foot along a steep, difficult track.
No public buses or private cars (other than four-wheel-drives) can get anywhere near the village. If the people of Manusae want to see a doctor, or a police officer, or a government official, they walk the three hours into the district capital of Ermera. Julio Boromeo, Erica's father, said the photographer and I were the first Westerners to visit his house, and certainly one toddler roared with terror (and kept roaring for some time) simply at the sight of our white faces.
Manusae is a sleepy, coffee-growing village, with a school, a little church and bamboo huts set on steep inclines divided by grassy paths. The children are scrawny and small by Australian standards, all knees and elbows, but they are remarkably independent - five-year-olds can be seen trotting along mountain paths alone.
There is no electricity, so it's quiet - no TV, no radios, no machines, no subdued hum of 21st-century Western living. Coffee is processed in a water mill after it has been laid out to dry on tarps, firewood is chopped with axes, and clothes are washed by hand.
Late in 1999, Boromeo and his wife and five small children (including Erica, then a babe in arms) straggled back into Manusae after the Indonesians had finally left East Timor, the local Darah Merah militia had dispersed and the village was more or less safe again. But the family's wood-and-tin house had been completely wrecked and everything they owned had been taken by the Indonesian military.
Boromeo had fought with Falantil, East Timor's rebel army, on and off for eight years, and he'd been in the jungle on a clandestine mission in May 1999 when the pro-Indonesia militia came to Manusae. They threatened and punched Filomena - then six months pregnant with Erica - and rested a rifle on her shoulder, pretending to shoot at her neighbours.
Terrified, she gathered a few belongings and three of her children, and ran. (Her other daughter, Florinda, aged 10, was staying with her crippled grandfather in another village, where she remained until the end of 1999.) Filomena and the children walked for hours into Ermera, and from there took a bus to the relative safety of Dili. Three months later, on August 30, 1999, along with hundreds of thousands of her compatriots, Filomena dressed in her best and lined up to vote for a new life for her country.
A week after the ballot, she fled again - this time running away from Dili, carrying baby Erica and dragging the children up into the hills of Dare, south of the capital, to huddle with thousands of others fleeing Indonesia's fury. It was September5, the day after the ballot result was announced. Almost 80 per cent of voters had chosen independence rather than autonomy within Indonesia and the military was outraged. After 24 years of occupation, they were not leaving East Timor without a last, bitter burst of rage.
Filomena could see the smoke rising from the burning city as she and her children struggled up into the hills. In Dare, she hid the children under the bushes in a coffee plantation, where they slept on the ground for three weeks, eating begged cassava (a root vegetable), corn and a little rice, sometimes cooked, more often raw, waiting for the international forces to arrive.
* Two years later, in 2001, Boromeo joined East Timor's new army - only to become one of the hundreds of "petitioners", the soldiers who deserted because their claims of discrimination were not heard. Boromeo, from Ermera district, is a "westerner" and he believes the army's leaders preferred easterners for promotion. The petitioners went on strike and were finally dismissed by the army chief last year, helping to precipitate the violence that killed 37 and left 30,000 East Timorese sheltering in refugee camps for months.
Now, like so many East Timorese, he and his family await better times. Although grateful that his children can go to school, and that there is enough (just) to eat, Boromeo is poor. There are no books, toys, dolls or games in the family home. Erica carries her younger brother, three-year-old Jaimito, around on her hip, and occasionally, for fun, climbs trees - "She's very naughty," says her mother. A 16-year-old girl, Clara, helps Filomena with the housework in return for her meals.
Most East Timorese rely on subsistence agriculture and byWestern standards they do it tough. Recent statistics are hardto come by, but according to figures published by UNICEF the life expectancy in 2003 was just 50 years; in 2002, only 52 per cent of East Timorese had access to safe water and 33 per cent had adequate sanitation facilities. In 2003, more than one in 10 children died before they reached the age of five. East Timor is still one of the poorest nations in the world, regardless of the oil wealth pouring into the country.
Analysts say Mari Alkatiri, the first prime minister, governed almost single-handedly and one of the reasons only half the budget was spent each year was because his signature was required on everything. Even now, East Timor has no real functioning systems of bureaucracy - money often isn't spent because no one is prepared to make a decision.
Before independence, Indonesia propped up East Timor's economy with a bloated civil service employing 22,000 (there are now about 12,000) and rivers of subsidised fuel. Yet, in avoiding Indonesia's excesses, the Government embraced very cautious (many think too cautious) spending on welfare, with Alkatiri determined to avoid the "dependence mentality".
Not that Julio Boromeo has a dependence mentality. He rebuilt his ruined house in a month, without help from government, aid agencies or the church. On the spur of a hill, looking across valleys to the mountains, it has bamboo walls, an iron roof, a packedearth floor and corrugated-iron doors. Filomena cooks over an open fire, and a couple of plastic tubs serve for washing. Coffee is grown on a hectare of ground down the hill, and once it's harvested, Boromeo hauls it into Ermera on his back – a six-hour trek there and back.
*Life is tough, and it's about to get tougher for many people. A locust plague and the drought has cut East Timor's harvest by as much as 30 per cent, according to the World Food Program, which estimates as much as a fifth of the population will need food assistance before the year ends.
In the Boromeo household, protein is a rare delight. The children eat mostly cassava, rice and sweet potato. "There was one chicken, we just ate it," says Filomena, gesturing to the feast she'd prepared in honour of her sister's visit. "And there's cassava in the garden."
Despite the poverty, education is a strong suit. All Filomena's school-aged children, barring 16-year-old Rojina, who was married in March, are busily getting an education. Even the oldest child, 17-year-old Florinda, lives with her grandmother in Dili so she can finish high school. Of the children born after the family made it back to Manusae late in 1999, one year-old Elefino and three-year-old Jaimito are obviously too young for school, and Maria Agama, five, will start this year.
Education is now free in East Timor, and Erica goes to the village school along with 40 other children. Their teacher is East Timorese, and they are supposed to be learning Portuguese (which the Government decided to adopt as an official language, despite the paucity of Portuguese speakers). Erica speaks only Tetum - East Timor's native tongue. But squinting, and holding the notebook a few centimetres from her face, she can write her name - slowly, a wobbly word appears.
"She's not fluent yet - she's only young," her mother says, smiling and smoothing Erica's hair.
East Timor is doing well schooling its children. According to a comprehensive poverty report published in 2003 by the Government, the World Bank and UN agencies, among others (Poverty in a New Nation: Analysis for Action), school participation rates increased dramatically after East Timor tore itself away from Indonesia, with eight in 10 children between the ages of 12 and 15 enrolled in a school by 2001. There is a lot of ground to make up. Almost half of East Timor's population is under 15, and the adult population is poorly educated - almost three-quarters of those over 30 have never been to school.
Filomena, though, can read and write and speak Indonesian and, like so many East Timorese, she will make great sacrifices to ensure her children get an education. "I want her to go to school," she says of Erica. "After she's finished here, maybe she can go to Dili [for further education]." Erica, too, has caught the bug - she wants to keep on learning, and go to university. "I want to be a doctor," she whispers.
Yet with the nation still in crisis, the little girl's future is less sure than it should be. The East Timorese army did battle with the East Timorese police last year, and a UN investigation into the violence blamed senior members of the former government, even questioning the then prime minister's role in the conflict.
One of the troublemakers was once the commander of East Timor's military police, Alfredo Reinado, who was jailed but then escaped. After spectacularly evading the Australian SAS's attempts to catch him, Reinado is now apparently willing to deal with the new Government - but there are many who believe any pardon would foster a climate of impunity, just as the previous government's attempts to offer an amnesty for the 2006 violence eroded the faltering East Timorese faith in the justice system.
There is a picture of Reinado tacked on the Boromeo family's wall. He is holding two huge, crossed guns, and looks like a desperado. "He's still in the jungle; he's a dangerous man," Boromeo says, with some satisfaction. As a former soldier, and one with a grievance, he has some sympathy for Reinado, although he deplores the violence that has brought East Timor to its knees.
"A year ago there was a crisis," he says. "We're already independent, but for a year there was violence, and it hasn't ended. If there's no progress, as with the last government, it will continue. We've been independent for more than five years, but there's been no progress here in East Timor."
Indeed, many would say that East Timor has slipped backwards towards anarchy and insurrection. As many as 100,000 people have been forced from their homes, and 30,000 - most from the east of the country - now live in camps near Dili.
The refugees' resentment is palpable. In a frightening echo of Palestinian violence, boys and young men throw rocks at cars, any cars, in Dili, simply for the wanton thrill of destruction. In March, 95 UN vehicles were stoned, and even ordinary taxis and minibuses are not immune. Vertiginous unemployment - as high as 50 per cent in the capital - has fuelled the fury and led many to join the warring gangs of kids who rampage around the city.
The east-west divide deepened after then president (now Prime Minister) Xanana Gusmao spoke of it publicly. Yet the rumblings could have been quelled early if the police and army were strong institutions. It is now widely accepted that the UN left East Timor too early (pushed by Australia and the US to wind down the mission). The UN mission's spokeswoman in East Timor, Allison Cooper, argues there has been progress in the formation of state structures, but "the expectation of an immediate independence dividend creates problems".
This frustration slashed support for the dominant Fretilin party in the June elections. Violence erupted because although Fretilin won the most seats in Parliament, it couldn't form a coalition to govern. After eight years of waiting, people asked: where was the good life?
* The Boromeos are quietly devout Catholics and they supported the Democrat party, which espouses family values. They have high hopes for the new Prime Minister, resistance hero Gusmao. "He's an intellectual," says Boromeo, who, despite the scarcity of media in Manusae, remains remarkably well informed, perhaps because his brother works as a police officer in the regional hub of Gleno and makes the long trek home to the village once or twice a week. "The most important thing is the leaders stay honest," he says. "For the people of East Timor it's very serious. Nepotism and collusion, it still happens. We need schools, we need doctors, we need our health. Everything is still homemade, we're still hungry, there's no buildings."
Filomena is quick to agree, adding that each year, as the roads disintegrate further, Manusae becomes increasingly isolated. "It's more difficult, there's nothing here," she says. "Cars can't get here because the roads are so bad."
A very small and very dirty puppy scrabbles on the earth floor, and Filomena apologises because her children's clothes are dirty. But the photographer and I had arrived without warning - with no phones and no postal service, communication in rural areas is near impossible.
The fog comes down without warning in these hills, blanketing the twisting, crumbling roads and adding to the sense of isolation. "Minibuses don't come here," Filomena says. "In Indonesian times, cars could come here." Any emergency could prove fatal. As if to provide a warning, there is a tiny grave in the backyard; a Boromeo daughter died in the late '90s, when the roads were good, but the Indonesian military was waging war on the East Timorese. Boromeo couldn't get the feverish child to a doctor; her fever slowly worsened and she finally died.
Health services are still practically non-existent. None of the Boromeo children are vaccinated and the three born since the family's return to Manusae - Maria Agama, Jaimito and Elefino - all arrived in the bamboo shack with no medical assistance at all and only their father's helping hands to welcome them into the world.
*Virgilio Guterres, who until last year was the director of the national radio and TV broadcaster, says the plight of ordinary East Timorese is appalling. "Last year was a very hard time," he says. "Many people feel desperate. East Timorese fighting each other; it's the worst time in our history. In 1999, we had a real enemy. But now it's between brothers."
Yet despite the huge difficulties - the unemployment, the gangs, the refugees, the slumping harvest, the violence – Guterres remains hopeful that East Timor will haul itself out of the mire. "I must be optimistic. Despite the problems we face, I'm still optimistic. With the freedom we have, we can solve the problems."
Julio Boromeo, too, looks forward to a brighter future. He has a very affectionate family, and both he and Filomena keep an eye on the children to make sure no one has been left out. "Jaimito hasn't got a lollipop," says his father, as the little boy hangs back, frightened of the sweets-bearing foreigners. The children lean on the adults, sit on them, touch them. If the baby cries he is immediately picked up and swung on to a hip - either his mother's or one of his sisters'.
There is a crucifix on the wall of the small reception room, which is furnished with a table and chairs almost too narrow for ample Australian bottoms. A big machete lies on the table – East Timor's all-purpose tool. A broken boombox sits on a shelf, and a mirror tilts crazily.
On another wall is a photo of a wedding. Filomena points to the stout, older woman, the mother of the groom. It's her sister, Ermelinda de Araujo, who left for Australia as Indonesia occupied East Timor in 1975. She now lives in Sydney somewhere, but with no postal service, no radio, and no telephones in Manusae, maintaining contact is almost impossible. Ermelinda has visited Dili once, but she has never made it as far as Manusae.
It is easy to forget those who live in the quiet and isolated hills of East Timor. Yet the battling East Timorese will soldier on, with or without assistance, in the hope of a better life for themselves and their children.
What does Julio Boromeo hope the future brings? "Peace," he says, nodding slowly. "Peace."
- Sian Powell is a senior writer on The Australian and was formerly the newspaper's Indonesia correspondent.
Por Malai Azul 2 à(s) 12:45 2 comentários
Traduções
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "