6.02.2009
Por António Guterres
Actualmente vemos um Timor-leste divido entre convicção e paixão. Quando se fala da convicção fala-se do princípio, da responsabilidade e da defesa dos direitos de um povo. Sem a convicção, é impossível haver mudança, é difícil transformar uma pessoa ou mesmo uma nação, o que significa que a convicção é a chave para a transformação.
A história de Timor passou de geração para geração. Eu pessoalmente tenho um enorme respeito pelo passado. O nosso passado constitui por uma geração de coragem, uma geração que se mantém firme até hoje, quando o mundo inteiro estava contra ela. São os nossos heróis que serão lembrados para sempre. Os grandes homens são aqueles que resistem nos momentos difíceis, não aqueles que vivem sobre o sofrimento dos outros.
Após a restauração da independência, o país enfrenta uma nova realidade, essa realidade faz com que a nova geração do país dá mais prioridade à paixão do que à convicção. Quando se fala da paixão fala-se da admiração pelas pessoas independentemente do que eles fazem ou pensam. É muito triste mas é uma realidade, o país está diante uma geração que recebeu a educação baseada nas mentiras.
A paixão faz-nos esquecer quem somos nós realmente, é uma sensação que enfraquece a nossa identidade e o nosso raciocínio.
Aos irmãos e irmãs timorenses levantem-se, e lutem pela vossa convicção. O nosso direito está centralizado, falo isso porque vejo um país governado não pela convicção mas sim pela paixão.
A nossa liberdade foi uma conquista, não foi uma oferta. Foi pela convicção que vemos um Timor-leste independente, por isso, a luta continua.
sábado, fevereiro 07, 2009
ENTRE CONVICÇÃO E PAIXÃO
Por Malai Azul 2 à(s) 20:14 0 comentários
Concurso de Bolsas de curta duração para projectos de investigação
EMBAIXADA DE PORTUGAL EM DILI
Infomacao Imprensa
A Biblioteca Nacional de Portugal e a Fundação Oriente promovem um concurso de bolsas de curta duração para projectos de investigação, cuja pesquisa esteja centrada nas colecções bibliográficas e noutros fundos documentais da Biblioteca Nacional, Este concurso decorre até ao próximo dia 15 de Abril de 2009.
O regulamento e a formalização de candidaturas estão acessíveis em http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=336%3Abolsas-de-investigacao-2009&catid=37%3Aleitores&Itemid=170
Por Malai Azul 2 à(s) 20:13 0 comentários
Timor-Leste: PR tem "cem por cento de certezas" sobre quem disparou
Díli, 04 Fev (Lusa) - O Presidente da República de Timor-Leste tem "cem por cento de certezas" sobre quem disparou sobre ele a 11 de Fevereiro de 2008.
José Ramos-Horta identificou o atirador, sem o nomear, quando visitou a prisão de Becora, em Díli, no passado dia 26 de Dezembro, dia do seu aniversário.
"Agora tenho cem por cento de certezas, não tenho mais dúvidas", revelou o Presidente da República no regresso de uma viagem a vários países do Sudeste Asiático, há uma semana.
"É pena que esse senhor continue sem confessar", sublinhou o chefe de Estado.
A identidade do atirador tem sido matéria de polémica nos últimos meses, após a imprensa timorense e internacional indicar que seria o ex-militar Marcelo Caetano, um dos co-arguidos do caso 11 de Fevereiro.
José Ramos-Horta, porém, negou várias vezes que alguma vez tenha referido Marcelo Caetano como o homem que disparou sobre ele.
"Eu sempre desconfiei de um determinado elemento porque quando ele me apontou a arma para me apontar eu vi a cara dele", disse na semana passada.
A poucos dias do aniversário do ataque, José Ramos-Horta revelou que identificou claramente o atirador na sua visita natalícia aos presos de Becora.
É lá que está detido o ex-tenente Gastão Salsinha e os restantes co-arguidos no processo do duplo ataque do 11 de Fevereiro de 2008 contra o chefe de Estado e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
"No dia (28 de Abril) em que eles se entregaram, no Palácio do Governo, eu reparei nele. Mas sempre muito prudente quando se trata de questões de justiça, não quero ser induzido em erro", explicou o Presidente.
"Às vezes, a vítima não é a pessoa mais adequada para testemunhar, até por causa das emoções", adiantou José Ramos-Horta sobre o seu silêncio quanto à identidade do atirador.
"Não vou influenciar a justiça, de forma alguma. Espero que o senhor confesse ao tribunal que foi ele e (que) explique por que o fez", insistou o Presidente da República.
"Mas repito: ao fim e ao cabo tenho pena deles", declarou José Ramos-Horta.
"Eu, quando vi o senhor Salsinha e os outros em uniforme de prisão, fiquei com pena, porque eles são pessoas pequenas. Não são graúdos. Não são pessoas que têm poder", disse o chefe de Estado.
"O problema de 2006 resultou de falhas de liderança política que causou vítima no próprio chefe de Estado. Mas eles também foram vítimas, ao terem que ser os únicos a apanhar penas de prisão", acrescentou.
Gastão Salsinha liderou em Janeiro de 2006 o movimento dos peticionários nas Forças Armadas, que meses depois resultou numa crise política, militar e institucional.
Um dos actores principais da crise foi o major Alfredo Reinado, comandante da Polícia Militar.
Em Fevereiro de 2008, Alfredo Reinado viria a protagonizar o ataque à casa do Presidente da República, com Gastão Salsinha a atacar a coluna onde seguida o primeiro-ministro.
"Por mim, como ser humano, perdoo-os. Como chefe de Estado, colaboro com a justiça para que a justiça seja feita", afirmou José Ramos-Horta.
O chefe de Estado manifestou o seu agrado com o curso da "investigação muito paciente, durante meses", conduzida pela Procuradoria-geral da República.
Ao fazer o balanço das mudanças no país, José Ramos-Horta considerou o ataque de que foi alvo "o sacrifício supremo" que permitiu a paz em Timor-Leste.
"Em muita sociedades, foram precisos acontecimentos dramáticos para que as pessoas acordassem", referiu também o Presidente timorense.
PRM.
Lusa/fim
Por Malai Azul 2 à(s) 20:12 2 comentários
Direitos Humanos: D. Ximenes Belo destina prémio à formação de crianças em Timor-Leste e de jovens na Indonésia
Viseu, 06 Fev (Lusa) -- O Prémio Nobel da Paz D. Ximenes Belo vai destinar o montante do galardão que recebeu hoje da Fundação Mariana Seixas, de Viseu, à formação de crianças em Timor-Leste e de jovens da Ilha das Flores, na Indonésia.
D. Carlos Filipe Ximenes Belo, bispo titular de Lorium (Itália) e administrador apostólico emérito de Díli, recebeu o Prémio Dr. João Madeira Cardoso, destinado a reconhecer e incentivar acções e obras na defesa dos direitos humanos nos países de língua oficial portuguesa.
Durante a cerimónia, em Viseu, D. Ximenes Belo considerou que o Prémio, com o valor pecuniário de cinco mil euros, foi dirigido não tanto a si mas mais "ao povo de Timor-Leste".
Nesse âmbito, anunciou que irá repartir o dinheiro, sendo uma parte destinada a 1.305 crianças de Timor-Leste e outra à construção de um centro para formação de jovens na Ilha das Flores.
D. Ximenes Belo contou que, de Timor-Leste, "chegou um pedido de que cada criança precisa de 10 euros por ano para este ano lectivo".
No que respeita à Ilha das Flores, lembrou que foi evangelizada em 1556 pelos portugueses, contando que ainda hoje "as pessoas continuam a rezar em português antigo".
O bispo timorense defendeu que, neste início do século XIX, deve haver "um compromisso de trabalho pela paz e pelos direitos humanos, especialmente na formação das novas gerações".
Lembrou que apesar da proclamação dos direitos se vive "uma dolorosa realidade de violações, ocorrência de guerras e violência de todo o tipo", como o tráfico de seres humanos, a exploração dos trabalhadores e os "rapazes soldados".
"Para a sociedade, é importante não só falar dos direitos mas sobretudo de como fornecemos formação adequada para que possam ter uma identidade pessoal", frisou.
D. Ximenes Belo defendeu que "a educação para os direitos humanos deve ser uma educação para a cidadania honesta, activa e solidária", sublinhando que "os direitos humanos são um meio para o desenvolvimento pessoal e colectivo dos povos".
Presente na cerimónia esteve o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, que realçou "o grande carácter" do Prémio Nobel da Paz e o considerou "um dos grandes homens do século XX e início do século XXI".
Frisando a "arma poderosíssima" que é "a força da palavra", lembrou que D. Ximenes Belo se ergueu sempre "em defesa dos oprimidos e da identidade de um povo, que estava descaracterizado".
O presidente da Fundação Mariana Seixas, Francisco Peixoto, lembrou que apesar de o regulamento do Prémio estipular que este deve ser atribuído preferencialmente a um advogado, tal não aconteceu em duas edições.
D. Ximenes Belo segue-se ao presidente da Assistência Médica Internacional (AMI), o clínico Fernando Nobre, e ao Bispo Emérito de Goiás (Brasil), D. Tomás Balduíno, que foram os primeiros a receber, ex-aequo, este prémio.
O Prémio Dr. João Madeira Cardoso - que tem o nome de um advogado já falecido que, no exercício da profissão, se distinguiu na defesa dos direitos humanos - foi instituído em 2006 pela Fundação Mariana Seixas, em colaboração com o Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados.
AMF.
Lusa/fim
Por Malai Azul 2 à(s) 20:11 1 comentários
Antiga estância turística foi Timor por uma manhã
Correio da Manhã
Vítor Mota
Os militares de ordem pública da GNR enfrentaram o arremesso de cocktails molotov durante o exercício
07 Fevereiro 2009 - 00h30
GNR: Sétimo contingente do subagrupamento bravo treina no Seixal
No meio de protestos estridentes, uma alta entidade prepara-se, escoltada por militares da GNR, para discursar à multidão. O atirar da primeira pedra desencadeia o motim, que culmina com a tentativa de esfaqueamento do político. Controlados os distúrbios, a GNR depara-se com um engenho explosivo por inactivar e com uma refém tomada num edifício abandonado.
A manhã está chuvosa e húmida, num cenário semelhante ao que a GNR trabalha, desde 2006, em Timor-Leste. Mas não estamos em Timor. Sessenta militares do sétimo contingente do subagrupamento Bravo aproveitam as ruínas da antiga estância balnear do Muxito, na Cruz de Pau, Seixal, para aperfeiçoar procedimentos. O CM assistiu ao treino de anteontem, com a partida para Díli agendada para dia 26 deste mês.
Quase todos os militares que anteontem participaram no exercício são da recém-constituída Unidade de Intervenção. Alguns deles são ‘repetentes’ em missões no estrangeiro.
O resgate da ‘alta entidade’ recria, de resto, uma situação por que a GNR já passou. Em Fevereiro de 2008 a vida do presidente timorense Ramos-Horta foi salva, ajudando depois no controle dos tumultos que varreram o país.
No Muxito, a GNR voltou a ‘salvar’ uma alta entidade. "Recriámos um cenário com a utilização das quatro valências do contingente", descreveu o capitão Nuno Simões, comandante do contingente.
OPERAÇÕES ESPECIAIS SALVAM 'SECRETÁRIA'
Salva a ‘alta entidade’, um novo problema surge para a GNR resolver. A ‘secretária’ do político foi feita refém por um manifestante encapuzado, que grita exigências ao mesmo tempo que aponta uma arma à cabeça da vítima. A solução encontrada passa por uma intervenção das forças especiais. O sequestrador está no segundo piso de um prédio abandonado. Pelas escadas sobe uma equipa de ataque, que começa as negociações. Sem que o criminoso se aperceba, uma segunda equipa desce em rapel pelo telhado do edifício, preparando-se para surpreender o alvo. A intervenção final é conjunta, com os militares que entram pela janela a disparar uma Taser, que imobiliza o sequestrador. A refém é libertada e a detenção consumada.
PATRULHAS PORTUGUESAS FIZERAM 120 QUILÓMETROS EM 8800 HORAS
Em 2008, militares de dois contingentes distintos do subagrupamento Bravo efectuaram o equivalente a 120 mil quilómetros de patrulha em Timor-Leste. Perto de 300 militares da GNR trabalharam 8800 horas no país, efectuando 110 inactivações de engenhos explosivos. "A GNR é a única força em Timor com esta valência e o trabalho é muito, já que engenhos explosivos convencionais (granadas, morteiros e minas) estão ainda espalhados pelo país", disse ao CM o capitão Nuno Simões, comandante do sétimo contingente do subagrupamento Bravo. Ainda no ano passado, os militares da GNR efectuaram 47 buscas preventivas em território timorense, formando 200 agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL).
PORMENORES
ORDEM PÚBLICA
Enquanto militares de Ordem Pública dispersam os manifestantes, elementos com formação em segurança a altas entidades colocam o ‘político’ a salvo.
COCKTAILS MOTOLOV
O dramatismo do tumulto encenado é acentuado com o arremesso de cocktails molotov. A multidão quer agredir o político.
CONVULSÕES SOCIAIS
O capitão Nuno Simões adiantou que o ambiente em Timor é agora calmo. "Outros contingentes contribuíram para acalmar a sociedade", explicou.
INACTIVAÇÃO REGRESSA
O sétimo contingente do subagrupamento Bravo volta a ter militares especializados em inactivação de explosivos. De resto, a GNR é a única força estrangeira estacionada em Timor que tem esta valência e dá formação sobre ela.
Miguel Curado
Por Malai Azul 2 à(s) 20:09 1 comentários
East Timor to get first shopping mall
Macau Daily Times
Saturday, 07 February 2009
The tiny Asian nation of East Timor will have its first shopping mall by the end of the year after a ground breaking ceremony was held in the sleepy capital yesterday.
East Timorese President Jose Ramos-Horta, Prime Minister Xanana Gusmao and Australian Ambassador Peter Heyward were at the ceremony to mark the beginning of the 10-million-dollar Timor Plaza project.
Ramos-Horta said the mall, which is expected to employ 300 people during construction and be 23,000 square metres (248,000 square feet) when completed, would "help this country awaken and give employment and training to the Timorese".
Developer Jape Kong Su said the development would boost the economy of one of the world's poorest countries.
"[The mall will] promote the re-emergence of local industries such as handicrafts, printing and textiles as internationally, Timor-Leste's [East Timor's] rich and diverse history, spectacular landscapes, unspoiled beaches and coastal waters are being discovered," he said in a press release.
East Timor gained formal independence in 2002 after a bloody 24-year occupation by neighbour Indonesia.
Por Malai Azul 2 à(s) 20:07 1 comentários
Ainda sobre o caso do Juiz Ivo Rosa - Acordão do Tribunal de Recurso
T R I B U N A L D E R E C U R S O
Acordam os juízes Maria Natércia Gusmão Pereira, Antonino Gonçalves e Jacinta Correia da Costa que constituem o Colectivo do Tribunal de Recurso o seguinte:
I - RELATÓRIO
Nos presentes autos de providência cautelar não especificada, em que é requerente
Ivo Nelson de Caires Batista Rosa,
E é requerido
o Conselho Superior da Magistratura Judicial,
veio o primeiro pedir a declaração de suspensão de eficácia da deliberação proferida pelo CSMJ a 13 de Novembro de 2008, que decidiu não renovar com o United Nations Development Programme (UNDP/PNUD), o contrato relativo ao requerente.
Para tanto, alega o requerente:
A 11 de Setembro de 2006, o requerente assinou com o UNDP uma letter of apointment pelo período de seis meses, a qual foi renovada por iguais períodos em 10 de Março de 2007 e 10 de Setembro de 2007;
Por deliberação do CSMJ, datada de 20 de Setembro de 2006, o requerente foi nomeado juiz de Tribunal Distrital, tendo tomado posse, nessa qualidade, no dia 28 de Setembro do mesmo ano;
Exerceu as funções de juiz no Tribunal Distrital de Díli até ao dia 24 de Maio de 2008;
Por deliberação do CSMJ, datada de 7 de Março de 2008, o requerente foi nomeado juiz do Tribunal de Recurso, na sequência de concurso curricular e entrevista, tendo tomado posse, nessa qualidade, no dia 23 de Maio de 2008;
Entre 28 de Setembro de 2006 e 21 de Junho de 2007, o requerente exerceu também as funções de juiz formador dos sete juízes nacionais que actualmente prestam serviço no Tribunal Distrital de Díli;
Desde 15 de Março de 2008 que o requerente é formador dos dois juízes estagiários nacionais, estando o termo do estágio previsto para o dia 15 de Março de 2009;
O CSMJ e a UNDP, a 10 de Março de 2008, celebraram um acordo denominado letter of agreement, identificado pelo número 0014955, como uma forma de implementação do Programa para o Fortalecimento da Justiça;
Nos termos de tal acordo, a UNDP assumiu, perante o CSMJ, a obrigação de proceder ao pagamento mensal do vencimento do requerente;
Também nos termos desse acordo, o CSMJ comprometeu-se a assegurar os seus melhores esforços para garantir que o recrutamento do Juiz Internacional obedeça aos mais altos padrões de eficiência, competência e integridade pessoa;
O requerente não tomou parte no referido acordo;
Desde a nomeação para o cargo de juiz do Tribunal Distrital até ao presente, o requerente sempre gozou de boa reputação técnica e moral, tendo recebido avaliações positivas por parte do Presidente do Conselho Superior da Magistratura;
No dia 21 de Novembro de 2008, a solicitação da UNDP, o Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial entregou àquela o resultado da avaliação do requerente enquanto juiz do Tribunal de Recurso e juiz formador;
Nessa avaliação, o Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial realçou as qualidades técnicas e humanas do requerente, afirmando a relevância das mesmas para o fortalecimento e consolidação do sistema de justiça de Timor-Leste, e solicita a extensão do contrato entre o CSMJ e a UNDP por mais 12 meses;
O requerente, enquanto juiz do Tribunal de Recurso, entre o dia 9 de Junho de 2008 e a data da propositura da presente providência, proferiu 63 acórdãos, todos dentro do prazo legal, inexistindo pendências que lhe sejam imputáveis;
A UNDP sempre reconheceu a qualidade do serviço prestado pelo requerente, e o seu contributo para o fortalecimento do sistema de justiça e consolidação do Estado de Direito;
O requerente foi o relator do acórdão proferido no Proc. n. 4/2008, que declarou a inconstitucionalidade e ilegalidade, com força obrigatória geral, de várias normas da Lei n. 12/2008, de 5 de Agosto (Lei Rectificativa do Orçamento de Estado);
Aquele acórdão foi notificado ao Parlamento Nacional no dia 13 de Novembro de 2008;
Segundo notícias publicadas na comunicação social, o CSMJ teria decidido afastar o requerente das funções de juiz do Tribunal de Recurso;
O Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial, segundo declarações prestadas ao Jornal Expresso, admitiu que a decisão de afastamento do requerente foi tomada no dia da notificação daquele acórdão, sem que a questão fizesse parte da ordem de trabalhos da reunião, e sem o conhecimento de Cláudio Ximenes;
Nessas mesmas declarações, referiu o Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial que “não estou a pôr em causa a competência do juiz, mas foi uma proposta de dois conselheiros e, apesar de polémica, acabou por ser votada por unanimidade”;
Na reunião do dia 13 de Novembro de 2008, deliberou o CSMJ renovar os contratos dos outros juízes internacionais que exercem funções no Tribunal de Recurso;
O CSMJ decidiu ainda solicitar à UNDP o recrutamento de um novo juiz para substituir o requerente;
Entre o requerente e o CSMJ não existe nenhum contrato de prestação de serviços a termo certo;
A decisão do CSMJ afastar o requerente do exercício da função que exerce assentou em questões de natureza política, representando uma manifesta interferência na independência dos Tribunais;
O Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial é Secretário-Geral do CNRT, partido político que integra o Governo;
O Vogal do Conselho Superior da Magistratura Judicial, Cirilo Cristóvão, é assessor do Gabinete do Primeiro-Ministro;
A decisão em apreço representou uma represália ao relator do acórdão que julgou inconstitucional as normas referidas;
O requerente tem como rendimento, apenas, o vencimento que aufere por parte da UNDP;
O cumprimento da decisão em causa acarretará a imediata cessação do pagamento dos seus vencimentos, retirando-lhe o único meio de subsistência que possui;
O cumprimento da decisão implicará também que o Tribunal de recurso seja privado do número mínimo de juízes necessários ao seu regular funcionamento;
O afastamento ou substituição do requerente das funções de formador na fase final de estágios acarretará prejuízo para o processo de avaliação dos estagiários;
A manutenção dos efeitos da deliberação em causa é um factor de instabilidade do normal funcionamento do poder judicial e do Estado de Direito Democrático.
Em sede de oposição à providência, veio o Conselho Superior da Magistratura alegar, invocando as seguintes questões prévias e excepções, bem como impugnando a matéria de facto:
A providência cautelar em causa está sujeita ao pagamento de custas, não beneficiando o requerente de qualquer isenção objectiva ou subjectiva, pelo que deve o mesmo proceder ao pagamento da respectiva taxa de justiça;
O CSMJ não possui personalidade jurídica, pelo que não possui a capacidade de ser parte, não sendo uma pessoa colectiva, mas tão somente um órgão administrativo dos Tribunais;
A providência cautelar deveria ter sido proposta contra o Estado, sob representação do Ministério Público;
A letter of agreement a que o requerente se reporta tem um termo certo final, caducando nessa data, excepto se houver acordo das partes na sua prorrogação;
Ainda que a decisão do CSMJ viesse a ser suspensa, o fim do exercício das funções do requerente em Timor sempre ocorreria, pelo decurso do prazo normal de vigência daquele acordo;
As letter of agreement não são de renovação automática;
A deliberação do CSMJ é apenas um acto informativo de que não pretende exercer a faculdade de prorrogar aquele acordo;
Assim, a suspensão ou não da deliberação do CSMJ é irrelevante, por via da caducidade daquele acordo, sendo a decisão a proferir inútil;
A relação entre o juiz e o CSMJ tem natureza contratual de prestação de serviço;
Nenhuma das partes contratantes está obrigada a contratar ou a prorrogar a vigência de determinado contrato;
O Estatuto dos Magistrados Judiciais aplica-se aos juízes internacionais, com as devidas adaptações;
Assim, existe falta de interesse em agir, uma vez que a acção é inútil;
Os artigos de jornal mencionados no requerimento inicial em nada correspondem à deliberação tomada pelo CSMJ;
O nexo de causalidade entre o facto do requerente ter relatado o acórdão que declarou a inconstitucionalidade e ilegalidade de certas normas da lei rectificativa do orçamento, e a deliberação tomada pelo CSMJ, constitui pura especulação jornalística;
O processo n. 4/2008, no qual foi proferido o acórdão em causa ainda não está findo, já que o Ministério Público invocou a nulidade de todo o processado posterior à petição inicial, por falta de citação;
O acórdão em causa não produzirá qualquer efeito prático, já que a lei orçamental rectificada pela lei cujas normas foram declaradas inconstitucionais ou ilegais, cessará a sua vigência a 31 de Dezembro de 2008;
O requerente não é o primeiro juiz internacional a quem não é renovado o contrato;
A decisão do CSMJ foi deliberada por unanimidade;
A composição do Conselho Superior da Magistratura Judicial é heterogénea, não sendo aceitável que, sempre que um juiz se sente prejudicado por uma decisão do Conselho, alegue motivação política para a mesma;
Não existe qualquer incompatibilidade legal relativamente aos membros do Conselho Superior da Magistratura;
Os juízes internacionais integram provisoriamente a organização judiciária timorense;
Já antes da celebração do acordo (letter of agreement) de 2007, as decisões do requerente eram objecto de controvérsia, sem que tal tenha impedido a sua permanência em Timor;
O Tribunal de Recurso não fica impedido de funcionar na ausência do requerente, estando em curso o recrutamento de quatro juízes portugueses, que previsivelmente entrarão em funções no próximo mês;
A formação e avaliação dos juízes estagiários não ficam prejudicadas com a saída do requerente, na medida em que tais tarefas serão asseguradas pelos juízes internacionais que continuam em Timor;
É pública e notória a entrada e saída de juízes internacionais em Timor nos últimos anos, sem que se tenha colocado em causa o normal funcionamento do poder judicial e do Estado de Direito Democrático;
A conduta do requerente é objecto de comentários e controvérsia;
Apesar do requerente não ter participado na negociação e celebração da letter of agreement, aderiu ao seu conteúdo, aceitando-o;
O requerente litiga de má-fé, na medida em que não é verdade que o vencimento pago pela UNDP seja o seu único rendimento;
O requerente, desde Setembro de 2008 que aufere o seu salário em Portugal;
Sendo juiz em Portugal, terminadas as funções em Timor, regressará ao serviço naquele país.
SANEAMENTO:
O Tribunal é competente em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia – art. 104, n. 1 da Lei n. 8/2002, de 20 de Setembro, na versão decorrente da Lei n. 11/2004, de 29 de Dezembro (de agora em diante mencionada como Estatuto dos Magistrados Judiciais ou EMJ).
A - Da personalidade jurídica do CSMJ
Nos termos do disposto no art. 8 do EMJ, o Conselho Superior da Magistratura Judicial é o órgão de gestão e disciplina dos magistrados judiciais, competindo-lhe nomear, colocar, transferir e promover os juízes (no que constitui uma reprodução do disposto no n.1 do art. 128 da Constituição da República Democrática de Timor-Leste – CRDTL). O elenco das demais competências do CSMJ constam, entre outros, do art. 15 do Estatuto.
O seu modo de composição consta do art. 9 do EMJ.
A forma das decisões que toma encontra-se prevista no art. 17.
O meio e processo de impugnação das suas decisões estão regulados nos art. 104 e seguintes da mesma Lei. Nos termos do disposto no art. 107, n.3 do EMJ, “Quando o recurso deva prosseguir, o relator ordena o envio de cópias ao Conselho Superior da Magistratura Judicial, a fim de responder no prazo de 10 dias e no mesmo prazo remeter o processo ao Supremo Tribunal de Justiça”.
Analisado o regime legal acima mencionado conclui-se que não há necessidade de se averiguar da natureza jurídica do Conselho Superior da Magistratura Judicial. Seja o CSMJ uma pessoa colectiva autónoma e com personalidade jurídica, seja um mero órgão do Estado representado pelo Ministério Público nos termos gerais previstos pelo art. 23 do Código de Processo Civil (CPC), a verdade é que, no processo de recurso para impugnação das decisões que toma, estabelece a lei expressamente que a parte passiva é o CSMJ, cabendo a tal órgão o direito de responder.
De todo o modo, e sem se entrar na discussão, por desnecessária, sempre se dirá que num Estado de Direito Democrático, sujeito ao princípio da separação de poderes, e onde os Tribunais constituem órgãos de soberania independentes, conforme sucede em Timor-Leste (art. 1, n.1; 69; 118, n.1; e 119, todos da CRDTL), dificilmente se poderá defender, como faz o CSMJ, que o Conselho Superior da Magistratura Judicial, dadas as competências que possui, seja um órgão da administração do Estado, a representar em juízo pelo Ministério Público.
No entanto, tenha ou não o CSMJ personalidade jurídica, para efeitos do recurso judicial de impugnação das suas decisões, tem o CSMJ personalidade judiciária.
E conforme vem disposto nos art. 10 e seg. do CPC, o pressuposto processual da acção é a personalidade judiciária e não a personalidade jurídica, sendo que todo aquele que possui personalidade jurídica tem igualmente personalidade judiciária, mas nem todo o que possui personalidade judiciária tem, necessariamente personalidade jurídica.
Sendo a presente providência cautelar um procedimento preliminar àquele recurso, tem de se considerar, necessariamente, que aquela personalidade judiciária para a acção principal se estende aos procedimentos cautelares ou executivos com ela conexos.
Logo, o CSMJ não tem razão quando afirma que a acção deveria correr os seus termos contra o Estado, mediante representação do Ministério Público.
Termos em que se julga improcedente a invocada excepção de falta de personalidade judiciária do CSMJ.
As partes dispõem de personalidade e capacidade judiciárias.
B - Da falta de interesse em agir
O CSMJ alega também que não há interesse em agir que justificasse esta providência.
Mas também aqui não tem razão.
O requerente tem interesse directo em demandar por que da procedência da providência terá como consequência a neutralização da decisão do Conselho de não lhe renovar o contrato, com todas as consequências daí resultantes. O CSMJ tem interesse directo em contradizer esta providência cautelar porque da procedência do pedido do requerente resulta a neutralização da execução da sua decisão de não renovação do contrato deste. Por isso, nos termos do artigo 29º do CPC, o requerente tem interesse directo em demandar e o CSMJ tem interesse directo em contradizer. Não se pode dizer que o requerente ou o CSMJ não tenham interesse em agir.
Existe, pois, interesse em agir, uma vez que da decisão podem resultar efeitos jurídicos úteis para a parte que a propôs.
Termos em que se julga improcedente a invocada excepção dilatória inominada de falta de interesse em agir.
*******
As partes são legítimas.
Não ocorrem nulidades, ou outras excepções, que cumpra conhecer, e que obstem a apreciação do mérito da causa.
C - Da falta de pagamento da Taxa de Justiça
Alega o CSMJ que a presente providência cautelar está sujeita a custas, e como tal, às regras de pagamento de taxa de justiça previstas pelo DL n. 15/2003, de 1 de Outubro (Código das Custas Judiciais, ou CCJ).
Não restam dúvidas que sim, tanto mais que o art. 108 do EMJ prevê expressamente o valor das custas susceptíveis de serem cobradas. Recorde-se que este artigo, embora decorra da primeira versão do Estatuto (Lei n. 8/2002, de 20 de Setembro), não foi revogado pelo Código das Custas Judiciais, nem foi revogado pela primeira alteração ao Estatuto (Lei n. 11/2004, de 29 de Dezembro). Deve portanto entender-se que as custas dos recursos de impugnação de decisões do Conselho Superior da Magistratura Judicial continuam a regular-se por aquele preceito. Importa, no entanto, averiguar se aquelas custas estão sujeitas às regras de pagamento previstas no CCJ.
Entendemos que não. Em primeiro lugar, o art. 7 do CCJ prevê como estando sujeitos ao pagamento de taxa de justiça os processos de natureza cível e os processos de natureza crime. Por seu turno, o art. 10 estipula que o preparo inicial a pagar pelas partes corresponde a 1/4 do valor total da taxa de justiça da acção.
O recurso de impugnação de determinada decisão do CSMJ não é, seguramente, uma acção de natureza cível, uma vez que as relações jurídicas susceptíveis de serem afectadas por aquelas decisões, revestem sempre natureza pública, sendo reguladas pelo direito administrativo. Logo, tais recursos, não estão sujeitos a taxa de justiça (o que aliás, é confirmado pelo já mencionado art. 108 do EMJ, que apenas se reporta às custas finais). E se assim é, não estão sujeitos ao pagamento de qualquer preparo inicial, sendo o montante global de custas fixado e pago a final, se a parte vencida não beneficiar de uma qualquer isenção subjectiva.
A presente providência, sendo um preliminar daquele recurso, segue, naturalmente, as mesmas regras de tributação (ainda que, por falta de disposição de direito processual administrativo que a preveja, se lhe apliquem as regras dos procedimentos cautelares comuns previstas no Código de Processo Civil).
Pelo que, conclui-se, a presente providência cautelar não está sujeita ao pagamento de preparo inicial.
Termos em que se julga improcedente a invocada questão prévia.
Não se vislumbram outras questões prévias que cumpra conhecer.
II - FACTOS A CONSIDERAR
Em face das posições assumidas pelas partes nos respectivos articulados, e considerando os documentos juntos aos autos, não se mostra necessário produzir mais prova, podendo conhecer-se desde já o pedido formulado – art. 310, n.1 do CPC.
Para tanto, consideram-se provados os seguintes factos:
1. A 11 de Setembro de 2006, o requerente assinou com o UNDP uma letter of apointment pelo período de seis meses, a qual foi renovada por iguais períodos em 10 de Março de 2007 e 10 de Setembro de 2007;
2. Por deliberação do CSMJ, datada de 20 de Setembro de 2006, o requerente foi nomeado juiz de Tribunal Distrital, tendo tomado posse, nessa qualidade, no dia 28 de Setembro do mesmo ano;
3. Exerceu as funções de juiz no Tribunal Distrital de Díli até ao dia 24 de Maio de 2008;
4. Por deliberação do CSMJ, datada de 7 de Março de 2008, o requerente foi nomeado juiz do Tribunal de Recurso, na sequência de concurso curricular e entrevista, tendo tomado posse, nessa qualidade, no dia 23 de Maio de 2008;
5. Entre 28 de Setembro de 2006 e 21 de Junho de 2007, o requerente exerceu também as funções de juiz formador dos sete juízes nacionais que actualmente prestam serviço no Tribunal Distrital de Díli;
6. Desde 15 de Março de 2008 que o requerente é formador dos dois juízes estagiários nacionais, estando o termo do estágio previsto para o dia 15 de Março de 2009;
7. O CSMJ e a UNDP, a 10 de Março de 2008, celebraram um acordo denominado letter of agreement, identificado pelo número 0014955, como uma forma de implementação do Programa para o Fortalecimento da Justiça;
8. Nos termos de tal acordo, a UNDP assumiu, perante o CSMJ, a obrigação de proceder ao pagamento mensal do vencimento do requerente;
9. Também nos termos desse acordo, o CSMJ comprometeu-se a assegurar os seus melhores esforços para garantir que o recrutamento do Juiz Internacional obedeça aos mais altos padrões de eficiência, competência e integridade pessoa;
10. O requerente não tomou parte no referido acordo;
11. Desde a sua nomeação para o cargo de juiz do Tribunal Distrital que o requerente tem recebido avaliações positivas do Presidente do Conselho Superior da Magistratura;
12. Por parte do UNDP foi reconhecida a qualidade do serviço prestado pelo requerente e o seu contributo para o fortalecimento do sistema de justiça e consolidação do Estado de direito;
13. No dia 21 de Novembro de 2008, a solicitação da UNDP, o Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial entregou àquela o resultado da avaliação do requerente enquanto juiz do Tribunal de Recurso e juiz formador;
14. Nessa avaliação, o Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial realçou as qualidades técnicas e humanas do requerente, afirmando a relevância das mesmas para o fortalecimento e consolidação do sistema de justiça de Timor-Leste;
15. O requerente, enquanto juiz do Tribunal de Recurso, entre o dia 9 de Junho de 2008 e a data da propositura da presente providência, proferiu 63 acórdãos;
16. O requerente foi o relator do acórdão proferido no Proc. n. 4/2008, que declarou a inconstitucionalidade e ilegalidade, com força obrigatória geral, de várias normas da Lei n. 12/2008, de 5 de Agosto (Lei Rectificativa do Orçamento de Estado);
17. Aquele acórdão foi notificado ao Parlamento Nacional no dia 13 de Novembro de 2008;
18. Segundo notícias publicadas na comunicação social, o CSMJ teria decidido afastar o requerente das funções de juiz do Tribunal de Recurso;
19. O Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial, segundo declarações prestadas ao Jornal Expresso, admitiu que a decisão de afastamento do requerente foi tomada no dia da notificação daquele acórdão, sem que a questão fizesse parte da ordem de trabalhos da reunião, e sem o conhecimento de Cláudio Ximenes;
20. Nessas mesmas declarações, referiu o Vice-Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial que “não estou a pôr em causa a competência do juiz, mas foi uma proposta de dois conselheiros e, apesar de polémica, acabou por ser votada por unanimidade”;
21. O Conselho Superior da Magistratura Judicial, constituído por Dionísio Babo, Vice-Presidente, Napoleão Soares, Guilhermino da Silva, Nelson de Carvalho, membros efectivos, e Cirilo Cristóvão, membro substituto de Dionísio Babo, decidiu em 13 de Novembro de 2008, por unanimidade, não renovar o contrato do requerente enquanto juiz do Tribunal de Recurso;
22. Na mesma reunião de 13 de Novembro de 2008 o CSMJ decidiu renovar os contratos dos outros juízes internacionais que exercem funções no Tribunal de Recurso e que constituíram com ele o Tribunal Colectivo que proferiu o acórdão mencionado supra, e decidiu ainda dar início ao recrutamento de um novo juiz para substituir o requerente;
23. O CSMJ não indicou na decisão qualquer fundamento para justificar a não renovação do contrato do requerente;
24. A letter of agreement a que o requerente se reporta tem o seu termo a 31 de Dezembro de 2008, podendo ser prorrogada se houver acordo das partes nesse sentido;
25. O cumprimento da decisão do CSMJ implicará a redução do número de juízes do Tribunal de Recurso para apenas dois e a necessidade de se desencadear o processo de selecção e recrutamento de um outro juiz em substituição do requerente;
26. Com a não renovação do contrato o requerente deixará de ser formador dos actuais dois juízes estagiários na fase final do estágio deles, fase em que o formador deveria elaborar relatório informativo acerca do desempenho dos formandos e opinativo acerca da aptidão dos mesmos para serem nomeados como juízes de direito.
III - FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
1. Irregularidade na composição do Conselho Superior da Magistratura Judicial
Aplicando a lei aos factos provados, encontramos em primeiro lugar uma irregularidade na composição do CSMJ que tomou a decisão de não renovação do contrato do requerente. Com efeito Cirilo Cristóvão é apenas membro substituto do membro Dionísio Babo e, como tal, nos termos do artigo 9º, nº 3, do Estatuto dos Magistrados Judiciais, só poderá intervir em substituição deste e nos casos da sua ausência ou impedimento e nunca simultaneamente com ele. No caso Cirilo Cristóvão participou como membro do CSMJ, simultaneamente com o membro efectivo Dionísio Babo, na decisão, sem que este estivesse ausente ou impedido. O membro Dionísio Babo não se podia considerar ausente ou impedido só pelo facto de ser Vice-Presidente do Conselho ou ser substituto do Presidente; ele não estava ausente porque estava presente na reunião, nem estava impedido porque participou na decisão. A participação indevida de Cirilo Cristóvão na decisão do CSMJ de não renovação do contrato do requerente torna essa decisão um acto anulável, nos termos do artigo 52º do Decreto-Lei 32/2008, de 27 de Agosto, que estabelece as normas do procedimento administrativo.
2. Interesse juridicamente protegido
Vejamos a seguir se o requerente é titular de direito ou interesse juridicamente protegido que mereça protecção através da providência requerida.
Verificamos pelo que está provado que o requerente tem exercido primeiro as funções de juiz do Tribunal Distrital de Díli e depois as de juiz do Tribunal de Recurso e as de formador dos juízes nacionais, tendo o seu trabalho ao longo desse tempo sido avaliado positivamente pelo Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial e pelo UNDP e o seu contrato sido renovado sucessivamente; apesar disso, por decisão de 13 de Novembro de 2008, o CSMJ decidiu não renovar o contrato do requerente enquanto juiz do Tribunal de Recurso e dar início ao processo de recrutamento de um novo juiz para substituir o requerente.
Sendo o contrato renovável periodicamente e por termo certo, temos que concluir que, em caso de não renovação, o contrato termina decorrido o prazo da sua vigência; por outro lado, não estando provado que tivesse sido estipulado a renovação automática do contrato, não podemos dizer que o requerente tem direito sem mais à que lhe seja renovado o contrato.
Contudo, diz o artigo 111º, nº 2, do Estatuto dos magistrados judiciais que os dispositivos deste diploma se aplicam, com as devidas adaptações, aos juízes internacionais que exerçam funções na organização judiciária de Timor-Leste. Tal quer dizer que, tirando aquelas normas que, por natureza, só se aplicariam aos juízes nacionais, as disposições desse diploma legal se aplicam também aos juízes internacionais em funções na organização judiciária timorense.
As disposições destinadas a garantir a independência e imparcialidade dos juízes aplicam-se necessariamente aos juízes internacionais.
Mais concretamente a norma do artigo 6º desse diploma que diz que “os magistrados judiciais não podem ser transferidos, suspensos, promovidos, aposentados, demitidos ou por qualquer modo mudados de situação, senão nos casos previstos neste Estatuto” também se aplica aos juízes internacionais com as devidas adaptações. Isso quer dizer que os juízes internacionais só podem ser suspensos, demitidos ou por qualquer forma mudados de situação nos casos previstos na lei; nomeadamente não podem ver cessado o exercício das suas funções por força do termo da vigência do seu contrato, caso se mantiver a necessidade e a conveniência da sua permanência na organização judiciária timorense, sob pena de se violar o princípio de inamovibilidade.
O facto de o contrato estabelecer uma duração temporal para a permanência do juiz internacional no sistema judiciário timorense não pode de maneira nenhuma conferir ao CSMJ a faculdade de, sem mais, fazer cessar o exercício de funções ao juiz internacional quando ainda se mantém a necessidade e conveniência dessa permanência e não haja outra razão que impossibilite tal permanência (como o próprio juiz não estar interessado em continuar ou não obter autorização do seu serviço de origem para continuar ou não haver verba para lha pagar). A interpretação de artigo 111º, nº 2, no sentido de que essa norma permite ao CSMJ, sem fundamento válido, decidir não renovar o contrato naqueles casos em que a permanência do juiz internacional em causa é conveniente e necessária viola o princípio da inamovibilidade dos juízes previsto no artigo 6º do Estatuto dos magistrados judiciais e no artigo 121º, nº 2, da Constituição. Tal interpretação permitiria que o exercício das funções jurisdicionais por juízes internacionais fique vulnerável a pressões e perseguições de vário género, nomeadamente, de natureza política, e que os juízes internacionais estejam em permanente risco de não verem renovado o seu contrato caso tomem decisões contrárias a interesses com influência junto do Conselho Superior da Magistratura Judicial (no caso de este órgão ser influenciável por tais interesses). Isso seria totalmente contrário ao objectivo pretendido pelo citado artigo 111º de permitir que Timor-Leste recorra a juízes não nacionais para manter o bom e regular funcionamento do seu sistema judiciário, funcionamento esse dependente necessariamente da independência e imparcialidade dos juízes que trabalham nos tribunais timorenses.
Daqui decorre que é legítimo ao juiz internacional cujo contrato chegue ao seu termo ter a expectativa jurídica de que venha a ser renovado o seu contrato, caso se mantenha a necessidade e a conveniência da sua permanência no sistema judiciário timorense.
Assim, temos que reconhecer que o requerente tem uma expectativa jurídica de ver renovado o seu contrato, considerando que a sua permanência se mantém necessária e conveniente, expectativa que, a ser violada merece a tutela do direito.
3. Falta de fundamentação da decisão
Vemos também que a decisão de não renovar o contrato do requerente não tem qualquer fundamentação.
Contudo, nos termos do Decreto-Lei 32/2008, deve constar do acto a sua fundamentação, quando necessária (artigo 42º, nº 1, alínea e), devem ser fundamentados os actos que neguem, extinguem, restrinjam ou afectem por qualquer modo direitos ou interesses legalmente protegidos ou imponham sanções, ou decidam de modo diferente da prática habitualmente seguida na resolução de casos semelhantes, ou na interpretação e aplicação dos mesmos princípios ou preceitos legais (artigo 43º, nº 1, alíneas a) e e)), a fundamentação deve ser expressa, através de sucinta exposição dos fundamentos de facto e de direito da decisão, embora possa consistir apenas em mera declaração de concordância com os fundamentos de anteriores pareceres, informações ou propostas que constituem neste caso parte integrante do respectivo acto (artigo 44º, nº 1).
É irrelevante que o CSMJ venha agora na oposição à providência indicar uma lista de razões como fundamentos da decisão que não foi fundamentada; a fundamentação deve constar do próprio acto, como diz o artigo 44º, nº 1 citado.
O CSMJ defende-se dizendo que se limitou a exercer um poder discricionário e, por isso, não tinha que fundamentar o acto.
Contudo, esse entendimento é totalmente contrário ao que diz a lei. As normas atrás citadas não excluem o dever de fundamentação dos actos praticados no exercício de um poder discricionário; pelo contrário, com consta do nº 2 do citado artigo 43º, só as ordens dadas pelos superiores hierárquicos aos seus subalternos em matéria de serviço e com a forma legal não tem que ser fundamentadas, e, mesmo aqui, só nos casos em que a lei não diz o contrário. Como diz o Professor Rui Machete citado pelo Professor Freitas do Amaral, o dever de fundamentar os actos administrativos destina-se: em primeiro lugar à defesa do particular – que só consegue estruturar cabalmente uma impugnação graciosa ou contenciosa se conhecer os motivos que levaram a Administração a decidir em determinado sentido; em segundo lugar ao autocontrolo da Administração – uma vez que o dever de fundamentação equivale a um convite à ponderação de todos os factos que possam interessar à decisão e, por outro lado, a explanação dos motivos da prática de um acto facilitam o respectivo controle pelos órgãos dotados de poderes de supervisão; em terceiro lugar à pacificação das relações entre a Administração e os particulares – posto que estes últimos tendem a aceitar melhor decisões eventualmente desfavoráveis se as correspondentes razões lhes foram comunicadas de forma completa, clara e coerente; em quarto lugar à clarificação e prova dos factos sobre os quais assenta a decisão – o que se prende com o cumprimento de exigências de transparência da actuação administrativa (v. Diogo Freitas de Amaral, em Curso do Direito Administrativo, II vol, Almedina, 2002, pág. 350 a 351).
O CSMJ alega também que, tratando-se do exercício de um poder discricionário, era livre de decidir entre renovar ou não o contrato do requerente, sem mais nada.
Mas essa concepção de poder discricionário está errada. O exercício do poder discricionário não pode ser puramente arbitrário, dependente do arbítrio da entidade decisora. Como diz o Professor Freitas do Amaral “na discricionariedade a lei não dá ao órgão administrativo competente liberdade para escolher qualquer solução, antes o obriga a procurar a melhor solução que respeite o fim da norma, antes o obriga a procurar a melhor solução para a satisfação do interesse público de acordo com os princípios jurídicos de actuação”, “a lei, ao conferir a determinado órgão um poder discricionário, não contemporiza com qualquer escolha que respeite o fim, antes deliberadamente pretende e espera que seja procurada e perfilhada aquela que, ponderados todos os factos e as circunstâncias que apenas em concreto podem ser descobertos, e observados os imperativos que decorrem dos princípios da proporcionalidade, da igualdade, da boa fé e da imparcialidade, o órgão administrativo tiver por ajustada” (v. Diogo Freitas de Amaral, em Curso do Direito Administrativo, II vol, Almedina, 2002, página 82 e 81, respectivamente).
No caso concreto, por um lado, o CSMJ decidiu não renovar o contrato do recorrente sem ponderar as circunstâncias do caso concreto. Por outro lado, considerando os factos provados, nomeadamente, que desde a nomeação para o cargo de Juiz do Tribunal Distrital até a presente data o Requerente tem recebido avaliações positivas por parte do Presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial, que na avaliação por parte da UNDP sempre foi reconhecido a qualidade do serviço prestado pelo requerente e o seu contributo para o fortalecimento do sistema de justiça e consolidação do Estado de Direito, que o requerente, enquanto Juiz do Tribunal de Recurso, em acumulação de funções como Juiz formador, entre o dia 9 de Junho de 2008 e o momento actual proferiu 63 acórdãos, todos dentro do prazo legal, inexistindo pendências que lhe sejam imputáveis, a melhor solução para a satisfação do interesse público seria a renovação do contrato do requerente. Considerando as referidas circunstâncias e o facto de a posição continuar a ser necessária, visto que o CSMJ ao mesmo tempo decidiu que se tomassem diligências para contratação de outro juiz para substituir o requerente, mais uma vez vemos que a decisão não foi motivada por razões de interesse público. Além disso, considerando que o CSMJ decidiu renovar o contrato aos outros dois juízes do Tribunal de Recurso sem que haja motivo para justificar essa diferença no tratamento, a decisão do CSMJ violou também o princípio de igualdade de tratamento e o princípio de justiça e imparcialidade previstos nos artigo 3º e 5º, respectivamente, do Decreto-Lei 32/2008. A decisão tomada é manifestamente arbitrária e contrária à lei que confere ao CSMJ a competência de gestão e disciplina dos juízes com o objectivo de garantir o bom funcionamento do poder judicial, nomeadamente de assegurar que os tribunais tenham juízes com preparação humana, profissional e técnica para tomar decisões com independência e imparcialidade. As circunstâncias e a forma como a decisão foi tomada permitiram que ela aparecesse aos olhos da comunicação social, e fosse por esta transmitida, como sendo motivada por razões políticas, ligadas à decisão tomada pelo requerente, o que afecta a boa imagem do próprio CSMJ enquanto órgão que tinha por obrigação garantir que os juízes não fossem penalizados pelas suas decisões de modo a exercerem as suas funções com independência e imparcialidade.
Por essas razões, é de esperar que no recurso contencioso a interpor pelo requerente venha a ser declarada a nulidade da decisão do CSMJ, nos termos dos artigos 52º e 53º do Decreto-Lei 21/2008.
4. O periculum in mora
Perante o que está provado, a execução da decisão do Conselho de não renovar o contrato do requerente, dando origem ao recrutamento de outro juiz em substituição dele, inviabilizaria irremediavelmente a realização da sua expectativa jurídica de ver renovado o seu contrato.
Por sua vez a execução da decisão do CSMJ tornaria inútil a decisão favorável que o requerente venha a obter nesse recurso. Com a execução acarretará a contratação de outro juiz para o Tribunal de Recurso e inviabilizará a renovação do contrato do requerente, tal como é sua expectativa. Isso para além de implicar a redução do número de juízes do Tribunal de Recurso para apenas dois e fará com que o requerente deixe de ser formador dos actuais dois juízes estagiários na fase final do estágio deles, fase em que o formador deveria elaborar relatório informativo acerca do desempenho dos formandos e opinativo acerca da aptidão dos mesmos para serem nomeados juízes de direito, tarefa que só poderá ser feita de forma conscienciosa e justa por quem os tivesse de facto acompanhado durante a fase do estágio.
Assim, estão preenchidos todos os requisitos previstos no artigo 305º, nºs 1 e 2, do CPC para se conceder a providência cautelar requerida.
Não há qualquer fundamento para se condenar o requerente como litigante de má fé, como é alegago pelo CSMJ.
IV - DECISÃO
Pelas razões expostas, deliberam os juízes do Tribunal de Recurso suspender a execução da deliberação do CSMJ de 13 de Novembro de 2008 que decidiu não renovar o contrato do requerente juiz Ivo Nelson de Caires Batista Rosa e desencadear o processo de selecção e recrutamento de um outro juiz para o substituir como juiz do Tribunal de Recurso.
Sem custas, visto que o CSMJ, aqui vencido e, portanto, por elas responsável, goza de isenção delas nos termos do artigo 2º, nº 1, alínea a), do Código das Custas Judiciais.
***
- Notifique o requerente, o CSMJ e o UNDP.
Díli, 31 de Dezembro de 2008
Os juízes do Tribunal de Recurso
Maria Natércia Gusmão Pereira, Presidente e Relatora
Antonino Gonçalves
Jacinta Correia da Costa
Por Malai Azul 2 à(s) 20:00 4 comentários
Traduções
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "