Díli, 07 Nov (Lusa) - O apoio humanitário aos improvisados campos de deslocados distribuídos por Díli termina dentro de três semanas, anunciou hoje o p rimeiro-ministro de Timor-Leste, José Ramos-Horta.
O anúncio foi feito no Colégio Salesiano D. Bosco, em Comoro, onde vive m presentemente 6.257 deslocados, e o período coincide com o tempo que falta para que fiquem concluídas as áreas de acolhimento temporárias definidas pelo governo.
José Ramos-Horta fez o anúncio durante a visita que fez àquele campo ac ompanhado do representante especial do secretário-geral da ONU em Timor-Leste, Finn Reske-Nielsen, do ministro do Trabalho e Reinserção Comunitária, Arsénio Bano, e dos vice-ministros do Interior, José Agostinho Sequeira "Somotxo", e das Obras Públicas, Raul Mousaco.
Logo que estejam concluídas as áreas de acolhimento localizadas em Hera e Tibar, a cinco e 10 quilómetros de Díli, nos extremos leste e oeste da capital, respectivamente, os deslocados deverão permanecer aí entre seis meses e um ano, até que sejam reconstruídas as casas em que viviam e que foram destruídas ou seriamente danificadas durante a violência ocorrida desde o início da crise polí tico-militar, em Abril.
No encontro de hoje, Ramos-Horta reafirmou que estão criadas as condições de segurança, com intensificação das patrulhas policiais e instalação de esquadras, pelo que os deslocados terão que sair dos campos em que se encontram.
"Se não saírem terão que se haver com as consequências", disse Ramos-Horta.
As consequências são o fim da assistência humanitária nos locais em que se encontram os deslocados, e que nalguns casos começam já a apresentar problemas de saúde pública que poderão intensificar-se com o início da época das chuvas , ao longo deste mês.
Todavia, através de um dos seus representantes, os deslocados continuam sem dar mostras de acederem ao desejo do governo e das Nações Unidas para que saiam dos campos.
"Queremos garantia de segurança", frisou o representante dos deslocados presentes no Colégio D. Bosco.
Díli chegou a ter cerca de 70 mil deslocados registados, mas presentemente, com a progressiva saída de muitas pessoas para os distritos da parte leste do país, de onde são naturais, e o regresso de alguns às suas casas, que abandon aram por se sentirem ameaçados, apenas cerca de 25 mil pessoas se mantêm nos cer ca de 50 campos em que se encontram.
No caso do Colégio D. Bosco, o seu director, padre António Pinto, disse à Lusa que no pico da crise, em Maio e Junho, "quase 15 mil pessoas chegaram a viver" naquelas instalações.
Muitos dos timorenses que ainda vivem nos campos de deslocados saem durante o dia para irem trabalhar, ou mesmo avaliar a situação em que se encontram as suas casas, e regressam à noite às tendas fornecidas pelo Alto Comissariado d as Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), garantindo o acesso à ajuda humanitária que lhes é fornecida pelo Estado, organizações não-governamentais (ONG) e a gências da ONU.
O pontapé de saída da transferência das dezenas de milhares de deslocados em Díli começou no passado sábado, num encontro que reuniu o governo, a missão da ONU (UNMIT), ONG e agências da ONU.
Desse encontro, que durou cerca de sete horas, ficou decidido que um gr upo de trabalho entregará, dentro de dias, um plano operacional para ser executa do ao longo deste mês.
Na ocasião, o chefe do governo disse à Lusa que tem esperança que cerca de dois terços dos deslocados abandonem os campos de acolhimento ao longo deste mês.
O processo de transferência vai abranger os campos de deslocados situados junto ao Aeroporto Internacional, Porto de Díli, Hospital Nacional e junto à UNMIT.
Para garantir a segurança nos bairros e nas áreas de acolhimento temporário, os efectivos da polícia da ONU (UNPOL) "vão reforçar os postos já criados e intensificar as patrulhas móveis", disse sábado à Lusa o comissário Antero Lopes, comandante daquela força.
Além dos actuais 959 efectivos, de 19 nacionalidades, ao serviço da UNP OL, mais seis grupos de 25 agentes cada, da Polícia Nacional de Timor-Leste, "vão garantir que as áreas de acolhimento e os bairros terão protecção policial per manente", frisou Antero Lopes.
"A UNPOL tem a responsabilidade da segurança pública, conforme o mandato conferido pela resolução 1704, de 25 de Agosto, do Conselho de Segurança da ON U, e estabeleceu 12 postos de polícia em toda a cidade e nas zonas periféricas, em colaboração com o governo timorense", afirmou.
Antero Lopes disse esperar que "as localidades críticas coincidam com a lguns dos locais onde potencialmente os deslocados actuais procurarão o realojam ento".
De acordo com a página na Internet do Ministério do Trabalho e Reinserção Comunitária timorense, o número de deslocados internos, considerando os recipientes de assistência humanitária, era de 178.034 pessoas a 20 de Setembro passa do, com Díli a apresentar 69.600 deslocados.
Os deslocados foram obrigados a abandonar as suas áreas de residência e m resultado da crise político-militar desencadeada em Abril passado, que provocou mais de meia centena de mortos e a destruição de bens públicos e privados.
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