terça-feira, novembro 07, 2006

Os pecados do artigo de Xanana Gusmão




A crise continua e está para ficar. A reconciliação não existe.


Se que a um nível mais alto, os responsáveis políticos não derem sinais claros do seu compromisso, e o povo não vir que o exemplo vem de cima, dificilmente acreditarão nestas campanhas. É uma declaração que não está à altura de um Presidente da República, nem pelo conteúdo, nem pela forma. O artigo fala por si.


"Sendo o Ministro de Defesa um membro do CCF, que viveu 5 anos sem interrupção, em casa do Comandante das Forças, é impressionante que se diga que as F-FDTL estavam mais ‘vinculadas’ ao Presidente da República.
...
É preciso lembrar-se que, a partir de Fevereiro de 2001, o ex-comandante das Falintil se desvinculou totalmente das Forças, tendo-se integrado no programa da FRAP, do Banco Mundial, e recebeu também os 500 dólares americanos para a sua própria reinserção na sociedade."

Não vale a pena anunciar grandes programas de reconciliação quando o Presidente da República, aquando da demissão de Mari Alkatiri, anuncia que “ganhámos a guerra” e publica artigos nos jornais ao melhor estilo “lavar de roupa suja”.

"O CCF teve o cuidado de juntar diferentes peças para fazer um carro e isso lembra o caso da Oficina dos Veteranos, em Taibesse, onde entrava um Land Cruiser e saia um Tata. (O malasiano que trabalhava ali, em sociedade com respeitadas pessoas, estragou o nome e a credibilidade da oficina, tendo partilhado com os seus sócios centenas de milhares de dólares... e foi ajudado a fugir, para ilibar os seus sócios. Quem pagou com aquilo tudo, foram os pobres veteranos da oficina.)"

Este discurso não é de um Chefe de Estado. À semelhança do discurso de Xanana Gusmão, proferido em plena crise, este texto revela o seu ódio contra um partido político e demonstra-o num exercício ridículo. O Presidente da República responde num jornal diário a um comunicado de um partido político...

"Essas pessoas, normalmente, padecem de uma enorme falta de segurança. Sofrem a paranóia de que são perseguidas. As teorias de conspiração que tecem à sua volta, são uma forma de se sentirem seguros, na sua própria consciência ou, em melhores palavras, no seu ‘ego’, porque repelem toda e qualquer ideia ou possibilidade de erro."

As considerações que o PR faz sobre paranóia e teorias da conspiração são confusas. Parecem escritas por uma criança.

Insulta-nos a todos, que não prescindimos do nosso direito de acusar, com base no nosso testemunho, que esta crise foi provocada artificialmente junto de grupos descontentes, com objectivos muito claros, quanto ao derrube de um Governo eleito, sim, eleito democraticamente.

"Estou a gostar imenso da expressão ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, expressão que revela a suma sapiência de doutores formados em países democráticos, durante 24 anos, enquanto o povo resistia, sem doutores, para ganhar a guerra!"

Um dos principais problemas de Timor-Leste, vem de uma questão que nunca ficou resolvida na Resistência. O facto de não reconhecerem todos, que todos tiveram um papel fundamental, cá dentro ou lá fora, na luta contra o invasor e que foi o esforço conjunto de todos, que tornou possível alcançarem a independência. Este discurso mostra que Xanana Gusmão se recusa aceitar o contributo dos outros.

As constantes ironias e acusações a uma "elite intelectual e política" faz lembrar os ataques demagógicos e populistas de uma classe política que geralmente se sente inferiorizada por intelectuais. O Presidente da República deveria congratular-se com os seus “Senhores Doutores” timorenses. É uma pena que um herói como Xanana Gusmão caia neste registo.

"Eu acredito que o CCF teria perguntado ao seu Governo se as suas instituições competentes (ou incompetentes) fizeram algum progresso na resposta a alguns problemas de fundo, detectados nas F-FDTL."

As instituições são do país. São as instituições de Timor-Leste que o próprio PR insulta…

"Eu sei que o CCF, eleito democratica, legitima e transparentemente no Congresso de Maio de 2006, não podia considerar estas questões, porque seria inaceitável submeter os interesses supremos do Partido a um indivíduo, como o Presidente da República!"

Custa a Xanana Gusmão aceitar a decisão do Tribunal de Recurso relativamente à legitimidade da eleição do Comité Central. Mas, como Presidente da República, não pode demonstrar falta de respeito pelos tribunais.
Mas para isso é necessário maturidade política e respeito pelos valores democráticos.


Talvez um dia Xanana Gusmão venha a dizer deste artigo, que gostaria de fazer as coisas como deve ser...

Aguardamos a segunda parte deste artigo, assinado pelo Presidente da República, Kay Rala Xanana Gusmão, no jornal o Diário.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Xanana Gusmão continua a desiludir-me. A grande conclusão que se pode tirar deste artigo é que ele não fez caso do que diz sobre ele o relatório da Comissão de Inquérito da ONU, pois persiste no mesmo comportamento: lavar de roupa suja na praça pública e ajuste de contas.

Anónimo disse...

Todo o mundo sabe e conhece melhor fara mais os povitos que actualmentenos estao sofrem nos campos de desalojados "quem e Xanana Gusmao" ? e o que e que ele pretende fazer para alcancar o seu objectivo specifico como tinha dito ao TARA a frente do palacio do Governo abrcando o ex Maijor TARA e diz que " ja ganhamos a guerra " . O que e que significa com esta fraze ? analizem .......

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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