segunda-feira, janeiro 28, 2008

Timor-Leste: Mudança simbólica de comando na GNR

Diário Digital / Lusa
28-01-2008 12:26:00

O subagrupamento Bravo da GNR em Timor-Leste realizou hoje a mudança simbólica de comando, depois de seis meses de serviço do quarto contingente da GNR no país.

O capitão João Martinho, à frente do quinto contingente da GNR em Timor-Leste, substitui o capitão Marco Cruz, que chefiou nos últimos seis meses os 142 militares do subagrupamento Bravo.

Na sua intervenção de despedida, o capitão Marco Cruz salientou a contribuição dos militares da GNR para a manutenção da segurança e ordem pública, o apoio humanitário à população e a formação da Polícia Nacional timorense (PNTL).

A GNR realizou nos últimos meses a formação de 60 elementos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da PNTL.

«O ano que passou foi o ano da restauração da normalidade e 2008 será o ano do desenvolvimento da sustentabilidade», referiu Atul Khare, representante-especial do secretário-geral das Nações Unidas e chefe da missão internacional em Timor-Leste (UNMIT), na passagem de comando da GNR.

Os militares da GNR, aquartelados em Díli, integram uma das quatro unidades autónomas de polícia da UNMIT.

Reinado has confirmed coup, says Mari Alkatiri

The Southeast Asian Times
From News Reports:

Dili, January 21: Fugitive Alfredo Reinado's accusation that former president-and-now prime minister Xanana Gusmao authored last year's crisis in the newly-independent country was a confirmation of what had long been known within Fretilin, the former ruling party's general secretary, Dr Mari Alkatiri, has told the Portuguese newsagency Lusa.

The Australian-trained military police commander "felt betrayed and wants his instigators to also accept their liability", the former prime minister said.
"Alfredo Reinado has now told us what we knew had existed.

"We always said that there was a conspiracy and that there was a coup.

"Reinado has come to tell why he partook in the coup.

"Now what he wants is that his instigators also accept their liabilities, given that he has to face justice."

Asked about the mutineer, deserter and suspected murderer's credibility, Alkatirti, who was first forced to accept an Australian-led military occupation and then resign as prime minister to prevent a possible civil war replied: "Reinado is as credible as (was Vicente da Conceicao) 'Railos'", a protagonist n the 2006 crisis, supporter of the Jose Ramos Horta and Xanana campaigns in 2007 and arrested in October.

"I have always said, from the beginning, that a snake should not be allowed to grow," replied Alkatiri when asked whether Alfredo Reinado was dangerous.

"Alfredo Reinado is today more dangerous.

"He has been able to obtain the support of the petitioners, (from the Armed Forces), or at least a portion of them, and has the support of a portion of the youth.

"There is a certain layer of the youth who are searching for new heroes, given the discrediting of old heroes, fundamentally Xanana..

"These youth are thinking of Reinado.

"Happily, they are not a majority of the youth. But it is still a significant group."

The threat Reinado's accusation poses to the President Jose Ramos-Horta -Gusmao axis can be gauged by the flurry of corporate news reporting of an International Crisis Group warning that East Timor faces more civil unrest in unless the role of the police and the army is more clearly defined.

The Washington-based think tanks call is best seen as a harbinger of a renewed academic-led effort to give the axis more 'muscle' in its effort to first neutralise Reinado and his growing following and then contain Fretilin.

It's a daunting task.

The questions about the role played by Gusmao, his chief of staff and his wife in the coup have still have to be addressed and until they are, more an more East Timorese are likely to abandon them.

Their growing disillusionment is also bound to ensure that crucial questions as to why Ramos-Horta so capriciously ignored the constitution when he allowed Gusmao to become prime minister and form a new government will be asked anew.

Until then, the "donor fatigue" noted by the International Crisis Group is likely to deepen and the enthusiasm of the "international" community for the Australian-made quagmire continue to evaporate.

Correction: The Internation Crisis Group is registered in Washington but its headquarters are in Brussels.

-- Chris Ray

Tradução:

Reinado confirmou o golpe, diz Mari Alkatiri

The Southeast Asian Times
De News Reports:

Dili, Janeiro 21: A acusação do foragido Alfredo Reinado de que o antigo presidente-e-agora- primeiro-ministro Xanana Gusmão foi o autor da crise do ano passado no nova país independente foi uma confirmação do que a Fretilin já sabia disse à agência Lusa o secretário-geral do antigo partido do governo, Dr Mari Alkatir.

O comandante da polícia militar formado pelos Australianos "sentiu-se traído e quer que os seus instigadores assumam também as suas responsabilidades", disse o antigo primeiro-ministro."Alfredo Reinado contou-nos agora o que já sabíamos ter acontecido.

"Sempre dissemos que houve uma conspiração e que houve um golpe.

"Reinado veio contar-nos porque é que participou no golpe.

"Agora o que ele quer é que os seus instigadores aceitem também as suas responsabilidades, dado que ele tem de enfrentar a justiça."

Perguntado acerca da credibilidade do amotinado, desertor e suspeito de homicídio, Alkatirti, que foi forçado a aceitar a ocupação liderada pelos Australianos e depois resignou do cargo de primeiro-ministro para evitar uma possível guerra civil respondeu: "Reinado é tão credível quanto (era Vicente da Conceição) 'Railos'", um protagonista da crise de 2006, apoiante das campanhas de 2007 de José Ramos Horta e Xanana e preso em Outubro.

"Disse sempre desde o princípio que não se deve deixar crescer uma cobra," respondeu Alkatiri quando lhe foi perguntado se Alfredo Reinado era perigoso.

"Alfredo Reinado hoje é mais perigoso.

"Conseguiu obter o apoio dos peticionários, (das Forças Armadas), ou pelo menos duma parte deles, e tem o apoio duma parte dos jovens.

"Há uma certa camada da juventude que anda há procura de novos heróis, dado o descrédito dos velhos heróis, fundamentalmente Xanana..

"Essa juventude pensa em Reinado.

"Com sorte, não são a maioria da juventude. Mas ainda é um grupo significativo."

A ameaça que a acusação de Reinado posa para o eixo Presidente José Ramos-Horta-Gusmão pode ser medido pelo alvoroço dos relatos das corporações dos media de um aviso do International Crisis Group de que Timor-Leste enfrenta mais desassossego civil a não ser que o papel da polícia e dos militares fique definido com mais clareza.

O apelo do grupo de pressão com base em Washington é visto no melhor como um arauto dum esforço renovado liderado por académicos para dar mais “músculo” ao eixo num esforço primeiro para neutralizar Reinado e os seus crescentes seguidores e depois para conter a Fretilin.

É uma tarefa medonha.

As questões sobre o papel de Gusmão, o seu chefe de gabinete e a sua mulher no golpe não foram ainda respondidas e até serem, é provável que mais e mais Timorenses os abandonem.

A crescente desilusão é propícia também para que questões cruciais como por que é que Ramos-Horta ignorou a constituição tão caprichosamente quando permitiu que Gusmão se tornasse primeiro-ministro e formasse um novo governo serão perguntadas de novo.

Até então , a "fadiga de dadores" notada pelo International Crisis Group provavelmente acentua-se e o entusiasmo da comunidade "internacional" para o pântano feito pelos Australianos continua a evaporar-se.

Correcção: O Internation Crisis Group está registado em Washington mas a sua sede é em Bruxelas.

-- Chris Ray

Suharto's brutal legacy

Rabble News
by Derrick O'Keefe
January 28, 2008

The "butcher of Baghdad" was hanged in a rushed execution, while the butcher of Dili died surrounded by the best medical attention money could buy.

General Suharto, Indonesia's former dictator, has died at the age of 86. He was, for many years, Ottawa's man in Jakarta.

Of course, he was also Washington's man in Jakarta. For most of their thuggish careers, he shared this among other things with Saddam Hussein. Both consolidated their power after participating in bloody purges of communists and radical nationalists. Saddam purged the Left from Iraq's Ba'ath Party; Suharto took the helm after helping purge the Left from the Indonesian archipelago – the 1965 coup that overthrew the nationalist government of Sukarno was followed by the murder by death squads of up to a million activists, workers and peasants.

Both Saddam and Suharto viciously repressed political opponents and ethnic minorities; both accumulated great personal wealth and handed down top security and economic positions to their children; both illegally annexed small neighbouring states: Kuwait in 1990 and East Timor in 1975, respectively.

While the 1991 Gulf War was waged in the name of liberating Kuwait (and restoring a monarchy that denied women the right to vote), the massacre of civilians later that year in East Timor's capital, Dili, elicited no response from western media and no outcry from western politicians. During the two and a half decades of Indonesian occupation of East Timor, it is estimated that 200 000 people were killed. Suharto's regime also massacred thousands in other oppressed regions, such as Aceh and West Papua.

For all their similarities, then, the politics of empire intervened and led Saddam and Suharto to very different ends. The "butcher of Baghdad" was hanged in a rushed execution, while the butcher of Dili died surrounded by the best medical attention money could buy.

In Canada, it's worth remembering the shameful role with respect to Suharto's regime played by the Liberal Party, which claims to uphold a humanitarian tradition in its foreign policy.

Back in the 1990s, the strongman in Jakarta was respectfully referred to in our mainstream media as President Suharto. He was touted as a modernizer, a unifier, and an important ally in Canada's quest to expand trade and investment in Southeast Asia.

Canada sold weapons to the dictatorship, which then Liberal Secretary of State for Asia-Pacific Raymond Chan justified on the absurd grounds that they were defensive weapons only.

And so it was that in 1997, when Vancouver hosted the APEC summit, Jean Chretien's Liberal government rolled out the red carpet for the dictator, and dished out the pepper spray and riot squads on the activists who worked to expose Suharto's gross human rights violations and Canada's complicity.

At the University of British Columbia, where one of the main gatherings of the heads of state was held, a security fence was erected, "preemptive" arrests were made against protest organizers like Jaggi Singh, and of course pepper spray was used liberally. According to a public inquiry held after the APEC protests, in the lead up to the summit Foreign Minister Lloyd Axworthy had debased his office to the point of apologizing to the Indonesian authorities for a Suharto "Wanted" poster that had proliferated around town.

Seeing this spectacle up close as an undergraduate provided me with an intense and valuable learning experience about the true nature of politics. Back in the quaint days before the "war on terror," our rights to freedom of speech, assembly and dissent were quickly – automatically, really, with the justifications made up on the fly – subordinated to the needs of capital.

All the high-sounding rhetoric of human rights from the likes of Axworthy disappeared in an instant when it came to appeasing a key business partner. Subsequent Liberal foreign ministers, such as Bill Graham and Pierre Pettigrew, would up the ante from complicity to outright aggression when, for instance, Canada played a key role in overthrowing Haiti's democratic government in 2004.

It's worth noting too that, back in the 1990s, it was initially only very small networks of activists on the Left who worked to bring the plight of East Timor to the public's attention in Canada. It was a tiny Christian half island, occupied by the world's largest Muslim country. Those standing up for self-determination for Palestine and Iraq today, against whom pro-war ideologues trot out Islamophobia and "clash of civilizations" nonsense, were the same people agitating for the freedom of the Timorese, who happened to be a predominantly Christian people.

At the time, the East Timor Alert Network (ETAN), with the help of the odd outspoken MP such as the NDP's Svend Robinson, did the heavy lifting to expose the Liberals' complicity with Suharto's crimes.

A statement on ETAN's U.S. sister group's website sums things up eloquently:

"Indonesia's former dictator General Suharto has died in bed and not in jail, escaping justice for his numerous crimes in East Timor and throughout the Indonesian archipelago…"

"To overcome Suharto's legacy and to uphold basic international human rights and legal principles, those who executed, aided and abetted, and benefited from his criminal orders must be held accountable."

We can be sure that the current Conservative Foreign Minister, Maxime Bernier, will make some statements on Suharto's death parroting whatever comes out of Washington.

But I'd really like to hear from the likes of Chretien and Axworthy. What do they have to say for themselves and what do they have to say now about the dictator that they aided, abetted, and protected from protest?

Derrick O'Keefe is the editor of rabble.ca.

Tradução:

Herança brutal de Suharto

Rabble News
by Derrick O'Keefe
Janeiro 28, 2008

O "carniceiro de Baghdad" foi enforcado numa execução apressada, enquanto o carniceiro de Dili morreu rodeado pelas melhores atenções médicas que o dinheiro pode comprar.

O General Suharto, o antigo ditador da Indonésia, morreu com 86 anos. Ele foi, durante muitos anos o homem de Ottawa em Jacarta.

Obviamente, ele foi também o homem de Washington em Jacarta. Para muitos a carreira de ladronagem deles, partilhou-a entre outras coisas com Saddam Hussein. Ambos consolidaram o seu poder depois de participarem em purgas sangrentas de comunistas e de nacionalistas radicais. Saddam purgou a esquerda do Partido Ba'ath do Iraque; Suharto tomou as rédeas depois de purgar a esquerda do arquipélago Indonésio – o golpe de 1965 que derrubou o governo nacionalista de Sukarno foi seguido pelo assassinato por esquadrões da morte de mais de um milhão de activistas, trabalhadores e camponeses.

Ambos Saddam e Suharto reprimiram cruelmente opositores políticos e minorias étnicas; ambos acumularam grandes riquezas pessoais e entregaram cargos de topo na segurança e na economia aos filhos; ambos anexaram ilegalmente pequenos Estados vizinhos: Kuwait em 1990 e Timor-Leste em 1975, respectivamente.

Enquanto a Guerra do Golfe de 1991 foi travada em nome da libertação do Kuwait (e da restauração de uma monarquia que negava às mulheres o direito ao voto), o massacre mais tarde nesse ano de civis na capital de Timor-Leste, Dili, não desencadeou nenhuma resposta dos media do ocidente e nenhuma denúncia dos políticos ocidentais. Durante as duas décadas e meia da ocupação Indonésia de Timor-Leste, é estimado que 200 000 pessoas foram mortas pelo regime de Suharto que também massacrou milhares noutras regiões oprimidas, tais como Aceh e Papua Oeste.

Apesar de todas as suas semelhanças, então os políticos do império intervieram e deram a Saddam e a Suharto fins muito diferentes. O "carniceiro de Baghdad" foi enforcado numa execução apressada, enquanto o carniceiro de Dili morreu rodeado pela melhor atenção médica que o dinheiro pode comprar.

No Canadá, vale a pena lembrar o papel vergonhoso em relação ao regime de Suharto que teve o Partido Liberal, que afirma apoiar uma tradição humanitária na sua política estrangeira.

De volta nos anos 1990s, o homem forte em Jacarta era respeitosamente referido nos nossos media de referência como Presidente Suharto. Ela propagandeado como um modernizador, um unificador, e um aliado importante do Canadá na sua busca de expandir comércio e investimento no Sudeste da Ásia.

O Canadá vendeu armas à ditadura, que o então Secretário de Estado para a Ásia Pacífico, o Liberal Raymond Chan justificava com a absurda razão de serem apenas armas defensivas.
E assim foi em 1997, quando Vancouver abrigou a Cimeira da APEC e o governo Liberal de Jean Chretien desenrolou a carpet vermelha para o ditador, e usou as granadas de gás de pimenta e esquadrões anti-motim contra os activistas que trabalharam para expor as violações grosseiras dos direitos humanos de Suharto e a cumplicidade do Canadá.

Na Universidade da Columbia Britânica, onde se realizava um dos maiores ajuntamentos de chefes de estado, foi erguida um cerca de segurança, fizeram-se prisões "preemptivas" contra organizadores das manifestações como Jaggi Singh, e obviamente o gás pimenta foi usado liberalmente. De acordo com uma investigação pública feita depois dos protestos da APEC, na organização da cimeira o Ministro dos Estrangeiros Lloyd Axworthy tinha -se abaixado ao ponto de pedir desculpa às autoridades Indonésias por causa dum cartaz Suharto "Procura-se" que se tinha espalhado pela cidade.

Como estudante, ver este espectáculo de perto deu-me uma experiência de aprendizagem intensa e valiosa acerca da verdadeira natureza da política. De regresso aos dias calmos antes da "guerra ao terror," os nossos direitos de liberdade de expressão, reunião e dissensão foram rapidamente – automaticamente, realmente, com as justificações feitas para voar – subordinadas às necessidades do capital.

Toda a retórica de voz-grossa de direitos humanos dos da espécie de Axworthy desapareceu num instante quando se tratou de apaziguar um parceiro chave de negócios. Subsequentes ministros do estrangeiro Liberais, tais como Bill Graham e Pierre Pettigrew, mudariam de postura de cumplicidade para descarada agressão quando, por exemplo, Canadá teve um papel chave no derrube do governo democrático do Haiti em 2004.

Vale a pena reparar também que, de volta aos anos de 1990s, inicialmente apenas muito pequenas redes de activistas na esquerda trabalharam para levar à atenção do público a luta de Timor-Leste no Canadá. Era uma pequena meia ilha cristã, ocupada pelo maior país muçulmano do mundo. Os que se levantam hoje pela auto-determinação para a Palestina e para o Iraque, contra quem os ideólogos pró-guerra gritam os disparates de Islamofobia e de "choque de civilizações, eram as mesmas pessoas a lutar pela liberdade dos Timorense, que era predominantemente gente cristã.

Na altura, a East Timor Alert Network (ETAN), com a ajuda de deputados sinceros como Svend Robinson do NDP, travou o trabalho pesado de expor a cumplicidade dos Liberais com os crimes de Suharto.

Uma declaração no website do grupo irmão nos USA da ETAN resume com eloquência:
"O antigo ditador da Indonésia General Suharto morreu na cama e não na prisão, escapando à justiça pelos seus numerosos crimes em Timor-Leste e por todo o arquipélago Indonésio…"
"Para ultrapassar a herança de Suharto e seguir os direitos humanos básicos e princípios legais e internacionais, os que executaram, ajudaram e auxiliaram e beneficiaram destas suas ordens criminosas devem ser responsabilizados."

Podemos estar certos que o corrente Ministro dos Estrangeiros Conservador, Maxime Bernier, fará algumas declarações sobre a morte de Suharto papagueando seja o que for que vier de Washington.

Mas gostaria realmente de ouvir dos da espécie de Chretien e Axworthy. O que é que têm a dizer deles próprios e o que é que têm agora a dizer sobre o ditador que eles ajudaram, auxiliaram e protegeram do protesto?

Derrick O'Keefe é o editor de rabble.ca.

Timor e os muitos amigos do general

O Publico

28.01.2008,
Adelino Gomes

A invasão e anexação de Timor, com o cortejo de mortes e violações dos direitos humanos que as acompanharam, levaram alguns a defender que Suharto deveria comparecer perante a justiça internacional. Nem uma nem outra acções, aliás conexas, poderiam ter sido realizadas, porém, sem o apoio dos EUA e da Austrália e a compreensão amiga das principais democracias europeias e do Vaticano. Posições ambíguas em Lisboa ajudaram também.

Documentos secretos libertados no início deste século provaram que, muito antes de o general Benny Murdani comandar a primeira acção militar combinada de ataque a Timor, em 15 de Outubro de 1975, já os EUA e a Austrália tinham dado sinais explícitos ao ditador Suharto de que não só não levantariam obstáculo mas até compreenderiam a anexação daquela colónia portuguesa.

1. Cerca de meio milhar de telegramas mantidos secretos até Setembro de 2000 revelaram que, em contraste com declarações públicas de apoio à autodeterminação de Timor, o primeiro-ministro australiano Gough Whitlam disse a Suharto, logo em Setembro de 1974, num encontro em Java, que a metade oriental da ilha de Timor era "demasiado pequena para ser independente".

Os documentos mostram que os indonésios mantiveram a Austrália informada acerca das suas operações clandestinas em Timor. Incluindo o ataque a Balibó, em que cinco jornalistas a trabalhar para televisões daquele país foram assassinados pelos invasores.
Em Novembro passado, pela primeira vez em 32 anos, um tribunal australiano aceitou a tese do assassinato a sangue-frio, sempre desmentida por Camberra, apesar de ter sabido das mortes dos repórteres em tempo real.

Em 1979, o Governo de Malcolm Fraser reconheceu a anexação do território e dez anos depois regou com champanhe a celebração de um acordo de exploração do gás e petróleo no chamado Timor Gap.

Apesar de Portugal continuar a ser considerado, pela ONU, a potência administrante da sua antiga colónia, os governos australianos - fossem trabalhistas, fossem liberais - mantiveram-se sempre ao lado de Suharto nesta matéria, só mudando de política depois da renúncia do ditador e da substituição deste por Habibie.

2. A libertação de documentos secretos norte-americanos, em Dezembro de 2001, confirmou que o Presidente Ford e o seu secretário de Estado, Henry Kissinger, deram "luz verde" para a invasão, durante uma visita oficial a Jacarta que precedeu de poucas horas o lançamento de pára-quedistas sobre Díli, em 7 de Dezembro de 1975. "Compreenderemos e não os pressionaremos nessa matéria", respondeu Ford a Suharto, quando o chefe de Estado indonésio (que de resto resistira durante meses à pressão dos "falcões" militares) lhe pediu compreensão para a intervenção.

Apesar de tomadas de posição críticas por parte de congressistas e de senadores, os EUA mantiveram no essencial o seu apoio à política ocupacionista de Suharto.

3. O mesmo se pode dizer, ainda que com nuances, quanto à posição do Vaticano, com o cardeal Casaroli, das principais democracias europeias e da própria UE, que opôs resistência, durante muito tempo, aos esforços de Lisboa, já na década de 1990, para que Suharto sofresse as consequências políticas da ocupação ilegal de Timor.

4. Numa visita a Lisboa logo em Outubro de 1974, o general Ali Murtopo ouve o Presidente Costa Gomes e o primeiro-ministro Vasco Gonçalves referirem-se em termos nada entusiasmados à possibilidade de independência de Timor. Conversações posteriores, em Londres, com uma delegação portuguesa que integrava Vítor Alves, Almeida Santos e Jorge Campinos, convenceram-no de que Portugal não se oporia à integração, que aliás via como uma solução razoável, desde que fosse o povo a escolhê-la.

Portugal sabia, através dos serviços de radiogoniometria da força militar que permanecia no Ataúro, em apoio ao governador Lemos Pires, que o exército indonésio ocupava, desde 16 de Outubro, uma larga faixa fronteiriça. Apesar disso, aceitou como boas as alegações de Jacarta de que nenhuma força militar daquele país intervinha no território. Na altura, e semanas depois, na cimeira de Roma, entre Melo Antunes e Adam Malik.
Este silêncio conivente foi quebrado após a invasão, com o corte de relações diplomáticas e uma queixa apresentada nas Nações Unidas e que deu origem a sucessivas resoluções condenatórias do acto.

5. Muitos anos e milhares de mortos seriam necessários, contudo, para que a questão de Timor se tornasse numa prioridade nacional. Em meados dos anos 80, de resto, a questão estaria à beira de ser resolvida "administrativamente", através de um acordo sob os auspícios do então secretário-geral da ONU, Perez de Cuellar: Portugal reconheceria a presença indonésia na sua antiga colónia em contrapartida da abertura de um consulado de carreira e de um centro cultural em Díli e de uma indemnização em dinheiro pela perda da empresa Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho e da sede do BNU, e pelos custos com os refugiados (PÚBLICO, 3.5.2000).

Só depois de 1986, e em particular após o massacre de Santa Cruz, em 1991, é que Portugal adoptou uma acção diplomática continuada e sem ambiguidades na defesa do direito à autodeterminação e independência de Timor.

António Guterres personalizará a nova atitude portuguesa forçando um frente-a-frente com o ditador durante a cimeira Ásia-Europa de 1996, em Banguecoque.

Dois anos depois, Suharto viu-se obrigado a resignar, no meio de uma crise económica e social sem precedentes. Tudo começou a mudar na Indonésia, incluindo a política sobre Timor.

Só então, verdadeiramente, os muitos amigos com que o general havia contado mudaram também.

O tirano morreu

Blog InBetween
Domingo, Janeiro 27, 2008

Suharto, ex-ditador Indonésio, morreu, finalmente. Falta-me a hipocrisia para sugerir que possa sentir qualquer sensação de pena. Menos um tirano genocida no mundo, ainda bem para nós! Haja uma celebração!

O dito senhor tem um currículo que poucos podem acusar de não ser único:

- Golpe de estado disfarçado onde “milagrosamente” ele sobreviveu e os revoltosos e mais 6 generais que competiam ao mesmo cargo todos morreram.

- Uma purga de comunistas reais e imaginários resultou em 600.000 mortes e um clima de medo do povo e da classe política que levou à sua promoção a chefe das forças armadas.
- Depôs o presidente Sukarmo mantendo-o sobre prisão domiciliária durante anos a fio até à sua morte.

- Conseguiu assegurar 2 mil milhões de dólares em investimentos americanos na industria do petróleo.

- Migrações forçadas de 1,5 milhões de indonésios para cobrir as necessidades políticas e económicas do estado e do investidores estrangeiros.

- Invasão com bênção americana da colónia portuguesa de Timor Leste.

- Repressão brutal de toda e qualquer opinião política real.

- Supressão de qualquer investigação real sobre a sua fortuna pessoal sobre a ameaça de revelar o envolvimento de personagens políticas nacionais e estrangeiras que tinham igualmente lucrado.
- Morrer em paz e sossego apesar de ter tido uma carreira de sangue, morte, violações, torturas, perseguições e corrupção.

Não se sentem todos aliviados pelos paladinos do “Ocidente” escolherem este tipo de aliados?

posted by Pedro Fontela

O INFERNO É PARA QUEM O MERECE

Blog TIMOR LOROSAE NAÇÃO
Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008
António Veríssimo

A ÚLTIMA PROSA SOBRE O FILHO DA MÃE

Já conheço há tantos anos Gonçalo Tilman Gusmão que acredito beatamente – quase tão beatamente quanto Beato Zé Ramos – que Suharto esfolou mesmo as mãos e provavelmente os pés e a cabeça a bater à porta do inferno.

O Gonçalo não é dos que inventa coisas. Aliás, as informações que obteve directamente do Inferno vieram de fontes fidedignas, como poderão confirmar – Kissinger e Ford.

Como na prosa mais em baixo o Gonçalo diz, Suharto sofreu que nem um cão danado por ver que não ia ter entrada no Inferno. Para o Diabo os seus feitos, terríveis para nós, são irrelevantes, considerando a alta fasquia daquele grande Diabo.

Claro que se não entrasse no Inferno estava tramado, ia ficar nos limbos, alma penada, sem eira nem beira. Sim, porque certamente que ninguém acredita que o S. Pedro lhe abriria as portas do Céu, só se fosse para lhe dar uma surra e fechar-lhe a porta nas trombas.

Enfim, entrou, por favor, no Inferno e lá ficará a consumir-se nas chamas alimentadas por tanta mortandade, carnificina e terror que espalhou por todo o sudeste asiático.

Não lhe desejo mal. Somente que sofra uma vez por dia por cada vítima do seu consulado de sangue e cadáveres. São só uns milhões.

Está muito bem onde está. O Inferno para quem o merece.

Documentação sobre a sua biografia até aqui no TLN foi apresentada em exagero e isso é aquilo que mais encontramos online, nas televisões, jornais e rádios. É um fartote.

Se bem repararem o seu percurso foi igual ao de qualquer ditador. Começam do nada e em pantufas, modestos, cumpridores, com declarações assertivas e em prol dos desprotegidos e depois…

Tomem lá que eu sou o terror. Eu sou o vosso senhor. Eu sou quem sei. Os outros são uns malandros e comunistas. A democracia é aquilo que eu defendo. Só quero a paz e o bem do povo. A comunicação social tem de ser responsável… etc.

Isto faz-me lembrar alguém da actualidade. Deve ser defeito dos livros e da escola em que aprendem as retóricas.

Mas quem é que isto me faz lembrar… Estou mesmo esclerótico.

Sim, pois, mas eles são todos iguais e começam devagarinho até fazerem como os Suhartos. O mal é segurarem-se ao Poder sem olhar a meios.

Mas quem é que isto me faz lembrar…

Espero que esta seja a última prosa sobre este filho da mãe!

Que nojo. Vendido.

Agio Pereira sublinhou que Xanana Gusmão "irá ao funeral do ex-presidente como expressão de reconhecimento e gratidão do povo de Timor-Leste a Suharto por aquilo que fez de positivo no país durante os 24 anos de ocupação indonésia".

LUSA

DOIS MILHÕES DE MORTES NÃO SE PODEM BRANQUEAR

Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008
Blog TIMOR LOROSAE NAÇÃO

Suharto morreu. O respeito por alguém na hora da morte depende de se em vida o mereceu. Suharto não o merece. Falamos do maior criminoso da História Contemporânea depois da 2ª Guerra Mundial. Não faltarão tentativas de branqueamento e de falsos humanitarismos. E de esquecimento dos dois milhões de vidas que ceifou sem piedade.

Mesmo antes da sua morte é difícil explicar a iniciativa pretensamente humanitária de Ramos Horta e Xanana Gusmão em lhe atenuar a gravidade dos crimes monstruosos de que foi autor.Nenhumas das boas almas que suspiram por tribunais penais internacionais algum dia se lembraram de o incriminar.Com apoio dos EUA, como a história contemporânea conseguiu documentar sem hipótese de qualquer contraditório sustentado em factos, Suharto foi o executor de dois milhões de pessoas, primeiro na matança da Indonésia em 1965 e depois mais de 250 mil em Timor em 1975.

UMA BIOGRAFIA QUE FALA POR SI

Nascido em Java, Suharto alistou-se, aos 19 anos, no exército colonial holandês que lhe confiou responsabilidades. A invasão japonesa deu-lhe a possibilidade de entrar para a força policial de ocupação e comandar um batalhão da milícia dos ocupantes.

Após a independência, em 1950, as primeiras eleições democráticas deram ao partido de Sukarno a maioria relativa. O PKI (Partido Comunista Indonésio) era então o maior partido comunista do mundo que não estava no poder. Os militares ligados ao regime feudal desencadeando revoltas e o crescimento de um movimento islâmico punham em risco a coesão do país. Sukarno decretou a lei marcial e apoiou-se na esquerda para realizar transformações democráticas.

Suharto já então usava a chefia militar para realizar grandes negócios. Quando em 1957 Sukarno se aliou aos comunistas, numa dinâmica nacionalista, a Holanda viu partir a Shell e uma grande empresa de navegação, que foram nacionalizadas.

Na sequência disso, em 1958 os EUA apoiaram uma revolta militar e islâmica que viria a ser derrotada.

A conduta nos seus negócios levaram ao seu afastamento para uma posição de retaguarda mas ganhou força rapidamente para recuperar a carreira de chefia militar.

Em 1960, nova Assembleia é eleita. Presidida por um dirigente do PKI, passa a ter entre os seus membros representantes do partido militar Golkar. Suharto já ocupava altos lugares no Estado-Maior. O Golkar torna-se numa ameaça e Sukarno e os comunistas defendem a organização de nova força militar composta por trabalhadores e camponeses.

Em 1965, o Golkar monta um assalto ao poder militar a pretexto de um rapto e execução de militares que se oporiam a Sukarno. Vencedor do golpe, acaba por receber de Sukarno, derrotado, o comando do Exército que o Presidente chamara a si, quando da declaração da lei marcial. Suharto institucionaliza a “Nova Ordem”. O PKI é banido e expulso do Parlamento. O mesmo acontece com os sindicatos e a imprensa que passa a ter uma censura férrea. São cortadas relações com a R. P. da China e restabelecidos contactos com outras ditaduras da região que iriam mais tarde dar lugar à ASEAN estimulada pelos EUA.

Numa das fotos, estão Suharto (de camuflado e bengalim) e outros militares do Golkar.Suharto arranca então com a liquidação física do PKI.

O MAIOR MASSACRE DE 1965 E A CORRUPÇÃO ENDÉMICA

Cifraram-se então em perto de dois milhões os assassinatos de militantes do PKI e, particularmente de imigrantes chineses e de militares patriotas.

Sem poderes, de facto, e isolado, Sukarno transfere para Suharto a autoridade suprema.Ficam 200 mil pessoas na prisão.

São executados os pretensos cabecilhas do “golpe”.

Os assassinatos e novas prisões prosseguiram durante 25 anos!

Para além da repressão a corrupção generaliza-se ao exército e aos grupos económicos dominantes. Os EUA estão agradecidos (noutra foto, Suharto recebe o presidente Ford e Henry Kissinger, cérebros da operação).

Timor: O OUTRO MASSACRE

Com o 25 de Abril de 1974, em Portugal, desenvolveram-se movimentos internos em Timor-Leste, um dos quais, a FRETILIN, se batia pela independência, enquanto a UDT defendia uma associação com o colonizador e a APODETI a integração na Indonésia.

Também sob orientações de Ford e Kissinger, e para conjurar a influência crescente da Fretilin, a Indonésia invadiu o território em 7 de Dezembro de 1975, colocando no poder um governo fantoche da UDT e da APODETI.

Tendo-se encontrado na véspera com Kissinger, Suharto revelaria depois, como se a iniciativa tivesse sido sua, as seguintes conversas:"I would like to speak to you, Mr. President, about another problem, Timor. ... Fretilin is infected the same as is the Portuguese Army with communism ... We want your understanding if we deem it necessary to take rapid or drastic action," Suharto tells the visitors.

Ford replies, "We will understand and will not press you on this issue. We understand the problem you have and the intentions you have.

"Kissinger says, "You appreciate that the use of US-made arms could create problems. ... It depends on how we construe it; whether it is in self-defence or is a foreign operation. It is important that whatever you do succeeds quickly. We would be able to influence the reaction in America if whatever happens, happens after we return.

"Na invasão e ocupação, morreram mais de 250 mil habitantes de Timor-Leste.

REJEITADO ATÉ AO SEU AFASTAMENTO POLÍTICO EM 1998

O crescimento económico, brandido como desenvolvimento, teve desde então dois traços significativos: ser movido pela corrupção e provocando grandes assimetrias sociais com legiões de pobres.

Mas a resistência popular não parou desde 1970.

Em 1985 centenas e apoiantes do PKI são afastados da administração pública e há um surto de execuções de comunistas que estavam presos… há 20 anos.

Até à sua demissão em 1998 a corrupção e os negócios familiares são dominantes no país. Diz-se que 73 biliões de dólares passaram pelas mãos da família durante os 32 anos de vigência de Suharto. A família de Marcos nas Filipinas não lhe chegava aos calcanhares.

O poder e a impunidade de Suharto e sua família, os golpes, assassinatos, desvios de fundos públicos para instituições da família, a corrupção e nepotismo marcam a vida de Suharto que, depois da sétima eleição em 1998 acabou por abdicar.

Em 2001, Mark Mansfeld, porta-voz da CIA justificou a apreensão de um livro de história editado pelo Departamento de Estado como um “acidente”. Com tal justificação, a administração norte-americana pretendeu fazer desaparecer um escrito em que o envolvimento dos EUA no golpe de 1965 ficou documentado, incluindo com a lista dos dirigentes comunistas a abater, os apoios a grupos e milícias anticomunistas, ou depoimentos como este da embaixada americana em Jacarta “Francamente, nós não sabemos se o número real (de comunistas que foram mortos) é mais próximo de 100 mil ou 1 milhão, mas acreditamos que é melhor errarmos por baixo, especialmente se interrogados por jornalistas”…

Levado a tribunal, em 2002, com outros familiares, o seu julgamento foi suspenso por razões de saúde.

Suharto/Óbito: MNE Luís Amado evita comentários por "respeito pelos mortos"

28 de Janeiro de 2008, 09:12

Bruxelas, 28 Jan (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, escusou-se hoje em Bruxelas a tecer qualquer comentário sobre o ex-ditador indonésio Suharto, falecido domingo em Jacarta, por "respeito pelos mortos".

"Tenho respeito pelos mortos independentemente daquilo que foi a sua vida, por isso não gostaria de fazer qualquer comentário neste momento", declarou Amado, à entrada para uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia.

Suharto, que em 1975 ordenou a ocupação de Timor-Leste, antiga colónia portuguesa, durante a qual foram mortos cerca de 200.000 timorenses, faleceu domingo em Jacarta, aos 86 anos, tendo o funeral sido realizado hoje na sua terra natal de Solo, Java Central.

ACC/FPB.
Lusa/fim

NOTA DE RODAPÉ:

Aplaudimos. O comentário possível a um Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Morreu.

Blog CANHOTICES
27.1.08


Este é o Homem que a Democracia Americana sempre apoiou.

A lança americana na Ásia.

Na chacina dos 500.000 comunistas.

Na invasão de Timor Leste.

Chamava-se Suharto.

Quem lhes perguntou se eles não guardam ressentimento?

Domingo, Janeiro 27, 2008
Blog Troll Urbano

O resposável por milhões de mortes, morre sem nunca ter sido condenado pelos seus crimes e o Presidente eleito do povo que ele mandou massacrar diz que não lhe devemos guardar rancor e que espera que Deus o receba no seu seio??!!

...Desculpem lá, um ditador deixa de ser um ditador depois de morto? Um assassíno que não é julgado pelos seus crimes não tem que se preocupar porque depois de morto...vai para o...ok, agora é que ainda percebo menos...dantes, ensinavam-me que se a gente se portasse mal cá em baixo ia para o Inferno...ou, quando muito, para uma assoalhada intermédia, onde tinhamos que passar as passas do Algarve para ter direito a entrar no tal "seio de Deus".

O que faz uma pessoa afastar-se da religião é não saber que o inferno e o purgatório foram extintos (foi por decreto? por estarem em mau estado de conservação??) e agora um gajo pode andar aqui a mssacrar o seu povo à vontade e mais os povos dos outros, que depois não se lhe guarda rancor e vai direitinho para o seio de Deus......Todos os dias morrem milhares de pessoas. Muitas que fizeram muito bem. Outras que fizeram muito mal. Habituamo-nos a ter que lidar com isso. A morte faz parte da vida.

Aceito que até os ditadores tenham família e tenham amigos...até acredito que uma e os outros sintam a sua perda.Agora, das duas umas, ou estas palavras de Ramos Horta são totalmente hipócritas e a hipocrisia enoja-me...ou se são sentidas é uma inversão total das leis da vida:
Ramos Horta deveria lamentar a morte de um ser humano (ok, dou de barato que um ditador seja um ser humano...), mas daí a dizer que não lhe guarda rancor e que espera que que Deus lhe perdoe os crimes...os que perderam a vida às suas mãos em Timor Leste ou em Jacarta, alguém lhes perguntou, antes de serem assassinados, se perdoavam o seu carrasco??...

Nota final: No dicionário rancor, significa : ódio profundo e oculto; ressentimento.Até posso entender que Ramos Horta refira o primeiro significado da palavra...porque se referir o segundo, está a trair a luta do seu povo e do povo indonésio contra a repressão e pela liberdade.

E a memória dos que por elas morreram.

Publicado por Isabel Faria

Um ditador a menos.

27 Janeiro, 2008
Blog O Meu Tempo é Quando


Morreu um ditador. Fico contente. É verdade. Deixemo-nos de falsas modéstias: quem poderá ter pena da morte de um ditador senão um fascista ou fundamentalista? Pena não ter morrido há mais tempo. Menos assim, não durou tanto quanto é usual durarem os ditadores. Por norma morrem por estarem absolutamente gastos e por terem perdido a oportunidade de mandar.

A Indonésia não fica mais pobre. Espero que agora as coisas por lá melhorem mas não tenho fé.

Também é normal a minha falta de fé, mas pronto, ainda assim espero que esta morte traga alguma coisa de bom, mesmo para Timor ali tão perto e que tendo um Nobel da Paz como presidente, parece que a paz é mais fácil de conseguir na teoria do que na prática.

Pronto. Já disse o que tinha para dizer. Fiquei contente com a notícia da morte de Suharto... é um estupor a menos à face da Terra. Ainda que não se tenha ganho mais nada, ainda assim ficamos a ganhar: sempre é menos um ditador.

Felicito por isso o povo indonésio (mesmo sabendo que gente como esta tem sempre imensos seguidores ou nunca chegariam onde chegaram...) e claro, por arrasto o povo timorense que tanto penou às mãos deste homem e como o abandono a que foi votado durante tantos anos por quem tinha obrigação de ter feito alguma coisa: Portugal.

Publicado por Maria Eduarda Horta

The old soldier dies

The Jakarta Post
Editorial
January 28, 2008

Indonesia has gone into mourning with the passing away of former president Soeharto on Sunday. He was 86. The nation's second president, he led the world's fourth most populous country for 32 years.

When you rule a country as huge, diverse and complex as Indonesia for as long as 32 years, there are bound to be controversies.

Inevitably, the nation has mixed feelings about the former Army general, evidenced by the way it has followed his struggle against illness in the years since he stepped down from office in 1998.
In a sense, Soeharto's death represents a double loss for Indonesia.

We have lost a great leader who did so much in his time, including bringing political stability and economic prosperity to an otherwise impoverished nation. But we have also missed the opportunity to hold him responsible for the deaths and torture of thousands of people, and for the legacy of violent and corrupt political culture he left behind.

Ever since his retirement from public life in 1998, Soeharto managed to avoid setting foot in court to account for his deeds, whether the issue at hand was corruption or human rights abuses.

He had his chances to come clean, but his family and team of expensive lawyers decided otherwise.

He could have ended his life known as the hero he really was. Instead, he will be remembered by those who lived through his iron-fisted rule as both a hero and a villain. Let later historians decide on his proper place in the history of modern Indonesia.

Soeharto will be credited as the man who saved Indonesia from communism. His rise to power in 1966 was the result of years of power struggles between the Indonesian Communist Party (PKI) and the Indonesian Army. He emerged clean and strong out of the chaos that ensued after the abortive coup on September 30, 1965, against then president Sukarno, which the military blamed on the PKI.

Soeharto will also be remembered as the man who restored political stability from the chaos that characterized Sukarno's last years in power.

The mass killing of suspected communists and sympathizers between 1965 and 1966 was a dark page in the history of Indonesia. While there are many people willing to say the killings took place, they were never officially documented. Soeharto and his Army friends led a bloody campaign to crush the communist forces. In the absence of any reliable record-keeping, estimates of number of dead range between 200,000 and three million. Even the lowest estimate would have qualified as a genocidal killing.

The political stability that came at such a high price to a large extent paid off, in terms of economic development. He brought inflation under control in 1966, and thus began a long and almost uninterrupted period of economic growth through the 1970s, aided by the oil money, that ran well into the 1990s.

He won international accolades for introducing universal education, inexpensive and accessible health care, and for bringing food self-sufficiency into Indonesia. If his predecessor Sukarno was called the "Father of the Revolution", Soeharto was the "Father of Development".

But the "Smiling General", as the title of his biography in the 1960s aptly named him, was ultimately nothing but a dictator.

There is no such thing as a benevolent dictator, although he may have been close to being one.
Soeharto suppressed freedom and democracy in the name of development. He invaded East Timor (with the consent of the United States and Australia), and his regime was responsible for recurring human right atrocities in East Timor, Aceh and Papua.

And then there is the corruption, first practiced by his cronies and children, that later became so chronic and systemic that it spun out of control and unraveled just about every economic gain he had painfully made since 1966.

The endemic corruption meant the 1997 Asian financial crisis hurt Indonesia much more than its neighbors, turning it into a political crisis that eventually forced Soeharto to step down in May 1998.

One good outcome of that unhappy episode nearly a decade ago was the ushering in of political and economic reforms and democracy in Indonesia.

Soeharto's failure to use the remaining years of his life to come clean is highly lamentable. Here is a man who could have explained his role in the 1965 coup attempt and the ensuing mass killings, detailed the unusual circumstances of his transfer of power from Sukarno, explained some of the controversial decisions he made (his autobiography missed out on a few of those), and illustrated the rationale behind his decision to quit in May 1998.

Ever a mysterious Javanese leader, he will take with him to the grave many of the answers that our historians need to write about a large passage of Indonesia's modern history.

There is an old saying that says, "an old soldier never dies, he just fades away". Soeharto faded away and then he died.

Good-bye, Pak Harto.

Tradução:

O velho soldado morre The Jakarta PostEditorial Janeiro 28, 2008

A Indonésia entrou em luto com o falecimento do antigo presidente Soeharto no Domingo. Tinha 86 anos. O segundo presidente da nação, liderou o quarto mais populoso país durante 32 anos.

Quando se governa um país tão grande, diverso e complexo quanto a Indonésia durante 32 anos, acontecem controversas.

Inevitavelmente a nação tem sentimentos mistos acerca do antigo general das forças armadas, evidenciados pelo modo como tem seguido a sua luta contra a doença nos anos desde que saiu do cargo em 1998.Num sentido, a morte de Soeharto representa uma dupla perda para a Indonésia.
Perdemos um grande líder que tanto fez no seu tempo, incluindo trazer a estabilidade política e a prosperidade económica a uma nação empobrecida. Mas perdemos também a oportunidade de o tornar responsável pelas mortes e torturas de milhares de pessoas, e pela herança de cultura política violenta e corrupta que deixou para trás.


Desde que se retirou da vida pública em1998, Soeharto conseguiu evitar pôr um pé em tribunal para responder pelas suas acções, fosse a questão corrupção ou abusos de direitos humanos.
Teve as suas oportunidades de se limpar mas a sua família e equipa de caros advogados decidiu de outro modo.


Ele podia ter acabado a sua vida conhecido como o herói que realmente foi. Em vez disso será lembrado pelos que viveram no decurso da sua governação de mão de ferro simultaneamente como herói e vilão. Deixem mais tarde os historiadores decidirem sobre o seu lugar adequado na história da Indonésia moderna.

Será dado o crédito a Soeharto de ser o homem que salvou a Indonésia do comunismo. A sua subida ao poder em 1966 foi o resultado de anos de lutas pelo poder entre o Partido Comunista da Indonésia (PKI) e as Forças Armadas Indonésias. Ele emergiu limpo e forte do caos que se seguiu depois do golpe abortado em 30 de Setembro de 1965, contra o então presidente Sukarno, de que os militares culparam o PKI.

Soeharto será lembrado como o homem que restaurou a estabilidade política do caos que caracterizou os últimos anos de Sukarno no poder.

A matança em massa de suspeitos e simpatizantes comunistas entre 1965 e 1966 foi uma página negra na história da Indonésia. Conquanto haja muita gente a dizer que as matanças ocorreram, elas nunca foram oficialmente documentadas. Soeharto e os seus amigos das Forças Armados lideraram uma campanha sangrenta para esmagar as forças comunistas. Na ausência de qualquer arquivo histórico de confiança, as estimativas dos números de mortes variam entre 200,000 e três milhões. Mesmo a estimativa mais baixa qualificaria isso como matança genocidal.

A estabilidade política que chegou com um preço tão alto numa grande extensão foi saldada em termos de desenvolvimento económico. Em 1966 pôs a inflação sob controlo, e depois começou um longo e quase sem interrupção período de crescimento económico, através dos anos 1970s, ajudado pelo dinheiro do petróleo que correu bem até aos anos 1990s.

Ganhou aplausos internacionais por ter introduzido a educação universal, cuidados de saúde baratos e acessíveis, e por ter trazido a auto-suficiência alimentar à Indonésia. Se o seu predecessor Sukarno foi chamado o "Pai da Revolução", Soeharto era o "Pai do Desenvolvimento".

Mas o "General Sorridente", conforme o título da sua biografia nos anos 1960s lhe chamou, não passava de um ditador.

Não existem ditadores benevolentes, apesar dele ter estado perto de ser um.Soeharto suprimiu a liberdade e a democracia em nome do desenvolvimento. Invadiu Timor-Leste (com o consentimento dos Estados Unidos e da Austrália), e o seu regime foi responsável por recorrentes atrocidades aos direitos humanos em Timor-Leste, Aceh e Papua.

E depois há a corrupção, primeiro feita pelos seus amigos e filhos, que mais tarde se tornou tão crónica e sistemática que saltou do controlo e destruiu quase todos os ganhos económicos que dolorosamente tinham sido feitos desde1966.

A corrupção endémica significou que a crise financeira Asiática de 1997 feriu muito mais a Indonésia do que os seus vizinhos, transformando-se numa crise política que acabou por forçar Soeharto a sair em Maio de 1998.

Um bom resultado desse episódio infeliz de há quase uma década atrás conduziu a reformas políticas e económicas e à democracia na Indonésia.

O falhanço de Soeharto em usar os últimos anos da sua vida para se limpar é bastante lamentável. Aqui está um homem que podia ter explicado o seu papel na tentativa de golpe de 1965 e nas matanças em massa que se seguiram, detalhado as circunstâncias invulgares da sua transferência de poder de Sukarno, explicado algumas das decisões controversas que fez (a sua autobiografia não mencionou algumas destas), e ilustrado as razões da sua decisão de ter partido em Maio de 1998.

Sempre um líder Javanês misterioso, levará com ele para o túmulo muitas das respostas que os nossos historiadores precisam de escrever sobre um grande período da história moderna da Indonésia.

Há um velho ditado que diz , "um velho soldado nunca morre, apenas desaparece". Soeharto desapareceu e depois morreu.

Adeus, Pak Harto.

Lasting legacy of the Suharto era

Source: Al Jazeera

MONDAY, JANUARY 28, 2008
10:10 MECCA TIME, 7:10 GMT

FOCUS INDONESIA
By Marianne Kearney in Jakarta

No-one has been held accountable for the 1.5 million who died under Suharto's rule [AFP]

As Indonesia marks the death of its former president, survivors of Suharto’s military backed regime - from East Timor to Aceh and the Javanese countryside - have sparked a debate about whether the former strongman should be forgiven.

The five-star former general, who died on Sunday afternoon, took over Indonesia in 1966, exploiting an alleged coup to purge Indonesia of the world’s largest communist party outside China and sideline Indonesia’s first president Sukarno.

Between half a million to a million people were killed as the army organized Muslim groups and ordinary citizens to take their revenge on the Indonesian Communist Party.

Hundreds of thousands of others were jailed, killed or simply disappeared as Suharto cracked down on opponents and stamped Indonesia's rule on territories as far apart as Aceh in the west to Timor and Papua in the east.

With the blood of as many as one and a half million people on his hands, and allegedly billions of dollars of state funds in his bank accounts, the wily former dictator has never faced court or had to account for his actions.

As Suharto lingered close to death over the past three weeks, many prominent figures and several political parties started calling for Suharto to be officially pardoned over the lingering corruption charges.

After initially announcing it was willing to make an out of court settlement with Suharto’s family, the government has since said it will not drop corruption charges against the former dictator for embezzling $1.5bn from state foundations.

Amien Rais, the former speaker of parliament who was one of the first politicians to call for Suharto to step down in 1998, has led the call for an official pardon.

Rais argued that the former president's legacy of massive economic, industrial and social development outweighed the negative influences of his rule.

But not all who felt the rough edge of his power, are so forgiving.

"I don't agree with a pardon. What Suharto did was unforgivable and unforgettable," said Yusuf Isaak, a former journalist who was detained for 10 years for allegedly being a communist.

Other former political prisoners say that while they might privately forgive Suharto, he should not be forgiven or pardoned by the state.

"What he did was a serious human rights crime, so he should be tried," said Adyasman Sadgo Prawiro, who spent 14 years in jail for heading the left-leaning national Forestry Workers Union.

"But privately, if he were to admit he was wrong, we could accept it."

Prawiro leads a group demanding that ex-communists be given an official apology and given compensation for the abuses against them.

He says there are 20 million Indonesians alive today, the children, grandchildren and brothers and sisters of the jailed communists, who endured decades of discrimination.

They were turned away from jobs, were not allowed to become civil servants, to join the police force or the military, and were rejected from state universities.

In the now independent nation of East Timor, the trauma of Suharto's rule is deeply ingrained on the national psyche.

But East Timor’s recently-elected president has called on his people to forgive Suharto for the 1975 invasion, and for the almost 180,000 people who died as result of the 24 years of Indonesian occupation.

"Today we are free, we have survived, we got our independence, and so we should not be hostage, no matter how tragic it was, to the past," Jose Ramos Horta told Al Jazeera.

Horta, who lost three brothers and a sister during the military operation and was jointly awarded the Nobel peace prize in 1996, says he knows from personal experience how hard it is to forget the brutality of the operation.

"I'm not speaking academically, every time we, my mother and I see their face in photos, we all feel incredibly sad," he said.

Putting Suharto, or the generals under him, on trial would "undermine this young democracy", said Horta.

But Jose Luis, from rights group Sahe, says many East Timorese were disappointed that Suharto and his generals escaped prosecution for the invasion and subsequent military campaign.

"Not just the Timor case, buy various cases such as Aceh. He should have been put on trial so that this could never be repeated and to protect Indonesia's future," said Luis, speaking from Dili.

Under pressure from the United Nations, Indonesia held a much-criticised human rights trial, charging military, police and militia commanders for their role in the violence that swept East Timor in the wake of the 1999 independence vote.

However, despite the deaths of up to 1,500 people, all except a militia leader were found innocent while not a single official has faced trial for all the atrocities committed prior to 1999.

At the other end of the archipelago, in Aceh, where an estimated 20,000 people died during multiple military operations against the separatist Free Aceh Movement, anger at Suharto is still palpable.

Aceh has largely been peaceful since the signing of a landmark peace deal in 2005 – an agreement prompted by the massive loss of life caused by the Asian tsunami.

But former rebel leaders such as Teungku Nasiruddin, who was jailed and spent a year in solitary confinement after the collapse of an earlier peace deal, says Suharto should answer for his crimes.

"Maybe privately he can be forgiven, but the legal process has to run its course, and he should be put on trial for what he did here," said Nasiruddin.

Whilst perpetrators of the Rwandan genocide, the waves of "ethnic cleansing" in the former Yugoslavia, the Nazis and Saddam Hussein have all had to answer for their crimes, the smiling former general has escaped this infamy.

Even the Khmer Rouge in Cambodia now faces a watered down war crimes tribunal for the killing of an estimated two million of its own people.

If Suharto had not been fighting communism, engaged in the Cold War geo-political struggle of his era, there would have been much greater pressure from the West to put Suharto and his generals on trial, say observers.

"Suharto really got lucky," says Galuh Wandita, from the International Centre for Transitional Justice.

"First of all there was the cold war, and then there was terrorism."

Although Suharto had already resigned by the time of the 9/11 attacks, Indonesia was courted by the West as an ally in the war on terror, particularly after a series of domestic terror attacks.

The US renewed military assistance which had been dropped in reaction to the East Timor violence and Australia resumed military training of Indonesia's elite Kopassus troops.

Suharto’s former political party, Golkar, and the military have remained powerful players in today’s government, ensuring that Suharto and his generals evaded justice, points out Wandita.

Suharto’s successors, Yusuf Habibie and Abdurruhman Wahid both promised to prosecute the numerous human rights violations perpetrated during his rule.

But with a corrupt judiciary, and the military opposed to being held accountable for their actions, these attempts ground to a halt.

Only one case, a massacre at a Muslim boarding school in west Aceh, was ever brought to trial. A soldier was sentenced but he later disappeared, under mysterious circumstances.

And the murder of a supreme court judge by Suharto’s youngest son, Hutomo 'Tommy' Mandala Putra, for finding him guilty of corruption, served as a cautionary tale about the limits of prosecuting the Suharto family.

Tommy was given a 15-year sentence, but has since been released after serving just 6 years of his sentence.

Tradução:

Herança duradoura da era Suharto

Fonte: Al Jazeera

SEGUNDA-FEIRA, JANEIRO 28, 200810:10 MECCA TIME, 7:10 GMT

FOCUS INDONESIA Por Marianne Kearney em Jacarta

Ninguém foi responsabilizado pelos 1.5 milhões que morreram sob o governo de Suharto [AFP]
Quando a Indonésia marca a morte do seu antigo presidente, sobreviventes do regime de Suharto apoiado pelos militares - de Timor-Leste a Aceh e aos campos Javaneses - desencadearam um debate sobre se o antigo homem forte deve ser perdoado.


O antigo general de cinco estrelas, que morreu no Domingo à tarde, tomou o poder na Indonésia em 1966, explorando um alegado golpe de Estado para purgar a Indonésia do maior partido comunista do mundo fora da China e afastar do poder Sukarno o primeiro presidente da Indonésia.

Entre meio milhão e um milhão de pessoas foram assassinadas quando as forças armadas organizaram grupos muçulmanos e de civis para fazerem vinganças contra o Partido Comunista da Indonésia.

Centenas de milhares doutros foram presos, assassinados ou simplesmente desapareceram quando Suharto caíu rm cima dos opositores e impôs a governação da Indonésia em territórios tão distantes como Aceh no oeste e Timor e a Papua no leste.

Com o sangue de tantas quantas um milhão e meio de pessoas nas suas mãos e com alegadamente biliões de dólares de fundos do Estado nas suas contas bancárias, o wily antigo ditador nunca enfrentou o tribunal ou respondeu pelas suas acções.

Enquanto Suharto se aproximava da morte nas três últimas semanas, muitas figuras proeminentes e vários partidos políticos começaram a pedir para Suharto ser oficialmente perdoado sobre as acusações de corrupção.

Depois de ter inicialmente anunciado que estava disponível para fazer um acordo extra-judicial com a família Suharto, desde então o governo disse que não deixará cair acusações de corrupção contra o antigo ditador por ter pilhado $1.5 biliões de fundações do Estado.

Amien Rais, o antigo presidente do parlamento que foi um dos primeiros políticos a pedir a demissão de Suharto em 1998, tem liderado os pedidos para um perdão oficial.

Rais argumentou que a herança do antigo presidente de massivo desenvolvimento económico, industrial e social ultrapassava as influências negativas da sua governação.

Mas nem todos que sentiram a lâmina afiada do seu poder são tão clementes.

"Não concordo com um perdão. O que Suharto fez é inesquecível e imperdoável," disse Yusuf Isaak, um antigo jornalista que esteve detido durante 10 anos por alegadamente ser comunista.
Outros antigos presos políticos dizem que conquanto possam pessoalmente perdoar Suharto, ele não deve ser perdoado pelo Estado.


"O que ele fez foi um crime sério de direitos humanos, por isso ele deve ser julgado," disse Adyasman Sadgo Prawiro, que passou 14 anos na cadeia por liderar o Sindicato dos Trabalhadores Florestais. de tendência de esquerda.

"Mas em privado, se ele admitisse que tinha errado, podíamos aceitar isso."

Prawiro lidera um grupo que exige que seja feito um pedido de desculpas oficiais aos ex-comunistas e que sejam dadas compensações pelos abusos contra eles.

Ele diz que há hoje 20 milhões de Indonésios vivos, os filhos, netos e irmãos e irmãs dos comunistas encarcerados, que sofreram décadas de discriminação.

Eles foram despedidos, não puderam ser funcionários públicos ou ir para as forças da polícia ou militar, e foram rejeitados das universidades do Estado.

Na nova nação agora independente, Timor-Leste, o trauma da governação de Suharto está profundamente embebida na psique nacional.

Mas o recentemente eleito presidente de Timor-Leste pediu ao povo para perdoar Suharto oela invasão de 1975 e por quase 180,000 pessoas que morreram em 24 anos de ocupação Indonésia.
"Hoje estamos livres, sobrevivemos, obtivemos a nossa independência e por isso não devemos ficar reféns, independentemente de quanto trágico foi, do passado," disse José Ramos Horta à Al Jazeera.


Horta, que perdeu três irmãos e uma irmã durante a operação militar e foi premiado com o prémio Nobel da paz em 1996, diz que conhece por experiência pessoal quanto difícil é esquecer a brutalidade da operação.

"Não estou a falar academicamente, de cada vez que nós, a minha mãe e eu vemos as suas faces nas fotos, sentimo-nos inacreditavelmente tristes," disse.

Pôr Suharto, ou os generais dele em julgamento "minará esta jovem democracia", disse Horta.

Mas José Luis, do grupo de direitos Sahe, diz que muitos Timorenses ficaram desapontados quando Suharto ae os seus generais escaparam serem processados pela invasão e subsequente campanha militar.

"Não apenas o caso de Timor, mas vários casos como o de Aceh. Ele devia ter ido a julgamento para que isso nunca mais se repita e para proteger o futuro da Indonésia," disse Luis, falando de Dili.

Sob pressão das Nações Unidas, a Indonésia fez um julgamento de direitos humanos muito criticado, acusando comandantes militares, da polícia e milícias pelo papel deles na violência que varreu Timor-Leste logo após a votação em 1999 pela independência.

Contudo, apesar das mortes de pelo menos 1,500 pessoas, todos excepto um líder de milícia foram considerados inocentes e nem um único oficial enfrentou julgamento por todas as atrocidades cometidas antes de 1999.

Na outra ponta do arquipélago, em Aceh, onde uma estimativa aponta a morte de 20,000 pessoas durante várias operações militares contra o movimento separatista Free Aceh Movement, é ainda palpável a raiva Suharto.

Aceh tem estado largamente pacífica desde a assinatura de um acordo histórico de paz em 2005 – um acordo desencadeado pela massiva perda de vidas do tsunami Asiático.

Mas antigos líderes rebeldes como Teungku Nasiruddin, que esteve encarcerado e passou um ano em prisão solitária depois do colapso de um anterior acordo de paz, diz que Suharto deve responder pelos seus crimes.

"Talvez, privadamente ele pode ser perdoado, mas o processo legal tem que seguir os seus trâmites, e ele deve ir para a cadeia por causa do que fez aqui," disse Nasiruddin.

Enquanto os perpetradores do genocídio de Rwanda, as vagas de “limpeza étnica” na antiga Jugoslávia, os Nazis e Saddam Hussein todos tiveram de responder pelos seus crimes, o sorridente antigo general escapou desta infâmia.

Mesmo os Khmer Vermelhos no Cambodia enfrentam agora um tribunal de crimes de guerra aguado pela morte de uns estimados dois milhões do seu próprio povo.

Se Suharto não estivesse a lutar contra o comunismo, engajado na luta geo-política da Guerra Fria da sua era, teria havido muito maior pressão do Ocidente para pôr Suharto e os seus generais no tribunal, dizem observadores.

"Suharto teve realmente sorte," diz Galuh Wandita, do International Centre for Transitional Justice.

"Primeiro que tudo, houve a Guerra fria, e depois houve o terrorismo."

Apesar de Suharto já ter resignado pela altura dos ataques do 9/11, a Indonésia foi cortejada pelo Ocidente como um aliado na guerra contra o terror, particularmente depois duma série de ataques de terror domésticos.

Os USA renovaram a assistência militar que tinha sido suspensa em reacção à violência em Timor-Leste e a Austrália recomeçou a formação militar às tropas de elite da Indonésia, Kopassus.

O antigo partido politico de Suharto, Golkar, e as forças militares têm-se mantido jogadores poderosos no governo de hoje, assegurando que Suharto e os seus generais evitem a justiça, aponta Wandita.

Os sucessores de Suharto, Yusuf Habibie e Abdurruhman Wahid ambos prometeram processar as numerosas violações de direitos humanos perpetrados durante a sua governação.

Mas com um sector judicial corrupto e os militares a oporem-se a serem responsabilizados pelas suas acções, essas tentativas pararam.

Apenas um caso, um massacre numa escola muçulmana em Aceh oeste, foi alguma vez levada a julgamento. Um soldado foi condenado mas mais tarde desapareceu, em circunstâncias misteriosas.

E o homicídio de um juíz do supremo tribunal pelo filho mais novo de Suharto, Hutomo 'Tommy' Mandala Putra, por o ter declarado culpado de corrupção serviu como uma história para avisar sobre os limites de processar a família Suharto.

A Tommy foi dada uma sentença de 15 anos, mas foi libertado apenas 6 anos depois.

The Jakarta Post
January 28, 2008

Foreign dignitaries pay tribute to former leader

Tony Hotland The Jakarta Post Jakarta

Foreign leaders have conveyed their condolences on the death of former president Soeharto, praising his contribution to the rise of Indonesia during his 32-year reign.

Presidential spokesman Dino Pati Djalal said Sunday the government "appreciates these international friends for sending their representatives to pay their respects to Soeharto".

"This is an indication that Soeharto was a respected leader in the region," he said.

Dino said some foreign dignitaries had confirmed their attendance at Soeharto's state funeral, set for Monday morning in Surakarta, Central Java, where he will be buried at his family's cemetery.

"Among them are Malaysia's Deputy Prime Minister Najib Tun Razak, (former Philippines president) Fidel Ramos and (Timor Leste Prime Minister) Xanana Gusmao," he said.

Singaporean Prime Minister Lee Hsien Loong, said Dino, would visit Soeharto's residence in Central Jakarta on Sunday night. Lee's father, former Singapore prime minister Lee Kuan Yew, recently visited Soeharto at his hospital bed.

Dino added the government had also prepared airplanes at Halim Perdanakusuma airport in Jakarta for foreign diplomats wishing to attend the funeral.

Former foreign minister Ali Alatas said the nation should for now focus on Soeharto's achievements for the country.

"It takes time before we as a nation can clearly evaluate the leadership of our leaders," he said.

Messages of praise have been pouring in from all over the world.

Philippines President Gloria Macapagal Arroyo said Soeharto "will never be forgotten" for his enduring legacy in the Southeast Asian region and particularly the peace building in the troubled southern Philippines region of Mindanao.

Malaysian Foreign Minister Syed Hamid Albar said Soeharto had contributed to Indonesia's economic development despite the things that occurred at the end of his career.

Former Malaysian prime minister Mahathir Mohamad, who was Soeharto's counterpart during many years of his reign, is slated to travel to Surakarta on Monday.

Thai Ambassador to Indonesia Akrasid Amatayakul said the Thai people "join Indonesians in mourning" and that Soeharto's work in strengthening the relations between the two countries would be remembered.

Japanese Prime Minister Yasuo Fukuda recalled in his condolences Soeharto's work to maintain the "friendly and goodwill relations between our nation and Indonesia".

Australian Prime Minister Kevin Rudd praised Soeharto's role in modernizing Indonesia, although also noted that he was a controversial figure in terms of human rights.

"The former president was also a controversial figure in respect of human rights and East Timor (now Timor Leste) and many have disagreed with his approach," Rudd said in a statement.

U.S. Ambassador to Indonesia Cameron Hume said "though there may be some controversy over his legacy, Soeharto was a historic figure who left a lasting imprint on Indonesia and the region of Southeast Asia".

Timor Leste's Xanana, who was jailed under Soeharto's reign when the country was still an Indonesian province, also expressed his condolences, said Dionisio Babo Soares, the secretary of Xanana's party.

British Foreign Minister David Miliband said in a statement that Soeharto "played an important role in the history and development of Indonesia".

Pakistan's Ambassador to Indonesia Maj. Gen. (ret) Ali Baz, who visited Soeharto in hospital, said he was "very sad" and "the nation must pay respect to Soeharto for the many things that he did".

Suharto buried in state funeral

BBC News
Monday, 28 January 2008, 06:39 GMT

Former Indonesian President Suharto, who died on Sunday at the age of 86, has been buried in a state funeral.

President Susilo Bambang Yudhoyono oversaw the ceremony at the Suharto family mausoleum near the city of Solo.

Suharto, who ruled Indonesia for more than three decades, was credited with leading his country from poverty to relative development.

But he was dogged by allegations of corruption, political repression and serious human rights abuses.

Hundreds of thousands of suspected communists were killed as he rose to power in the 1960s.
He was ousted by mass protests in 1998 and in recent years suffered from poor health - one of the reasons why he never faced trial.

State funeral

Early on Monday, the former leader's body was flown from the capital, Jakarta, to Solo in central Java.

Soldiers carried his flagged-draped coffin from his residence to a white hearse.

Thousands of people lined streets in both cities to watch the funeral procession pass by.

Mr Yudhoyono began the ceremony at the Suharto family mausoleum, northeast of Solo, just after noon (0500GMT).

"We offer his body and his deeds to the motherland," he said. "His service is an example to us."
Prayers were said and mourners threw flower petals into Suharto's grave.

The former president was laid to rest next to his wife Tien, who died in 1996.

Leaders from around the region attended the ceremony, including President Xanana Gusmao of East Timor, which was annexed and occupied under Suharto before gaining independence in 2002.

Mixed legacy

Suharto was rushed to hospital on 4 January suffering from various heart, lung and kidney problems.

On Sunday he slipped into a coma and died at 1310 (0610 GMT), surrounded by his six children.
Reaction to his death has reflected his mixed legacy, correspondents say.

The US ambassador to Jakarta, Cameron Hume, hailed Suharto as a "historic figure" who "achieved remarkable economic development", while adding that there "may be some controversy over his legacy".

Malaysia's former leader, Mahathir Mohamad, said he had regarded Suharto as "a great leader and... an international statesman", a friend of Malaysia and a personal friend.

But for political opponents, his death meant a missed opportunity to put him on trial.
"His death is a tragedy for all the victims of his crimes, they will never get justice," said Budiman Sudjatmiko, who was jailed as a student activist.

"He is a perfect criminal - he can be put up there with Pol Pot and Hitler."

Brad Adams, Asia director of the New York-based NGO Human Rights Watch, said Suharto had "gotten away with murder - another dictator who's lived out his life in luxury and escaped justice".

Indonesia: Suharto’s Death a Chance for Victims to Find Justice

HUMAN RIGHTS WATCH

Government Should Investigate Crimes of Former Dictator’s Regime

(New York, January 27, 2008) – The death of former president Suharto at age 86 provides an opportunity to commemorate the many victims of his oppressive regime, Human Rights Watch said today. Human Rights Watch said the Indonesian government should make a serious commitment to hold accountable the perpetrators of human rights abuses during his rule.

Suharto presided over more than three decades of military dictatorship and systematic human rights abuses, including media censorship, tight restrictions on freedom of association and assembly, a highly politicized and controlled judiciary, widespread torture, attacks on the rights of minorities, massacres of alleged communists, and numerous war crimes committed in East Timor, Aceh, Papua and the Moluccan islands. He also presided over a famously corrupt regime in which he, his family, and his cronies amassed billions of dollars in illegal wealth – funds which could have addressed Indonesia’s widespread poverty and social problems.

“Suharto has gotten away with murder – another dictator who’s lived out his life in luxury and escaped justice,” said Brad Adams, Asia director at Human Rights Watch. “But many of Suharto’s cronies are still around, so the Indonesian government should take the chance to put his many partners in human rights abuse on trial.”

To date, there has been virtually no legal accounting for the widespread abuses committed during Suharto’s rule, or for the violence instigated by pro-Suharto forces in a failed attempt to stave off his 1998 fall from power. Suharto himself never faced trial for human rights abuses. The former dictator spent the last years of his life living in luxury. On account of Suharto’s alleged poor health, in May 2006, prosecutors dropped one case that alleged that he had stolen $600 million from the state’s coffers.

“Indonesia’s attorney general never issued an indictment against him for human rights violations,” said Adams. “While there has been a great deal of political reform, repeated failures to hold perpetrators of serious human rights crimes to account have meant that Indonesia still has not come to terms with the worst of Suharto’s legacy.”

Human Rights Watch said that the lack of justice for Suharto’s crimes is directly linked to the continuing impunity enjoyed by Indonesia’s security forces, despite many political reforms and promises to address past abuses. Since 1998, the legal and institutional bases of Suharto’s political repression have been largely removed, and there has been great progress on freedom of association and expression.

One important consequence of this failure is that, although the military no longer formally plays a political role (the military’s “Dwifungsi” or “dual function” ideology relied on by Suharto has been abandoned and is now discredited), the military continues to be territorially and economically entrenched. The military still is not fully answerable to the Ministry of Defense, and much-heralded reforms to end the armed forces’ involvement in business are stalled. The predictable result is conflicts of interest and abuses, as with the May 2007 killing of civilians in Pasuruan, East Java, by marines who had ousted farmers and planted commercial crops on the disputed land. Another consequence is that where there is conflict in Indonesia today, as in Papua, security forces – both military and special police units – still commit abuses and are almost never held accountable.

“Justice is a key missing piece in Indonesia’s reform story,” said Adams. “The failure to touch Suharto shows how far Indonesia still has to go if it is to establish strong, independent prosecutors and courts, and put an end to serious security-force abuses.”

Background

Suharto’s sordid legacy dates to the army-backed massacres in 1965 that accompanied his rise to power. A failed coup against President Sukarno in September 1965 claimed the lives of six army generals, but it was the army, led by then-Major General Suharto, that emerged as the paramount power in the aftermath.

Although the events surrounding the coup attempt remain unclear and some participants themselves described it as an internal military affair, the government maintained that the Indonesian Communist Party was exclusively responsible for the coup attempt. From 1965 to 1967, Suharto presided over a bloodbath that destroyed the Indonesian Communist Party. Estimates of the number of people killed range from a quarter of a million to more than 1 million.

Hundreds of thousands of citizens suspected of having leftist affiliations, including large numbers of teachers and student activists, were imprisoned. Most of them were never tried, let alone convicted of any offense. Suharto was officially proclaimed president in March 1967.

Under Suharto’s “New Order” regime, Indonesian society became progressively militarized, with the Indonesian armed forces playing an increasingly prominent role as a social and political force. Throughout his rule, Suharto viciously suppressed any sign of anti-government unrest or separatist ambition. Military operations, most notably in East Timor, Aceh, and Papua, were characterized by undisciplined and unaccountable troops committing widespread abuses against civilians, including extrajudicial executions, torture, forced disappearances, beatings, arbitrary arrests and detentions, and drastic limits on freedom of movement.

In 1975, just nine days after neighboring East Timor declared its independence from Portugal, Suharto ordered Indonesian forces to invade and annex the former colony. Indonesia’s occupation of East Timor was brutal, marked by atrocities such as the Santa Cruz massacre in 1991, when at least 270 pro-independence protesters were shot or beaten to death by the military.

“One of the enduring legacies of Suharto’s regime has been the culture that continues to block justice for victims of military abuses even today,” said Adams. “Maybe with Suharto’s passing, this legacy, too, can be brought to an end.”

A rare attempt at accountability for Suharto-era crimes occurred in trials held in 2004 against soldiers accused of participating in the “Tanjung Priok Massacre” in Jakarta two decades earlier.

Yet the trials resulted in little justice for the families of the 33 or more civilians shot by government security forces during an anti-government demonstration. Two defendants were acquitted amid reports of political interference and witness intimidation. The remaining 12 defendants had their convictions overturned by an appeals court in June 2005.

The death of Suharto is a reminder of the west's ignoble role in propping up a murderous regime

Our model dictator

John Pilger
Monday January 28, 2008
The Guardian

In my film Death of a Nation, there is a sequence filmed on board an Australian aircraft flying over the island of Timor. A party is in progress, and two men in suits are toasting each other in champagne. "This is an historically unique moment," says one of them, "that is truly uniquely historical."

This was Gareth Evans, Australia's then foreign minister. The other man was Ali Alatas, the principal mouthpiece of the Indonesian dictator General Suharto, who died yesterday. The year was 1989, and the two were making a grotesquely symbolic flight to celebrate the signing of a treaty that would allow Australia and the international oil and gas companies to exploit the seabed off East Timor, then illegally and viciously occupied by Suharto. The prize, according to Evans, was "zillions of dollars".

Beneath them lay a land of crosses: great black crosses etched against the sky, crosses on peaks, crosses in tiers on the hillsides. Filming clandestinely in East Timor, I would walk into the scrub, and there were the crosses. They littered the earth and crowded the eye. In 1993, the foreign affairs committee of Australia's parliament reported that "at least 200,000" had died under Indonesia's occupation: almost a third of the population. Yet East Timor's horror, foretold and nurtured by the US, Britain and Australia, was a sequel. "No single American action in the period after 1945," wrote the historian Gabriel Kolko, "was as bloodthirsty as its role in Indonesia, for it tried to initiate the massacre." He was referring to Suharto's seizure of power in 1965-6, which caused the violent deaths of up to a million people.

To understand the significance of Suharto is to look beneath the surface of the current world order: the so-called global economy and the ruthless cynicism of those who run it. Suharto was our model mass murderer - "our" is used here advisedly. "One of our very best and most valuable friends," Thatcher called him. For three decades the south-east Asian department of the Foreign Office worked tirelessly to minimise the crimes of Suharto's gestapo, known as Kopassus, who gunned down people with British-supplied Heckler & Koch machine guns from British-supplied Tactica "riot control" vehicles.

A Foreign Office speciality was smearing witnesses to the bombing of East Timorese villages by British-supplied Hawk aircraft - until Robin Cook was forced to admit it was true. Almost a billion pounds in export credit guarantees financed the sale of the Hawks, paid for by the British taxpayer while the arms industry reaped the profit.

Only the Australians were more obsequious. "We know your people love you," the prime minister Bob Hawke told the dictator to his face. His successor, Paul Keating, regarded the tyrant as a father figure. Paul Kelly, a prominent Murdoch retainer, led a group of major newspaper editors to Jakarta, to fawn before the mass murderer even though they all knew his grisly record.

Here lies a clue as to why Suharto, unlike Saddam Hussein, died not on the gallows but surrounded by the finest medical team his secret billions could buy. Ralph McGehee, a senior CIA operations officer in the 1960s, describes the terror of Suharto's takeover in 1965-6 as "the model operation" for the US-backed coup that got rid of Salvador Allende in Chile seven years later. "The CIA forged a document purporting to reveal a leftist plot to murder Chilean military leaders," he wrote, "[just like] what happened in Indonesia in 1965.

The US embassy in Jakarta supplied Suharto with a "zap list" of Indonesian Communist party members and crossed off the names when they were killed or captured. Roland Challis, BBC south-east Asia correspondent at the time, told me how the British government was secretly involved in this slaughter. "British warships escorted a ship full of Indonesian troops down the Malacca Straits so they could take part in the terrible holocaust," he said. "I and other correspondents were unaware of this at the time ... There was a deal, you see."

The deal was that Indonesia under Suharto would offer up what Richard Nixon had called "the richest hoard of natural resources, the greatest prize in south-east Asia". In November 1967 the greatest prize was handed out at a remarkable three-day conference sponsored by the Time-Life Corporation in Geneva. Led by David Rockefeller, all the corporate giants were represented: the major oil companies and banks, General Motors, Imperial Chemical Industries, British American Tobacco, Siemens, US Steel and many others. Across the table sat Suharto's US-trained economists who agreed to the corporate takeover of their country, sector by sector. The Freeport company got a mountain of copper in West Papua. A US/European consortium got the nickel. The giant Alcoa company got the biggest slice of Indonesia's bauxite. America, Japanese and French companies got the tropical forests of Sumatra. When the plunder was complete, President Lyndon Johnson sent his congratulations on "a magnificent story of opportunity seen and promise awakened".

Thirty years later, with the genocide in East Timor also complete, the World Bank described the Suharto dictatorship as a "model pupil".

Shortly before the death of Alan Clark, who under Thatcher was the minister responsible for supplying Suharto with most of his weapons, I interviewed him, and asked: "Did it bother you personally that you were causing such mayhem and human suffering?"

"No, not in the slightest," he replied. "It never entered my head."

"I ask the question because I read you are a vegetarian and are seriously concerned with the way animals are killed."

"Yeah?"

"Doesn't that concern extend to humans?"

"Curiously not."

johnpilger.com

Tradução:

A morte de Suharto é uma lembrança do papel ignóbil do Ocidente no apoio a um regime assassino

O nosso ditador modelo

John Pilger
Segunda-feira Janeiro 28, 2008
The Guardian

No meu filme Morte de uma Nação, há uma sequência filmada a bordo de um avião Australiano a voar sobre a ilha de Timor. Desenrola-se uma festa, e dois homens com fatos estão a brindar uma ao outro com champagne. "Este é um momento historicamente único," diz um deles, "isso é na verdade verdadeiramente único historicamente."

Este era Gareth Evans, o então ministro dos estrangeiros da Austrália. O outro homem era Ali Alatas, o principal porta-voz do ditador Indonésio General Suharto, que morreu ontem. O ano foi o de 1989, e os dois faziam um voo grotescamente simbólico para comemorar a assinatura de um tratado que iria permitir que a Austrália e companhias internacionais de petróleo e do gás explorassem o fundo do mar de Timor-Leste, então ocupado ilegal e cruelmente por Suharto. O prémio, de acordo com Evans, eram "ziliões de dólares".

Por debaixo deles estava uma terra de cruzes: grandes cruzes pretas erguiam-se no céu, cruzes em cimos de montanhas, cruzes alinhadas nos lados das montanhas. A filmar clandestinamente em Timor-Leste, às vezes andava entre arbustos, e lá estavam as cruzes. Elas enchiam a terra e enchiam os olhos. Em 1993, o comité dos negócios estrangeiros do parlamento da Austrália noticiou que "pelo menos 200,000" tinham morrido sob a ocupação da Indonésia: quase um terço da população. Contudo o horror de Timor-Leste, previsto e alimentado pelos USA, Grã-Bretanha e Austrália, era uma consequência. "Nenhuma única acção Americana no período depois de 1945," escreveu o historiador Gabriel Kolko, "foi tão sedento de sangue quanto foi o seu papel na Indonésia, por isso tentou iniciar o massacre." Referia-se à tomada do poder por Suharto em 1965-6, que causou mortes violentas de mais de um milhão de pessoas.

Compreender o significado de Suharto é olhar por debaixo da superfície da corrente ordem mundial: a chamada economia global e o cinismo sem misericórdia dos que o dirigem. Suharto foi o nosso assassino de massa modelo – "o nosso" é aqui usado com cautela. "Um dos nossos melhores e mais valiosos amigos," chamou-lhe Thatcher. Durante três décadas o departamento do Sudeste Asiático do Foreign Office trabalhou incansavelmente para minimizar os crimes da gestapo de Suharto, conhecida como Kopassus, que abateu pessoas com metralhadoras britânicas Heckler & Koch fornecidas pela Britânica Tactica em veículos para "controlar motins.

Uma especialidade do Foreign Office era difamar testemunhas dos bombardeamentos de aldeias Timorenses por aviões Hawk fornecidos pelos Britânicos - até que Robin Cook foi forçado a admitir que isso era verdade. Quase um bilião de libras em garantias de crédito de exportação financiaram a venda dos Hawks, pagos pelos pagadores de impostos Britânicos enquanto a indústria de armas colhia os lucros.

Apenas os Australianos foram mais serviçais. "Sabemos que o nosso povo o ama," disse o primeiro-ministro Bob Hawke ao ditador à sua frente. O seu sucessor, Paul Keating, olhava o tirano como uma figura paternal. Paul Kelly, um empregado proeminente de Murdoch, liderou u grupo de grandes editores de jornais a Jacarta, para bajular o assassino de massas, mesmo apesar de todos conhecerem o seu medonho historial.

Está aqui uma pista para saber porque é que Suharto, ao contrário de Saddam Hussein, morreu não no calabouço mas rodeado pela melhor equipa médica que os seus milhoes escondidos podiam comprar. Ralph McGehee, um operacional de topo de operações da CIA nos anos 1960s, descreve o terror do assalto ao poder de Suharto em 1965-6 como "a operação modelon" para o golpe de Estado apoiada pelos USA para se livrarem de Salvador Allende no Chile sete anos mais tarde. "A CIA forjou um documento com o objectivo de revelar uma conspiração de esquerda para assassinar líderes militares Chilenos," escreveu, "[exactamente como] o que aconteceu na Indonésia em 1965.

A embaixada dos USA em Jacarta abasteceu Suharto com uma "lista de morte" de membros do partido Comunista da Indonésia e assinalava os nomes quando eles eram mortos ou capturados. Roland Challis, correspondente da BBC na Ásia do Sudeste na altura, disse-me como o governo Britânico estava envolvido secretamento neste massacre. "Navios de guerra Britânicos escoltaram um navio cheio de tropas Indonésias através do Estreito de Malaca de modo a poderem participar neste holocausto terrível," disse. "Eu e os outros correspondentes desconhecíamos isso na altura ... Havia um acordo, veja"

O acordo era que a Indonésia sob Suharto ofereceria aquilo a que Richard Nixon tinha chamado "o mais rico amontoado de recursos naturais, o prémio maior na Ásia do Sudeste". Em Novembro de 1967 o maior prémio foi entregue numa extraordinária conferência de três dias patrocinada pela Time-Life Corporation em Geneva. Liderados por David Rockefeller, todas as corporações gigantes estavam representadas: as maiores companhias de petróleo e bancos , General Motors, Imperial Chemical Industries, British American Tobacco, Siemens, US Steel e muitas outras. Do outro lado da mesa estavam sentados economistas formados nos USA de Suharto que concordaram na tomada do seu país pelas corporações, sector por sector. A companhia Freeport obteve uma montanha de cobre na Papua Oeste. Um consórcio USA/Europeu obteve o niquel. A gigantesca companhia Alcoa obteve a maior fatia da bauxite da Indonésia. Companhias Americas, Japoanesas e Francesas apanharam florestas tropicais da Sumatra. Quando a pilhagem estava completa, o Presidente Lyndon Johnson enviou os seus parabéns sobre "uma magnifica história de oportunidades e uma promessa acordada".

Trinta anos depois, também com o genocídio de Timor-Leste completo, o Banco Mundial descreveu a ditadura de Suharto como um "aluno modelo".

Pouco antes da morte de Alan Clark, que sob Thatcher foi o ministro responsável por abastecer Suharto com a maioria das armas, eu entrevistei-o e perguntei-lhe: "Incomodou-o pessoalmente ter causado uma tal confusão e sofrimento humano?"

"Não, nem o mínimo," respondeu. "Isso nunca entrou na minha cabeça."

"Fiz a pergunta porque li que era um vegetariano e que se preocupa seriamente com o modo como os animais são mortos."

"Yeah?"

"Essa preocupação não se estende aos humanos?"

"Curiosamente não."

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.