sábado, julho 08, 2006

Cultura urbana?

No blog Timor do Publico.pt

A formação em Timor de uma sociedade urbana cosmopolita e moderna ainda está na infância. Díli não é uma verdadeira cidade, mas uma aldeia grande, ou um estreito canal de comunicação das aldeias timorenses para o mundo, e numa situação de crise, como esta que temos vivido, compreende-se imediatamente que não há uma identidade colectiva citadina minimamente resistente (o tipo de solidariedade que os urbanitas de Nova Iorque mostraram ao mundo pela forma como reagiram aos ataques de 11 de Setembro de 2001 é algo de impensável aqui). Em muitos países do mundo encontramos culturas urbanas e culturas rurais com grande vitalidade que ora se complementam ora se chocam dentro de um mesmo Estado; cá em Timor quase só a cultura rural tem realmente força, razão porque as famílias conservam as raízes bem ancoradas no knua de onde são originárias na montanha, prontas para recuarem para aí quando as coisas se complicam. Uma parte significativa dos habitantes de Díli está cá há poucas gerações, ou chegou na última década, e foram poucas as pessoas que encontrei nestes últimos dois meses que me disseram que não iriam fugir nem mandar parte dos seus para a montanha por não terem aí ligações. Para muitos jovens que crescem em Díli o resultado disto é que andam um bocado à deriva, já não integrados em pleno na cultura das uma-lulik (casa sagrada), dos makaer-lulik e lia-na’in (anciãos guardiães da tradição), e sem uma cultura urbana bem estabelecida à qual aderir.

Uma das grandes derrotadas nesta crise que assolou Timor-Leste é assim a cidade de Díli.
A fragilidade da incipiente cultura urbana timorense tem raízes históricas. Aqueles que não vêem uma única coisa positiva na experiência colonial deverão considerar a colonização de Timor Oriental pelos portugueses como exemplar, já que primou pela ausência e pela pouca interferência nas estruturas sociais e culturais timorenses. Assim, durante muito tempo as elites locais continuaram a ser apenas os membros da aristocracia tradicional, não se tendo formado o tipo de elite crioula que surgiu por exemplo em Angola no séc. XIX e é descrita em romances como “Nação Crioula” e “A Conjura” de José Eduardo Agualusa. Se olharmos para D. Boaventura, chefe da mais emblemática revolta contra o poder colonial português, e apontado por alguns como “pai” do nacionalismo leste-timorense, vemos fundamentalmente o líder de uma revolta nativa, sem uma classe urbana engajada a produzir textos nacionalistas ou doutrinários. Faltava provavelmente ainda na época um grupo significativo de filhos do Império com um nível de educação suficiente para teorizarem a revolta. Algo bem diferente do que aconteceu nas Filipinas, país do Sudeste Asiático socio-culturalmente muito mais próximo de Timor-Leste do que a Indonésia, no qual surgiram líderes nacionalistas da craveira de José Rizal (autor de romances de grande qualidade como Noli me Tangere (1887) e El Filibusterismo (1891) nos quais denunciou os excessos da Igreja católica e das autoridades coloniais espanholas). Mas as Filipinas são mais de 7000 ilhas, que constituíram uma parte importante das possessões coloniais de Espanha, enquanto Timor sempre foi um pequeno espaço na periferia do império. Uma situação também muito distinta da que permitiu o desenvolvimento de Singapura, local axial das rotas comerciais do império britânico e palco de actuação de uma dinâmica e numerosa classe comercial de etnia chinesa. Os que dizem por vezes que Timor pode tornar-se numa outra Singapura não conhecem a realidade timorense.

Mas agora que há em Timor cerca de duas dezenas de entidades que se auto-intitulam de instituições de ensino superior, vamos ver se Díli se transformará enfim numa verdadeira cidade…
João Paulo Esperança Sexta-feira, Julho 07, 2006
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Novo governo é de base FRETILIN - Francisco Guterres "Lu-Olo"

Díli, 08 Jul (Lusa) - O II Governo Constitucional, que será liderado pelo independente José Ramos Horta, "será de base FRETILIN", disse hoje à agência Lusa o presidente do partido, Francisco Guterres "Lu-Olo".

"Naturalmente, o novo governo vai ser maioritariamente formado por quadros da FRETILIN. Já se iniciaram os primeiros contactos com o primeiro-ministro indigitado", acrescentou.

Francisco Guterres "Lu-Olo", que é também presidente do Parlamento Nacional, órgão de soberania em que a FRETILIN detém 55 dos 88 assentos parlamentares, liderou a delegação do partido que sexta-feira e hoje se reuniu com o Presidente Xanana Gusmão.

A delegação incluiu ainda os ministros de Estado e Administração Estatal, Ana Pessoa, e da Agricultura, Florestas e Pescas, Estanislau da Silva, ambos membros do Comité Central, e o deputado José Lobato.

Francisco Guterres "Lu-Olo" adiantou à Lusa que a Comissão Política Nacional reunirá domingo "para debater a composição do novo governo e analisar a relação" do partido com José Ramos Horta.

A Lusa tentou contactar José Ramos Horta, mas o seu gabinete informou que "até segunda-feira (data da posse do novo governo), não fala".

EL.

Lusa/Fim

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Nobel winner is new East Timor PM

BBC
8.07.2006

Mr Ramos-Horta's appointment follows months of instability
Nobel Peace Prize winner Jose Ramos-Horta has been named as East Timor's new prime minister, President Xanana Gusmao has announced.
The appointment follows months of violence and political instability.

The ex-prime minister, Mari Alkatiri, resigned last month after criticism of his handling of a wave of violence which left 21 people dead.

Mr Ramos-Horta's first job will be "restoring peace and stability," President Gusmao said.

The unrest, sparked by Mr Alkatiri's decision to sack 600 soldiers, prompted the government to call for international assistance to restore order.

'Unifying candidate'

Correspondents say Mr Ramos-Horta is a potential unifying candidate for the young nation, which became independent from Indonesia in 2002.

He won a Nobel Peace Prize after conducting a long campaign for East Timorese independence while living in exile in Australia.

Mr Ramos-Horta is expected to hold office until elections in 2007.

Among the other candidates for the premiership were Fretilin lawmakers Stanislau da Silva and Rui Maria Araujo. They were appointed first deputy prime minister and second deputy prime minister respectively, Mr Gusmao announced.

"The programs of this new government will focus on solving this crisis so that the people can return home and the situation can be normalised," the president said.

About 150,000 people were forced from their homes by the recent violence.

Inquérito



Envio de dados do inquérito O QUE PENSAM OS PORTUGUESES SOBRE A CRISE TIMORENSE

Caros amigos e companheiros:

Estamos em permanência com vocês, comungando das vossas preocupações e sofrimento.
Com os nossos cumprimentos enviamos dados relativos ao inquérito que mantemos, há já uma semana, na página principal do site

http://www.radio-monsanto.com/

Os números falam por si e não precisamos de fazer qualquer comentário.

Pelo RCM
Joaquim Fonseca


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Jose Ramos-Horta to be East Timor prime minister

Sat Jul 8, 2006 9:29 AM BST

DILI (Reuters) - Nobel Peace Prize laureate Jose Ramos-Horta is to be East Timor's new prime minister, President Xanana Gusmao told reporters on Saturday.

Ramos-Horta had been a spokesman abroad for East Timor in its struggle to gain independence from Indonesian occupation, and then its foreign minister when it won nationhood.

He was acting as temporary coordinating minister since Mari Alkatiri stepped down as prime minister on June 26.

Alkatiri was broadly blamed for violence which erupted after he sacked nearly 600 members of the 1,400-strong army when they protested against discrimination.

Reuters 2006

Xanana e chefes militares entram em rota de colisão

Armando Rafael, Diário de Notícias, 08/07/06

Com as atenções centradas na escolha do primeiro-ministro, Timor-Leste pode estar à beira de uma nova crise. Desta vez, com contornos imprevisíveis, caso Xanana Gusmão insista em querer substituir Taur Matan Ruak no comando das forças armadas (F-FDTL).

Para já, os sinais desta tensão ainda são muito ténues. Mas a estratégia não engana e parece decalcada daquela que levou à saída de Mari Alkatiri. Com uma pequena diferença. Como, neste caso, o Presidente não tem poderes para exonerar as chefias militares, necessitando que o Governo proponha a sua substituição, vai tentando minar-lhe a autoridade, esperando que Taur Matan Ruak peça a demissão.

O que dificilmente acontecerá. Sobretudo num quadro de crise institucional como aquele que se vive neste momento, desconhecendo quando é que o Presidente da República e a Fretilin poderão chegar a acordo sobre a substituição do primeiro-ministro. Se é que alguma vez o farão, tendo em conta as divergências que continuam a marcar o relacionamento entre as duas partes, apesar das declarações em contrário que têm sido proferidas.

Nomeadamente as que apontam para a possibilidade de poder ser hoje anunciado um novo primeiro-ministro, hipótese que nem mesmo em privado alguém se atreve a confirmar. Dando, de alguma forma, a entender, que as posições de Xanana e da Fretilin - que elegeu 55 dos 88 deputados do Parlamento - ainda se encontram muito extremadas.

Em especial no que respeita à continuação dos principais ministros indicados pela Fretilin. Exigência que o Presidente tende a recusar, contrapondo a tese da dissolução do Parlamento e a convocação de eleições antecipadas até Dezembro.

O que, segundo algumas fontes ontem consultadas pelo DN, explicaria o silêncio a que Ramos-Horta se remeteu nos últimos dias. E que é tanto mais significativo quanto se sabe que o nome do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa até estaria em vias de ser viabilizado pela Fretilin, em nome de uma certa estabilidade até às legislativas e presidenciais previstas para Maio de 2007. Mesmo que isso significasse deixar cair a sua primeira opção - Estanislau da Silva, titular da pasta da Agricultura.

Sem que se tenha percebido, até agora, se o Presidente da República continua, ou não, a insistir na necessidade de a Fretilin ter de repetir o seu congresso, sob pena de considerar que a direcção do partido é ilegítima pelo simples facto de que foi eleita por braço no ar.

Um argumento que serviu de arma de arremesso contra Alkatiri no período que antecedeu a sua demissão do cargo de primeiro-ministro, correspondendo a uma das exigências de Xanana Gusmão.

É neste contexto que a questão de Taur Matan Ruak, que é conhecido pela sua frontalidade, adquire relevância. Quanto mais não seja pela disciplina que as F-FDTL evidenciaram ao longo desta crise, recusando todas as tentativas de manipulação de que foram objecto. E que, a fazer fé no New Zeland Herald e no Newsmatilda, chegaram ao ponto de as tentarem aliciar para um golpe.

Só que ninguém sabe até quando é que Taur Matan Ruak, que aparenta ter grande controlo sobre a hierarquia militar, está disposto a tolerar os encontros que Xanana tem vindo a manter com os três majores - Alfredo Reinado, Alves Tara e Marcos Tilman - que se envolveram na contestação ao Governo de Alkatri.

Sendo que o último encontro desta natureza ocorreu na quarta-feira, dia em que foi anunciado o próximo acantonamento dos militares revoltosos com vista à sua reintegração nas F-FDTL. Solução que Taur Matan Ruak dificilmente aceitará, insistindo no respeito pela legalidade e pela hierarquia. Como sucedeu no caso dos 591 peticionários que abandonaram os quartéis.

Talvez assim se percebam melhor as razões que levaram Taur Matan Ruak a não acompanhar a visita que Xanana Gusmão efectuou, na segunda-feira, a Hera e Metinaro, onde as F-FDTL estão aquarteladas, delegando a tarefa no seu número dois, o coronel Lere Annan Timor.
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Ramos-Horta nomeado Primeiro-Ministro na segunda-feira

Ramos-Horta vai ser novo primeiro-ministro...

Díli, 08 Julho (Lusa) - O Presidente timorense, Xanana Gusmão, afirmou hoje que irá anunciar durante o dia, em conjunto com o presidente do Parlamento local Francisco Guterres "Lu-olo", o novo governo de Timor-Leste, cujo primeiro-ministro será José Ramos-Horta.

A tomada de posse está prevista para segunda-feira, avançou Xanana Gusmão em conferência de imprensa.

O novo Executivo - que será o segundo governo constitucional do país - vai ser dirigido por uma troika que integrará, além de Ramos-Horta, dois vice-primeiros- ministros: Estanislau da Silva, actual ministro da Agricultura, Florestas e Pescas e Rui Araújo, actual ministro da Saúde.

Estanislau da Silva adiantou sexta-feira que a FRETILIN tinha apresentado ao chefe de Estado uma lista de nomes para assumir a liderança do governo sem avançar quantos nem quem constava.

Fonte partidária tinha, no entanto, dito anteriormente à Lusa que a lista integrava os nomes de José Ramos-Horta, ministro de Estado, dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação e da Defesa até Junho, de Rui Araújo e de Estanislau da Silva, também membro do Comité Central da FRETILIN.

O anterior primeiro-ministro, Mari Alkatiri, pediu a demissão do cargo no passado dia 26 de Junho e o Executivo passou a ser coordenado por José Ramos-Horta, um dos fundadores da FRETILIN, partido que abandonou durante a ocupação indonésia de Timor-Leste.

O novo primeiro-ministro irá preparar as próximas eleições, previstas para Abril ou Maio do próximo ano.

EL.

"É preciso dar nova confiança ao povo" - PR Xanana Gusmão


Díli, 08 Jul (Lusa) - O II governo constitucional de Timor- Leste, que será liderado por José Ramos Horta, vai ser formado para "dar nova confiança ao povo", defendeu hoje em Díli o Presidente da República Xanana Gusmão.

"É uma situação especial, proveniente de uma crise. Há necessidade de se conduzir as actividades no sentido de dar uma nova confiança ao povo, permitir novas funções de calma e reconciliação", afirmou Xanana Gusmão.

O anúncio da constituição do novo governo foi feito à imprensa no Palácio das Cinzas, sede da Presidência da República, no final de um encontro entre uma delegação da FRETILIN, o partido maioritário em Timor-Leste, e o chefe de Estado.

O único a falar foi Xanana Gusmão, que tinha a seu lado o presidente do Parlamento Nacional e presidente da FRETILIN, Francisco Guterres "Lu-Olo".

"Depois de várias reuniões com uma delegação da FRETILIN, depois de estudadas várias propostas apresentadas pela FRETILIN, concordámos que haveria uma 'troika' a liderar o governo", começou por dizer Xanana Gusmão.

"Eles vão agora discutir a formação e o programa do governo", acrescentou.

Xanana Gusmão salientou estar certo que os contactos para a composição do II governo constitucional irão ser feitos "no mais curto espaço de tempo" para que a cerimónia de posse seja marcada.

Fonte oficial disse à Lusa que a posse deverá realizar-se na próxima segunda-feira.

"Este governo, que é constitucional, vai responder a esta crise até às eleições", concluiu Xanana Gusmão, sem se comprometer com qualquer calendário eleitoral.

O anterior primeiro-ministro, Mari Alkatiri, pediu a demissão do cargo no passado dia 26 de Junho e o Executivo passou a ser coordenado por José Ramos Horta, um dos fundadores da FRETILIN, partido que abandonou durante a ocupação indonésia de Timor-Leste.

EL.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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