sábado, julho 08, 2006

Cultura urbana?

No blog Timor do Publico.pt

A formação em Timor de uma sociedade urbana cosmopolita e moderna ainda está na infância. Díli não é uma verdadeira cidade, mas uma aldeia grande, ou um estreito canal de comunicação das aldeias timorenses para o mundo, e numa situação de crise, como esta que temos vivido, compreende-se imediatamente que não há uma identidade colectiva citadina minimamente resistente (o tipo de solidariedade que os urbanitas de Nova Iorque mostraram ao mundo pela forma como reagiram aos ataques de 11 de Setembro de 2001 é algo de impensável aqui). Em muitos países do mundo encontramos culturas urbanas e culturas rurais com grande vitalidade que ora se complementam ora se chocam dentro de um mesmo Estado; cá em Timor quase só a cultura rural tem realmente força, razão porque as famílias conservam as raízes bem ancoradas no knua de onde são originárias na montanha, prontas para recuarem para aí quando as coisas se complicam. Uma parte significativa dos habitantes de Díli está cá há poucas gerações, ou chegou na última década, e foram poucas as pessoas que encontrei nestes últimos dois meses que me disseram que não iriam fugir nem mandar parte dos seus para a montanha por não terem aí ligações. Para muitos jovens que crescem em Díli o resultado disto é que andam um bocado à deriva, já não integrados em pleno na cultura das uma-lulik (casa sagrada), dos makaer-lulik e lia-na’in (anciãos guardiães da tradição), e sem uma cultura urbana bem estabelecida à qual aderir.

Uma das grandes derrotadas nesta crise que assolou Timor-Leste é assim a cidade de Díli.
A fragilidade da incipiente cultura urbana timorense tem raízes históricas. Aqueles que não vêem uma única coisa positiva na experiência colonial deverão considerar a colonização de Timor Oriental pelos portugueses como exemplar, já que primou pela ausência e pela pouca interferência nas estruturas sociais e culturais timorenses. Assim, durante muito tempo as elites locais continuaram a ser apenas os membros da aristocracia tradicional, não se tendo formado o tipo de elite crioula que surgiu por exemplo em Angola no séc. XIX e é descrita em romances como “Nação Crioula” e “A Conjura” de José Eduardo Agualusa. Se olharmos para D. Boaventura, chefe da mais emblemática revolta contra o poder colonial português, e apontado por alguns como “pai” do nacionalismo leste-timorense, vemos fundamentalmente o líder de uma revolta nativa, sem uma classe urbana engajada a produzir textos nacionalistas ou doutrinários. Faltava provavelmente ainda na época um grupo significativo de filhos do Império com um nível de educação suficiente para teorizarem a revolta. Algo bem diferente do que aconteceu nas Filipinas, país do Sudeste Asiático socio-culturalmente muito mais próximo de Timor-Leste do que a Indonésia, no qual surgiram líderes nacionalistas da craveira de José Rizal (autor de romances de grande qualidade como Noli me Tangere (1887) e El Filibusterismo (1891) nos quais denunciou os excessos da Igreja católica e das autoridades coloniais espanholas). Mas as Filipinas são mais de 7000 ilhas, que constituíram uma parte importante das possessões coloniais de Espanha, enquanto Timor sempre foi um pequeno espaço na periferia do império. Uma situação também muito distinta da que permitiu o desenvolvimento de Singapura, local axial das rotas comerciais do império britânico e palco de actuação de uma dinâmica e numerosa classe comercial de etnia chinesa. Os que dizem por vezes que Timor pode tornar-se numa outra Singapura não conhecem a realidade timorense.

Mas agora que há em Timor cerca de duas dezenas de entidades que se auto-intitulam de instituições de ensino superior, vamos ver se Díli se transformará enfim numa verdadeira cidade…
João Paulo Esperança Sexta-feira, Julho 07, 2006
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34 comentários:

Anónimo disse...

verdadeiramente bem escrito por um académico conhecedor em profundidade da realidade de Timor-Leste e do seu povo. João Paulo Esperança é uma amigo meu de grande estrutura mental e de um pode analítico acima da média. É um autor e escritor de conceituado trabalho de investigação sobre a génese linguística timorense. Os seus comentários devem ser lidos com o respeito de quem dedica a sua vida ao país, na qualidade de professor e estudioso do Instituto Camões, Centro de Língua, na Universidade Nacional, bem reitorada pelo académico Prof. Dr. Benjamin Corte-Real.

Parabéns João Paulo Esperança, homem de Águeda.

Anónimo disse...

Armando Rafael, Diário de Notícias, 08/07/06

Com as atenções centradas na escolha do primeiro-ministro, Timor-Leste pode estar à beira de uma nova crise. Desta vez, com contornos imprevisíveis, caso Xanana Gusmão insista em querer substituir Taur Matan Ruak no comando das forças armadas (F-FDTL).

Para já, os sinais desta tensão ainda são muito ténues. Mas a estratégia não engana e parece decalcada daquela que levou à saída de Mari Alkatiri. Com uma pequena diferença. Como, neste caso, o Presidente não tem poderes para exonerar as chefias militares, necessitando que o Governo proponha a sua substituição, vai tentando minar-lhe a autoridade, esperando que Taur Matan Ruak peça a demissão.

Anónimo disse...

taur Matan Ruak é um democrata e um lutador nato. Foi-lhe retirada a autoridade pelo Presidente da República - quiçá coisas do passado, por Taur ter tido o condão de reerguer as Falintil que Xanana deixara quase extintas.

Se tocarem em Taur, bem aí, nesse cenário a coisa vai complicar.

Taur é homem justo, de direito e um democrata que se sustenta na Constituição da República que o próprio sonhou e lutou lado a lado com centenas de militares guerrilheiros.

Manuel Leiria de Almeida disse...

No blog "Do alto do Tatamailau" eu já tinha alertado para o seguinte:
"Uma parte do que se passa é, pois e no limite, o resultado do confronto de duas lógicas: a da modernidade e a da "tradição". Quem quis actuar pela lógica da modernidade sem grandes concessões à lógica da "tradição" deu-se mal..."
Se traduzirmos "modernidade" por "urbano" e "tradição" por "rural", estamos na tese de JPE que, por isso, subscrevo.
Aliás, basta olhar para o background da maioria dos intervenientes: praticamente o único que tem e sempre teve (familiarmente falando) uma base urbana e não uma base rural foi... Alkatiri.
E isso jogou simultaneamente a favor dele (pela estruturação do Estado que procurou fazer) e contra ele (pela dificuldade em entender, até às suas últimas consequências, os sinais que vinham dessa sociedade 'rural/tradicional/de família alargada' e pela oposição que esta lhe fez).
O resultado está à vista.

Anónimo disse...

“Aqueles que não vêem uma única coisa positiva na experiência colonial deverão considerar a colonização de Timor Oriental pelos portugueses como exemplar, já que primou pela ausência e pela pouca interferência nas estruturas sociais e culturais timorenses.” Diz o JPE. Estas teses neo-colonialistas já têm tantas barbas como as teses das elites como sendo as mais capazes para governar os povos. Mas esses tempos já foram ultrapassados há séculos. Releiam s.f.f. a Constituição da RDTL. Diz logo no seu Artigo 2.º
(Soberania e constitucionalidade)
1. A soberania reside no povo, que a exerce nos termos da Constituição.
2. O Estado subordina-se à Constituição e às leis.

Anónimo disse...

Finalmente alguém com uma análise séria e realista do que é Timor.
É por aqui que tem de se começar.
Assumir a realidade para que não se volte a cometer o erro de construir "ficções".
De que serve ter uma Constituição das mais evoluidas do mundo na defesa de um Estado de Direito democrático, direitos humanos e direitos fundamentais dos cidadãos se ninguém a consegue entender?

Anónimo disse...

"(Taur Matan Ruak) Foi-lhe retirada a autoridade pelo Presidente da República - quiçá coisas do passado, por Taur ter tido o condão de reerguer as Falintil que Xanana deixara quase extintas."

Conclusoes deveras incriveis! Por favor prove o que diz com factos concretos e historicos!

Anónimo disse...

ATENÇÃO A ESTE ARTIGO:

The Canberra Times - Saturday, July 8

Commentary: Who benefits from the turmoil in East Timor?
By Bruce Haigh [a retired Australian diplomat and political commentator. During his time with DFAT he worked on Indonesian issues.]

THE MEDIA seems intent on avoiding investigating the underlying causes of tension in East Timor. There are more questions than answers. There are, however, some known facts. Xanana Gusmao and Jose Ramos Horta have moved to align themselves with the leadership of both Australia and Indonesia. They both agreed to shelve charges against Indonesian soldiers accused of killing civilians in East Timor in 1999. This stance placated both Australia and Indonesia. Both favour private investment from Australia and Indonesian interests.

Mari Alkatiri is liked by neither Indonesia nor Australia. He is in favour of the prosecution of Indonesian soldiers. On this issue Indonesia has done everything to avoid being made to answer for these crimes and Australia has moved to avoid embarrassing Indonesia.

Foreign Minister Downer was incensed at Alkatiri's dogged negotiations over oil and gas reserves in the Timor Sea.

Prime Minister Howard is deeply suspicious of his communist past, his caution towards businessmen and his hostility to the World Bank and IMF. Howard is concerned with his links to Cuba and got himself into the state of mind where he believed an Alkatiri government might have been prepared to harbour terrorists. This line of thought is supported by the United States Administration. This might seem a bit hysterical, but that is the prevailing intellectual atmosphere in the offices of Howard and President Bush at the moment. Through laziness or ignorance the Australian media has lined up with this thought process and by and large is reporting events from East Timor through this prism. On the left we have the baddie, Mari Alkatiri and on the right we have Gusmao and Horta. There is real tension in East Timor but is it being encouraged by major outside influences? Who are the youth from the west of East Timor?

In my opinion their rioting tenacity went beyond grievance and had a resilience and focus beyond ordinary understandable emotion. They destroyed forensic evidence against Indonesian soldiers held in the Attorney-General's office in Dili and stole 36 computers. How many rioters would target forensic evidence and pinch 36 computers when they might have taken TVs or hi-fi systems? More recently they targeted the homes of leaders of the resistance who remain hostile to Indonesia. Why was an Australian-trained officer of the East Timorese army sitting in the hills demanding the resignation of Alkatiri, his family having earlier made good their escape to stay with relatives in Australia? Alkatiri had and continues to have popular support. He was not defeated on the floor of the house so what was this officer on about? Why did Alkatiri feel it necessary to dismiss 600 soldiers?

The elusive hit-squad theory being touted by the ABC may have something to it but the question needs to be asked, who was Alkatiri seeking to protect himself from? In any case the small number of people allegedly recruited by Alkatiri would not have been enough to carry out the program of killings being bandied about and they certainly could not have taken on the 600 troops that Alkatiri gave marching orders to. And why did the Minister for Agriculture, who is a contender for the office of Prime Minister, come to Australia at the height of the rioting in Dili?

If there is an unholy alliance between Indonesia and Australia over a mutual desire to get rid of Alkatiri it will not last long beyond the present game plan. Australia does not want East Timor to be a mendicant state. Indonesia does; it has a point to prove to its other restless provinces. So it will continue to stir the pot. Australia is apparently aware of this. There is a proposal to quickly erect barracks to house 3000 soldiers. (Where are they coming from?) However, for the time being, in the absence of any thoughtful or investigative reporting, spin prevails. Spin ruled for a time in 1999 when Downer said there was no connection between the Indonesian Army and the so called militia (Downer's rogue elements) but the truth came out before the end of that year without a hint of an apology from Downer or Howard, and so it will be again.

However, the danger is that, the attempt to hobble Alkatiri by one means or another having failed, he may still be in a position to mess up the Australian game plan for the creation of a compliant entity and bolster the Indonesian game plan by keeping East Timor in a state of unrest. With two powerful and rival neighbours is it ever going to be thus for East Timor? Just because of the players involved it should not be hands off for the Australian media, and nor should spin be allowed to rule. We need to know who has been advantaged by the prolonged rioting when, in view of the recognised and mutually experienced pain of the past, all East Timorese have a vested interest in a negotiated settlement. In whose interest has it been to get rid of Alkatiri? Who is stirring the pot, for what reason and for what gain?

Anónimo disse...

Anónimo das 10:55:33 PM:

Ten dúvidas sobre esse facto?

Leia o discurso de XG proferido em Aileu a 1 de Fevereiro de 2001! É o próprio que o afirma!

Anónimo disse...

um académico? não brinquem. mais um desempregado q vive à custa de timor...

Anónimo disse...

Para os ignorantes, por exemplo o(s) anónimo(s) das 19:55 e das 11:34 (pelo tom arrogante deve ser o mesmo), que manda(m) bocas sem se preocupar(em) em ler, estudar, pesquisar:

"Como vosso ex-companheiro das mesmas dificuldades nas montanhas, que falhou na vossa condução, reduzindo-vos a menos de 100 homens armados e que só a lúcida direcção do vosso comandante, Taur Matan Ruak, vos ajudou a crescer para mais de 1.500 homens, só posso expressar aqui e hoje, a minha admiração pelo espírito de sacrifício que demonstrastes ao suportar mais de um ano de privações em Aileu."

in Alocução na Cerimónia de Transição das FALINTIL
para a nova FORÇA DE DEFESA DE TIMOR LOROSA’E
1 de Fevereiro de 2001, em Aileu

Anónimo disse...

Taur Matan Ruak foi fundamental na sobrevivência das FALINTIL. Já é possível ter factos históricos sobre isso.

O modo mais simples é ler A ÚLTIMA BALA É A MINHA VITÓRIA - A HISTÓRIA SECRETA DA RESISTÊNCIA, do jornalista português muito ligado a Timor Manuel Acácio.

O valor dos comandantes é revelado com os documentos secretos das FALINTIL mostrados no livro, e com as entrevistas únicas a Xanana, Taur, Lere, Falur, Sabika, Mau Nana e outros.

Não se pode ignorar o valor de Nicolau Lobato, Xanana, Ma Huno e Konis Santana. Mas sem Taur a gurrilha tinha morrido. É o próprio Xanana que diz isso em vários discursos, como li no livro.

Anónimo disse...

O que escreveu Bruce Haigh e mais que verdade! So os adeptos de Ba Na Na e Horta e que nao veem o que esta a passar a frente dos olhos! Mais uma vez pergunto: Agora que o assaltador de sentinelas vai ser primeiro Ministro, que tachos e que ele vai dar aos seus in laws
como os Carrascas, que estao muito caladinhos.

Anónimo disse...

para que conste e se possa compreender melhor o veneno que alguns destilam neste blog, aqui vai o nome do Malay Azul:

JMS - João Miguel Sarmento!

Mas, há mais, não é só ele, mas sim um grupinho a alimentar esta bem orquestrada campnha da Fretilin...

Anónimo disse...

UAU!... Alguém descobriu quem é o Malay Azul! Pena é que o nome não me diga nada. Mas,alguém que esteja em Timor deve conhecer, pela certa...

Mas, não tinham dito que era JMF ?!
Estou confuso...

Aguardam-se novas revelações

Anónimo disse...

Transcrição do Expresso, por não estar on-line:

Com um novo Governo em Timor, o problema agora é lidar com um Exército que se vê como o pilar da soberania

O LONGO SILÊNCIO DO GENERAL TAUR
Micael Pereira, Expresso, 08/07/06

Em Dili, há um homem que tem resistido em silêncio a todas as provocações feitas ao Exército timorense desde que começou a crise no país, a 28 de Abril, depois dos militares se terem envolvido em confrontos com desertores e civis, provocando vários mortos e dezenas de feridos. Não se sabe ainda quando é que o General Taur Matan Ruak estará disposto a contar publicamente a sua versão dos factos (ainda ontem recusou dar uma entrevista ao Expresso), mas é nele que vão estar concentradas as atenções, depois de passada a euforia mediática em torno do novo primeiro-ministro de Timor-Leste, cujo anúncio é esperado para hoje.

Considerado mais do que certo no cargo, Ramos-Horta tem consciência para onde canalizar as suas energias nas próximas semanas, dizendo há dias ao Expresso, numa tentativa “mediática” de aproximação: “Tenho uma admiração pessoal pelos membros das Falantil-FDTL, em particular pelo general Taur Matan Ruak, e pelos outros heróis veteranos da nossa luta, que sofreram e viram o seu orgulho e prestígio abalados por esta crise.” Ramos-Horta acrescentou mesmo que, se há uma coisa que não gostaria de abdicar no novo Governo, é precisamente a pasta da Defesa, que acumulou com os Negócios Estrangeiros desde que o ministro Roque Rodrigues se demitiu. “Ficaria decepcionado se isso acontecesse”.

Passada a fase mais delicada do diálogo entre Xanana Gusmão e os líderes da Fretilin, a verdade é que um dos problemas-chave que o Governo de gestão de Timor tem pela frente é o Exército. Sobretudo porque o seu núcleo-duro de 800 militares (todos eles antigos guerrilheiros das montanhas) se mantém armados nos quartéis e continua a obedecer à cadeia de comando. O sentimento generalizado entre eles é de que são, de facto, os verdadeiros herdeiros da resistência durante a ocupação indonésia.

Embora assumindo uma posição de respeito institucional, ao remeter para os políticos a resolução da crise, Matan Ruak não parece disposto a abrir mão daquilo que ele considera ser o pilar da soberania nacional.

Ao Contrário da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), que acabou por se desmembrar nos confrontos de 22 a 25 de Maio e foi desarmada mais tarde pelas forças australianas, os militares das Falantil não estarão dispostos a ser desmobilizados. Fontes próximas do chefe do Estado-Maior-General das F-FDTL garantem que, para ele, a desmobilização não é vista sequer como uma hipótese aceitável.

Sem Xanana. O futuro mais imediato das Falantil também passa pela reconciliação entre a cúpula militar e as instituições políticas em Dili.

Depois de quebrado o elo de confiança com o Governo de Mari Alkatiri, que se mostrou incapaz de lidar com a reivindicação de 600 desertores do Exército (conhecidos por “peticionários”) e chegou a pedir a intervenção dos militares numa manifestação, a ligação do Exército ao Presidente da república também saiu deteriorada.

Durante os confrontos de 22 a 25 de Maio, Xanana Gusmão não contactou uma única vez com Taur, apesar de ser ele o chefe supremo das Forças Armadas. A falta de apoio de Xanana foi muito notada e mal compreendida, sabe-se. Daí a preocupação redobrada de Ramos Horta, que percebeu que é a ele que cabe agora dar um “afago” aos velhos heróis de Timor.

Anónimo disse...

IC:

Quem e ignorante e voce!! Nao conhece o Xanana e nem reconhece a tipica humildade nas palavras dele!
Esses 1500 soldados de que fala sao os que passaram a fazer parte das nova F-FDTL muitos deles recrutados ja depois do referendo e antes de Maio 2002. Nem pense que a resistencia armada tivesse tido 1500 guerrilheiros armados durante a ocupacao indonesia a partir do momento em que foi quase completa destrocada juntamente com as bases de apoio nos fins dos anos 70 que viram tambem a morte em combate de Nicolau Lobato.

Algum tempo depois e apos a reestruturacao a resistencia armada que Xanana passou a comandar nunca teve, a partir dai, tantos guerrilheiros armados. Percebe-se que o IC de nada sabe da historia real da resistencia armada e depende de discursos retirados do seu contexto historico.
Muitos dos que se juntaram as Falintil fizeram-no ja em anticipacao ao referendo. Nao nos vamos esquecer tambem dos milhares de jovens que as Falintil acolheu ja em 1999 para mante-los ocupados e fora do alcance dos indonesios e suas milicias. mais tarde tiveram de os mandar para casa porque ja estavam a causar muita indisciplina no seio das Falintil.
O Xanana fez outras alusoes a esses "veteranos da guerra" apos a formacao das duas comissoes, por iniciativa presidencial, incumbidas de identificar os veteranos da guerra e outros. A lista chegou a 20,000 e tal registados (se nao foi mais) o que provocou de Xanana declaracoes de admiracao quando dizia que nunca tivera conhecimento de que a guerra de timor tivera tantos veteranos e achava estranho que milhares desses auto-proclamados "veteranos" ainda nem tinham idade para "fazer crescer a barba" (adolescentes).

De qualquer das maneiras foram diferentes os tempos em que Xanana e Taur assumiram o comando DIRECTO das Falintil porque Xanana continuava a comandar da prisao em Jacarta.

Como ve Sr Sapiente "As aparencias iludem"

Anónimo disse...

O anónimo das 1:33: devia saber mais da história timorense antes de chamar ignorante aos outros. Xanana NÃO está a referir-se aos que passaram para as FDTL, até porque nessa altura só existiam cerca de 600 militare das FDTL, os outros foram incorporados depois

E Xanana já tinha elogiado o comando de Taur Matan Ruak uma ano antes, em 20 de Agosto de 2000, na cerimónia dos 25 anos das FALINTIL em Aileu. Nessa altura ele disse:

"Com impressionante capacidade de comando, Taur Matan Ruak recuperou o que eu deixara como simples herança da minha incapacidade. Deixei a guerrilha inapta com menos de 150 homens, mas, sob o lúcido comando de Taur Matan Ruak, não só crescestes para mais de 1.500 homens, como conseguistes estabelecer um sistema de comunicação sofisticado, para além do que poderíamoster imaginado."

O discurso está no livro A ÚLTIMA BALA É A MINHA VITÓRIA - A HISTÓRIA SECRETA DA RESISTÊNCIA de Manel Acácio.

Anónimo disse...

só para lamentar que o anónimo mais acima tenha lançado um nome no blog como estando por detrás de malayazul. falhou em toda a linha.

Anónimo disse...

taur matan ruak é um verdadeiro heroi nacional, ele e muitos outros entre vivos e mortos. taur tera mais a dizer neste processo do que aquilo que se pensa. o povo conhece taur, sabe os seus feitos heroicos e nao esquece como salvou em 1999 centenas de pessoas de uma deportacao mais que certa, ao atacar uma caravana das celebres tropas da morte indonesias aquarteladas em los palos.
xanana sabe que taur sabe muito.

Anónimo disse...

Tradução:

The Canberra Times - Sábado, Julho 8

Comentário: Quem beneficia da confusão em Timor-Leste?

Por Bruce Haigh [antigo diplomata Australiano e comentador politio. Durante o tempo em que esteve no DFAT trabalhou em questões Indonésias.]

Os media parecem ter a intenção de evitarem investigar as causas subjacentes da tensão em Timor-Leste. Há mais perguntas que respostas. Há contudo, alguns factos conhecidos. Xanana Gusmão e José Ramos Horta mudaram para se alinharem com a liderança de ambas a Austrália e a Indonésia. Ambos concordaram em engavetar acusações contra soldados Indonésios acusados de matar civis em Timor-Leste em 1999. Essa postura acalmou ambas Austrália e Indonésia. Ambos favorecem investimento privado dos interesses da Austrália e da Indonésia.

Nem a Indonésia nem a Austrália gostam de Mari Alkatiri. Ele é a favor da prossecução dos soldados Indonésios. Nesta questão a Indonésia tudo tem feito para evitar ter de responder por esses crimes e a Austrália mudou para evitar embaraçar a Indonésia.

O Ministro dos Estrangeiros Downer foi provocado pelas negociações teimosas de Alkatiri sobre as reservas de petróleo e gás no Mar de Timor.

O Primeiro-Ministro desconfia profundamente do seu passado comunista, da sua precaução com os homens de negócios e da sua hostilidade com o Banco Mundial e o FMI. Howard está preocupado com as suas ligações a Cuba e meteu na cabeça que o governo de Alkatiri podia ter-se preparado para abrigar terroristas. Esta linha de pensamento é apoiada pela Administração dos USA. Isto pode parecer um tanto histérico, mas a atmosfera intelectual dominante nos gabinetes de Howard e do Presidente Bush nesta altura. Por preguiça ou ignorância os media Australianos alinharam com este pensamento dominante e, a grande maioria, relata os eventos de Timor-Leste através desta óptica. À esquerda temos o mau, Mari Alkatiri e à direita temos Gusmão e Horta. Há tensão real em Timor-leste mas está a ser encorajada por influências superiores estrangeiras? Quem são os jovens do oeste de Timor-Leste?

Na minha opinião a sua tenacidade em se amotinarem foram para além da afronta e tiveram uma elasticidade e foco para além duma vulgar emoção compreensível. Destruíram provas forenses contra soldados indonésios guardados no Gabinete do Procurador-Geral em Dili e roubaram 36 computadores. Quantos amotinados alvejariam provas forenses e pilhariam 36 computadores quando podiam ter levado TVs ou aparelhagens de hi-fi? Mais recentemente alvejaram as casas de líderes da resistência que se mantiveram hostis à Indonésia. Porque é que estava um oficial treinado pelos Australianos das forças de defesa de Timor-Leste sentado nas montanhas a pedir a resignação de Alkatiri, tendo a sua família, antes, saído para a Austrália onde permanece com familiares? Alkatiri tinha e continua a ter apoio popular. Não foi derrotado no Parlamento Nacional, então do que é que este oficial reclamava? Porque é que Alkatiri sentiu a necessidade de demitir 600 soldados?

A ilusória teoria do esquadrão de ataque que foi trobeteada pela ABC pode ter alguma coisa a ver com isso mas a pergunta precisa de ser feita, de quem estava Alkatiri a procurar proteger-se? Em caso algum o pequeno número de pessoas alegadamente recrutadas por Alkatiri não seriam suficientes para cumprir o programa de assassinatos a que são ligados e com toda a certeza não podiam tomar conta das 600 tropas a quem Alkatiri deu guia de marcha. E porque é que o Ministro da Agricultura, que é um candidato ao posto de Primeiro-Ministro, veio à Austrália no clímax dos motins em Dili?

Se há uma uma não santa aliança entre a Indonésia e a Austrália sobre o desejo mútuo para se verem livres de Alkatiri, não durará para além do presente plano de jogo. A Austrália não quer que Timor-Leste seja um Estado pedinte. A Indonésia quer; seria um exemplo para outras províncias inquietas. Portanto continuará a mexer a panela. A Austrália aparentemente sabe isso. Há uma propostas para erigir rapidamente quartéis para abrigarem 3000 soldados. (Donde virão?) Contudo, nesta altura, na ausência de reportagens abrangentes ou investigativas, prevalece o spin. O spin dominou durante um tempo em 1999 quando o Downer disse que não havia ligação entre as forças armadas Indonésias e as chamadas milicias (elementos vadios, segundo Downer) mas a verdade veio a lume antes do fim desse ano, sem o mínimo pedido de desculpas de Downer ou de Howard, e o mesmo se passará outra vez.

Contudo, o perigo é que, a tentativa para embaraçar Alkatiri por uns meios ou por outros, tendo falhado, ele possa continuar numa posição que estrague o plano do jogo Australiano para a criação duma entidade concordante e ajude o plano do jogo Indonésio de manter Timor-Leste num estado de desassossego. Com dois vizinhos poderosos e rivais será sempre assim para Timor-Leste? Somente por causa dos jogadores envolvidos, os media Australianos não se deviam manter de fora nem se devia permitir que o spin dominasse. Precisamos de saber quem tirou vantagens dos motins prolongados quando, tendo em conta a dor reconhecida e mutualmente partilhada no passado, todos os Timorenses têm interesse em investirem num acordo negociado. É do interesse de quem ver-se livre de Alkatiri? Quem é que está a mexer a panela, qual a razão e o que é que se ganha com isso?

Anónimo disse...

A golpalhacada nao so tinha como objectivo derrubar o Alkatiri mas tambem o Taur Matan Ruak (TMR). O Xanana tem repetido que nao se candidata a um segundo mandato... Ramos Horta diz que ele e o candidato preferido do Xanana. Ramos Horta tem feito lobby junto a hierarquia da Igreja para consegui apoio a sua candidatura. Sabe-se levou uma nega dos Bispos. O candidato preferido pelos Bispos e o TMR. Este tem estado mais proximo de Alkatiri nos ultimos dois anos. Tirem as conclusoes!

Anónimo disse...

Anónimo das 1:33:05 AM:

Tanto disparate junto!

Confunde tantos momentos históricos e, mesmo, alguns mais recentes!

Dizer que após a reestruturação de 1980/1982, a Resistência armada teve mais homens do que nunca!!!


A resposta está dada pelo Anónimo das 1:49:59 AM ... que mais dizer!

Apenas que Xanana Gusmão sabe quem é Taur Matan Ruak, conhece-o bem e à sua enorme capacidade de liderança e autoridade junto dos seus homens, da população e, até como dizia um dos comentadores atrás, da Igreja.

A sua verticalidade e integridade são absolutamente inigualáveis em Timor-Leste.

Xanana Gusmão sabe isso e também sabe que Taur Matan Ruak não se vende, é de uma enorme coerência e sabe dizer 'NÃO' perante qualquer intenção de o colocarem numa situação de desrespeito da Constituição de Timor-Leste.

Se existe alguém em Timor-Leste que lutará pelo seu Povo e pela sua Pátria, esse homem é Taur Matan Ruak.

Não fica inebriagado pelo poder.

É pena que no exterior, poucas pessoas conheçam bem Taur Matan Ruak.

É uma honra e um privilégio conhecer este homem ímpar!

Anónimo disse...

Falta acrescentar ao Anónimo das 3:49:37 AM que Taur Matan Ruak é o ÚNICO ex-Comandante das FALINTIL que NUNCA pertenceu a qualquer partido político.

Talvez por esta razão, mantenha a verticalidade que a outros é difícil manter porque partilham de responsabilidades históricas que hoje lhes pesam tanto - e tentam atirar para as costas de outros!

Anónimo disse...

Confirmo o que foi dito nos dois comentários anteriores, mas se querem proteger Taur, falem dele o menos possível.
Ele sabe o que faz.

Anónimo disse...

Concordo com os comentários sobre a capacidade analítica de João Paulo Esperança que cujo contacto com Timor se tornou mais forte do quando do seu envolvimento durante os últimos anos de resistencia. Devo dizer que sempre o seu trabalho especialmente quando aparece no congresso do CNRT em Peniche como delegado da UDT ( União Democrática Timorense) . Ai também deu uma contribuação valiosa ao partido como se fosse um verdadeiro natural de Timor. Assim mesmo é que é. E daí juntou ânimo e agora é Académico de alto gabarito em Timor e não mais se misturou com a politica...é pena porque nessa área também não era mau...

Anónimo disse...

Algum dia tinha que acontecer. JPE encontrou um oponente à altura dos seus conhecimentos, estrutura intelectual, conhecimento histórico e sustentabilidade dos argumentos.
Só assim se compreende a facilidade com que "Margarida" destroi as teses de JPE.
Destroi, esfrangalha, espesinha e reduz a pó, tal a autoridade intelectual, certeza nas conclusões e reconhecido mérito de isenção.

Anónimo disse...

Desculpem-me, então JMF não é mesmo José Manuel Fernandes? Que fixe! Passou a ser JMS? João Miguel Sarmento???

Mas já houve desmentido anónimo! Não está na altura de se esclarecer se o blog é um poço de interesses políticos? Convinha. É que anda pelas ruas da amargura a falta de classe política da Fretilin, com um núcleo a sujá-la na lama... vai ser complicado levantar-se de cara lavada...

Agora vai aparecer uma equipa de pesos-pesados da advocacia? Que giro! Faz-me lembrar OJ Simpson... os bons conseguem sempre!

Anónimo disse...

Seja quem for o Malai Azul ... a verdade é que nos põe a todos em contactos. Berra para aqui, conmenta ali, disparat acolá ... andamos todos a ligar diariamente e a ler os posts e os comentários.

Quem se sente incomodado tem bom remédio ... crie um blog, ou mude para outro ...

São masoquistas ou quê?

Anónimo disse...

"e sabe dizer 'NÃO' perante qualquer intenção de o colocarem numa situação de desrespeito da Constituição de Timor-Leste."

Qual foi entao o arrependimento de Taur Matan Ruak quando disse ao Roque Rodrigues que o seu maior erro teinha sido tentar submeter as F-FDTL de novo a fretilin?
Sei que Taur Matan Ruak e um grande defensor da patria mas tambem nao e perfeito e comete erros o que ele proprio admite. A questao nao foi ele ter dito sim intencionalmente a uma situacao que nao respeitasse a lei mas sim ter sido enganado a cair em erro.
Ele ja reconheceu isso muito bem e o tiro saiu pela culatra a fretilin porque agora o Taur sabe muito bem que aquela amizade muito estreita que o Roque Rodrigues estabeleceu com ele e a sua familia foi so para o puxar para a fretilin e induzi-lo ao erro.

Quem nao conhece o Roque que o compre. O Roque Rodrigues e o psicologo "troubleshooter" da fretilin. A missao dele e a de fazer lavagem de cerebros as pessoas "dificies" e puxa-las para a fretilin. Comecou na Educacao porque havia la um padre como Ministro de Educacao e depois de os assuntos resolvidos na educacao foi mandado para a defesa de modo a amansar o Taur Matan Ruak, puxar as F-FDTL para a Fretilin (tal como o proprio Taur disse) e vira-lo contra Xanana.

Se resultou foi temporario porque o tiro acabou por sair pela culatra e hoje a fretilin so pode arrepender-se amargamente por ter perdido a confianca de Brigadeiro-General Taur Matan Ruak, Comandante-em Chefe das F-FDTL.

Anónimo disse...

Conheco JPE ha mais de dez anos. E um portugues de gema, nascido caboverdiano e um timorense de alma e coracao. Forca JP!
Um teu amigo da Fretilin.

Anónimo disse...

manuel leiria de almeida: voce disse "Aliás, basta olhar para o background da maioria dos intervenientes: praticamente o único que tem e sempre teve (familiarmente falando) uma base urbana e não uma base rural foi... Alkatiri....Se traduzirmos "modernidade" por "urbano" e "tradição" por "rural""

As suas palavras pode-se acrescentar tambem uma outra caracteristica impar a Alkatiri. O Alkatiri talvez satisfaz esse criterio de ser parte da modernidade porque pouco tem de tradicional com timor. Ou seja os habitantes de Dili sao "rurais" porque tem longas e profundas raizes historicas de associacao com timor. O Alkatiri e moderno por falta dessas longas raizes historicas de associacao com timor. Nao tem "knuak"(aglomeramento tradicional timorense), nao tem "uma lisan" (casa sagrada que representa a cultura tradicional dos knuaks) entre outras coisas que definem a identidade regional dos timorenses. As suas ligacoes a timor podem ser tracadas uma(?) geracao para tras.

Talvez seja esse o "handicap" que impossibilita o Mari Alkatiri em conhecer bem Timor, os timorenses, as suas culturas e crencas, tradicoes, costumes enfim o psique timorense ou o verdadeiro "maubere" o que desde a partida ele nao e. Talvez seja por isso que os tiorenses o acham arrogante. Como em qualquer parte do mundo o ser se timorense implica muito mais do que meramente nascer em timor. Implica uma longa comunhao da historia, cultura e tradicao que vem de geracao para geracao, uma maneira de ser e pensar.
Nao quero dizer que ele nao seja timorense, simplesmente argumentar que nao se pode governar bem um povo se nao o conhece bem e quando nao consegue sentir e pensar verdadeiramente como um "maubere".
Gandhi apesar de ser indiano viajou pelo seu pais fora para poder conhece-lo e as suas gentes. Essa e uma das diferencas fundamentais tambem entre Xanana e Mari.

Anónimo disse...

Sei quem e o Malai Azul.
Mas nao vou compromete-lo aqui porque apesar de saber que ele foi incumbido pelo Gabinete do ex-PM para desenvolver uma campanha de media electronica e por isso altamente tendenciosa, penso que oferece-nos um espaco para debate.
So espero que esta crise se resolva o mais depressa possivel para podermos de uma forma ou outra procurar fazer com que as pessoas voltem a considerar Timor como um destino turistico e mostrar a sua beleza ao mundo.

João Paulo Esperança disse...

Fui acusado ai algures pelos comentarios deste blog de ser neo-colonialista e adversário do poder popular por causa desta minha frase, aí citada: “Aqueles que não vêem uma única coisa positiva na experiência colonial deverão considerar a colonização de Timor Oriental pelos portugueses como exemplar, já que primou pela ausência e pela pouca interferência nas estruturas sociais e culturais timorenses.” Noutro comentario qualquer do mesmo blog “acusavam-me” ainda de ser um teórico da formação de elites. Analisemos então estas “acusações”, num espírito construtivo para ajudar alguns espíritos mais confundidos a verem a luz.
Quando se debate o colonialismo aparecem frequentemente os zelotes convencidos de que são donos da verdade, fanáticos dispostos a passar por cima de todos os factos que dificultem a adequação das suas teorias e grelhas de análise. Há uns de um lado a defender o nacionalismo serôdio das potências coloniais e a sua missão civilizadora atribuída directamente por Deus e “o fardo do homem branco”, e há os que estão do outro lado e que defendem a pureza igualitária imaculada dos povos oprimidos e a sua cultura superior própria de um Éden onde não havia injustiça antes da chegada do pérfido europeu. Estes são os teóricos d”o remorso do homem branco”, como explica Pascal Bruckner.
Vejamos o que dizem sobre esta questão dois académicos prestigiados da área dos estudos timorenses, Geoffrey Stephen Hull, Ph.D, da University of Western Sydney, e Adérito José Guterres Correia, M.A., da Universidade Nacional Timor Lorosa’e e sub-director do Instituto Nacional de Linguística, num livro que ambos escreveram e que recomendo a todos os cooperantes que trabalham com seriedade em Timor ou por Timor:

“Nu'udar ita hatene, prosesu istóriku ida-ne'ebé ita bolu naran kolonializmu iha aspetu barak. Ema polítiku sira temi beibeik kona-ba aspetu aat ka negativu kolonializmu nian, n.e. nasaun ida hadau nasaun seluk, hanehan populasaun mahorik hodi susu rain ne'e nia bokur no rikusoin tomak. Maibé ema matenek sira rekoñese mós kolonializmu nia aspetu di'ak ka pozitivu oioin, liuliu troka kulturál. Kontaktu ho ema raiseluk sira fó mós ba ema rai-na'in sira leet atu aprende buat barak, la'ós de'it hadi'a sira-nia teknolojia, maibé mós leet atu haluan no haburas sira-nia matenek.
Liuhosi kolonializmu portugés iha Timór, hanesan kolonializmu olandés iha rai-Indonézia, ema mahorik sira iha Nusa-Lubun Malaiu tama ba kontaktu ho kultura rai-Europa nian no mós ho matenek internasionál. Lia-tetun no lia-malaiu simu hosi lia-portugés ka lia-olandés termu tékniku, abstratu no modernu rihun ba rihun. Tan ne'e, lia-malaiu no lia-tetun hetan sorte atubele fahe lisuk rikusoin intelektuál boot ne'ebé naklekar hosi rai-Europa ba mundu tomak.” (página 95)

O livro chama-se “Kursu Gramátika Tetun – Ba Profesór, Tradutór, Jornalista no Estudante-Universidade Sira” e foi publicado em Díli, em 2005, pelo Instituto Nacional de Linguística (sairam duas edições, estou a citar a que tem prefácio do então Primeiro-Ministro, Dr. Mari Alkatiri).
Vou traduzir o excerto, para aqueles malais teóricos do poder popular que em Timor só falam com as elites e cujo contacto com o povo se limita a “Mana, kafé ida, mas tem que ser curto, escaldado e bem tirado!”.

“Como sabemos, o processo histórico a que chamamos colonialismo tem muitos aspectos. Os políticos mencionam muitas vezes os aspectos maus ou negativos do colonialismo, como a ocupação de uma nação por outra, e o espezinhamento dos seus habitantes para sugar todos os recursos e riquezas dessa terra. Mas AS PESSOAS INTELIGENTES também reconhecem aspectos bons ou positivos do colonialismo, principalmente ao nível das trocas culturais. Os contactos com gente de outras terras permitiram também às populações autóctones aprenderem muitas coisas, não apenas melhorando a sua tecnologia, mas dando-lhes também oportunidade de alargar os seus horizontes intelectuais e culturais.
Através do colonialismo português em Timor, bem como do colonialismo holandês na Indonésia, os habitantes do Arquipélago Malaio entraram em contacto com a cultura europeia e com a ciência internacional. A língua tétum e a língua malaia receberam do português e do holandês milhares de termos técnicos, abstractos e modernos. Por isso, o malaio e o tétum tiveram sorte em poderam partilhar riquezas intelectuais importantes que se espalharam da Europa para o mundo inteiro.” [o sublinhado é meu].

Em relação ao outro assunto, a ideia de ter algumas escolas de qualidade para formar elites não é obviamente minha, é muito antiga. Penso que a educação devia chegar a todos, mas não construo castelos no ar, porque vivo no Timor real. Ainda anteontem em Liquiçá um professor do ensino pré-secundário (7º ao 9º ano) me dizia que não tinham professores suficientes na escola dele para ensinar em português (apesar de serem essas as instruções oficiais) e que os poucos que tinha havido eram de lorosa’e e tinham fugido para as suas regiões de origem com medo de ataques. De resto, a Dona “margarida” [a tal senhora que me fez as acusações], se morar agora em Díli, ou vier a morar, vai pôr os seus filhos na Escola Portuguesa (para elites) ou continuará adepta de uma educação igual para toda a gente e de maneira coerente matriculará as suas crianças numa escola como a 28 de Novembro? E dou o exemplo da Escola 28 de Novembro por duas razões: 1) tem um nome revolucionário; 2) os seus filhos poderão talvez, com sorte, vir a ter a oportunidade de ver as massas populares em acção, e participar até nos acontecimentos, já que essa escola tem no seu palmarés ter sido o ponto de partida dos motins infanto-juvenis de 4 de Dezembro de 2002. Agora sem ironia, não há nada que distinga especialmente esta escola, e os jovens delinquentes pirómanos poderiam ter surgido de outra qualquer, como mostra a última vaga de incêndios nestes meses recentes. Timor tem uma percentagem muitíssimo grande da população constituída por crianças e jovens, que na maioria vão para a escola sem outra perspectiva que não seja vir a conseguir um “padrinho” que arranje um lugar na função pública ou então um emprego como “segurança”, eufemismo local para indivíduos contratados para dormir em frente à porta dos malais e endinheirados. Quase não há sector privado, faltam cá ainda “capitalistas”, “burgueses” e outros “inimigos das classes populares” que possam finalmente dinamizar a economia e arranjar mercado de trabalho para esta malta toda, recrutando mão-de-obra usando como critério o mérito individual do candidato. Há demasiados jovens cuja única forma de sobressair perante os seus pares é “armarem-se em galo de combate”.
Existem por outro lado muitos malais internacionalistas que ganham muito, compram nos supermercados produtos importados (até a hortaliça que comem vem da Austrália), mandam a maior do dinheiro que ganham para as suas contas bancárias nos países de origem, e são paladinos do poder popular e do anti-neo-colonialismo!
O corpo docente das escolas timorenses tem pouca formação, há grande falta de livros, a maior parte das pessoas fala ou compreende pelo menos algum português mas não o suficiente para ler nessa língua, os hábitos de leitura são de resto quase inexistentes, em qualquer idioma... O aluno médio termina a escola secundária com uma deficiente preparação de base que não lhe permite frequentar as universidades portuguesas, por exemplo. Por isso é que me parece não apenas importante, mas crucial, para o futuro do país que surjam algumas escolas de qualidade superior para a formação dos quadros que irão tomar conta do país daqui por uns anos. Neste momento há demasiadas instituições e estruturas do Estado que dependem ainda do trabalho de assessores internacionais para funcionarem, se não tivermos algumas escolas de excelência estaremos PIOR daqui por vinte anos.
Para as pessoas que andam à procura de cartões partidários para decidir se uma ideia é válida ou não, permito-me invocar aqui uma personalidade que certamente não irão atacar. Conheci na Guiné-Bissau quadros guineenses que deviam a sua educação e o seu sucesso como intelectuais aos esforços de Amílcar Cabral, que, há mais de três décadas, andava às vezes pelas tabancas da Guiné a procurar crianças com melhores resultados escolares para pedir aos pais delas que o deixassem mandá-las para uma escola-piloto numa base do seu movimento na Guiné-Conacri, para serem formadas e poderem servir no futuro o seu país. Alguns desses quadros eram provenientes de famílias muito humildes de camponeses ou vaqueiros (os seus irmãos continuam ainda a viver nas tabancas dos antepassados) e nunca teriam podido explorar todo o seu potencial se não tivessem tido a oportunidade de entrar numa escola de qualidade.
Não vão ser as massas de camponeses analfabetos que irão tomar conta das universidades, dos ministérios, dos bancos, das empresas, das companhias de telecomunicações, electricidade, água... Também não vão poder ser muitos dos alunos que actualmente chegam ao ensino superior em Timor. Há que deixar de ter medo das palavras, o país precisa de elites, de indivíduos bem formados – por muito que isso seja difícil de perceber para uns quantos líricos teóricos do poder das massas populares que andam por aí. No romance “Mayombe”, do escritor angolano Pepetela, há um personagem, chamado Mundo Novo, que também defende esse tipo de ideias. Diz ele:

“(...) Como se fosse possível fazer-se uma Revolução só com homens interesseiros, egoístas! Eu não sou egoísta, o marxismo-leninismo mostrou-me que o homem como indivíduo não é nada, só as massas constroem a história. Se fosse egoísta, agora estaria na Europa, como tantos outros, trabalhando e ganhando bem. Porque vim lutar? Porque sou desinteressado. Os operários e os camponeses são desinteressados, são a vanguarda do povo, vanguarda pura, que não transporta com ela o pecado original da burguesia de que os intelectuais só muito dificilmente se podem libertar. Eu libertei-me, graças ao marxismo.(...)”.

Na época os “intelectuais revolucionários desinteressados” tinham que abdicar dos empregos bem pagos na Europa, felizmente agora para os “malais desinteressados adeptos do poder das massas” existem ajudas de custo, e bar do Hotel Timor, e salários milionários na ONU ou na cooperação bilateral, e viagens a Auckland, Hong Kong, Bali, etc... Eu ganho mais do que a maior parte dos timorenses (e menos do que a grande maioria dos malais), mas não sou hipócrita. Enfim, na sequência das reflexões e debates no livro há um outro personagem, Sem Medo, que mais à frente diz:

“(...) É que, nos nossos países, tudo repousa num núcleo restrito, porque há falta de quadros, por vezes num só homem. Como contestar no interior dum grupo restrito? Porque é demagogia dizer que o proletariado tomará o poder. Quem toma o poder é um pequeno grupo de homens, na melhor das hipóteses, representando o proletariado ou querendo representá-lo. A mentira começa quando se diz que o proletariado tomou o poder. Para fazer parte da equipa dirigente, é preciso ter uma razoável formação política e cultural. O operário que a isso acede passou muitos anos ou na organização ou estudando. Deixa de ser proletário, é um intelectual. Mas nós todos temos medo de chamar as coisas pelos seus nomes e, sobretudo, esse nome de intelectual. Tu, Comissário, és um camponês? Porque o teu pai foi camponês, tu és camponês? Estudaste um pouco, leste muito, há anos que fazes um trabalho político, és um camponês? Não, és um intelectual. Negá-lo é demagogia, é populismo. (...) Mas começa-se a mentir ao povo, o qual bem vê que não controla nada o Partido nem o Estado e é o princípio da desconfiança, à qual se sucederá a desmobilização. (...) Como todos os do teu grupo, pensas que se não pode dizer a verdade ao povo, senão ele desmobiliza-se.(...)”

Sou da opinião que – enquanto o português não é dominado por muitos alunos – o romance de Pepetela “A geração da utopia” devia ser traduzido para tétum e tornado leitura obrigatória nas escolas todas do país.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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