Denpasar, Indonésia, 17 Jun (Lusa) - A Indonésia "está sensível e aceita" a presença de forças internacionais em Timor-Leste, designadamente a presença, caso a ONU o decida, de forças de manutenção de paz, disse hoje à Lusa o chefe da diplomacia timorense.
Contactado telefonicamente a partir de Díli, José Ramos Horta acrescentou ter aproveitado o encontro que manteve hoje em Denpasar com o seu homólogo indonésio, Hassan Wirajuda, para que Jacarta sensibilizasse os restantes Estados membros da ASEAN a "participarem numa eventual futura missão da ONU em Timor-leste".
"Ele concordou em falar com os restantes Estados membros da ASEAN", disse.
O encontro de Ramos Horta com Hassan Wirajuda antecedeu o encontro, a sós, entre os presidentes timorense, Xanana Gusmão, e indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, em que o principal ponto da agenda é a situação actual de crise em Timor-Leste.
Ao encontro, que se iniciou às 13:45 horas de Lisboa, seguir- se-á uma conferência de imprensa, precisou Ramos Horta.
Relativamente ao encontro com o seu homólogo, Ramos Horta disse que a Indonésia "está também sensível quanto à possibilidade de relaxar o controlo da fronteira terrestre comum aos dois países".
Jacarta encerrou no passado dia 26 de Maio a fronteira terrestre na sequência dos actos de violência registados em Díli.
"Esta decisão, executada para impedir que desordeiros pudessem entrar em Timor-Leste e tentar tirar partido da situação de violência, afectou, contudo o abastecimento das nossas zonas de fronteira e também as tradicionais relações entre as populações que vivem dos dois lados", frisou Ramos Horta.
"A Indonésia está muito sensível para esta questão, que prejudica grandemente as trocas comerciais e os contactos entre as populações. Vão ver, com prudência, de que forma podem permitir a circulação de produtos e pessoas", acrescentou.
"Até Agosto vamos abrir os mercados de fronteira e também implementar os chamados passes, que são equivalentes a passaportes mas que não necessitam de visto, e que possibilitarão às populações dos dois lados cruzar a fronteira, reatando laços familiares e de boa vizinhança e reactivando o comércio local", explicou.
Relativamente à situação actual em Timor-Leste, Ramos Horta disse ter explicado "as razões e a origem da actual crise, a que Hassan Wirajuda correspondeu com total compreensão".
"Ele respondeu que a Indonésia compreende o que se está a passar pois, salientou, Timor-Leste está a atravessar uma fase semelhante à que eles passaram, e que é a construção da nação", disse.
"Nós, sendo indonésios e tendo tido essa experiência histórica, compreendemos perfeitamente", revelou Ramos Horta à Lusa, citando Hassan Wirajuda.
Nesse sentido, adiantou, Jacarta apoia a presença em Timor- Leste dos contingentes militares e policiais enviados pela Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Portugal e também apoia o eventual envio de uma força de manutenção de paz, caso o Conselho de Segurança das Nações Unidas assim o decida, frisou.
A actual crise em Timor-Leste começou com o despedimento de cerca de 600 militares que se queixaram de alegada discriminação étnica por parte da hierarquia das forças armadas e cujo protesto, em finais de Abril, em Díli, terminou com uma intervenção do exército.
Na repressão da manifestação foram mortas cinco pessoas, segundo o governo, mas os ex-militares e outros elementos das forças armadas que entretanto abandonaram a instituição afirmam que morreram cerca de 60 timorenses.
Desde então, mais de duas dezenas de pessoas foram mortas em confrontos entre grupos rivais, incluindo nove polícias timorenses abatidos por soldados, a 25 de Maio, durante um ataque ao seu Quartel General, em Díli.
Para restabelecer a segurança no país, as autoridades timorenses pediram a intervenção de uma força militar e policial a Portugal (que enviou 127 efectivos da GNR), Austrália, Nova Zelândia e Malásia.
A onda de violência nas últimas semanas provocou cerca de 130 mil deslocados que, segundo o governo timorense e as Nações Unidas, se encontram em diversos campos de acolhimento, sobretudo na zona de Díli.
Xanana Gusmão e Ramos Horta regressam domingo a Díli.
EL.