domingo, abril 22, 2007

Dos Leitores

H. Correia deixou um novo comentário na sua mensagem "Timor: Francisco Guterres e Ramos Horta confirmado...":

Depois daquela "cerimónia" (mais uma) em que todos os candidatos se compromenteram a respeitar os resultados eleitorais, pensei que era desta que certos políticos iam tomar juízo. Porém, enganei-me.

Finda a votação, eis a mesma história de sempre: o fado choradinho, desculpas de mau pagador, etc, etc. A "cerimónia" virou palhaçada e os perdedores mandaram às urtigas o papel que tinham assinado uns dias antes.

Assim se vê a credibilidade da palavra desses candidatos: zero. E o mesmo podemos dizer do seu espírito democrático: não existe. Portanto, esses senhores foram bem derrotados, visto que não mereciam tão alto cargo da Nação.

As velhas desculpas esfarrapadas já chateiam: desde "intimidação" a fraude na contagem dos votos (que não se percebe como foi possível, visto serem os votos contados pelos delegados de todos os partidos - estariam a dormir?), tudo serve para explicar a derrota, excepto a dura realidade: o povo não quis escolher nenhum deles.

O desespero e a desorientação são de tal maneira e chegam tão longe, que até a SIC (TV portuguesa) anunciava que Lu Olo ia em terceiro lugar, segundo "resultados provisórios"...

Cresçam e ganhem juízo.

Timor-Leste: perseguição ao líder militar amotinado cancelada

(Tradução da Margarida)
WSWS - 20 Abril 2007
Por Patrick O’Connor

O candidato presidencial Timorente e corrente primeiro-ministro, José Ramos-Horta, anunciou na Terça-feira que estava a cancelar a perseguição dos soldados Australianos ao líder militar amotinado Alfredo Reinado. O antigo major é procurado por tentativa de homicídio e posse ilegal de armas, acusações relativas ao seu motim e ataques a forças do governo em Maio do ano passado. Reinado, tem que laços estreitos com as forças militares Australianas e com o Presidente Xanana Gusmão, teve um papel significativo na campanha de Canberra do ano passado para remover o antigo Primeiro-Ministro Mari Alkatiri. A decisão de suspender a perseguição e de negociar os termos para uma rendição voluntária levanta mais questões acerca do registo provocador de Reinado.

O anúncio de Ramos-Horta vem no meio de manobras políticas em curso após a primeira volta da eleição presidencial de 9 de Abril. A comissão nacional de eleições emitiu a contagem final na Quinta-feira, com Fretilin’s Francisco “Lu-Olo” Guterres à frente com 27.9 por cento. Ramos-Horta teve apenas 21.8 por cento e acabou com pouco mais que o candidato rival da oposição Fernando “La Sama” de Araujo, com 19.2 por cento. Os candidatos perdedores ameaçaram desafiar os resultados no tribunal antes da segunda volta com os dois mais votados se realizar no próximo mês.

Não há qualquer dúvida que a decisão de Ramos-Horta de suspender a busca por Reinado está ligada com a sua tentativa desesperada de assegurar apoio na segunda volta das eleições.

Os votos iniciais revelaram que apesar da sua constante promoção nos media Australianos, Ramos-Horta não tem base de apoio genuína. Fora da capital, Dili, ganhou relativamente poucos votos. Com os distritos do leste de Timor-Leste solidamente pró-Fretilin, Ramos-Horta almeja aumentar a votação nos distritos do oeste. Para isto é fundamental o apoio de Araújo, dado que este obteve a maioria dos votos nesta área.

O anúncio de Ramos-Horta que estava cancelada a busca ao antigo foi feito dias depois de ter declarado a sua intenção de se encontrar com os perdodores, incluindo Araújo.

Reinado tinha apoiado publicamente a campanha presidencial de Araújo, como tinham alias, largas secções da ala mais à direita da sociedade Timorense incluindo a igreja católica. O padre Martinho Gusmão, representante da igreja na comissão nacional de eleições endossou publicamente Araújo dias antes da votação. Araújo tem ligações apertadas com figuras de topo associadas com as forças militares Indonésias e as milícias pró-Indonésias que infringiram destruições extensas em 1999 durante o referendo para a independência.

Ao cancelar a perseguição a Reinado, Ramos-Horta estava a emitir um apelo a esses elementos reaccionários para apoiarem a sua tentativa para a presidência numa plataforma anti-Fretilin.

Contudo o primeiro-ministro, pode ter actuado sem ter dado anteriormente conhecimento e sem (ter) autorização das forças Australianas em Timor-Leste. Cerca de 1,100 tropas Australianas, incluindo pelo menos 100 soldados de elite SAS, continuam a ocupar Timor-Leste. Inicialmente foram enviados em Maio do ano passado, depois do governo de Howard aproveitar a desordem em Dili, que fora em parte instigada por Reinado e pelos seus homens, de modo a alargar o controlo sobre o petróleo e o gás do país e do Mar de Timor. O destacamento das tropas foi apresentada como uma operação humanitária, mas tal como a intervenção militar em 1999, foi guoada pelos interesses económicos e estratégicos da elite Australiana no poder.

O primeiro objectivo do governo de Howard foi remover Alkatiri, que era visto como um obstáculo a estes interesses. O líder da Fretilin tinha desenvolvido laços próximos com Portugal e China e tinha ainda forçado Canberra a fazer concessões limitadas, mas valiosas em relação à exploração do campo de gás da Greater Sunrise. Alkatiri resignou em Junho depois da televisão ABC no programa “Four Corners” ater acusado o primeiro-ministro de formar um “esquadrão de ataque” para assassinar os seus opositores. Estas acusações foram arquivadas por falta de provas. Reinado similarmente alegou que antes de se ter amotinado, que Alkatiri lhe tinha ordenado para disparar contra manifestantes anti-governo. Mais uma vez, sem ter dado alguma prova.

Permanece obscura a natureza exacta das ligações de Reinado com Canberra. Ele viveu e trabalhou na Austrália nos anos 1990s, regressando a Timor-Leste em 1999 depois do governo Indonésio ter concordado no referendo a permitir a independência formal. Depois de se juntar às forças armadas Timorenses, Reinado recebeu treino militar em Canberra. A sua mulher e filhos vivem ainda na Austrália.

As tropas Australianas não fizeram nenhum esforço para deterem Reinado depois de terem aterrado em Timor-Leste em Maio passado. Com o encorajamento do Presidente Gusmão, Reinado e os seus homens tinham-se retirado de Dili para a sua base nas montanhas do centro.

Permaneceu uma figura pública. Emitindo denúncias regularmente contra o governo da Fretilin, e por isso foi apaparicado pelos media Australianos. Enviados de Gusmão, pessoal dos media e soldados Australianos eram seus visitantes habituais. Depois de Reinado ter sido preso com acusações de armas pela polícia Portuguesa em Julho passado, soube-se que a casa que usava para armazenar essas armas estava directamente frente à base militar Australiana em Dili.

Noutro desenvolvimento altamente suspeito, um mês depois de ter sido preso, Reinado foi capaz de sair pelo seu pé, literalmente, da prisão de Dili. O Ministro da Justiça de Timor-Leste Domingos Sarmento alegou que as forças da Nova Zelândia que guardavam a prisão tinham acabado de ser retiradas dias antes, ao mesmo tempo que Ramos-Horta relatava que as autoridades Australianas tinham chumbado vários pedidos para colocarem tropas no exterior da instalação. Ambas Canberra e Wellington negaram responsibilidades no incidente.

Nos meses após a sua “escapa,” Reinado continuou a emitir várias declarações públicas. Acusou Ramos-Horta de ser fraco e demasiadamente dependente da Fretilin. Deste modo, o antigo major serviu como um útil meio para Canberra manter pressão sob o governo e o parlamento Timorense.

Em Fevereiro o Presidente Gusmão e o Primeiro-Ministro Ramos-Horta negociaram um acordo com Reinado sobre a sua rendição, mas isto colapsou depois de o Presidente do Parlamento (e agora candidato a presidente), Francisco Guterres da Fretilin, ter rejeitado o acordo por ser inconstitucional.

Ramos-Horta subsequentemente autorizou uma incursão militar Australiana. O governo Howard despachou mais 100 tropas SAS para a operação e em 4 de Março, tropas Australianas e da Nova Zelândia atacaram a base do antigo major na cidade de Same na montanha central. Cinco dos seus seguidores foram mortos baleados apesar de Reinado mais uma vez ter conseguido escapar.

Como é que isto aconteceu nunca foi bem explicado. Dúzias de homens pesadamente armados e gorças altamente treinadas, apoiadas por helicópteros militar e carros blindados, lançaram a operação a meio da noite. Apesar de durante semanas terem monitorizado a zona e de estarem equipados com equipamento para visão nocturna, as tropas não conseguiram evitar que Reinado e a maioria dos seus homens desaparecessem.

A explicação mais plausível é que a operação Australiana nunca visou a captura de Reinado. É improvável que depois as forças Australianas tenham feito esforços genuínos para o capturar. Ao mesmo tempo que porta-vozes militares insistiam que as tropas, incluindo o pessoal SAS, estavam “em perseguição” a Reinado, o foragido continuava a fazer declarações públicas e a dar entrevistas aos media durante a campanha para as eleições presidenciais. Uma equipa de operadores de câmara do programa da ABC “Correspondente Estrangeiro” encontrou-se com ele no mato menos de quinze dias após a incursão em Same. Não há qualquer dúvida que os serviços de informações Australianos o podiam ter descoberto se quisessem; uma agência inteira Australiana a Directoria dos Sinais de Defesa, tem por missão a monitorização das comunicações electrónicas do exterior.

O anúncio de Ramos-Horta de que a “perseguição” estava cancelada foi raramente mencionada nos media Australianos e não teve resposta do governo Howard ou das forças militares Australianas. Um porta-voz do Ministério dos Estrangeiros em Canberra disse ao World Socialist Web Site que não podiam comentar porque era uma questão do Ministério da Defesa, ao mesmo tempo que o Ministério da Defesa insistia que era uma questão do governo Timorense.

Não foi feito qualquer anúncio sobre a retirada do pessoal Australiano incluindo as 100 tropas SAS que o governo afirmou serem necessárias para a incursão em Same raid. Tal anúncio é improvável enquanto não acabarem as eleições. A razão real para o aumento das tropas era para reforçar a força militar Australiana na preparação das eleições presidenciais bem como das parlamentares agendadas para 30 de Junho. Tendo gasto consideráveis recursos na remoção de Alkatiri no ano passado, Canberra está determinada a prevenir que a Fretilin reganhe o poder.

O governo Howard tem esperança de assegurar a derrota de Guterres na segunda volta no próximo mês e depois engendrar um governo anti-Fretilin com base no novo partido fo Presidente Gusmão, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), depois das parlamentares.

Estes planos baseiam-se em resultados eleitorais que vão ao encontro de Canberra. Se não, há todas as possibilidades que Timor-Leste seja de novo mergulhada na violência. Os militares Australianos já estão a usar papeis crescentemente agressivos e não faltarão pretextos e provocações nos tempos próximos, particularmente com Reinado agora com as mãos livres.

NOTA DE RODAPÉ:

Impressionante como tantas forças militares de elite não conseguem localizar Alfredo Reinado e Ramos-Horta encontra-se com ele tão facilmente há poucos dias (à semelhança e muitos jornalistas).

Mais mais impressionante ainda, é que um candidato tome decisões, para caçar votos, como primeiro-ministro, sem sequer ter mandato para tal. É aos tribunais que compete e não ao primeiro-ministro tais decisões.

Dá para termos uma noção da falta de sentido de Estado e de total desrespeito pelos órgãos de soberania, que Ramos-Horta teria como presidente da República...

E este tipo de manobras, verdadeiros escândalos, consecutivas de Ramos-Horta, Xanana Gusmão e dos bispos de Timor-Leste passam desapercebidos aos órgãos de comunicação social?...

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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