quarta-feira, junho 21, 2006

Ex-comandante da polícia demarca-se de revoltosos

DN
João Pedro Fonseca, em Aileu

O comandante da polícia nacional timorense (PNTL), Paulo Martins, está em sua casa, perto de Aileu, a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Estranha que ainda ninguém tenha falado com ele «para apurar a verdade dos factos», mas tem revelações a fazer. Nomeadamente sobre as armas que estão na posse de grupos clandestinos.

E, ao contrário do que os líderes «revoltosos» disseram ao DN em Gleno, Paulo Martins não tem mantido contacto com eles, nem partilha sequer da posição de que a solução da crise passa pela demissão do primeiro-ministro Mari Alkatiri. «Sou polícia, não sou político».

O ambiente nas povoações das montanhas da região ocidental de Timor - Gleno, Ermera, Aileu e Maubisse -é tranquilo. As pessoas fazem as suas vidas e ninguém receia tumultos. O problema está em Díli. A conversa de todos é sempre a mesma: querem saber pormenores, porque os relatos que receberam referem que «os militares das FDTL mataram civis e polícias desarmados».

O trabalho de propaganda foi bem feito. E se é certo que foram cometidos crimes graves, o facto é que a verdadeira história dos acontecimentos de Abril - muito complexa - não passa só pelos militares das FDTL, mas também por polícias, grupos armados por um ministro (que o reconheceu em entrevista ao Expresso) e elementos da polícia militar. Um tabuleiro com muitas peças, em que dificilmente alguma instituição poderá sair ilesa no apuramento das responsabilidades. O próprio Paulo Martins, em declarações ao DN, revela que os dois polícias assassinados à catanada pela população de Gleno foram atacados porque o povo os reconheceu da manifestação dos peticionários a 28 de Abril, em Taci Tolo.

E não põe em causa que tenham disparado. "Pode ser verdade, não sei."

Sem quartel

Os comandantes distritais da PNTL continuam, por seu lado, a desempenharem as suas funções. Com excepção de Díli, os outros reúnem-se diariamente em Aileu, sob o comando de Paulo Martins. Ontem o DN esteve com uma equipa de polícias de Suai que participaram numa dessas reuniões.

Discutem questões práticas dos seus distritos, os problemas que existem, as soluções e directivas. Martins não vê neste procedimento qualquer irregularidade. Abandonou Díli alguns dias antes dos confrontos entre militares e polícias - 25 de Maio - por razões que pretende esclarecer em breve, mas afirma-se detentor do comando. «Diariamente falo com os meus homens e digo-lhes que já podem voltar ao seu serviço». Ele não regressa já porque receia pela sua segurança.

Nas povoações desta região fala--se bastante dos confrontos de Díli, e receiam-se novos episódios de violência. Mas a vida decorre normalmente, com excepção das escolas. Umas funcionam, outras não.

Em Gleno, centenas de miúdos com as suas fardas branca e azul celeste circulam pelas ruas depois de mais uma tentativa frustrada para ir à escola. Dona Maria, com 12 filhos, é uma mãe muito preocupada.

Mas a única instabilidade que se detecta passa por saber que existem ainda muitas armas à solta. E se, em Gleno, Aileu e Maubisse, ninguém tem medo de peticionários, polícias e outros revoltosos, as pessoas também sabem que as forças australianos nunca permitiriam retaliações sobre esses homens.

Os ckeckpoints funcionam à entrada e à saída de todas as povoações, e, em alguns casos, até se regista num bloco de notas as identificações dos passageiros das viaturas. Para quê? Security reasons, respondem.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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