Público, 12.02.2008
Por Adelino Gomes
Não se conhecem ainda os termos exactos em que os dois atentados da madrugada de ontem se desenrolaram. Nem se os seus alvos directos eram os dois líderes históricos timorenses ou as entidades simbólicas que os cargos de cada um representam: a casa do Chefe do Estado e a caravana do primeiro-ministro.
Foi um acto de loucura de Reinado?
Uma acção isolada de um grupo de rebeldes desesperados e que se sentiram sem alternativa face a um iminente acordo político entre altos cargos do Estado e as principais forças políticas?
Ou, pelo contrário, uma acção de âmbito mais vasto e de participações mais alargadas?
Porquê o envolvimento activo nela do discreto tenente Salsinha?
Como foi possível os rebeldes, sobre quem os australianos exerciam há mais de um ano uma constante acção de monitorização, aproximarem-se tão à vontade da casa do Presidente da República? E tão facilmente, já agora, da capital do país onde, facto não negligenciável, decorria um encontro com ministros e outras altas figuras dos PALOP?
A aproximação interpartidária no sentido da grande unidade, defendida por Ramos-Horta desde o início da crise e que finalmente parecia iminente, após discussões de alto nível a semana passada, continha algum ponto sobre o destino a dar a Reinado e aos ex-peticionários? Em que termos?
Por que demorou tanto a reacção das ISF?
Por que demorou tanto o socorro ao Presidente?
O pouco que se sabe mostra-se insuficiente para responder ao muito que se continua a desconhecer. E para ajudar a entender verdadeiramente o que se passou no contexto político-militar timorense e o seu alcance no futuro.
Desde praticamente a crise de 2006 que Xanana e Ramos-Horta vinham a ser acusados pelos seus adversários de protegerem, contra a própria lei, os dois homens que agora dispararam sobre eles.
Ironia trágica, as vítimas das balas de Reinado foram, na verdade, não os inimigos de sempre deste - Alkatiri e a Fretilin -, mas aqueles que defendiam uma solução política que passava pela entrega voluntária do ex-líder rebelde.
Esta intentona de contornos mal definidos vem juntar-se a um conjunto de tropeções, todos graves, na construção do Estado de direito democrático em Timor-Leste: a revolta de jovens, no final de 2002, levava a independência apenas meio ano; a prolongada contestação nas ruas pela Igreja Católica, dois anos depois; e a crise dos peticionários, que humilhou as F-DTL (Forças de Defesa de Timor-Leste) e provocou o desmoronamento da Polícia Nacional, arrastando o país, em particular Díli, para uma situação de caos social e de sofrimento que ainda hoje permanece para largas dezenas de milhares de desalojados.
A "protecção" dada por Xanana e Horta a Reinado, subtraindo-o ao braço da justiça, deu fundamento a acusações de cumplicidade que os adversários lhes dirigiram. Reinado, a quem nunca se ouviu um discurso com ponta de consistência política, terá alimentado, com ela, um sentimento de impunidade favorável à prática de todos os excessos e ao desenvolvimento de todas as ambições. Sem surpresa, nasceu um mito entre uma certa juventude, marginalizada pela independência e que passou a ver-se representada na figura meio clown, meio cowboy de um major em fuga com lugar cativo nos jornais e televisões do mundo.
Apesar de uma infinidade de iniciativas, a paz e a segurança não regressaram à capital timorense. Embora à partida estimável, pois assente na aposta de que se impunha evitar mais derramamento de sangue, a polémica opção de Xanana e de Horta não só não resultou como redundou neste duplo atentado, que só por milagre não causou mais vítimas.
A independência e a liberdade, conquistadas à custa de tanto sofrimento, não podem coexistir com o desrespeito pelas leis do Estado e com a permanência, consentida, de grupos armados.
O caminho seguido pela Fretilin, ao contestar a legitimidade do Governo, dificultou também a necessária pedagogia pública a que os líderes históricos estão obrigados, dado que foi na sua esteira que o povo timorense referendou a independência e a democracia.
Qualquer acto ou comportamento que tenda a ultrapassar a lei, declarações de ódio que chegam por vezes ao ponto de sugerir a eliminação física dos adversários, ecoam pelas planícies e pelas montanhas timorenses, degradando a ideia da democracia.
Sem a unidade no essencial - que os dirigentes históricos souberam praticar sob a ocupação, ganhando do povo e do mundo - a crise de 2006 continuará por resolver, como o infeliz e trágico episódio de anteontem demonstrou.
terça-feira, fevereiro 12, 2008
Tantas perguntas, quantos mistérios
Por Malai Azul 2 à(s) 19:27
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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