terça-feira, fevereiro 12, 2008

O ataque do major que foi intocável por dois anos terá sido crime ou golpe de Estado?

Público, 12.02.2008
Por Francisca Gorjão Henriques

A morte do major rebelde Alfredo Reinado lança algumas perguntas: porquê tentar matar o homem que lhe estendeu a mão? Foi crime ou golpe de Estado?

Quem assistisse à cena, por certo não acreditaria: um preso deixava a penitenciária, saindo pela porta principal acompanhado de outros 56 detidos. O preso era o major Alfredo Reinado, acusado de homicídio e posse ilegal de material de guerra. O episódio passou-se em Agosto de 2006, na prisão de Díli. Antes disso, já Reinado tinha sido fotografado no seu refúgio em Ermera com soldados australianos ao lado. Depois, daria entrevistas a vários órgãos de comunicação social. E veria o próprio Presidente José Ramos-Horta a entrar em guerra com juízes internacionais por ter dado ordens para que não fosse cumprido o mandado de captura contra si. Mas afinal, o homem que parecia intocável (ver perfil na pág. 3) morreu ontem, baleado pelas forças do chefe de Estado.

Vale a pena recuar ainda mais, até aos meses de Abril e Maio de há dois anos. Um grupo de soldados denuncia discriminação dentro das Forças Armadas; a revolta cresce em poucos dias e os já 600 peticionários são expulsos do Exército pelo Governo de Mari Alkatiri. Ao grupo liderado pelo tenente Gastão Salsinha junta-se o major Alfredo Reinado. O que se seguiu foi um período negro na história pós-independência de Timor-Leste que ainda hoje não está sanado. A violência não se esgotou nos confrontos entre os ex-soldados e as forças de segurança; espalhou-se a civis, provocou 37 mortos e mais de cem mil refugiados.

Reinado e os seus homens conseguem escapar às operações de busca. Mas o major é depois detido, a 25 de Julho de 2006. Por pouco tempo. Ainda muitos se interrogam como é que, um mês depois, conseguiu sair da prisão como saiu. "Dava a impressão de que as portas da prisão foram abertas propositadamente para o libertar", comentou ontem ao PÚBLICO a embaixadora timorense Pascoela Barreto.

"Porquê ser alvo agora?"

Há um ano, o ainda Presidente (e agora primeiro-ministro) Xanana Gusmão autorizava uma operação de captura, depois de um assalto do grupo rebelde a três postos da polícia. Sem êxito. Reinado não só não caía nas mãos das autoridades, como criara entretanto um séquito de jovens seguidores. E se antes garantia que só respondia a Xanana, agora pede também o seu afastamento. No mês seguinte, em Março de 2007, as tropas australianas das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) lançavam uma operação em Same, no litoral Sul do país, com blindados e helicópteros Black Hawk. Cinco pessoas morreram, alegadamente leais a Reinado.

Mas o major continuou a monte.

Em Junho, o ainda primeiro-ministro José Ramos-Horta mandou cancelar as buscas para dar início a uma polémica negociação. Depois das eleições de Julho, Ramos-Horta e Xanana passam a ocupar os mais altos cargos do país, e é já o novo Presidente quem, em Agosto, se encontrava com Reinado para tentar acabar com a instabilidade. Manda as forças australianas não cumprirem o mandado de captura contra o major, o que para o juiz internacional português Ivo Rosa constituiu uma decisão "ilegal" e uma "manifesta interferência no poder judicial".

E tudo isto levanta mais uma questão: "O Presidente Ramos-Horta tem vindo a fazer um esforço de diálogo entre Reinado e o Governo e a sociedade timorense. Porquê ser agora o alvo?", lança Pascoela Barreto. "Há vários interesses em jogo e não podemos afastar as hipóteses de os interesses regionais e do petróleo" terem sido decisivos para o tratamento dado a Reinado, continua a diplomata.

Mas ainda que Reinado seja o rosto do rastilho para a tragédia, foi com surpresa que alguns observadores assistiram ao desfecho da sua saga. "Não esperava que chegasse a este patamar de violência", confessou ao António Almeida Serra, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, especialista em economia asiática. "Houve erros de avaliação por parte de dirigentes máximos de Timor Leste, das forças internacionais e da própria ONU, que está sempre ao lado do Governo". E continua: "A prisão dele iria desencadear um processo violento de derramamento de sangue, não só pelo acto da detenção (ele tinha bazucas e uma componente psicológica de Rambo) como da parte da população, dos grupos mais jovens".

Quanto à operação de ontem: "Não se percebe se actuou por vingança pessoal - os timorenses são dados a isso - ou se foi articulado com alguém por trás." Mas a causa terá importância para a sequência dos acontecimentos: "Será diferente se isto foi um acto criminoso de um bandido com armas pesadas, ou uma coisa mais complicada, [com vista a] um golpe de Estado, embora duvide desta última hipótese."

Ainda assim, o editorial do Sydney Morning Herald sentenciava: "A saída de Reinado da equação timorense é uma das coisas boas que saíram da loucura de ontem."

Há um ano, o Presidente (agora primeiro--ministro) Xanana Gusmão autorizou uma
operação para capturar Reinado

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Traduções

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Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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