terça-feira, fevereiro 12, 2008

O major rebelde que provocou dois anos de instabilidade

LUÍS NAVES
DN, 12/02/08

Desertor desde 2006, Alfredo Reinado era um mito imprevisível

A figura do major Alfredo Reinado era tão complexa que quase se torna incompreensível. Citando uma frase que Winston Churchill aplicou à Rússia de 1939, Reinado era uma "adivinha, embrulhada num mistério, dentro de um enigma". O mais difícil, nesta personagem, é encontrar sentido nas suas acções.

Sabe-se que o major rebelde tinha à volta de 40 anos, que gostava de fardas, que se dizia insubmisso. Porque ninguém quebrou o grupo por ele liderado, mereceu a admiração incondicional de muitos jovens desenraizados. Mas a sua agenda política continua incoerente e apenas ele a parecia compreender. Haverá também motivações sociais na base de alguma simpatia popular, mas nada de concreto.

A carreira deste desertor golpista, fanfarrão, "rambo" sem causa acabou ontem de manhã em Díli (madrugada em Lisboa), num tiroteio cujos detalhes são tão contraditórios como era o actor principal do drama. Foi pela violência que este major da polícia militar se tornou famoso, em 2006, ao criar uma crise que levou à queda do Governo liderado por Mari Alkatiri, o qual pouco antes negociara um acordo petrolífero com a Austrália, em termos muitos favoráveis para Timor.

A violência estalou em Abril de 2006, com um incidente envolvendo os chamados peticionários (600 homens que tinham sido expulsos das forças armadas). Reinado desertou nesse altura, com 20 dos 33 efectivos da unidade que comandava. E tentou tornar-se rapidamente o líder de um grupo vasto de homens armados, que incluiria os peticionários. Na qualidade de rebelde, Reinado iludiu as forças internacionais (militares australianos), foi preso pela GNR e depois fugiu da prisão, guardada por australianos. Enquanto esteve nas montanhas, encontrou-se com o então presidente Xanana Gusmão. Passados dois anos, apenas no mês passado, Reinado acusou Xanana de ter sido o "instigador" da crise de 2006.

A relação com as vítimas de ontem sempre foi enigmática. A queda de Alkatiri tirou a Fretilin do poder. Reinado conhecera na Austrália, nos anos 90, o homem que ontem tentou matar José Ramos-Horta. Foi por intermédio do futuro presidente que o major entrou na resistência. No passado, servira, com sofrimento, como transportador das tropas indonésias.

Para conhecedores da actualidade timorense, Alfredo Reinado não era suficientemente "inteligente" para ser ele o verdadeiro autor das suas façanhas. Há quem diga que era "facilmente manipulável" e há quem use, para o definir, a palavra "marioneta".

Neste "teatro de sombras" da política timorense, Reinado era a carta vinda do nada e usada em momentos propícios para manter a efervescência. O Governo tentou negociar com o rebelde, numa estratégia de dividir peticionários e desertores. Isto, aparentemente, exacerbou o conflito.

Além das acusações de homicídio (no ataque de Fatuahai contra viaturas das Falintil, em 2006), Alfredo Reinado era acusado de deserção e rebelião. Muito pouco para justificar o mito.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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