Diário de Noticias - Sexta, 27 de Outubro de 2006
Armando Rafael
"Senti-me prisioneiro no meu próprio país. Foram seis meses assim. Além disso, senti-me humilhado, aos olhos do nosso povo, por tudo o que disseram de nós. Mas os timorenses sabem quais foram os nossos contributos nestes últimos 31 anos."
Foi assim que Taur Matan Ruak, o brigadeiro-general que lidera as Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), decidiu quebrar ontem o silêncio a que se remeteu no final de Abril, quando as suas forças passaram a estar confinadas aos quartéis de Taci Tolo e Metinaro. Deixando a segurança do país entregue a australianos, neozelandeses, malaios e portugueses. Sem que a situação tenha melhorado muito. Como se tem visto nos últimos dias. Sobretudo em Díli, onde ainda se encontram milhares de refugiados, criando uma espécie de cultura para a violência entre gangs rivais.
Talvez por isso Matan Ruak tenha decidido falar, exigindo, em entrevista telefónica ao DN, um novo papel para os militares timorenses. "Somos parte interessada na pacificação do conflito. O país tornou-se independente por causa dos nossos sacrifícios e dos sacrifícios do nosso povo. Por isso, não nos venham dizer agora que somos incompetentes, que não servimos para nada ou que há exércitos mais competentes. Ao longo de 24 anos, enfrentámos um dos exércitos mais profissionais do mundo. Não somos assim tão ingénuos."
Questionado sobre o papel que pretende para os militares que comanda, Taur Matan Ruak não podia ser mais claro. "Não queremos nada. Só queremos que nos respeitem. Mas devemos exigir uma boa gestão das forças que se encontram no país. As forças internacionais, as nacionais e até as da ONU. Senão, Timor- -Leste ainda se transforma num faroeste."
O que parece pressupor que o comandante das F-FDTL exige às autoridades do seu próprio país uma maior coordenação daquelas forças. "Ainda hoje [ontem], o Parlamento aprovou uma resolução, defendendo que as forças internacionais sejam enquadradas por um comando da ONU. Quando há muitas forças, não podem existir vários comandos. Isso só cria confusão. Foi o que aconteceu nos últimos meses. Por isso é que digo que, se isto não muda, ainda vamos ter de mudar o nome de Díli para Cowboy City."
Afirmações que representam uma opinião muito crítica da actuação dos políticos timorenses. "Eles também não têm experiência. Mas eles deviam ser mais humildes. Deviam ouvir mais para [poderem] perceber melhor, permitindo que outros dessem os seus contributos."
Interrogado sobre se estas afirmações não põem em causa a autoridade do Presidente Xanana Gusmão, que há muito deseja um novo comandante para as F-FDTL, Matan Ruak não desarma. "O que me preocupa é que não consigamos curar as feridas que vêm do passado. Se não as curarmos agora, elas gangrenam e rebentam. E, como dizia há dias o nosso bispo D. Carlos [Ximenes Belo], é bom recordar que Timor-Leste nunca teve uma cultura de paz."
Sem que isso explique, no entanto, a violência dos gangs na capital timorense, uma cidade onde Matan Ruak diz existirem agora mais armas do que no período da resistência à Indonésia. "Como é possível? É preciso regressar a Abril e Maio para se perceber. Primeiro, tivemos confrontos entre militares e desertores das F-FDTL e da PNTL, com alguns civis armados. Depois, Díli foi tomada por gangs com motivações políticas e étnicas. Mas isso já passou. O que temos agora são gangs com motivações criminais e étnicas."
Razão por que Taur Matan Ruak insiste, uma vez mais, na mesma ideia. "O que propomos é que o Estado timorense faça uma reavaliação do papel das forças internacionais, analise as suas deficiências ao longo destes seis meses, reveja a estratégia, os métodos e os objectivos. Caso contrário, só estaremos a aumentar os problemas. Uns criados por nós - como é o caso da má gestão da nossa administração para lidar com o problema dos milhares de refugiados que se encontram em Díli - e outros criados... por outros."
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“Os anos de luta ensinaram-nos a ter paciência”
DN - Esteve calado durante seis meses. Porque razão decidiu quebrar o silêncio? Foram as conclusões do relatório da ONU sobre a violência ou está a ser pressionado?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Pressionado, não. Sinceramente não. Mas o que temos visto nos últimos tempos constitui uma marginalização e uma descaracterização da nossa imagem e da imagem das Falintil-Força de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), através de sucessivas mentiras e boatos.
DN - Postos a circular por quem?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Veja o que se passou no dia 28 e 29 [de Abril], quando disseram que as F-FDTL tinham cometido um massacre [em Taci Tolu, na parte ocidental de Díli], que nunca ocorreu, como o relatório diz. Mas isso teve consequências muito sérias. Danificou a nossa imagem, permitindo que pusessem de parte, que nos colocassem de lado, confiando noutras pessoas. Tudo isso foi feito de forma muito sistemática.
DN - Apesar disso, as F-FDTL mantiveram a disciplina, obedeceram às ordens e recolheram aos quartéis. Como é que conseguiram manter a disciplina no meio de um certo caos que se vive em Díli?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Com paciência, muita paciência. Vinte e quatro anos de luta ensinaram-nos a ter paciência. E o papel de um comandante é acompanhar a situação, estar atento aos acontecimentos, analisá-los e, depois, estar preparado para responder no momento mais oportuno. Durante estes seis meses estive calado. Mas, a partir de agora, vamos começar também a contar a nossa história e a contar aquilo que aconteceu.
DN - Porque as conclusões da ONU ilibaram as F-FDTL?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Não podiam fazer outra coisa. Mas isso não significa que não tenha havido outras pessoas muito interessadas em descaracterizar a nossa imagem.
DN - Quem?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Timorenses e estrangeiros...
DN - Está a referir-se a algum dirigente timorense em particular?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Os jornalistas é que sabem o que devem investigar...
DN - Já está disponível para receber desculpas públicas do brigadeiro-general Mick Slater pelo incidente ocorrido recentemente com os militares australianos?
Brig-Gen Taur Matan Ruak - Regressei agora de Baucau e ele já tinha partido para a Austrália. Mas gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer os esforços que o brigadeiro-general fez e espero, sinceramente, vir a manter uma boa relação com o seu sucessor.
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segunda-feira, outubro 30, 2006
Entrevista Gen. Matan Ruak - "Senti-me prisioneiro no meu próprio país"
Por Malai Azul 2 à(s) 01:30
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
Sr. General Ruak,
Estamos consigo!
Que Deus o proteja e ajude na luta contra os inimigos do seu próprio país e da democracia!
Viva Taur Matan Ruak!
Vivam F-FDTL!
Vivam as instituições democráticas de TL!
General Taur Matan Ruak começou a falar e agir, os golpistas começam logo a tremer!
O pânico sai-lhes logo através do veneneno!
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