domingo, abril 20, 2008

Timor: «Deixe-se de aventuras», disse Ramos-Horta a Salsinha

No seu regresso a Timor-Leste, o Presidente da República, José Ramos-Horta, ordenou ao ex-tenente Gastão Salsinha para se entregar e acabar com a sua «aventura».

«Deixe-se de aventuras. A vossa aventura e irresponsabilidade ao longo de meses já custou vidas», afirmou José Ramos-Horta na conferência de imprensa que deu no aeroporto internacional Nicolau Lobato, em Díli, dirigindo-se ao líder dos fugitivos ligados aos ataques de 11 de Fevereiro.

O Presidente da República, falando em português, tétum e inglês, fez uma intervenção emocionada mas dura contra Gastão Salsinha e o major Alfredo Reinado, responsáveis pelos ataques contra José Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão.

José Ramos-Horta ficou gravemente ferido, o major Reinado morreu no ataque e o ex-tenente Salsinha fugiu com um grupo que agora está reduzido a cerca de 15 homens.

«Entregue-se ao pároco em Gleno ou Maubisse. Confio totalmente nesta igreja timorense. Ela saberá como contactar as autoridades«, pediu o chefe de Estado a Salsinha no regresso de mais de dois meses de convalescença em Darwin, Austrália.

«Apesar de eu ter sido atingido, eu não queria que Salsinha ou qualquer outro timorense perdesse a sua vida.

Demasiados timorenses perderam as suas vidas», acrescentou José Ramos-Horta num momento em que, embargado, interrompeu as suas palavras.

«Desculpem. Estou um bocado emocionado«, explicou o Presidente da República, antes de dar mais explicações sobre Salsinha e Reinado.

«Talvez eu tenha sido extremamente ingénuo ao acreditar que podia convencer alguém a entregar as armas. Até contei a Alfredo como tínhamos chegado à independência. Sem armas», explicou José Ramos-Horta.

«Eu não tinha armas em Nova Iorque ou na Europa para convencer os dirigentes ou os senadores. Nós ganhámos a independência apenas a nossa inteligência, os nossos sentimentos e a nossa honestidade«, afirmou o Presidente da República.

«Ele nunca me ouviu», acusou também o chefe de Estado sobre o major Reinado, repetindo-a para o ex-tenente Salsinha.

«Se antes de 11 de Fevereiro não havia mandado de captura, agora Salsinha é acusado de cumplicidade nos atentados. É culpado? É inocente? O tribunal vai decidir«, sublinhou o chefe de Estado.

«Salsinha tem que se entregar. Ele disse que esperava pelo meu regresso para se entregar. Eu prefiro que ele procure a igreja. Depois ele tem que ir ao Procurador-geral da República, ou ao tribunal, não sei o processo, e enfrentar a justiça», insistiu o Presidente.

«Durante mais de dois anos tentei e tentei persuadir Alfredo e Salsinha. Uma vez eu disse ao Alfredo: 'Alfredo, tu tens mulher e filhos. Brincas com armas, brincas com o fogo, vais queimar-te'«, contou José Ramos-Horta.

«Reinado disse-me: 'Não me interessa a minha família, interessa-me apenas o meu povo'. E eu respondi-lhe uma palavra que não posso repetir à frente das câmaras, começada por 'b'» («bullshit»), acrescentou o Presidente num tom severo.

«Alguém que me diz que não se importa com a família nem com os filhos e apenas com o povo, está a mentir-me. Quem não tem sentimentos pela família não pode ter sentimentos pela nação«, acusou José Ramos-Horta.

«Quando Reinado veio (dia 11 de Fevereiro), não havia nenhum encontro combinado. E eu nunca me encontraria com ele em Díli, mas em Ermera ou Maubisse. E nunca às sete da manhã», disse José Ramos-Horta, dirigindo-se «aos apoiantes de Reinado e Salsinha que dizem que havia uma reunião combinada em minha casa».

José Ramos-Horta recordou que «há alguns meses, Reinado devia vir encontrar-se com Fernando »La Sama« e com Xanana Gusmão» em Díli.

«Reinado não apareceu. Eu recusei-me a encontrar-me com ele«.

«Quando tinham fome em Gleno, dei-lhes o meu dinheiro e pedi ao Ministério da Reinserção Comunitária que os incluísse na distribuição alimentar, o que foi concretizado», recordou também José Ramos-Horta. «Porque os tratei como seres humanos, fui ouvi-los. Nunca hesitei em interessar-me por eles.»

José Ramos-Horta contou um episódio sucedido durante a crise de 2006, quando ele ocupava ainda o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros timorense.

«O peticionário veio ao meu escritório. Tinha uma bala e estava ferido e queria ser operado. Eu perguntei-lhe o que lhe tinha acontecido. Ele estava envergonhado e não quis dizer-me, mas era óbvio que tinha participado no ataque de Tasi Tolu (contra o quartel-general das Forças Armadas). Mas mandei o meu chefe de gabinete arranjar assistência para ele.«

O Presidente da República contou outro episódio de Maio de 2006, »antes de Alfredo Reinado ser rico«.

«Pediu-me dinheiro para a família. Eu não tinha muito, peguei em 50 ou 100 dólares e disse-lhe: 'Isto é o que tenho'. Não sei se o deu a alguém ou não».

«Não queria que Reinado morresse«, repetiu o chefe de Estado perante uma sala com dezenas de jornalistas.

«Quem é responsável pelo que aconteceu? Só Reinado e Salsinha podem explicar».

Após a conferência de imprensa, José Ramos-Horta saiu para um banho de multidão. Milhares de pessoas enchiam a avenida que atravessa Díli e que liga ao centro da capital, onde fica situado o Parlamento Nacional.

«Salsinha já não é o líder dos peticionários«, afirmou o Presidente da República na sua curta intervenção perante os deputados e a comunidade diplomática.

Diário Digital / Lusa
17-04-2008 7:00:00

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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

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Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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