domingo, abril 20, 2008

Mark Davis: MUNJ e os ataques em Timor

Rádio SBS da Austrália

entrevista ao Programa de Língua Portuguesa, em inglês, agora disponível na
nossa página na internet e como podcasting

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O repórter investigativo do programa Dateline da TV SBS da Austrália revela
que emissários do presidente José Ramos-Horta, do MUNJ - Movimento da
Unidade Nacional e Justiça, estiveram com Alfredo Reinado no final da tarde
e início da noite do domingo, dia 10 de fevereiro, para dar a notícia de que
não tinha havido ainda um acordo entre as lideranças políticas de
Timor-Leste, na reunião do dia 7 de fevereiro na casa de Ramos-Horta, para a
sua anistia - prometida pessoalmente pelo presidente a Reinado dias antes,
em Maubisse.

No programa Dateline, o mais antigo programa de jornalismo investigativo da
Austrália, que foi ao ar nesta noite de quarta-feira, Augusto Júnior, líder
do MUNJ, primeiro nega mas depois confirma que representantes da organização
estiveram com Reinado na tarde do domingo, dia 11, mas Mark Davis confirmou
que eles estiveram reunidos até 6, 7 da noitinha com Reinado.

Depoimentos de companheiros de Reinado confirmam que ele somente decidiu
seguir a Díli para encontrar o presidente Ramos-Horta por volta das 9:30 da
noite do domingo, após ter ficado enraivecido com a mensagem enviada por
Ramos-Horta.


Em entrevista ao Programa de Língua Portuguesa da Rádio SBS, Mark Davis
disse que, para ele, "o momento-chave é a noite do dia 10 de fevereiro.
Reinado estava bêbado, tinha bebido demais, estava enraivecido e no calor do
momento decidiu encontrar-se com o presidente".

Perguntado se nas suas investigações pôde descobrir se Reinado informou ou
não o presidente Ramos-Horta que seguiria a Díli para uma reunião, Mark
Davis levantou dúvidas.

"Aparentemente não, mas há algum mistério aqui. Qual foi exatamente a
mensagem que Ramos-Horta enviou a Reinado na noite do dia 10 pelos delegados
do MUNJ? Os delegados consolaram Reinado, disseram a ele que o melhor era
discutir o assunto face a face com o presidente, de homem para homem. E foi
o que Reinado decidiu fazer", diz Mark Davis.


Mari Alkatiri, entrevistado pelo Dateline, afirma que a anistia a Reinado
não foi totalmente descartada na reunião do dia 7 mas que ficou de ser
discutida em duas novas reuniões, marcadas para os dias 12 e 14 de
fevereiro.

"Depoimentos dos companheiros de Alfredo Reinado confirmam que não havia
nenhuma intenção de atacar o presidente, matá-lo ou sequestrá-lo, na manhã
da segunda-feira, dia 11 de fevereiro e que foram para lá para um encontro
com Ramos-Horta", diz o repórter.

"A conversa fluía bem entre os guardas de segurança do presidente e os
membros do grupo de Reinado, que os desarmaram de maneira muito gentil. Mas
ele entrou armado na casa do presidente e, claro, não era um encontro
amistoso e ele talvez recebeu o que merecia. Em dez minutos, tinha levado um
tiro na cabeça. Os companheiros de Reinado entraram em pânico, pelo ataque
inesperado e na opinião deles não-provocado no seu líder, e foi esse o fim
do encontro de Reinado com Horta", acrescentou Mark Davis.

Quanto ao papel de Gastão Salsinha, também entrevistado pelo repórter por
telefone e através de um vídeo enviado pelo próprio Salsinha à equipe da
SBS, Mark Davis concluiu que apesar de Salsinha não concordar com a ação de
Reinado, ele diz a verdade quanto a não ter nenhum plano de atacar,
sequestrar ou matar o primeiro-ministro Xanana Gusmão.


"O ataque ao carro foi uma reação espontânea à notícia inesperada da morte
de Reinado, corroborada pelo fato bizarro de que Salsinha e seus homens
mantinham uma longa conversa, tranquila, com os seguranças na casa de Xanana
até saberem dos tiros na casa do presidente e das duas mortes, de Reinado e
de Leopoldino. Salsinha me disse que se quisessem mesmo matar Xanana, ele
não teria chegado naquela manhã a Díli".

Mark Davis também entrevistou Angelita Pires, que nega qualquer
envolvimento.

"O que é extraordinário são as pilhas e pilhas de besteiras sendo escritas
contra esta mulher. Antes acusada pela mídia de ser a autora intelectual do
plano de matar Ramos-Horta e Xanana, agora é acusada de querer matar o
próprio amante - é absolutamente ultrajante, não há nenhuma evidência,
apenas rumores que correm pelas ruas de Díli e que são ampliados na
imprensa", diz indignado Mark Davis.

Perguntado se pôde avançar na investigação e descobrir quem estaria por trás
das acusações a Angelita, Mark Davis foi rápido em apontar o dedo aos
jornalistas sensacionalistas.

"São os jornalistas, despreocupados de serem processados na justiça por suas
acusações infundadas. Não se respeita a presunção de inocência neste caso,
enquanto isto não se faz na Austrália, não se faz em Portugal. O caso tem um
ângulo espetacular, o líder rebelde atraente, a amante... outro ângulo mais
difícil é ver quem apoiou Reinado nestes dois últimos anos, certamente não a
sua namorada dos últimos dois meses."

Quanto a evidências de participação da Austrália, Indonésia ou Portugal na
sequência de eventos, Mark Davis foi categórico.

"Parece ser um fenômeno timorense: culpar algum outro país mesmo quando é
muito claro que o problema é interno. Timor não é mais uma nação ocupada.
São rebeldes timorenses lidando com situações criadas por lideranças
timorenses. Timor é independente, há que assumir, adonar-se da sua
independência."

"Não digo que não haja interferência, mas somente se pode falar disso quando
alguém colocar evidências na mesa. Há apoio indonésio, não do governo,
acredito, mas há ligações familiares com o Timor Ocidental, rancores
antigos, as conexões existem", esclarece o jornalista

Quanto ao retorno do presidente Ramos-Horta a Díli nesta quinta-feira, Mark
Davis acredita que ele não corre nenhum risco.

"Não, claro que não. Será uma volta tumultuada mas o presidente retorna
triunfante. Ele é uma figura altamente unificadora do país, que tem muita
sorte de que ele tenha escapado desta com vida."

"Quanto a Reinado, ironicamente a sua morte carrega consigo muitos dos
problemas de Timor. Seus companheiros reconhecem que ele foi um idiota em
voltar a Díli, em certo sentido ele criou o problema, quando a solução já
estava chegando. Mas ele tinha acusações de assassinatos, ele era o
desesperado do grupo, ele foi deixado no limbo, os outros não."

Acompanhe a entrevista na íntegra, em inglês, clicando aqui abaixo.

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Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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