quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Disparos de escolta da ONU permitiram a Xanana escapar de emboscada - investigação UNMIT

Díli, 20 Fev (Lusa) - A resposta da escolta internacional de Xanana Gusmão permitiu que o primeiro-ministro "escapasse" do sítio em que foi emboscado, segundo um relatório confidencial obtido pela Agência Lusa.

O primeiro relatório do Departamento de Investigações Nacionais (NID) da Missão Integrada das Nações Unidas (UNMIT) sobre a emboscada a Xanana Gusmão, a 11 de Fevereiro, concluiu que a resposta da escolta internacional "permitiu ao primeiro-ministro escapar do local do ataque".

O documento refere também que o escolta internacional que respondeu ao ataque usou uma espingarda que não lhe pertencia.

Xanana Gusmão foi emboscado por volta das 07:35 a cerca de 500 metros da sua residência, em Balibar, na estrada sinuosa que desce das montanhas a sul de Díli para a capital.

Segundo o relatório do NID dedicado à emboscada de Xanana Gusmão, um dos dos documentos confidenciais da UNMIT a que a Lusa teve acesso, a caravana do primeiro-ministro foi atacada quando o carro da frente, com a escolta timorense, tinha passado uma curva para a direita e o segundo carro, onde seguia Xanana Gusmão, fazia ainda a mesma curva.

Atrás das duas viaturas seguia a viatura da Polícia das Nações Unidas (UNPol), com uma escolta de reserva ao primeiro-ministro.

"Quando o carro de Xanana Gusmão fazia a curva, um (elemento da CPU-Unidade de Protecção Pessoal da) UNPol viu um homem de pé com uma metralhadora disparando contra o carro" do primeiro-ministro.

Os seguranças da UNPol pararam e um deles saiu do carro e respondeu ao fogo do atacante, disparando na sua direcção.

"Nesse momento, o atacante virou-se e disparou contra a posição dos UNPol, permitindo ao primeiro-ministro escapar do local", apurou o NID na sua investigação ao incidente.

O mesmo elemento da UNPol "continuou a disparar contra o atacante até ficar sem munições", diz o relatório confidencial obtido pela Lusa.

Sobre a emboscada, o testemunho dado pelos dois UNPol é a de que o atacante não usava uniforme, "apenas um blusão de treino com um capuz na cabeça, de cor violeta".

O atacante esperou a caravana do primeiro-ministro "atrás de uma pequena ponte, do lado esquerdo da estrada para quem desce".

"Não viram mais nenhum atacante mas ouviram tiros disparados de diferentes posições na encosta, pelo menos de três", acima do atacante junto à estrada, e "não notaram se a viatura do primeiro-ministro foi atingida".

Os disparos do elemento da UNPol foram feitos com uma espingarda Styre que não lhe pertencia, mas que era de um elemento da PNTL (Polícia Nacional) "que normalmente trabalha com UNPols (sic) mas que não estava de serviço nesse dia e se esqueceu da arma na viatura", segundo o documento a que a Lusa teve acesso.

A justificação do elemento da UNPol para usar uma espingarda que não lhe pertencia foi a de (os polícias internacionais) "estarem debaixo de fogo cerrado e calcularem que as suas pistolas não eram suficientes para parar o ataque".

"Ao usar aquela arma, deram tempo ao primeiro-ministro para deixar a área", insiste o relatório do NID.

"Depois do ataque, (os elementos UNPol da CPU) não conseguiam ver o atacante e tudo ficou calmo" e os dois seguranças fizeram inversão de marcha e regressaram à casa da família Gusmão, onde se encontrava a mulher e os filhos do primeiro-ministro.

Kirsty Sword-Gusmão estava em casa "sem protecção", segundo o NID.

Chegou nessa altura a viatura com a escolta da PNTL ao primeiro-ministro, "apenas com um elemento lá dentro", e um dos elementos da CPU entrou no carro e seguiu para dentro do recinto da residência.

Depois de estacionarem as viaturas da UNPol e da PNTL, um dos seguranças da CPU "viu dois homens armados de metralhadora na encosta por cima da casa de Xanana Gusmão".

"Alguns minutos depois, cerca das 07:45, uma equipa de segurança da UNPol com dois elementos chegou e reforçou a segurança à família Gusmão", conta o relatório do NID.

Um dos seguranças da UNPol telefonou então para o condutor do primeiro-ministro e conseguiu falar com Xanana Gusmão, "que lhe pediu para tomar conta da sua família".

O mesmo elemento da UNPol ligou para a base "e pediu um helicóptero para transferir a família de Xanana Gusmão para um lugar seguro".

O relatório do NID refere que a GNR "chegou às 09:40 com dois veículos blindados e levou a família de Xanana Gusmão para o Palácio do Governo, onde chegaram às 10:00".

O NID apurou que um dos seguranças de Kirsty Sword-Gusmão "disse aos elementos da UNPol que conhecia um dos três homens armados que estavam na encosta" por cima da residência do primeiro-ministro.

"Um deles gritou em tétum para os (elementos) PNTL que estavam fora de casa e depois pretendia negociar com eles", segundo o relatório do NID.

Os dois elementos da UNPol foram informados por um dos guardas timorenses que os homens armados na encosta queriam saber quantas metralhadoras tinham com eles, ao que lhes foi respondido que possuíam apenas uma.

Segundo os testemunhos citados pelo NID, os homens que cercavam a casa fizeram ainda alusão a "lutar com os UNPol" por eles terem uma metralhadora, ordenando aos elementos da PNTL para se afastarem, mas os seguranças timorenses da família Gusmão terão dito que "isso não podia ser porque trabalhavam juntos".

"Depois disso, tudo ficou calmo e ninguém atacou a casa", conclui o relatório do NID à emboscada ao primeiro-ministro.

"Pesquisou-se com detalhe a área à procura de testemunhas mas as pessoas têm demasiado medo para cooperarem com as autoridades", diz um dos documentos confidenciais obtidos pela Lusa.

Os documentos obtidos pela Lusa sobre o duplo ataque ao Presidente da República e ao primeiro-ministro têm a data de 12 de Fevereiro.

PRM/JCS.
Lusa/fim

NOTA DE RODAPÉ:

Pois, pois...

Mesmo que não o tivessem salvado, o outro não acertava nem uma...

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas que homem. 500 metros de casa e nao regressou para salvar a familia. Devia ter se refugiado no carro da UNPOL e com eles recuar os 500 metros em vez de ir kilometros para o palacio. Ate parece que andou nas bebedeiras em Dili e nao quer que ninguem sabe... Dili eh pequeno e as verdades sabem-se como as mentiras tambem.

Se fosse eu tinha voltado para casa,estava mais perto.

Anónimo disse...

Verdade! Verdade!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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