quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Ataques "estão relacionados" e tinham "o mesmo propósito" - investigação UNMIT

Díli, 20 Fev (Lusa) - Os dois ataques contra o Presidente da República e o primeiro-ministro timorenses "estavam relacionados, foram feitos pelo mesmo grupo" e tinham "o mesmo propósito de eliminar os mais altos titulares", concluiu o primeiro relatório das Nações Unidas.

As conclusões preliminares constam de documentos confidenciais obtidos pela Agência Lusa, relativos ao trabalho do Departamento de Investigações Nacionais (NID) da Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT).

Os resultados da investigação do NID foram transmitidos à Procuradoria-geral da República.

Os documentos obtidos pela Lusa fornecem uma descrição detalhada dos ataques à residência de José Ramos-Horta, a leste de Díli, e à caravana de Xanana Gusmão, na estrada de Balíbar, nas montanhas a sul da capital.

Os acontecimentos descritos pelo NID iniciam-se às 06:05 do dia 11 de Fevereiro de 2008, com a chegada de dois veículos ao portão principal da residência do Presidente José Ramos-Horta.

"Um guarda das F-FDTL (Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste) estava nesse local a essa hora. Doze a treze pessoas em uniforme militar saíram dos carros. Todos tinham espingardas", apurou o NID.

Os atacantes usaram "provavelmente" armas do tipo M16, FLC e HK33.

"Três dos atacantes não tinham máscaras e prenderam o guarda das F-FDTL, que os reconheceu como sendo o alferes Francisco, Marcelo Caetano e um ex-elemento da PNTL (Polícia Nacional) com a alcunha de Susak", segundo os documentos obtidos pela Lusa.

"Sete elementos, incluindo o major Alfredo Reinado, entraram no jardim do Presidente pelo portão principal", continua o relatório.

"Todos estavam mascarados, excepto o major Alfredo Reinado", acrescenta o documento sobre o ataque contra José Ramos-Horta.

"Quatro deles, incluindo o major Reinado, dirigiram-se directamente às duas tendas no lado oposto ao do portão e outros três ficaram dentro mas à direita da entrada, atrás do muro".

Mais três elementos do grupo de Alfredo Reinado, "também mascarados, foram para o segundo portão", um pouco abaixo na mesma estrada, que o próprio José Ramos-Horta designou como Boulevard John Kennedy.

"Esses elementos entraram no recinto por esse lado mas não encontraram o Presidente e por isso voltaram ao portão e ficaram na estrada principal".

"Um carro das F-FDTL passava proveniente de Metinaro", indica o relatório do NID. Esta viatura e o seu condutor foram atingidos pelos três elementos que estavam do lado de dentro do muro, no portão principal da residência, o que provocou ferimentos no elemento das F-FDTL e o despiste do jipe na valeta.

O condutor das F-FDTL "ficou gravemente ferido".

"O Presidente José Ramos-Horta regressava da sua corrida junto à praia com os dois guardas das F-FDTL. No caminho, ouviram tiros e um civil (provavelmente australiano) disse-lhes que o Exército Australiano estava em exercícios na vizinhança", estabeleceu a investigação do NID.

"O Presidente e os seus guarda-costas prosseguiram para a residência. Quando se aproximaram, viram o carro das F-FDTL na valeta e uma motorizada do outro lado. Pensaram que era um acidente de trânsito. E continuaram na direcção da residência", indica o documento obtido pela Lusa.

"A cerca de 50 metros da residência, (o Presidente e os seus guardas) viram três atacantes de máscara na estrada. Um dos guarda-costas (que estava vestido à civil e sem armas) disse ao Presidente para se deitar no chão. Um dos atacantes deu dois tiros na direcção do Presidente, que o atingiram no lado direito do peito", diz a investigação do NID.

"O segundo guarda-costas (que estava vestido à civil mas armado com uma pistola de calibre 45) fez alguns disparos contra os atacantes mas eles fugiram a pé pelas colinas".

"Ao mesmo tempo, mais três atacantes que estavam de guarda ao soldado das F-FDTL no portão principal começaram a correr para as montanhas. Levaram a arma do soldado (uma M16)", segundo os testemunhos recolhidos pelo NID.

"Entretanto, dentro do recinto, Alfredo Reinado tentava encontrar o Presidente e estava próximo de uma das tendas. Naquela altura, onze elementos das F-FDTL estavam nos seus alojamentos".

Um elemento das F-FDTL, segundo o NID, foi acordado por um rapaz que o alertou para o ataque do major Alfredo Reinado.

Esse militar "levantou-se, pegou na sua metralhadora MINIME e saiu do seu quarto tentando evitar espaço aberto. Passou atrás das camaratas do lado direito do recinto (para quem olha do portão principal) e aproximou-se do espaço aberto diante das tendas".

O mesmo militar "viu o major Reinado e outro atacante (que tinha uma máscara). Disparou na direcção deles (com tiro automático). Atingiu o major Alfredo e o atacante mascarado ao mesmo tempo. Continuou protegido durante algum tempo até ter a certeza de que outros atacantes tinham fugido".

O miliitar aproximou-se então do major Reinado, "que estava de cara para o chão, virou o corpo e tirou-lhe a arma". Fez o mesmo ao segundo atacante "e tirou-lhe a arma e a máscara".

Este elemento do grupo de Reinado "foi mais tarde identificado como Leopoldino Mendonça Exposto pelo tenente-coronel João Miranda das F-FDTL e pelo general Maunana".

As armas do major Reinado (uma FLC) e de Leopoldino Mendonça Exposto (uma HK) foram apreendidas, mas "os oficiais das F-FDTL recusaram entregar (ao NID) a metralhadora MINIME que foi usada pelo soldado das F-FDTL para matar Alfredo e o seu companheiro".

Durante o inquérito, o NID obteve 13 depoimentos "e algumas testemunhas foram localizadas posteriormente e por isso será necessário falar com essas pessoas", diz o relatório sobre o ataque à residência de José Ramos-Horta.

Os documentos obtidos pela Lusa estão datados de 12 de Fevereiro de 2008.

PRM/JCS
Lusa/fim

1 comentário:

Anónimo disse...

NOTA PRELIMINAR

No texto lê-se:

"Os atacantes usaram "provavelmente" armas do tipo [...] FLC [...]"

"Esse militar "levantou-se, pegou na sua metralhadora MINIME [...]"

Trata-se das armas belgas FNC (Fabrique Nationale Carabine) - e não FLC - e Minimi - não Minime.

É o perigo de escrever de ouvido...

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Esse "civil" levou o PR a concluir que os tiros se deviam a "exercícios" do exército australiano. Assim, RH e seus seguranças aproximaram-se da sua casa sem receio, julgando que os tiros não representavam perigo algum.

Seria interessante interrogar esse "civil" e saber porque deu essa informação falsa ao PR.

É muito estranho um dos dois guarda-costas de RH não estar armado.

Segundo este relatório, Reinado ainda estava vivo quando RH foi atingido. Mas Reinado não morreu antes de RH ser alvejado?

Partindo do princípio de que Reinado ainda estava vivo quando isso aconteceu, como é que ele estava a arrombar portas dentro de casa e não ouviu os tiros lá fora?

"Onze [...] F-FDTL estavam nos seus alojamentos" a dormir??? E não acordaram com o tiroteio??? Foi preciso um rapaz ir acordar um deles? Tomaram Valium ou quê? E só um é que acordou?

Os assaltantes sobreviventes eram 10 a 11 e nem sequer ripostaram ao fogo de um único FFDTL??? Fugiram todos, abandonando o seu líder e sem dar um único tiro? E fugiram "a correr para as montanhas", apesar de terem "dois veículos"?

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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