quinta-feira, fevereiro 07, 2008

XANANA ERA UM BOM HOMEM MAS…

Blog Timor Lorosae Nação
Segunda-feira, 4 de Fevereiro de 2008

QUEM É QUEM NO “REINO DE TIMOR”
Ana Loro Metan

Nos comentários deste blogue estão a acontecer momentos de elevado exercício democrático que importa reter e de que tenho muita pena estarem “lá para trás” nos comentários, por serem textos e argumentações dignas de virem para a primeira página e assim dar-mos logo de caras com elas. Espero que na equipa da Fábrica haja quem avance com esse trabalhinho.

Sem querer meter-me nas argumentações de uns e de outros quero aqui deixar escrita uma “história” relacionada comigo, com o que sei e sinto sobre figuras "emblemáticas" do nosso pequeno país. Isto talvez explique um pouco sobre os motivos porque eu, alguns da Fábrica e outros em Timor são tão críticos de Xanana e de Horta apesar de nada terem em comum com a Fretilin.

Vamos lá, mas depois não me chamem nomes que não mereça. Estou a basear-me em factos e contra factos não há argumentos que os possam desvalorizar se simplesmente referirmos a verdade dos tais factos.

Sem revelar identidades, tirando o Sérgio Pinto e o António Veríssimo – que já conheço há quase quarenta anos e é um nosso bom amigo – refiro que temos alguns timorenses na nossa equipa e só dois pertenceram à Fretilin há muito tempo, todos os outros timorenses da equipa são simpatizantes de forças políticas que não a Fretilin e alguns até votam no PD e no PSD, só um elemento da nossa equipa votou CNRT, digo-o porque sei e isto não é segredo entre nós, passando a não o ser entre vós, gente que estimamos.

Os motivos porque se constata aqui que somos tão críticos de Xanana e de Horta estão relacionados com os seus comportamentos ao longo de décadas, no meu caso conheci-os em idades escolares, o que não influi no que virá a seguir.

O comportamento de José Ramos Horta ao longo da sua vida sempre deixou muito a desejar como pessoa transparente, modesta, simples e tudo o mais que quer aparentar. É, sempre foi, um pau de dois bicos. É alguém que se adapta perfeitamente a algo com que antigamente brincávamos: “Viver não custa, o que custa é saber viver!”

Ramos Horta tem tido um percurso brilhante, é verdade, tem até algumas qualidades e é inteligente, mas também é muito mais esperto que inteligente e considera que está entre “cegos” que quer governar – dominar - à sua imagem e semelhança não prescindindo das suas manias de grandeza.

Não é por absoluto mérito próprio que o Zé chegou onde chegou mas sim porque sempre soube “encostar-se” aos que o podem levar por caminhos que ele quer, sempre quis.

Foi assim em novo com personalidades do regime colonial, foi assim com personalidades do clero de então, foi e é assim agora – com a vantagem de ter ganho notoriedade durante a ocupação indonésia. Pendeu para ali, porque caso contrário hoje seria mais e melhor que Lopes da Cruz e era um indonésio de corpo e alma!
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Oportunista? Fica à vossa consideração…

Tem sido útil para a nossa luta? Claro! Por isso devemos estar-lhe agradecidos, mas não merece uma estátua nem tratos diferentes dos outros resistentes timorenses.

Uma coisa é certa: por via deste comportamento tão linear temos de estar sempre muito atentos ao que Horta faz, pois ele quer subir mais, muito mais. Agora só está em Timor porque durante a crise não o convidaram para um lugar de destaque na “passerelle” internacional, acharam mais importante ele ficar em Timor.

Ora, se acharam, é porque alguém lhe puxa os “cordelinhos”, para depois lhe dar o que ele quer.

Não acham estranho Horta propor o português Durão Barroso para Nobel da Paz? Acham que isso surgiu da cabeça de Horta?

Ai, ai, meus queridos jovens… de Timor, de Lisboa, de Coimbra e… do mundo!

Quanto a Alexandre Gusmão… Lá no fundo está um bom homem. Está por saber se ainda é vivo ou se Horta já o secou!

Xanana teve uns pais que o ensinaram a ser bom. Um bom timorense e um bom ser humano. Abençoados sejam.

Alexandre Gusmão nunca foi desmedidamente ambicioso. Por vezes até era excessivamente perdulário. Trapalhão sim, mas só em último caso, quando tinha mesmo de ser e daí não vinha grande mal ao mundo.

Teve razão Mário Carrascalão quando disse, há tempos, que “Xanana Gusmão é um bom homem" mas que estava a ser "rodeado por grandes malandros” – foi mais ou menos assim que o disse.

Pois, disse uma grande verdade. Uma verdade que actualmente ainda é mais verdade.
Xanana foi enredado de tal maneira que está a ser sempre usado e não se vai livrar disto. Não pode desistir porque vai ter de continuar, para sobreviver.

Podia pôr mais na escrita, mas isto já vai longo. Um dia.

Alkatiri sempre foi um “bicharoco”. Bom rapaz, podem crer, sempre muito empenhado naquilo que fazia e naquilo que agora faz. Ele já era comunista antes de o saber, por via da sua disciplina e capacidade organizativa.

Ao contrário de Ramos Horta, sempre teve orgulho em si próprio e nunca se pendurou em ninguém para ascender a esta ou aquela posição social-estatutária.

Alkatiri sempre foi introvertido, havendo quem o achasse antipático, vaidoso, por não perceber que ele era assim meio metido com os seus botões.

Hoje ainda tem muito disso.

Agora vão dizer: Ah, mas não fala sobre os males que o governo de Alkatiri fez.

Não, não vou, pelo menos agora. Mas se querem saber já há muito que digo que também ele foi rodeado de uns quantos oportunistas e gente menos séria que pela socapa adquiriram privilégios na vigência do seu governo. Esse é um problema grande da Fretilin que tenho a certeza que Alkatiri irá tratar, se é que não está já a fazê-lo.

Alkatiri é honesto, discreto, cerebral, existencialista, metódico e muito timorense.
Não concordo com ele? Não, não concordo com certos oportunistas da Fretilin!

Mas isso há em todos os partidos, sendo que muitas vezes não é fácil pô-los fora.

Ena, grande testamento! Desculpem mas vou ficar por aqui. Decididamente não tenho poder de síntese e parece que quero o blogue só para mim.

Hoje é domingo e já tenho saudades de uma missa em Timor, seguida de um passeio, e dos cheiros do nosso país, e das cores, e dos sorrisos das nossas gentes.

Muitos abraços para todos vós, desculpem a prosa longa.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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