sexta-feira, junho 23, 2006

Palavras para quê?...

(Enviado pela:)

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
MENSAGEM DE S.E. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO
POVO E AOS MEMBROS DA FRETILIN
Tradução da versão original em Tétum da Presidência da República

SUMÁRIO

Todos sabemos e reconhecemos que a Fretilin saiu vitoriosa em Agosto de 2001.

Se falarmos como deve ser, com o todo o devido respeito pelos Partidos da oposição, a maioria Freitlin foi quem fez a Constituição da RDTL, definindo o Estado de Direito Democrático.

Em Estado de Direito Democrático, de acordo com a Constituição, as Forças Armadas e Policiais devem ser apartidárias, não devem defender nenhum partido.

Ma, o que testemunhamos até hoje, a Policia está sob o controlo do Governo, e para dar de comer a mulher e filhos, não tem coragem para dizer ‘não’, quando recebe ordens do Ministro do Interior, e do próprio Primeiro Ministro.

No passado dia 2 de Junho, antes de reunião do Conselho Superior de Defesa e Segurança, Brigadeiro Taur Matam Ruak falou comigo e disse que disse ao Dr. Roque Rodrigues que ‘O vosso maior erro foi tentarem submeter as Falintil-FDTL ao partido.’

Naquele momento fiquei muito contente porque reencontrei-me com um Irmão que eu tinha perdido.

Os Serviços de Informação ou Inteligência, que se tornou Inteligência do Partido, para escutar a conversa do Presidente em Lospalos, e ‘sms’ imediatamente ao Primeiro Ministro; monitorar as actividades dos Partidos da oposição e também ‘sms’ para o Primeiro Ministro. Hoje em dia, porque não há trabalho a fazer, todos nós procuramos sobreviver. Se tivermos dinheiro, aproximamo-nos deles. Todos vêm que isso está a acontecer no nosso país.

Querido Povo martirizado

Por isso mesmo, depois do Congresso da Fretilin, no passado mês de Maio, muitos ou alguns delegados receberam armas. Os Administradores de Distrito e Sub-Distritos também receberam armas. Por isso mesmo vemos na televisão, ouvimos na rádio, lemos nos jornais, os políticos e os sábios que detém o controlo desde a ponta do ‘kuda talin’ (as rédeas do cavalo), dizem repetidamente que: ‘Se Mari sair, haverá derramamento de sangue!’, ‘Se Mari sair, Timor explode’, ‘Se Mari sair, haverá guerra!’.

Talvez seja Rogério o Comandante (para esta guerra). Os Membros do Comité Central viram-se Conselheiros Políticos, para a ideologia de ‘Ran Nakfakar’ (derramamento de sangue) e para a ideologia de ‘Timor se Explodir’. O Vice-Presidente do Parlamento também já gosta de falar de ‘guerra’. Já com muito dinheiro então tem que falar de ‘guerra’.

A História continue a evoluir, evolve, e são os actos de todos nós que escrevem a história. Eurico Guterres, conhecido por todos, acusado de ser assassino e outras acusações, apanhou prisão, e todos nós o acusamos porque em Timor-Leste somos todos santos, somos todos heróis de
Libertação, somos todos políticos governantes. Mas algo muito interessante!!!

Enquanto Eurico Guterres, no dia 26 de Maio passado, enviou um ‘sms’ pedindo aos nossos governantes para não fazer este povo sofrer tanto, os nossos governantes, alegremente, falam de ‘ran sei nakfakar’ (haverá derramamento de sangue)., ‘Timor sei rahun’ (Timor há-de explodir), ‘ita sei funu’ (nós vamos à guerra).

A História avança, silenciosamente, evolve, registando os nossos actos, os bons e os maus, os limpos e os sujos. Ninguém poderá inventar a história, somos nós mesmos é que estamos a fazer a nossa história, uma história triste que até nos envergonha, e faz com que o povo sofra.

Eles estavam a contar com as Flintil-FDTL. Mas com a pratica deles, sujaram também o bom nome das F-FDTL. E eu acredito que as Falintil-FDTL hoje, aguardam por mim para nós podermos conversar. Falintil-FDTL errou também, mas errou porque foi ouvir as pessoas mal intencionadas, foi ouvir pessoas que não amam o povo, foi ouvir as pessoas que tentam comprar a alma do povo.

Durante os tempos da guerra de resistência nós dizíamos sempre: Se não se pelas balas, arroz e supermi há-de matar, as balas só podem matar o corpo, mas rupia, arroz e supermi matam até a própria alma.

Hei-de vestir a farda de novo para de novo erguer o bom nome das Falintil-FDTL. Hei-de caminhar de novo com as Falintil, porque é Aswain do Povo (é o brio do Povo), mas que hoje chora, estão arrependidos, por não quererem escutar o seu Irmão mais velho, e escutaram só os esfomeados de Poder. Em 200 eu saí das FALINTIL porque reconheci que as FALINTIL já cumpriu a sua missão sagrada de libertar a Pátria, e os membros todos já adultos suficientemente, permitindo-me deixa-los sozinhos continuar a sua própria caminhada. Tal como CNRT, em 2001, decidimos dissolver, para que cada um procure o seu lugar nesta
nova caminhada de nação independente.

Mas eu estou pronto para caminhar de novo com todos eles e pedir desculpas ao Povo. Depois disso, desde o Brigadeiro General até os novos soldados, farão Juramento ao Povo, dizendo que, enquanto militares, submetemo-nos a Constituição, submetemo-nos as Leis, e nunca nos submetemos a um Partido, e asseguraremos a garantia à liberdade e segurança da população, e respeitaremos a Ordem Constitucional.

À PNTL, os esfomeados do poder tentaram dividir e por uns contra outros, também farão Juramento ao Povo, que só submeterão à Constituição, que defenderão a legalidade democrática e darão garantias à segurança interna para todo o povo e não se submeterão a um partido.

No Relatório da CAVR pede-se o FIM DA VIOLÊNCIA POLÍTICA. Para o que povo não sofrer jamais. Ainda recentemente em Janeiro que fui entregar este Relatório ao Secretário-Geral da ONU. Ainda mal se completaram seis meses, disparos de armas, incêndios, pessoas mortas em Dili.

A Comissão Internacional de Investigação irá chegar, para nos ajudar a todos, para vermos esta violência política que assolou a nosso país. Tudo quanto CAVR fez e transmitiu, para escutar o choro do povo, o que o povo pede, as exigências do povo, para os políticos não fazerem sofrer mais o povo, para evitar violência política, tudo isso, a liderança da Fretilin não quis ouvir, ignorou.

A liderança da Fretilin demonstrou que, este choro, não lhes diz respeito, este chorar, não é problema deles, mesmo que o povo sofra não é problema deles, nem que o povo morra, não é problema deles. O problema real para eles é como manter-se no Governo. A liderança da Fretilin, por causa da sua arrogância, só sabe é acusar outras pessoas e não são capazes de reconhecer que também erram. Para eles, não há erros, porque o que fazer tem por objectivo controlar o Governo.

Só devem pensar em guerra, para controlar o Governo, porque controlar o Governo da-lhes tudo, dinheiro, boa casa noutro país, negócios que lhes dá dinheiro e ao partido também, mas o partido para eles é o pequeno grupo que está a governar. O Povo está a sofrer em Dili, não foram ainda ver o Povo, nem foram ainda falar com o Povo. Só se preocupam é mobilizar pessoas do interior, para demostrar que toda a Fretilin rebaixa-se para eles, para lhes beijar nas mãos
e nos pés.

O Povo mobilizado para lhes apoiar, pobrezinhos, vêm de carro sem pagar, para gritar ‘Viva este, Viva aquele’, e depois de serem alimentados, regressam às suas casas, continuam a cavar a terra, querem mandar os filhos para a escola mas não têm meios, sem dinheiro, em casa continuam com fome.

Na mensagem de Fim do Ano de 2005, eu apelei aos jovens e a todo o povo, para não darem ouvidos aos políticos que clamam pela ‘violência’, que os empurram para a violência. Nós não queremos dar ouvidos uns aos outros, nós todos confiamos que os melhores detentores do saber deste mundo que, com as suas práticas, irão poder dar distribuir dinheiro, sujando a imagem da Fretilin, matando o bom nome da Fretilin e matando a história da Fretilin.

Por isso mesmo, enquanto Presidente da República, não aceito o resultado do Congresso do dia 17 – 19 de Maio passado, exijo à Comissão Política Nacional da Fretilin, a imediatamente organizar um Congresso Extraordinário para eleger, de acordo com a Lei no. 3/2004, sobre os Partidos Políticos, uma Direcção nova do Partido.

Quando digo, de acordo com a Lei, significa que mudar a eleição com o ‘levantar a mão’ dos Estatutos da Fretilin, para que a eleição da nova Direcção, seja por voto directo e secreto. Dou um prazo de uma semana, para que este Congresso Extraordinário seja feito, porque a actual Direcção da Fretilin é Ilegítima.

O Presidente da Fretilin, Lu-Olo, Vice-Presidente da Fretilin, Rogério Lobato e o Secretário-Geral da Fretilin, Dr. Mari Alkatiri, todos estes, seguindo a Lei dos Partidos Políticos, são ilegítimos.

O quê Estado de Direito Democrático? Artigo 1 da Constituição: “A República Democrática de Timor-Leste é um Estado de direito democrático...baseado no respeito pela dignidade da pessoa humana”.

Hoje em dia nós falamos de ‘guerra’, de ‘derramamento de sangue’, e esquecemos da tolerância política. Os governantes demostram que não tem respeito pela dignidade da pessoa humana,
consentindo violência e a destruição causando mortes e perdas de bens.

O Artigo 6 da Constituição diz: o Objectivo fundamental do Estado é: b) Garantir e promover os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático; alínea c) defender e garantir a democracia política. Nesta crise, só ouvimos ameaças de toda a ordem. Os governantes vão contribuindo para a violação destes objectivos do próprio Estado.

No artigo 29 da Constituição, diz-se que:
No.1 – A vida humana é inviolável;
no. 2 – O Estado reconhece e garante o direito à vida.

O que constatamos? Permite-se que as pessoas disparam contra uns aos outros, pessoas são mortas, o povo sofre. Os governantes ajudam a violar a obrigação do Estado, não cumprem o seu dever de garantir a cada cidadão o direito à vida.

É tudo isso que, colectivamente dão sentido ao Estado de direito democrático’.

O Povo agora enfrenta um problema muito sério: há armas nas mãos dos civis, há disparos de armas em muitos lugares. E também quero informar que as Forças de Intervenção apreenderam já muitas armas que não são da PNTL nem das F-FDTL.

Aqueles que controlam a Fretilin, ultimamente, gostam de gritar assim: vigilância máxima. Chegou-me o momento de eu pedir ao povo para fazerem vigilância séria nos Distritos e Subdistritos, sobre aqueles que tem armas e distribuíram armas aos delegados e para outras pessoas.

Se sabem e vem pessoas com armas, mas que já as esconderam, informem as Forças Internacionais para eles apreenderem, se estas pessoas não quiserem entregar de livre vontade.

Se entregarem imediatamente, podem regressar as suas casas. Se forem teimosos, escondem ou
enterraram as armas, hão-de responder no Tribunal, sobre com que missão lhes foi dada a arma, e se esconderam para fim, quem será o alvo para matar.

Finalmente, apelo a todos pela calma porque neste momento difícil temos que reflectir profundamente para que esta violência e destruição não se repita no nosso país!


.

1 comentário:

Anónimo disse...

Em Setembro de 1999 julgava que estava a apoiar um povo que queria ter um Estado independente e democrático. Afinal, se for a julgar pelo que os meios de comunicação me trazem, incluindo as palavras do Presidente, o povo timorense queria a independência da Indonésia, mas não a quer da Austrália; e quer um Estado de natureza religiosa. Tudo é autodeterminação, bem feitas as contas. Mas tenho pena.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.