sexta-feira, julho 07, 2006

A situação em Timor é alarmante, no mínimo.

Tradução da Margarida:

De um leitor atento:

Apesar de a democracia estar a ser testada em Timor, acredito que Timor ultrapassará este episódio traumático de crise política. Ironicamente eleições e democracia serão a única solução para a questão.

Se as alegações contra Mari não se transformarem em acusação então haverá uns tantos indivíduos em Timor Leste que ficarão sob escrutínio. Talvez ele venha a ser outra vez Primeiro-Ministro se a FRETILIN outra vez lhe der a confiança.

Xanana e Horta tomaram algumas decisões obscuras e arriscadas. Em vez de se focarem no desarmamento e na contenção dos soldados rebeldes e no aquartelamento das FFDTL, focaram-se na retirada dum Primeiro-Ministro legitimo. Pensava-se que com a retirada do Primeiro-Ministro os deslocados regressariam a casa, e as reconstruíam mas isso não aconteceu porque a situação de segurança está em dúvida porque não se sabe ainda de muitas armas.

Em vez de resolverem a crise de segurança Xanana e Horta através das suas decisões bruscas criaram uma crise política complexa que parece que só uma eleição resolverá.

A não ser que Xanana e Horta possam resolver rapidamente a crise de segurança, mesmo assim a solução está longe do fim. Estão a fazer-se avanços com a entrega de armas pelas “forças rebeldes” mas se não se encontrarem todas as armas ou se não há confiança que todas as armas foram entregues, então o clima de medo sentido pelos deslocados em Dili continuará e veremos muita gente permanecer nos campos por algum tempo.

A criação dum governo interino antes de eventuais eleições em 2007 é importante para o desenvolvimento de Timor-Leste. Qualquer razão ou tentativa para retirar essa possibilidade de eleições em 2007 criará uma maior dúvida na capacidade do Presidente em estabelecer segurança, isto é potencialmente causador de estragos porque uma das críticas ao Governo sob a liderança de Mari foi a sua inabilidade em providenciar segurança.

Em termos de críticas ao Governo e reflectindo na resignação forçada de Alkatiri, há um número infindável de inconsistências e alegações.

Alegação 1: o Governo falhou na sua obrigação de providenciar segurança = pedido de resignação do Primeiro-Ministro

Alegação 2: o Primeiro-Ministro pediu a intervenção da FFDTL em 28 Abril sem ter consultado o Presidente (resultou na morte de 5 manifestantes) = (i) Inconstitucional o Primeiro-Ministro devia ser removido, o Governo devia ser removido (ii) a insistência do Alfredo que o Primeiro-Ministro deve ser considerado “Criminoso” por causa de 5 mortes (Alfredo reclama que o Primeiro-Ministro deu ordens explícitas a TC Lere da FFDTL para quebrar qualquer forma de insurgência, que resultou na morte de cinco manifestantes em Tasi Tolu).

Alegação 3: FFDTL matou 60 pessoas, reclamada por Tara e Salsinha, insubstanciado = o Primeiro-Ministro devia resignar ou ser removido para enfrentar o tribunal.

Alegação 4: o Primeiro-Ministro ordenou armar civis = o Primeiro-Ministro devia resignar.

Alegação 5: o Primeiro-Ministro falhou em evitar que o seu antigo ministro do interior, Rogério Lobato, armasse e dirigisse um esquadrão clandestino de ataque com o objectivo de reforçar a "segurança" antes dum congresso nacional: Paulo Martins e Rai Los alegaram e Horta secundou = Mari Alkatiri é provavelmente culpado de crimes contra o Estado mas qualquer sentença será comutada pelo parlamento, de acordo com José Ramos Horta.

Todas as alegações e subsequentes exigências incluíram ameaças de demitir o Governo e de dissolver o Parlamento pelo Presidente.
Xanana e Horta não trabalharam efectivamente para evitar a crise. Antes dos confrontos em Fatu Ahi e Dili, Xanana e Horta encontraram-se com Alfredo e isso foi entendido que Alfredo devia continuar a providenciar segurança em Aileu. Foi também publicamente proclamado por Xanana que ele estava em contacto constante com Salsinha e Alfredo, e mais tarde todos os rebeldes chamaram a Xanana o seu “Comandante Supremo”, não aderindo a Taur Matan Ruak ou ao Governo.

Os discursos de Xanana também foram controversos. Num discurso o Presidente fez conotações inflamatórias acerca dos actos dos Timorenses dos distritos do leste e do oeste durante a luta contra a ocupação que resultou no incêndio do mercado de Taibessi.

Xanana então enviou um video tape da reportagem da four corners e uma carta a requerer a resignação do Primeiro-Ministro que não obteve. Num outro encontro, outra vez o Presidente não obteve a resignação do Primeiro-Ministro, um pedido que não tinha base legal além do video tape. No fim deste triste episódio para o Presidente talvez levado pela frustração fez um discurso em 22 de Junho de 2006 atacando a FRETILIN, a sua liderança e fora do contexto da crise corrente. Pareceu que o pedido para a remoção era mais do interesse pessoal do que do interesse do país. O Presidente disse de chancas ao Primeiro-Ministro se não resignar então resigno eu. O “povo” incluindo o Major Tara e Railos, Fernando Lasama e o PD com os seus 7 lugares no parlamento e poucos milhares de manifestantes com ar juvenil juntaram-se atrás do Presidente pedindo a remoção imediata do Primeiro-Ministro como se isso fosse a solução para a crise de segurança.

O Primeiro-Ministro resignou para que o Presidente não resignasse. O Presidente e Horta estavam satisfeitos que a situação de segurança ia melhorar. Contudo as exigências continuaram ainda, não satisfeitos com a cabeça do Primeiro-Ministro eles queriam as chaves do Governo e do Parlamento. Fazer-se ameaças contra o Parlamento está na Constituição? Certamente que não.

Uma data importante no seguimento da remoção do Primeiro-Ministro foi 27 Junho quando os apoiantes da FRETILIN se juntaram em massa em Metinaro. Na Quarta-feira 28 Junho, os apoiantes do Presidente que “pacificamente", mais cedo durante a semana protestaram ao lado do Presidente foram numa fúria através de Dili queimando casas de militantes da FRETILIN, atacando refugiados inocentes, e tentaram queimar as instalações da RTTL. O Presidente falhou no controlo dos seus próprios apoiantes. No dia seguinte a turba sairia de Dili, aonde entrou a FRETILIN. Em dois dias de protestos pacíficos, não houve ataques, nem incêndios nem violência mesmo quando confrontados por provocadores apoiantes do Presidente.

Bem, os protestos acabaram, as questões políticas estão agora a ser resolvidas através de portas fechadas.

Uma eleição espreita.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.