sábado, março 03, 2007

Censura, Senhor Presidente? Tão preocupado que andava com a liberdade de imprensa...

Diário Digital/Lusa
01-03-2007 12:58:20

Cobertura jornalística do caso Reinado preocupa Presidência

A cobertura do cerco a Alfredo Reinado levantou preocupações da Presidência da República e do governo timorenses, em torno do conteúdo das peças jornalísticas e da presença de repórteres na área de Same (Sul do país).

O major Alfredo Reinado, evadido de uma prisão desde 30 de Agosto, está há três dias cercado por tropas australianas das Forças de Estabilização Internacionais (ISF) em Same.

Na manhã de quarta-feira, o Presidente Xanana Gusmão convidou representantes de todos os órgãos de comunicação social timorenses para um encontro «privado» no Palácio das Cinzas, confirmou a Lusa junto de vários participantes.

Xanana Gusmão «não pediu para não cobrirmos o cerco a Alfredo Reinado mas apelou ao bom-senso das notícias e à colaboração dos jornalistas por razões de Estado», declarou à Lusa um dos jornalistas presentes.

«O Presidente pediu-nos para não aumentarmos a importância das coisas e ser cautelosos no tratamento dos assuntos», acrescentou este jornalista timorense.

À semelhança dos outros jornalistas e editores contactados pela Lusa, este participante da reunião no Palácio das Cinzas pediu o anonimato e falou do assunto com visível nervosismo.
Fonte oficial da Presidência confirmou à Lusa a existência do encontro com os órgãos de informação, «que se destinou apenas a apelar aos jornalistas para não ´sensacionalizar`», numa altura delicada e em que se aproximam eleições.

A consequência mais notória do apelo de Xanana Gusmão foi o protelamento da transmissão de uma reportagem da TVTL que incluía uma entrevista exclusiva a Alfredo Reinado feita pouco antes das ISF montarem o cerco.

As imagens foram recolhidas segunda-feira de manhã em Same e chegaram à sede da TVTL a meio da tarde, trazidas pela equipa de reportagem.

A reportagem radiofónica passou na antena pública timorense horas depois, mas não houve repetição terça- feira na sequência do apelo do Presidente Xanana Gusmão.

Quanto às imagens, não foram postas no ar até ao noticiário da noite de terça-feira da TVTL, onde passou uma peça de noventa segundos com a reportagem em Same, incluindo palavras de Alfredo Reinado.

Conforme a Lusa constatou directamente, o interesse da RTP pelo exclusivo da TVTL, terça-feira à tarde, teve como resposta do presidente do Conselho de Administração da televisão timorense tratarem-se de «imagens recolhidas por um operador da TVTL que foi a Same como freelance».

Expedito Dias Ximenes acrescentou, na ocasião, que a mesma equipa de reportagem tinha até levado para Same «uma câmara que não é da TVTL».

A Lusa tentou posteriormente, sem sucesso, obter esclarecimentos junto de Expedito Dias Ximenes e da equipa de reportagem.

Foi, no entanto, possível apurar junto de vários jornalistas da redacção da TVTL, onde o constrangimento era patente, que o alegado «freelance» é um respeitado jornalista da casa que ocupa lugares de chefia tanto na redacção como no próprio Conselho de Administração, como vogal.

A equipa de reportagem da TVTL em Same esteve entre o grupo de cinco repórteres timorenses e um correspondente indonésio retidos ao fim da manhã de segunda-feira, durante cerca de duas horas, pelas ISF à saída de Same.

Os jornalistas foram «bem tratados e retidos apenas para identificação», disse um deles à Lusa, sempre sob anonimato.

A partir desse momento, nenhum outro jornalista foi autorizado a sair ou a entrar em Same, como aconteceu às equipas da Lusa e da RTP que tentaram entrar na localidade segunda-feira à noite e terça-feira de manhã.

Um posto de controlo australiano à entrada de Same impede qualquer movimento de pessoas para dentro ou para fora da vila.

Questionado hoje pela Lusa sobre a origem da regra de exclusão dos jornalistas, o brigadeiro Mal Rerden explicou que «não houve nenhuma ordem relativa aos jornalistas».

«Houve apenas um pedido do Governo de Timor-Leste para nós assegurarmos que as pessoas não pudessem entrar na área de Same, todas as pessoas, para reduzir o risco de pôr em risco a segurança e protecção de qualquer cidadão nesta situação difícil».

«Como sempre, nestas circunstâncias, a primeira preocupação é a segurança e protecção dos cidadãos de Timor-Leste», acrescentou o brigadeiro Rerden.

Uma fonte do gabinete do primeiro-ministro José Ramos-Horta explicou à Lusa que «a zona de exclusão não é apenas para jornalistas, que aliás não existiam ali, mas para todos os não residentes que ali vão ou estavam».

A exclusão abrange «especialmente agências da ONU e organizações não-governamentais em operação na área, que aliás já abandonaram».

«Não é possível ao governo garantir a segurança pessoal e a acção operacional das forças no terreno. Teve de o dizer publicamente», sublinha a nota do gabinete do primeiro-ministro.

2 comentários:

Anónimo disse...

O TAL JORNALISTA "FREELANCE" EH O NELO ISAAC, SOBRINHO DE LEANDRO ISAAC. O NELO FOI VISTO A FILMAR EM SAME NO DIA A QUE SE REFERE A NOTICIA.

Anónimo disse...

Xanana, o todo-poderoso, agora interfere na liberdade de informação e condiciona a comunicação social ao ponto de o director da televisão ter que mentir...

Bravo! estamos no bom caminho!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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