sábado, junho 24, 2006

Obrigado, Margarida.

Tradução:

Xanana pede que o povo escolha entre ele e a FRETILIN
Hoje a Comissão Política Nacional da FRETILIN com 15 membros reuniu-se de manhã no Palácio do Governo em Dili para analisar a resposta ao pedido de anteontem e de ontem do Presidente Gusmão para o Primeiro-Ministro resignar. Um encontro marcado para a tarde, entre o Dr Alkatiri and Lu-Olo da FRETILIN e o Presidente Gusmão, foi adiado até amanhã de manhã, a pedido do Presidente, para lhe dar mais tempo para considerar a proposta da FRETILIN. Esta proposta adoptou ideias avançadas na véspera pelo Ministro dos Estrangeiros Horta de criar dois cargos de vice-primeiro-ministro, mas para Mari Alkatiri continuar como Primeiro-Ministro, respondendo às preocupações sobre a manutenção dum governo competente.

Houve duas conferências de imprensa – uma da FRETILIN às 4pm, e uma do Presidente Gusmão às 5pm, onde o presidente falou durante 90 minutes no que foi um discurso à nação. O discurso mudou completamente a agenda para a reunião dos três prevista para amanhã de manhã e provavelmente cancelou-a.

A visão da FRETILIN

A NPC da FRETILIN deu uma Conferência de Imprensa às 4pm na sua sede em Comoro, onde o vice-Secretário-geral José Reis, Secretário de Estado da Região I, e Filomeno Aleixo, apresentaram a visão alargada da FRETILIN sobre a crise, mas não a proposta negocial apresentada ao Presidente.

A declaração da FRETILIN foi um forte apoio ao Primeiro Ministro Alkatiri um forte apelo ao Presidente Gusmão para fazer mais para unir a nação e apoiar o governo.

A declaração começou lembrando que Mari Alkatiri é o Primeiro Ministro porque foi eleito Secretário-geral da FRETILIN e porque a FRETILIN ganhou a maioria dos votos nas eleições de 2001.

Pediu a todos os órgãos de soberania de Timor-Leste para suportarem a soberania de Timor-Leste e a sua Constituição e para defender a dignidade do povo de Timor-Leste, o 'povo Maubere'.

Declarou que todos os órgãos de soberania – o Presidente, o Parlamento, o Governo e os Tribunais – devem resolver a crise de modo constitucional.

A FRETILIN pediu ao Presidente sendo o Comandante Supremo para garantir a unidade e a estabilidade da nação através duma solução constitucional que salvaguarde o fundamental das instituições democráticas de Timor-Leste.

A FRETILIN disse que contribuiria para a solução pedindo ao Presidente para trabalhar com eles e a todos os elementos da República Democrática de Timor-Leste e a todas as forces politicas do país para:

- desarmar todos os grupos civis que têm armas

- suspender as demonstrações

- parar todos os tipos de violência

. darem apoio político ao governo para prosseguir todas as actividades institucionais para garantir que as eleições de 2007 tenham lugar.

A FRETILIN rejeita todas as alegações que foram distribuídas armas aos delegados do seu Congresso, ou dadas a membros da FRETILIN.

A FRETILIN não aceita perseguição politica aos seus activistas como aconteceu debaixo do regime Indonésio e diz que Rogério Lobato está a ser perseguido, apesar de todos os sacrifícios da sua família, incluindo a recente morte por fogo de cinco dos seus familiares. A FRETILIN, com todo o povo, pede a todas as instituições do Estado para não misturarem processos legais e políticos, como aconteceu debaixo do regime Indonésio.

Notou que há vários grupos de civis armados, mas que nos media só se ouve falar do grupo de Rai'los.

A FRETILIN está empenhada completamente com a equipa de investigação internacional.

Solicita a todos os membros para descartarem rumores que divide o povo de Timor-Leste e pode destruir a nação que todos construímos com tanto sangue e ossos. Pede ao povo para se manter calmo em todos os Distritos, Sub-Distritos, Sucos e aldeias.

A visão do Presidente Xanana Gusmão

Na sua conferência de imprensa, o Presidente Gusmão fez um longo discurso acerca da FRETILIN e da sua história, falando como um sábio avô a ralhar com uma criança mal-criada e denunciando a criança mal-criada ao mundo. Cobriu muitos pontos da história da FRETILIN, mas os pontos fortes foram histórias de líderes da FRETILIN lutando uns contra outros pelo poder na Guerra de libertação, e lutando por poder e por dinheiro agora. Disse que a eleição no Congresso da FRETILIN para os cargos de Secretário-Geral e de Presidente com o braço no ar, foi ilegal e portanto anti-democrática. Acusou Mari Alkatiri de comprar votos no Congresso. Deu à FRETILIN uma semana para convocar um Congresso Extraordinário para eleger como deve ser os líderes. Isto muda o campo do pedido de resignação por causa da insustentável acusação de distribuição de armas contra o Primeiro-Ministro, e transforma-o num pedido ao povo para escolher entre ele a personificação da independência nacional e a FRETILIN.

No ultimo parágrafo do seu discurso o Presidente Gusmão disse que se a FRETILIN não fizesse Mari Alkitiri assumir a responsabilidade pela enorme crise do país, então amanhã ele enviaria a sua carta de resignação para o parlamento. Isto contradiz a exigência do Congresso Extraordinário da FRETILIN dentro de uma semana. Depois disse com azedume, que se ele resignar então Lu-Olo será presidente e assinará as leis que ele e a FRETILIN não respeitarão depois. Sarcásticamente disse que o governo iria reparar os buracos das ruas de Dili e que os Membros do Parlamento iriam continuar a votar para alimentar as suas próprias famílias.

Este discurso é em muitas maneiras uma actuação trágica de um líder a destruir as raízes da sua própria liderança. Políticamente é uma escalada maior no combate entre o Presidente e a FRETILIN, no seguimento do falhanço do Presidente em obter a demissão do Primeiro-Ministro nos últimos dois dias.

A FRETILIN agora tem de se reagrupar e focalizar-se nesta nova linha de criticismo e ataque e novo nível de exigência, e esboçar uma resposta que envolva os seus membros num processo com suporte dos ganhos fundamentais da Constituição e prática democrática. O calendário da reunião do Gabinete e da reunião do Comité Central da FRETILIN e as conversas previstas com o Presidente serão ajustadas, mas providenciam algum processo para a resposta colectiva e o falar duro que o discurso do Presidente requer. A semana de data limite para o Congresso Extraordinário da FRETILIN fornece um calendário.

Este finca-pé é susceptível de criar ainda mais medo na população, que tem sido re-assegurada nos recentes dias a começar lentamente a regressar dos campos de desalojados para as suas casas. Este é um povo a quem não se deve nem se pode pedir para escolherem entre eles e eles – Xanana ou FRETILIN. Depois do Presidente ter tão publicamente rejeitado a FRETILIN, há uma necessidade real de encontrar um modo para a FRETILIN se engajar e de certo modo se unir com Xanana outra vez, um modo que suporte os valores básicos da luta de libertação nacional nesta fase de construção nacional.

Peter Murphy

1 comentário:

Anónimo disse...

Xanana Gusmão está preocupado, não quer a FRETILIN: quer o poder absoluto!

A FRETILIN não tem estado a facilitar as coisas a australianos e aos poucos* timorenses que se manifestam contra Mari Alkatiri.

Há, no entanto, aqui vários problemas.

Primeiro acharam que seria massacrando Mari Alkatiri que conseguiriam alterar as coisas. Agora perceberam que Mari Alkatiri não está agarrado ao Poder, mas sim agarrado à Constituição da República.

E perceberam também que a FRETILIN sabe continuar a respeitar a Constituição da República e que o fará sempre - contrariando a vontade de Xanana Gusmão e seus pares.

Surge o independente ministro José Ramos Horta, não surpreendentemente, a posicionar-se para reentrar na FRETILIN, para tomar o poder por dentro - quiçá para aceder a primeiro-ministro sem ser por iniciativa presidencial -, controlar o partido e mudar o rumo do mesmo mais para os interesses de Camberra e de Washington -, e até já "autorizou" o seu embaixador americano a regressar a Dili.

Xanana Gusmão cometeu outro erro estratégico no processo do assalto ao poder- e aqui não leva aspas pois é mesmo de assalto ao poder que se trata em Timor -, na sua provincial declaração deixou escapar da primeira à última linha que o que se pretende é a decapitação da FRETILIN e a sua anulação política e partidária.

Xanana Gusmão, que esteve e está, desde a primeira hora, numa política de enfraquecimento da FRETILIN - criando** partidos políticos e estímulando a sua acção -, tem agora o maior desafio da sua estratégia comum a José Ramos Horta e aos amigos americanos e australianos, que é o de provocar o declínio do maior partido timorense.

A execução do plano de aniquilação do partido político FRETILIN ainda está em marcha.

O passo seguinte é o que está a acontecer.

A FRETILIN percebeu desde o início a estratégia de Xanana Gusmão. Conduziu as coisas até a ponto em que estamos.

Xanana Gusmão, provinciano que é, mal preparado e mal aconselhado, perdeu as estribeiras e veio a público gritar brejeiramente, em tom e conteúdo bulhento, contra a FRETILIN e pessoas às quais o país deve muito, como é o caso do comandante Lu'olo.

O plano seguinte também já está em marcha.

Xanana Gusmão, ontem de forma burlesca, dirigiu-se aos seus homens - aqueles que ele tem controlado desde a primeira hora e protegido -, em pleno centro da cidade, protegidos pelos militares australianos***, para lhes agradecer a dedicação, usando as suas palavras, a "esta guerra".

Agora a hora é de passar à destruição da FRETILIN.
As tropas pseudo-políticas (a quem Xanana vai ter da pagar as promessas, pois caso contrário ...), de Xanana Gusmão, com Fernando de Araújo, Leandro Isaac, Manuel Tilman, Mário Carrascalão, Ângela Carrascalão, Lúcia Lobato, Joe Gonçalves, entre tantos outros pela primeira vez, nestes últimos anos podem andar a gritar vitória com os manifestantes pelas ruas de Díli.

Provocar a FRETILIN para uma reacção violenta ao circo montado em seu torno é o objectivo dos manifestantes, coordenados com a chefia máxima, de forma a provocar o governo de iniciativa presidencial. De outra forma, na forma actual, será a FRETILIN a decidir quem e como governa. A Constituição está viva e a FRETLIN, ao contrário do Presidente da República continua a ser o único pilar que sustém a Democracia, a Soberania ea Unidade Nacional.

Xanana Gusmão e José Ramos Horta sabem-no e estão a desesperar, estão emparedados.

A ofensiva seguinte está aí, os desertores passaram a Frente Nacional - com o sorriso de Xanana Gusmão - e já tomaram várias medidas, como a do encerrar o Parlamento Nacional e tomar conta dos movimentos na cidade de Dili.

* Poucos manifestantes, duas a três mil pessoas não têm "quórum" para a representação de um Povo Soberano e Democrata;

** sobre a consituição do PD e do PSD todos sabem dentro e fóra destes partidos como se processou o seu nascimento nos bastidores e o contributo que o "fotógrafo" deu ao surgir nos comícios como que por acaso;

***A entrada dos militares australianos era fundamental. De tal forma, que José Ramos Horta, com o "cc" de Xanana Gusmão, assinou o acordo, à revelia do governo ao qual pertence, dotando de poderes totais as tropas australianas - há sempre um preço a pagar nestas coisas.
Sem as tropas inoperantes, mas a comandar internamente, Xanana Gusmão e José Ramos Horta não tinham conseguido levar o processo até ao ponto em que está.

Reparem como os manifestantes foram introduzidos na cidade com o apoio das tropas e a sua segurança é assegurada pelos militares. reparem como Xanana Gusmão não respeita os seus pares e "deixa" promover provocações em caravana automóvel a casa do primeiro-ministro e em frente às instalações da FRETILIN.

Enquanto isso, nas estradas do país, as tropas australianas estão a bloquear os militantes da FRETILIN que organizados por si e em grupos pretendem dirigir-se a Dili.

Conclusão prévia:

Mesmo sem Mari a dirigir o Governo, vitimado por um golpe de Estado presidencial, a FRETILIN continuará a ser o partido que formou o governo em funções, com ou sem Mari Alkatiri.

Sabemos, todos nós ,que as coisas não ficam por aqui.

Xanana Gusmão, os amigos e a Austrália não estão satisfeitos - não esquecendo os USA, que já manifestaram todo o apoio à Austrália nas suas decisões para com Timor-Leste -, daí que se esperem mais ofensivas contra a pacificidade da FRETILIN, hoje, amanhã, mas não para sempre - desde que José Ramos Horta consiga entrar lá para dentro.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.