sábado, junho 24, 2006

Obrigado, Margarida.

Tradução:

Bloqueados pelos militares Australianos
Australia – guardadores da paz ou predadores de petróleo
Kalinga Seneviratne , Jun 23, 2006 @ 02:36 GMT


Em 2005, foi relatado que o governo de Alkatiri tinha iniciado negociações com a Petro China para construir uma refinaria de petróleo em Timor-Leste, o que minaria planos Australianos para construir uma refinaria na cidade de Darwin no norte Australiano para refinar todo o petróleo do Mar de Timor dos dois lados da fronteira. O presidente de Timor-Leste Xanana Gusmão estava para visitar a China este mês para consolidar o negócio, mas isso foi bloqueado pelos militares Australianos.

SYDNEY, Jun 22 (IPS) – Uma rebelião de dois meses por soldados despedidos e oficiais da polícia desertores de Timor-Leste, um dos mais jovens e pobres países, resultou na chegada duma força de “guardadores da paz” liderada por Australianos na sua capital Dili, e um empurrão para “mudança de regime” suportado pelos media.

O Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, um muçulmano que lidera um país predominantemente Católico, é o líder do partido Fretilin que lutou pela independência da Indonésia durante mais de duas décadas, e que teve uma vitória em todo o país nas primeiras eleições legislativas em 2001.

Nas reportagens dos media Australianos sobre o assunto, que por sua vez influenciam as reportagens regionais e internacionais, a crise em Timor-Leste é pintada como uma luta interna pelo poder onde a um "impopular" Primeiro-Ministro se opõe um movimento popular. As palavras "petróleo" e "gás" raramente são mencionadas nessas reportagens, apesar disso estar no coração da intervenção Australiana.

A história da independência de Timor-Leste é também a história da política Australiana de flip-flops e tentativas para pôr as mãos nos largos depósitos de petróleo nos mares circundantes, agora valorizados em mais de 30 biliões de US dollars. Contudo, a Austrália pintou sempre o seu apoio à independência de Timor-Leste como uma missão de "direitos humanos " ou "humanitária". Mesmo hoje, os medias que relatam daqui reflectem isso.

Falando recentemente na ABC Radio, James Dunn um conselheiro da Missão da ONU em Timor-Leste (UNMET) em 1999, descreveu Alkatiri como um "politico que tinha relações próximas com o povo " e acrescentou que ele é também um trabalhador eficiente e um bom burocrata, mas não uma "pessoa fácil para negociar ".

A sua postura dura nas negociações com a Austrália sobre o direito às reservas de petróleo e gás nos últimos 5 anos, ganhou-lhe o ódio do governo Australiano – que tentou empurrar o seu pobre vizinho a submeter-se às ambições de Canberra de controlo da exploração e da exploração desses recursos naturais.

Rob Wesley-Smith, porta-voz de Free East Timor acredita que Alkatiri tem tendências ditatoriais e que a Fretilin se tornou corrupta, mas, acusa o governo Australiano do Primeiro-ministro John Howard por precipitar a crise ao "advogar desde 1999 todo o rendimento do petróleo de cerca de 1.5 bilão de dollars para a Austrália".

"Apesar desta área estar a ser disputada, quase de certeza sob as regra da UNCLOS (Comissão da ONU para a Lei do Mar) ela pertence a Timor-Leste" disse à IPS, acrescentando que as imagens de televisão de tropas Australianas a chegarem a Dili onde ficaram a observar enquanto continuavam as pilhagens e os incêndios fê-lo pensar, se isso não fazia parte duma maquinação de Canberra para declarar Timor-Leste um estado falhado "para que possam controlar o roubo do (petróleo) do Mar de Timor ".

Wesley-Smith apontou que enquanto a Austrália tirou quase 1.5 biliões em royalties dos disputados campos de petróleo no mar de Timor desde 1999, eles devolveram aproximadamente 300 milhões de dollars em ajuda no mesmo período de tempo, fazendo-os assim dependentes.

A académica Australiana Helen Hill, autora de “Espicaçando o Nacionalismo em Timor-Leste ", arguiu num recente artigo num jornal que a razão do ódio contra Alkatiri por instituições de Canberra é porque ao mesmo tempo que é o único líder de Timor-Leste que enfrenta as tácticas abusivas do governo Australiano, está também a construir ligações com países Asiáticos como a China e Malásia, Cuba, Brasil e antigas potências coloniais de Portugal para ajudar a diversificar os laços económicos de Timor-Leste.

"Ele é um nacionalista económico" anota Hill. "Ele tem esperança que uma companhia estatal petrolífera assistida pela China, Malásia e Brasil permitirá a Timor beneficiar do seu próprio petróleo e gás, em adição aos rendimentos que terá com as áreas partilhadas com a Austrália"..

Alkatiri também se pronunciou contra a privatização da electricidade e conseguiu negociar um armazém farmacêutico de "genéricos ", apesar da oposição do Banco Mundial. Também se recusou a pedir ajuda condicional do Banco Mundial e do FMI, convidou médicos Cubanos para trabalharem nos centros de saúde rurais e a instalar uma nova escola médica, aboliu as propinas nas escolas primárias e introduziu refeições gratuitas para as crianças. Tudo isto e o facto que foi educado e passou 24 anos no exílio no Marxista Moçambique têm sido citados por opositores na Austrália como marcas de um líder comunista.

Em contraste, o líder dos rebeldes Major Alfredo Reinado, um antigo exilado na Austrália acredita-se ter sido treinado na academia de defesa nacional em Canberra, e o candidato favorito da Austrália para o cargo de primeiro-ministro, o ministro dos Estrangeiros Ramos Horta instalou o programa de formação diplomática em Sydney durante os seus anos de exílio na Austrália.

Falando à ABC-TV esta semana, Horta arguía que Timor-Leste não pode "suportar esta crescente perda de credibilidade do governo e a imagem pobre do país ", por isso Alkatiri devia sair no interesse do seu próprio partido. Descartando alegações feitas no mesmo programa que ele tinha armado membros da Fretilin para eliminar os seus opositores, Alkatiri disse que estava sob pressão para se demitir e que não o faria.

A campanha actual contra Alkatiri tem origem nas políticas flip-flops de sucessivos governos Australianos sobre Timor-Leste desde 1975 atribuídas ao seu desejo de controlar os recursos de petróleo e gás do Timor Gap.

Depois de ter apoiado a anexação Indonésia de 1975, em 1989 a Austrália e a Indonésia assinaram o Timor Gap Treaty (TGT) para partilhar os recursos na área. A Autoridade Provisória da ONU em Timor-Leste declarou o TGT ilegal e em 2001, a Austrália assinou um MOU com a Autoridade da ONU UN para poder continuar a exploração do petróleo na região.

Mas, imediatamente antes de Timor-Leste se tornar um Estado independente em 2002, o governo de Howard anunciou que não mais se submeteria às regras das fronteiras marítimas do Tribunal Internacional um acto que Alkatiri descreveu na altura como “inamistoso” e para “atar as mãos” ao futuro governo.

Desde então, Alkatiri tem trocado uma série de argumentos quentes com o ministro dos estrangeiros da Austrália Alexander Downer sobre o assunto. Depois de azedas negociações, em Janeiro Alkatiri conseguiu que Canberra concordasse com uma partilha de 90-10 a favor de Timor-Leste, dos procedentes do campo Greater Sunrise field. Isso depois de concordar não seguir durante pelo menos 40 anos com a queixa de Timor-Leste sobre o mar disputado debaixo da convenção UNCLOS, altura em que a maioria do petróleo e do gás na área estão acabados.

Em 2005, foi relatado que o governo de Alkatiri tinha iniciado negociações com a Petro China para construir uma refinaria de petróleo em Timor-Leste, o que minaria planos Australianos para construir uma refinaria na cidade de Darwin no norte Australiano para refinar todo o petróleo do Mar de Timor dos dois lados da fronteira. O presidente de Timor-Leste Xanana Gusmão estava para visitar a China este mês para consolidar o negócio, mas isso foi bloqueado pelos militares Australianos.


O cientista politico Tim Anderson da Universidade de Sydney acredita que o Governo de Howard planeia impor uma "junta' em Timor-Leste liderada por Horta e um enfraquecido Gusmão, que incluiria também nomeados dos bispos Católicos. "A presence de tropas ocupantes (Australianas) até às eleições do próximo ano poderia minar sériamente a posição dominante da Fretilin " anota.

(Fim/2006)

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim. Os Timorenses estao cientes da impotancia que o seu petroleo tem e as intencoes da Australia.

O Xanana foi um dos mais duros criticos dos interesses rapinantes da australia.

Tudo com o seu tempo.

O Mari nao e o unico timorense que pode fazer frente a Australia nessa questao. Todos nos sabemos da importancia do NOSSO petroleo para o FUTURO DA NOSSA NACAO.

Mas tambem nao vamos fechar os olhos aquilo que o Mari fez e quis fazer ao povo e a nacao.(Rogerio Lobato ja incriminou directamente o PM sobre o esquadrao da morte a que ele chama "plano").

Os timorenses nao vao ser enganados por um nacionalismo manipulado com o objectivo de distrair as suas atencoes das questoes internas.

De nada servira aos timorenses o seu petroleo se permitirem que uma clique de despotas consolidem o seu monopolio do poder politico para mais tarde se verem a viver num pais onde os ricos vai ficando cada vez mais ricos e os pobres mais pobres.

VIVA XANANA GUSMAO
VIVA O POVO MAUBERE

Anónimo disse...

Lobato implica Alkatiri nas alegações do “esquadrão da morte”
By Anne Barker in Dili and Reuters
O antigo ministro do interir de Timor, Rogerio Lobato, implicou diretamente o Primeiro Ministro Mari Alkatiri nas alegações de que eles tinha recrutado um grupo de milicias civis.
Lobato confronta quatro acusações sobre alegações de ter fornecido armas à um esquadrão de morte civil para eliminar os oponentes do Dr Alkatiri.
O líder do grupo, Coronel Railos, alegou que Lobato estivera a agir sob ordens do Primeiro Ministro e que ele e o seus homens tinham-se encontrado com o Dr. Alkatiri a 7 de Maio, altura em que foi discutido essa questão.
A ABC confirmou já que o testemunho de Lobato em tribunal confirma a história de Coronel Railos.
Ele disse aos investigadores que o Dr Alkatiri tinha total conhecimento do plano, algo que o Primeiro Ministro tem consistentemente vindo a negar.
Esta noite o Dr Alkatiri resiste a pedidos de sua resignação apesar de uma ameaça do Presidente Xanana Gusmão de que iria demitir-se caso o Primeiro Ministro se recuse a o fazer.
O Ministro de Negócios Estrangeiros, Alexander Downer, disse não ser claro o alcance dos poderes políticos do Presidente Gusmão na constituição de Timor-Leste.
"Nesta Constituição, nenhum tem o poder especial ou esmagador," retorquiu.
"Portanto é uma Constituição de Balanço do Poder, o que faz com que uma situação destas, toda a questão, seja difícil de resolver legal e constitucionalmente."
Ele diz que a Australia não tem algum controle sobre a possibilidade de o Dr Alkatiri se resignar ou não durante as investigações sobre as alegações contra a sua pessoa.
"Quais ligações existem entre o que ele alegadamente fez e o Primeiro Ministro e quão verdadeiras são algumas dessas alegações feitas contra o Primeiro Ministro, são questões que os Timorenses irão ter que investigar,” disse.
http://www.abc.net.au/news/newsitems/200606/s1670626.htm

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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