Tradução:
Australian Broadcasting Corporatio
Transcrição FOUR CORNERS
Leia a transcrição completa da reportagem de Liz Jackson "Atiçando os fogos".
Reporter: Liz Jackson
Dat: 19/06/2006
LIZ JACKSON: Ao mesmo tempo que forças internacionais assistem Timor-Leste a emergir da violência e da balbúrdia, o empurrão politico é agora para forçar o Primeiro Ministro do país, Dr Mari Alkatiri, a demitir-se. Alkatiri é um terrorista, um comunista, um Muçulmano, dizem os homens na concentração na montanha ao Ministro dos Estrangeiros Ramos Horta. Os rumores acerca do Dr Alkatiri são muitas e selvagens. Mas a evidência no terreno é magra. É aqui, que nos foi ditto, pela primeira vez, que Alkatiri ordenou ao seu Ministro do Interior para entregar armas para um grupo de segurança secreto.
MAJOR TARA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Estas armas foram dadas por Rogério Lobato mas foram autorizadas por Mari para dar aos membros do Congresso da Fretilin.
LIZ JACKSON: É o que acredita?
MAJOR TARA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Isto aconteceu. Isto aconteceu muitas vezes.
LIZ JACKSON: Hoje à noite o Comissário da Polícia de Timor-Leste revela ao Four Corners evidência documental que o Primeiro Ministro Mari Alkatiri soube que um dos seus ministros estavam a armar civis. Ele sabe quanto devastador isso pode ser.
LIZ JACKSON: Tem medo das consequências?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÍCIA, PNTL: Consequências, yeah. Talvez tenham que me causar alguns problemas.
LIZ JACKSON: Enquanto a vida está a regressar às estradas de Dili, milhares de refugiados estão ainda demasiado assustados para regressar às suas casas. Não confiam que acabou. As ameaças, as rivalidades, as intrigas políticas que inflamaram a violência, tudo se mantém não resolvido. Hoje à noite no Four Corners procuraremos descobrir como se chegou a isto. São cerca das 8am no quartel da polícia de Dili, capital de Timor-Leste. Todas as manhãs agora, os policies que não abandonaram o seu trabalho, vestem os seus uniformes e pretendem que ainda têm autoridade e uma tarefa que podem desempenhar. A realidade é que não estão autorizados a sair para as ruas por medo de provocarem mais violência e confusão. Mas é importante para a moral manter as paradas. O Inspector Afonso de Jesus é hoje o oficial de topo da PNTL, como é conhecida a Força Policial de Timor. Passaram três semanas desde a morte de sete dos seus colegas que foram baleados a sangue frio depois de um tiroteio com as forces armadas do país - a FDTL.
LIZ JACKSON: Porque é que as forces armadas abriram fogo contra a polícia?
INSPECTOR AFONSO DE JESUS, PNTL: Não conheço a razão porque é que dispararam sobre nós.
LIZ JACKSON: O rasto do sangue ainda estão nas escadas onde os policies foram atingidos. Não é a primeira vez que a rivalidade entre a polícia e os militares irrompeu em violência. As forças armadas ressentiam crescentemente as ajudas de custo, armas e recursos disponibilizados para o estabelecimento de uma força policial quando foram os membros das forças armadas que lutaram pela independência de Timor. Na manhã, quando o tiroteio estava no auge, o Inspector Afonso recebeu uma chamada do Primeiro-Ministro Mari Alkatiri.
INSPECTOR AFONSO DE JESUS, PNTL: Ele chamou-me ao telephone e disse, "Está OK. Afonso, deves parar o tiroteio ". Mas respondi ao Primeiro Ministro, "OK, não estamos a disparar mas a FDTL continuam a atacar-nos no edifício." Depois disso...
LIZ JACKSON: Então o Primeiro Ministro telefonou e disse, "Pode a polícia parar o tiroteio?"
INSPECTOR AFONSO DE JESUS, PNTL: Parem o tiroteio. E pensavam que éramos nós quem disparava. Mas como disse, não estávamos a disparar.
LIZ JACKSON: O tiroteio estava a ser observado com alarme crescente pela polícia das Nações Unidas e por conselheiros militares. Por volta das 11am dois deles fizeram u pedido ao Chefe da Missão da ONU, Sukehiro Hasegawa.
SUKEHIRO HASEGAWA, ESPECIAL REPRESENTANTE DA ONU EM, TIMOR-LESTE: Vieram ter comigo e sentiam com muita força que tinham capacidade para parar o tiroteio. Eles conheciam os oficiais da FDTL e também da PNTL. Dos dois lados.
LIZ JACKSON: Os oficiais da ONU falaram com o líder militar e com o polícia responsável. Foram dadas garantias, foi feito um acordo – se a polícia entregasse as suas armas, as forças armadas permitiriam que os polícias desarmados tivessem uma passagem segura para saírem do seu quartel sob escolta da ONU. Muitos dos polícias estavam relutantes. Foi o inspector Afonso quem os persuadiu. Pediu pessoalmente a três oficiais da polícia para entregar as armas?
INSPECTOR AFONSO DE JESUS, PNTL: Yeah, armas. Todas as nossas armas foram entregues ao Sr Fernando Reis e também a outros amigos da UNPOL.
LIZ JACKSON: Poucos minutes depois de emergirem os oficiais de polícia foram baleados. Foi isto que aconteceu. Quatro pessoas foram mortas na estrada. Três morreram mais tarde no complexo da ONU. 25 ficaram feridos. Testemunhas dizem que dois ou três homens em uniformes de polícia estavam à espera deles na esquina da estrada. Ninguém diz oficialmente quem deu a ordem de atirar mas este evento chocante revelou ao mundo como Timor-Este rstava perto de um colapso sangrento num estado falhado.
SUKEHIRO HASEGAWA, ESPECIAL REPRESENTANTE DA ONU EM, TIMOR-LESTE: Eles dispararam contra oficiais da polícia Timorenses e cuidadosamente evitaram os oficiais de polícia da ONU. Foi uncrível não ter havido oficiais de polícia da ONU mortos por balas.
LIZ JACKSON: Então não foi acidental?
SUKEHIRO HASEGAWA, ESPECIAL REPRESENTANTE DA ONU EM, TIMOR-LESTE: Não. Foi muito bem... De facto, talvez um ataque planeado.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Ficou muito claro ao Sr Hasegawa que como governo estamos abertos à investigação, para investigar todas as situações, incluindo esta.
LIZ JACKSON: Estão a investigar todas as situações que ocorreram?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Sim.
LIZ JACKSON: O Primeiro Ministro Alkatiri chega ao edifício do Parlamento Nacional sob protecção de soldados Australianos. Mesmo com protecção ele não pode mais misturar-se com as pessoas que governa. Nunca foi uma figura popular antes e agora, dado o caos no país, a sua liderança está sob cerco. Primeiro Ministro Alkatiri, Sou da Four Corners. Alkatiri passou os 25 anos da luta pela independência no exílio, a maioria no Marxista Moçambique. Regressou no fim de 1999.
LIZ JACKSON: As pessoas dizem do Primeiro Ministro que tem um estilo arrogante e distanciado e que é um Marxista. Têm razão?
DR JOSE TEIXEIRA, MINISTRO DOS RECURSOS NATURAIS, MINERAIS E ENERGIA: Ele está longe de ser um Marxista. Trabalho de perto com ele. Basta reparar na direcção das políticas que o governo tem adoptado em termos de desenvolvimento do sector privado, políticas dirigidas também largamente pelo Primeiro Ministro. Portanto penso que essa acusação de ele ser marxista é muito tola.
LIZ JACKSON: José Teixeira é o porta-voz do PM. Um antigo advogado em Brisbane, deixou Timor-Leste quando tinha 11 anos, regressando em 2002. Trabalha hoje na organização dos detalhes de último minuto para uma visita do Ministro dos Estrangeiros Alexander Downer. Teixeira acredita que a postura firme do Dr Alkatiri nas negociações sobre os direitos do petróleo e do gás no Timor Gap não lhe conquistou amigos em Canberra. Sente que tem havido pressões do Governo Australiano sobre quem deve estar à frente deste país?
DR JOSE TEIXEIRA, MINISTRO DOS RECURSOS NATURAIS, MINERAIS E ENERGIA: Repare, tenho a certeza que o Primeiro Ministro e este governo não são os favoritos das pessoas em Canberra, e não falo só das personalidades politicas em Canberra, mas doutras que são parte da sociedade de Canberra.
LIZ JACKSON: Alexander Downer chega meia hora atrasado. Ele e a sua comitiva tinham ido primeiro ver um dos rivais políticos do Primeiro Ministro, o Ministro dos Estrangeiros José Ramos Horta. Por isso o Dr Alkatiri fá-los esperar agora.
ALEXANDER DOWNER: Oh, hello, Primeiro Ministro.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Ministro dos Estrangeiros.
LIZ JACKSON: Alkatiri não tem sido tão adepto como Ramos Horta a procurar assistência militar internacional, mas assinou na linha ponteada. Diz que não sofre pressão estrangeira para se demitir antes das eleições marcadas daqui a seis a nove meses.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Não, até agora não recebi nenhuma pressão de nenhum governo. Obviamente, algumas pessoas tiveram... fizeram algumas declarações que a melhor solução do conflito seria se o Primeiro Ministro saísse, mas penso que isto é, não é uma... É injusto, mas não considero isso uma pressão.
LIZ JACKSON: A quem é que se está a referir, então?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Sabe muito bem a quem me referi.
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: O problema é, obviamente, pode o país suportar nos próximos seis meses, nove meses desta pressão contínua no Primeiro Ministro para resignar? Podemos suportar esta crescente perda de credibilidade do governo e pobre imagem do país? Ou deve o Primeiro Ministro dizer, "Bem, eu saio no interesse do meu partido. Parece que sou uma dificuldade para o meu próprio partido, se não para o país."
LIZ JACKSON: A pressão começou há dois meses. Houve uma demonstração durante 5 dias feita por 600 soldados despedidos – conhecidos como os peticionários – e os seus apoiantes. Eles queixam-se que sofrem discriminação porque ao contrário da maioria dos oficiais de topo, eles vêem do oeste do país, perto da fronteira Indonésia. Dizem que são descritos como colaboradores com a Indonésia, enquanto que os do leste recebem todo o crédito da luta pela independência. A meio do dia, hooligans tinham inchado a multidão e as coisas ficaram feias. Atiraram pedras, queimaram carros, a polícia regular perdeu o controlo, e a polícia de choque, em uniforme negro abriu fogo. Pelo fim do dia o caos tinha-se espalhado. O Primeiro Ministro chamou as forças armadas. Pelo cair da noite, 60 pessoas tinham sido baleadas. Cinso pessoas foram mortas.
LIZ JACKSON: Autorizou as tropes a dispararem na demonstração?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Não. Uma coisa é chamar as tropes para ajudar a polícia a controlar a situação. Outra coisa é disparar contra a demonstração. Deixei claro, as instruções eram claras, para controlar, para pô-los for a e não para seguir...para irem atrás deles.
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: A Força da Defesa não devia ter sido trazida para, uh... prevenir ou parar distúrbios civis, porque não são treinadas para fazerem isso. E nunca se tem a certeza das consequências quando entram numa cidade. E sem consultar o chefe do Estado – particularmente alguém como Xanana Gusmão, que tem um instinto político excepcionalmente bom, isso é, sim, um erro grave de julgamento.
LIZ JACKSON: Nos dias seguintes, facções em luta das forças de segurança viraram-se umas contra outras. Gangs de hooligans inundaram as ruas, queimara 45 casas até aos alicerces. Pessoas foram metralhadas e esfaqueadas, algumas foram queimadas vivas. Mais de 14,000 pessoas fugiram das suas casas em horror e acamparam nas terras das igrejas, embaixadas e perto do aeroporto. 70 por cento da polícia desertou dos seus postos e uma facção armada rebelde apanhou os seus carros e as suas armas e levou-os para as montanhas em solidariedade com os peticionários. O seu líder, o Major Alfredo Reinado, ainda lá está, pedindo que Alkatiri resigne.
MAJOR ALFREDO REINADO, POLÍCIA MILITAR POLICE, F-FDTL: Penso que tem de sair da posição e fazer face às investigações, e se se provar que fez algo errado na sua liderança, terá de enfrentar o tribunal então.
LIZ JACKSON: Há duas semanas, o Ministro dos Estrangeiros Ramos Horta chegou ao gabinete presidencial para ser investido como o novo Ministro da Defesa. A seguir à violência, o Ministro do Interior e o Ministro da Defesaforam pressionados para sair. Isso é justo?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: Sim, é absolutamente justo, porque ministros noutros países saem por ofensas menores, portanto como um primeiro passo, isso é justo.
LIZ JACKSON: Nessa base, deve o Primeiro Ministro, como chefe do governo, resignar precisamente pela mesma razão?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: Sabia que se tivesse respondido a esta primeira questão, que a sua próxima questão seria precisamente...essa. Portanto, Iprefiro abster-me de responder a esta questão.
LIZ JACKSON: Embaixadores estrangeiros e uma pequena multidão das Nações Unidas numa pequena sala para testemunhar a investidura. Todos esperam a chegada do Presidente Xanana Gusmão, incluindo o Primeiro Ministro Mari Alkatiri. Três dias antes, o Presidente anunciou publicamente que estava a assumer as principais responsabilidades das questões de segurança.
LIZ JACKSON: As acções do Presidente minaram qualquer autoridade que o Primeiro Ministro tem em termos da sua capacidade para governar este país?
DR JOSE TEIXEIRA, MINISTRO DOS RECURSOS NATURAIS, MINERAIS E ENERGIA: Não vou comentar.
LIZ JACKSON: Não comenta?
DR JOSE TEIXEIRA, MINISTRO DOS RECURSOS NATURAIS, MINERAIS E ENERGIA: Não comento, não.
LIZ JACKSON: O Presidente colocou-lhe alguma pressão para resignar?
DR MARI ALKATIRI, PRIMERO MINISTRO: Quem?
LIZ JACKSON: O Presidente.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Não, nunca. O Presidente é um dos mais fortes defensores da Constituição aqui neste país.
LIZ JACKSON: O Presidente Xanana Gusmão chega. Enquanto publicamente mantém a aparência que trabalham juntos, é largamente sabido que Xanana Gusmão procurou conselho legal sobre se constitucionalmente tem o poder para despedir Alkatiri. A resposta curta é não – não sem um voto parlamentar de não confidência. E no parlamento o partido Fretilin de Alkatiri tem a maioria. A única provisão que forçaria o Primeiro Ministro a sair é se fosse acusado por uma ofensa criminal grave. O desentendimento entre o Primeiro Ministro e o Presidente vem de há 20 anos, quando Gusmão deixou o partido Fretilin para adoptar uma postura mais centrista, mais inclusiva, menos dura.
XANANA GUSMAO NO PARLAMENTO: Queridos amigos, senhoras e senhores, não era suposto ser uma cerimónia tão solene. Mas temos de reconhecer que, por causa da situação, é uma especial.
LIZ JACKSON: Pode descrever a relação entre o Presidente e o Primeiro Ministro como a de o Presidente ser muito apoiante do Primeiro Ministro?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: Bem, não diria que o Presidente é muito apoiante do Primeiro Ministro. Diria que o Presidente leva muito a sério as suas responsabilidades, particularmente em tempos de crise, mas também em tempos normais, para assegurar que as instituições do Estado, as instituições democráticas do Estado, funcionem normalmente.
LIZ JACKSON: Dois dias depois, ouvimos que o novo ministro da defesa, José Ramos Horta, foi para o sudoeste de Dili para se encontrar com os soldados rebeldes e os seus apoiantes, que se concentraram na cidade montanhosa de Gleno. Quando chegámos, Ramos Horta dizia à concentração que tinha pedido um inquérito internacional a quem está detrás da violência e das mortes entre as facções da segurança em guerra.
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: Em relação à investigação, irá para a frente conforme planeado, mas não posso comentar mais porque seria desrespeitoso para a comissão internacional.
LIZ JACKSON: As pessoas trouxeram para aqui as suas bandeiras e camiões porque planeiam ir demonstrar a Dili amanhã, pedindo a demissão do Primeiro Ministro. Ramos Horta diz-lhes que isso é o seu direito democrático.
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTERO DOS ASSUNTOS ESTRANGEIROS: Disse, "É o vosso direito irem à manifestação. E...não necessáriamente...vou dizer se devem ou não devem, isso não é responsabilidade minha."
LIZ JACKSON: Descreveria estas pessoas em Gleno como seus apoiantes?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DA DEFESA: Bem, parece, parece, como muitas delas disseram, eu devia ser o Primeiro Ministro... ah, sim, em muitos lugares. A guiar, jmesmo agora, vim de Maliana. Em todos os lados onde estive - Baucau, em todos os lados – e tive tremenda simpatia, apoio, calor das pessoas aos milhares, às centenas. E sinto-me ultrapassado, talvez porque eles estão desesperadamente à procura de liderança, à procura de pessoas em que possam ter confiança.
LIZ JACKSON: Major Tara, de bone de baseball, é o líder deste grupo. Ainda está oficialmente nas forces armadas Timorenses mas desertou para os rebeldes depois do 28 de Abril. Perguntámos-lhe porque é que o Primeiro Ministro devia sair agora. Porque não esperar pelas eleições?
MAJOR TARA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Há demasiada evidência. Não podemos esperar até às próximas eleições, porque alguns membros da Fretilin já têm armas e estão a ameaçar pessoas para que as pessoas votem por Alkatiri.
LIZ JACKSON: Mais tarde fomos levados mais acima nas montanhas para nos encontrarmos com o tenente Salsinha – cabeça do grupo dos chamados peticionários. É suposto ele ter a evidência – evidência documental – de que o Primeiro Ministro deu armas a ministros do partido Fretilin. Isto é uma alegação séria – talvez, se for verdadeira para forçar Alkatiri a sair.
LT GASTAO SALSINHA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Nos documentos estão listados qual districto... quantas armas em cada districto. Quem é o responsável por estas armas e quem anda com estas armas. Tudo no documento. Nome incluido.
LIZ JACKSON: E esses são civis?
LT GASTAO SALSINHA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Civis e alguns militantes da Fretilin.
LIZ JACKSON: Mas acontece que os documentos não estão disponíveis.
LT GASTAO SALSINHA, F-FDTL (TRADUÇÃO): No momento não os tenho, mas...
LIZ JACKSON: It is possible for us to see them later?
LT GASTAO SALSINHA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Ainda não é possível porque este documento... não estão neste lugar. Noutro sítio qualquer.
LIZ JACKSON: Guarda-os noutro sítio qualquer. Pode apresentar-me três civis que fizeram as declarações? Podemos falar com eles?
LT GASTAO SALSINHA, F-FDTL (TRADUÇÃO): Não. Estão escondidos num lugar.
LIZ JACKSON: No dia seguinte, uma longa caravana de camiões desceram os montes desde as cidade da fronteira do longínquo oeste para a capital Dili. Foram parados nos subúrbios durante uns 30 minutos, mas depois de algumas chamadas para o telemóvel, o Major Tara aceitou o acordo que lhe foi posto por José Ramos Horta. Os manifestantes podem entar na capital, podem entregar os seus pedidos ao próprio Presidente Xanana Gusmão e depois saírem mas manterem-se sob controlo. Houve um pouco de atirar de pedras mas foi tudo enquanto a caravana passava devagar no caminho para o gabinete do Presidente. Cerca de 2,000 pessoas vieram pedir que o Primeiro Ministro Alkatiri saísse.
LIZ JACKSON: Pensa que perdeu o apoio das pessoas?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Este país não é um país de 2,000 pessoas. Este país – um país de um milhão de pessoas. È porque 2,000... 2,000 é o seu número. O meu número é aida muito menos de 2,000. Pus gente a contá-los um a um e é...não mais de 1,000 pessoas.
LIZ JACKSON: Teve pessoas a contá-los um a um?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Yeah.
LIZ JACKSON: E põe-nos em 1,000?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Yeah.
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DA DEFESA: O facto de ser 2,000 or 1,000 – é pequeno para a escala de Dili e de Timor-Leste mas é verdade – a profundidade da insatisfação e criticismo do governo como um todo e em particular o Primeiro Ministro está bastante mais espalhado do que o número de pessoas manifestando-se no outro dia - 1,000 ou 2,000. É um sentimento espalhado.
LIZ JACKSON: O Presidente Gusmão agradeceu à multidão por ter vindo e lembrar-lhe das suas responsabilidades mas não menciona o seu pedido central que Alkatiri deve sair. Apela à calma e promete que responderá às muitas crises que o país enfrenta.
XANANA GUSMAO: Prometo. Depois desta crise, as pessoas não mais continuarão a sofrer.
LIZ JACKSON: Chegámos a um ponto onde somente a impopularidade é uma boa razão para um Primeiro Ministro sair?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DA DEFESA: Bem, deixe-me dizer-lhe uma coisa. Ninguém me pediu pessoalmente para sair. Se eu recebesse somente 10 por cento do criticismo que o Primeiro Ministro tem recebido – todo o tipo de convites para sair - bem, eu teria saído há muito tempo.
LIZ JACKSON: Na noite seguinte recebemos uma mensagem. O grupo de homens que diziam que lhes tinham sido dado armas por ordens de Alkatiri estão prontos para se encontrarem connosco. O local de encontro é Liquica – a uma hora de condução a oeste de Dili. O seu líder, Comandante Rai Los, está lá quando chegamos mas antes de conversarmos temos de esperar pelo resto do grupo.
HOMEM: Ele tem de esperar a chegada dos outros membros para que possamos fazer a reportagem completa com os outros membros.
LIZ JACKSON: Compreendo. Muito obrigada.
LIZ JACKSON: Esperaremos até as outras pessoas chegarem. Viajam em estradas más de várias localidades – pode demorar algum tempo. Esquanto esperamos, foi-nos dado um documento que parece ser um relatório escrito pelo então Ministro do Interior Rogério Lobato - datado 20 Maio 2006. Tem no cabeçalho 'Equipa de Segurança Secreta da Fretilin' e junto está uma lista de 30 nomes a quem nos disseram serem todos os membros da equipa. Há uma outra lista com os números de série de 16 armas perto dos nomes dos homens a quem foram dadas. O relatório diz que ao Comandante Rai Los foi pedido pelo Ministro Lobato há seis semanas atrás para recrutar e armar uma equipa de antigos lutadores da resistência porque "a situação no país tem sido ameaçada por um partido da oposição." Relata uma alegada reunião em 8 de Maio onde Mari Alkatiri fala com o Comandante Rai Los acerca de como arrunar as questões que se têm levantado entre leste e oeste. Mas nada mais específico do que isso. 90 minutos mais tarde fomos para um novo local. A equipa está reunida e trouxeram as suas armas. O Comandante Rai Los também pôs um uniforme. Mas ele e os seus homens não são soldados – são civis.
LIZ JACKSON: Podemos entrar e falar?
COMANDANTE VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', EQUIPA DE SEGURANÇA DA FRETILIN: OK.
LIZ JACKSON: Uma vez no interior, O Comandante Rai Los fez uma série de alegações acerca dos propósitos desta equipa – alguns bem mais sérios e sinistros do que no documento que tínhamos lido. Falou numa reunião de cerca de 30-minutos com Mari Alkatiri.
COMANDANTE VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', EQUIPA DE SEGURANÇA DA FRETILIN (TRADUÇÃO): Nessa reunião ele instruiu o Comarada Rogério para distribuir as armas à Equipa de Segurança Secreta da Fretilin.
LIZ JACKSON: Ele alegou que lhe foram ditas que as missões secretas da equipa nos próximos 12 meses eram asseguintes...
COMANDANTE VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', EQUIPA DE SEGURANÇA DA FRETILIN (TRADUÇÃO): Primeiramente, eiminar peticionários – destruir totalmente peticionários. Em segundo lugar, terminaar os líderes da oposição. Em terceiro lugar, exterminar os líderes militares como Major Alfredo, Major Tara, Major Tilman e os homens deles que levaram armas para as montanhas. E finalmente eliminar qualquer membro da Fretilin que se oponha à política de Mari e da Fretilin.
LIZ JACKSON: Rai Los diz que a sua equipa tinha usado as suas armasnum tiroteio com as forces armadas regulares – no chamado incidente de Tibar incident. Isto é um documento dos seus homens em acção. Diz que foram mortas quarto pessoas, e que foi por causa disso que ele decidiu abandonar a sua lealdade com Mari Alkatiri.
COMANDANTE VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', EQUIPA DE SEGURANÇA DA FRETILIN (TRADUÇÃO): Então eu percebi que talvez devia estar do lado dos peticionários contra a FDTL. Nessa altura, percebi que Mari queria divider as pessoas e manter o controlo do governo.
LIZ JACKSON: Rai Los faz o que parece uma declaração improvável. Mas apesar de agora estar a contar a todo o mundo, ele não informou o Presidente Gusmão.
COMANDANTE VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', EQUIPA DE SEGURANÇA DA FRETILIN (TRADUÇÃO): Não informámos o presidente. Mari ordenou-nos isso.
LIZ JACKSON: Quando perguntámos como podia provar alguma destas coisas, Rai Los armou um show inesperado. Ele alinhou os seus homens com as suas armas – com os botões de segurança off – e então discou o que disse ser o telemóvel do antigo ministro Lobato. Rai Los disse-lhe que os peticionários estavam à volta e agora deu o sinal aos seus homens.
TIROS
COMANDANTE VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', EQUIPA DE SEGURANÇA DA FRETILIN (AO TELEFONE): Há muito tiroteio. Acabaram de atingir um dos nossos homens. Um dos nossos soldados. Estão-se a aproximar.
HOMEM NO TELEFONE: How many are there?
VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', FRETILIN SECURITY TEAM (AO TELEFONE): Há demasiados irmão.
HOMEM NO TELEFONE, resguardem-se e defendam-se
VINCENTE DA CONCEICAO, 'RAI LOS', FRETILIN SECURITY TEAM (AO TELEFONE): OK, mas irmão precisas de contactar com o camarada Mari.
HOMEM NO TELEFONE: I've contacted him already. You have to fire back and defend yourselves.
HOMEM NO TELEFONE: OK, isso é bom.
LIZ JACKSON: Investigámos o número do telemóvel no dia seguinte, e Rogério Lobato tinha de facto respondido o telefone. Rai Los então produziu mais evidência. Ele tinha guardado as messagens de texto do antigo ministro também. Ele mostrou-nos uma enviada do telemóvel de, datada de 4 de Junho. Isso é dois dias antes da manifestação anti-Alkatiri rally ter saído para Dili. "Para Rai Los. A Oposição virá de Emera tentando manifestar-se em Dili para deitar abaixo o governo. Porque não os parar na plantação de café em Rai Lakue queimar todos os 26 camiões?" Rai Los não tinha provas das suas alegações contra o Primeiro Ministro. Somente uma mensagem de texto do telemóvel de Alkatiri, data - Junho 1. Tudo o que dizia era, "Aonde vais?"
LIZ JACKSON: Tem conhecimento de um grupo chamado a Equipa de Segurança Secreta da Fretilin?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Isso é errado, de certeza não há Segurança Secreta da Fretilin. Tem conhecimento desse título?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Sim, um dos rumores, sim.
LIZ JACKSON: Um dos rumores?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Yeah.
LIZ JACKSON: Encontrámo-nos com um grupo de 30 homens armados a noite passada que disseram que eram a Equipa Secreta de Segurança da Fretilin.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Yeah?
LIZ JACKSON: E eles também disseram que foram recrutados e armados pelo seu antigo ministro do interior, Rogério Lobato, debaixo das suas ordens.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Yeah, não, não eles...você, você realmemte identificará outros. 30, oo 50, ou 60, e tentaram... os grupos que tentaram acusar, ah, o antigo ministro ou também correntes ministros ou eu próprio, mas isso não significa que não há uma manipulação de outros. Acredito que não há civil... não há pessoas regulares armadas que foram armadas pelo governo.
LIZ JACKSON: O Primeiro Minstro concorda que teve uma reunião com o Comandante Rai Los - Rai Los é um membro do Partido Fretilin - mas Alkatiri diz que todas as alegações que Rai Los faz são falsas.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: As pessoas estão agora a tentar realmente demonizar a minha imagem. É a única coisa que posso dizer.
LIZ JACKSON: Onde é que calcula que eles arranjaram as armas?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Por favor, é melhor perguntar-lhes.
LIZ JACKSON: Bem, eu perguntei-lhes...
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Eu, Eu nunca...Eu nunca...
LIZ JACKSON: ..e eles disseram que foi de si.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Eu nunca tive uma arma na minha mão. Eu não sou polícia, Eu não sou das forças armadas – Eu sou Primeiro Ministro.
LIZ JACKSON: No dia seguinte, nós telefonámos para casa de Rogério Lobato.
LIZ JACKSON: Bom dia.
HOMEM: Bom dia.
LIZ JACKSON: O meu nome é Liz Jackson, da televisão Australiana
HOMEM: Quer o Sr...
LIZ JACKSON: Yeah, o Sr Rogério Lobato.
HOMEM: O Sr para vir à TV?
LIZ JACKSON: Sim, por favor.
HOMEM: OK, espere.
LIZ JACKSON: Obrigada.
LIZ JACKSON: Queríamos perguntar ao antigo ministro algumas questões, e ele não estava mais a responder no seu telemóvel.
HOMEM: Desculpe, o Sr Rogério, chama para telefonar para – ele vir? Não. O Sr Rogério, não.
LIZ JACKSON: Ele não está aqui, ou ele não quer falar connosco?
HOMEM: Não, não. Ele não, não talvez a dormir.
LIZ JACKSON: Ele está a dormir?
HOMEM: Yeah.
LIZ JACKSON: Oh, estamos, estamos felizes de esperar, esperamos então.
HOMEM: Não não, Eu falo Sr Rogério, o Sr Rogério não fala.
LIZ JACKSON: Então, falou com ele?
HOMEM: Yeah.
LIZ JACKSON: Então não está a dormir?
LIZ JACKSON: Não estavamos a chegar a lado algum, então decidimos em vez disso chamar o líder da Polícia de Fronteira, António de Cruz. De acordo com o documento que obtivemos de Rai Los, ele era a pessoa que lhe tinha dado as armas, às 10pm da noite num cemitério em Lauhata. Descobrimo-lo na cidade de fronteira de Maliana.
ANTÓNIO DA CRUZ: Fala António da Cruz.
LIZ JACKSON: È António da Cruz a falar? Bom dia, sir.
ANTÓNIO DA CRUZ: Bom dia, madam!
LIZ JACKSON: Bom dia.
ANTÓNIO DA CRUZ: Como está?
LIZ JACKSON: Estou muito bem. O meu nome é Liz Jackson da ABC TV.
ANTÓNIO DA CRUZ: Oh, ABC TV , sim! Eu sou o Comandante Nacional da Unidade de Patrulha de Fronteira.
LIZ JACKSON: Bom falar consigo, sir. O Comandante Rai Los diz que em 8 de 8t Maio, esteve no cemitério de Lauhata cemetery, perto de Liquica, e que lhe deu 10 AK armas e 6,000 rounds de munições.
ANTÓNIO DA CRUZ: Ah, sim, ah, você, já confirmou esta informação de quem?
LIZ JACKSON: Comandente Rai Los.
ANTONIO DA CRUZ: Sim.
LIZ JACKSON: E é verdade?
ANTONIO DA CRUZ: Sim, é verdade.
LIZ JACKSON: É verdade.
LIZ JACKSON: Quem lhe disse para dar essas armas e essas munições ao Comandante Rai Los?
ANTÓNIO DA CRUZ: Isto é de, de, nossor... Eu recebo uma ordem do nosso Ministro do Interior.
LIZ JACKSON: Rogério Lobato, o Ministro do Interior, disse-lhe para dar, disse-lhe para dar ao Comandante Rai Los as armas e as munições, sim?
ANTONIO DA CRUZ: Sim.
LIZ JACKSON: Sabe para que propósito?
ANTÓNIO DA CRUZ: Não sei, não sei, Não conheço exactamente isso, de que tipo é, o que ele pensa acerca disso, mas eu sou um dos membros da polícia de Timor-Leste, e eu sou a responsabilidade para a Unidade da Patrulha da Fronteira e refiro a ordem para a questão das nossas espingardas longas para o ...esta matéria directamente para o nosso ministro e o nosso ministro diz que tem de dar isto para Comandante Rai Los e eu estou somente a fazer...
LIZ JACKSON: Somente a seguir ordens?
ANTONIO DA CRUZ: Sim.
LIZ JACKSON: Sabe se o Primeiro Ministro Mari Alkatiri deu essas ordens ao Ministro do Interior Minster, sabe se Mari Alkatiri sabia que estava a dar armas para o Comandante Rai Los.
ANTÓNIO DA CRUZ: Ah, Não tenho a certeza e eu nunca escutei juntamente com o nosso Primeiro Ministro, 'por causa eu sou...só membro da polícia nacional.
LIZ JACKSON: Apareceu o guarda de segurança de Rogério Lobato, é tempo de desligar. Mas António da Cruz diz-nos que nos enviará por fax os registos de despacho que ele preparou que lista os números de série de todas as armas, e para quem eles foram enviados. Chegam duas páginas. A primeira página mostra armas 15 HK33 despachadas para Sua Excelência, o Ministro do Interior em 8 de Maio, 2006. A segunda, com mais oito armas despachadas para o ministro no 21 de Maio. Vrificámos os números de série da lista de armas contra os números de série que recebemos de Rai Los. 15 das 16 das armas de Rai Los's estavam listadas aqui. Os dois filmados em Liquica estavam no primeiro despacho. Colocámos isto a José Ramos Horta.
LIZ JACKSON: O que lhe sugere que ao líder da polícia da fronteira é pedido para dar armas ao Minstro do Interior que acabam num grupo armado de civis?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DA DEFESA: Bem, obviamente, isso é uma... uma muito grave, ah, quebra, uma muito grave ofensa. Será incompreensível se o Ministro do Interior Minister ordena as armas longe de uma área sensível para serem fechadas longe. Mas quando as armas lhe são devolvidas e, ah, as re-envia para, ah, civis, isso é uma matéria absolutamente grave. Não estou a dizer que isto é um facto mas se isto aconteceu, é uma meteria muito grave.
LIZ JACKSON: Armar civis é uma ofensa séria, sim?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Com certeza. Eu próprio sei isso.
LIZ JACKSON: Uma ofensa para despedir?
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: Mmm. Armar um civil é contra a completa política deste governo.
LIZ JACKSON: E srá uma ofensa para despedir?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Yeah.
LIZ JACKSON: O Primeiro Ministro já nos disse que acredita que nenhum civil foi armado pelo seu governo mas justamente quando estamos a sair, obtemos informação que sugere que isto não é verdade. Fomos conduzidos ao cimo das montanhas detrás de Dili para casa do Comissário da Polícia Paulo Martins. Depois dos ataques à polícia, não era seguro ficar em Dili, e aqui ele tem protecção armada. Queremos mostrar ao Comissário uma carta manuscrita que acreditamos ele escreveu ao Primeiro Ministro Mari Alkatiri, datada de 19 Maio.
LIZ JACKSON: Sir, viémos vê-lo porque queremos ter a certeza absoluta que esta é a letter... que escreveu ao Primeiro Ministro.
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLICIA, PNTL: Sim.
LIZ JACKSON: A carta informa o Primeiro Ministro de uma matéria urgente, que em 8 Maio, o Comissário da Policia de Suai viu uma pessoa pelo nome de Arakat, e oito dos seus colegas, com armas HK33 que pertenciam à polícia de fronteira. Arakat é um membro senior do grupodo Comandante Rai Los.
LIZ JACKSON: Então na sua carta para o Primeiro Ministro, disse-lhe que as armas tinham ido para um membro do grupo do ComandanteRai Los?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÌCIA, PNTL: Disse esta carta é um...um membro de nome Arakat.
LIZ JACKSON: Arakat?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÌCIA, PNTL: Arakat.
LIZ JACKSON: Um membro do grupo do Comandante Rai Los?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÌCIA, PNTL: Yeah.
LIZ JACKSON: A carta continua a dizer o estado em que estavam as armas de Arakat, "as 17 armas que foram enviadas para o Ministro do Interior". Conclui, "Se isto foi feito com o conhecimento de Vossa Excelência, nada farei em contrário. Mas a população está a entrar em pânico, e se estas medidas continuam, não haverá maneira de pôr um fim aos problemas correntes." Paulo Martins não deu a carta directamente ao Primeiro Ministro em pessoa.
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÌCIA, PNTL: Não, dei-a através do secretário do Primeiro Ministro, Dr Guterres.
LIZ JACKSON: E o que é que disse ao Dr Guterres acerca desta carta?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÍCIA, PNTL: Disse-lhe que a carta é altamente secreta e que teria de entregar a carta quando o Primeiro Ministro estiver só.
LIZ JACKSON: Quando ele esiver com ele próprio?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÌCIA, PNTL: Sim, sim.
LIZ JACKSON: Três dias mais tarde, o Comissário pediu para ver Mari Alkatiri.
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÍCIA, PNTL: Ah, no 21 de Maio, de manhã, telefonei ao Primeiro Ministro que eu tinha uma reunião com o Ministro do Interior. E depois dessa reunião, teria, um... se tivesse possibilidade de ter uma reunião com o Primeiro Ministro. Mas o Primeiro Ministro disse-me que, "Pode vir ver-me, mas não fale das armas."
LIZ JACKSON: Ele pediu-lhe directamente para não falar com ele acerca dessas armas para as quais lhe tinha chamado a atenção?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÍCIA, PNTL: Sim.
LIZ JACKSON: Portanto tanto quanto sabe, nada foi feito depois de ter enviado a carta?
PAULO MARTINS, COMISSÀRIO DA POLÍCIA, PNTL: Sim.
LIZ JACKSON: O Primeiro Ministro sabia definitivamente?
PAULO MARTINS, COMISSÁRIO DA POLÍCIA, PNTL: Sim.
LIZ JACKSON: Se o Primeiro Ministro tinha somente uma ideia que um grupo de pessoas estavam a ser armadas, um grupo de pessoas da Fretilin estavam a ser armadas, para assegurar segurança, isso é sério?
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DA DEFESA: Com certeza, só isso é sério. Sabe, temos polícia suficiente neste país. Porquê ter agora, sabe, milhares de polícias que têm mais armas que as forças armadas e ainda precisamos de armar civis? E, isto é só para confundir. Simplesmente não percebo porquê, ah... se estes fossem os factos, porque é que ele perdoaria isso porquê, sendo quem ele é - Primeiro Ministro mas uma pessoa com uma mente muito legalista – não pararia isso imediatamente.
LIZ JACKSON: Regressámos ao Primeiro Ministro, à procura da sua resposta a mais estas alegações, mas não tivemos resposta. Só podemos assumir que ele daria a mesma resposta anterior, que todas as alegações acerca dele são somente nódoas dos seus rivais políticos tanto do interior como do exterior do seu Gabinete.
DR MARI ALKATIRI, PRIMEIRO MINISTRO: A situação aqui neste país agora é muito complexa...como sabe.
LIZ JACKSON: E investigará o seu anterior ministro do interior?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Eles...Estou aberto para... Já disse hoje à comunidade internacional, às Nações Unidas para virem e investigarem...tudo.
LIZ JACKSON: Se fosse verdade, sairia?
DR MARI ALKATIRI, PRIME MINISTER: Este é sempre o seu alvo este como...sair ou descer ou afastar ou não. Ieu fui claro que nunca sairei.
DR JOSE RAMOS HORTA, MINISTRO DA DEFESA: Mesmo se sentir na minha consciência que sou inocente, mesmo se ou... na minha consciência também, sabe, essas alegações não são todas 100 por cento verdadeiras mas são 10 por cento verdadeiras, eu teria saído, sabe? A minha própria honra, a minha própria dignidade, o meu próprio orgulho, não me manteria, sabe, no Gabinete.
LIZ JACKSON: Enquanto os jogos políticos e de poder continuam, os que não têm poder têm somente pedidos modestos. Beatrice de Jesus perdeu o seu marido Santiago no massacre dos desarmados polícias na estrada para o complexo da ONU. Ela quer saber quem foi responsável. Quem deu ordens às tropas, ou se foram os civis que abriram fogo? Ela espera por justiça, mas um sinal de que alguém se preocupava já ajudaria.
BEATRICE DO REGO DE JESUS: (TRADUÇÃO): Ninguém nos veio ver acerca da sua morte. Desde a sua morte ninguém da sua força veio para nos ver. Nem mesmo os seus comandantes vieram. Telefonámos para saber se podíamos ter o seu corpo de volta, mas disseram-nos que não podíamos remover o seu corpo até notícia posterior.
--
quinta-feira, junho 22, 2006
Obrigado, Margarida.
Por Malai Azul 2 à(s) 10:20
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
4 comentários:
Renunciar, por causa deste programa? O que aconteceu à dignidade de nosso país. QUE VERGONHA.
ok, a ouvir e ler um PM dizer yeah numa entrevista, é uma brincadeira,,, e c kerem mesmo saber c houve o certo telefonema, k obtenham os transcripts das chamadas telefonicas de cada um desses entrevistados k vejam claramente c essas conversas k eles dizem k tiveram com o PM tiveram mesmo... olhe k mentira tem perna curta... e k a meter uma palavra a mais da um outro sentido a frase.. ou c não entendeu, k pergunte de novo..
já agora, o MNEC/ MD ñ tem capacidade nenhuma de ser MD, já agora com que bases é que ele tem pra ser.... ñ conhece o seu povo como diz conhecer, ñ acredita nele, vende-se por pouco, faz maquinações... e por aí a diante...
Admite que Alkatiri se demita?
Pessoalmente, não creio que a solução para a crise passe pela demissão de Mari Alkatiri. Mas, como é óbvio, tudo depende da vontade dele. De qualquer forma, para que isso fosse possível era necessário que o primeiro-ministro tivesse liberdade de decisão, o que, manifestamente, não acontece. Portanto, se ele se demitisse, o seu gesto corresponderia a um simulacro de decisão.
O PM Mari Alkatiri pode ter como todos nós temos, muitos defeitos. Agora dizer que não tem "liberdade de decisão"...só para rir! Quem está de pés e mãos atados aus seus boss estrangeiros são o PR e o Ministro dos Estrangeiros, esses sim é que só podem abrir a boca para dizer "yes, sir"!
O PM tem toda a liberdade por ser o Secretário-geral do partido dominante em Timor, o partido que há cinco anos teve mais de 57% dos votos, o partido que nas locais, ainda há pouco, teve mais de 66%, o único partido que concorreu em todo o território nacional, o único partido ligado ao povo e verdadeiramente nacional,
O PM, o Mari Alkatiri e os seus companheiros da Fretilin são os verdadeiros patriotas timorenses, os outros e particularmente os máximos responsáveis deste golpe de estado - o PR e o Ministro dos Estrangeiros - não passam de paus-mandados dos interesses australianos e norte-americanos. Esses sim é que não têm liberdade de decisão e têm que obedecer a quem paga.
Enviar um comentário