Entrevista de Armando Rafael a Ana Pessoa, DN, 22/06/06
Ana Pessoa esteve em Lisboa para participar na reunião da CPLP, organização que a ministra timorense acredita poder vir a influenciar a composição e o desenho da nova missão da ONU em Timor-Leste. Sobretudo se os Estados lusófonos decidirem concertar posições, como foi anunciado. Esta entrevista foi realizada em dois momentos distintos, tendo em conta os desenvolvimentos da crise timorense, e, actualizada ontem, véspera do regresso da ministra a Dili.
Como é que avalia a carta que o Presidente Xanana Gusmão enviou ao primeiro-ministro Mari Alkatiri?
Devo dizer que essa carta me deixou muito surpreendida e até chocada. Pela forma como tudo se processou mas sobretudo pelo seu conteúdo. Até porque não creio que ela tenha algum elemento novo que altere o discurso que o Presidente Xanana fez há uma semana no Parlamento, quando se assumiu como factor de moderação e como garante da Constituição.
Pode ter mudado de opinião...
Mas um Estado de direito democrático não se compadece com este tipo de comportamento.
Compreende pelo menos as justificações que foram avançadas?
Não. E não percebo também como é possível enviar uma carta desta natureza, que remete para um programa da televisão australiana que, tanto quanto sei, fez acusações falsas ao primeiro-ministro. É por isso que digo que não consigo alcançar o sentido desta atitude do Presidente. Até porque não encontro na sua carta nenhum fundamento legal.
Como é que o primeiro-ministro Mari Alkatiri vai reagir?
O primeiro-ministro, que é também o secretário-geral da Fretilin, vai reunir-se amanhã [hoje] com a Comissão Política Nacional do partido e, no sábado, com o Comité Central para analisar as alternativas que se colocam e que possam, esperamos, contribuir para a resolução desta crise. Mas qualquer solução que vier a ser encontrada não poderá, em caso algum, ofender os preceitos constitucionais vigentes. Sob pena de isso contribuir para o enfraquecimento das instituições do Estado e até para o eventual desaparecimento de Timor-Leste, enquanto Estado soberano e independente.
Admite que Alkatiri se demita?
Pessoalmente, não creio que a solução para a crise passe pela demissão de Mari Alkatiri. Mas, como é óbvio, tudo depende da vontade dele. De qualquer forma, para que isso fosse possível era necessário que o primeiro-ministro tivesse liberdade de decisão, o que, manifestamente, não acontece. Portanto, se ele se demitisse, o seu gesto corresponderia a um simulacro de decisão.
Apesar disso, a Fretilin pode avançar com outros nomes para primeiro-ministro, ou não?
Não creio que, neste momento, exista alternativa ao primeiro-ministro Mari Alkatiri. Salvo se estivéssemos todos a brincar aos governos, o que, francamente, ainda não creio que esteja a acontecer.
Acredita que existam outras saídas para esta crise?
Há sempre soluções intermediárias.
Quais?
Não sei. Neste momento, não estou em Timor-Leste e, por isso, não quero dizer mais nada... Mas admito, por exemplo, que a Fretilin possa aceitar uma equipa governamental mais alargada e que isso possa contribuir para uma solução.
Admitindo esse cenário, o facto é que ainda há muitas questões por resolver. Acredita, por exemplo, que é possível uma reconciliação com os militares que também exigem a demissão do primeiro-ministro?
Mas qual é a saída para um desertor? É a saída legal. Os desertores têm de responder pelos seus actos. Agora, nós estamos habituados a perdoar em Timor-Leste. O que significa que eles terão de assumir primeiro as suas responsabilidades e só depois é que os podemos perdoar. Se perdoámos às milícias, porque não havíamos de poder perdoar aos desertores?
Está a falar de uma amnistia?
O perdão é concedido depois de uma pessoa se apresentar em tribunal e de ser julgada. A amnistia é prévia. Mas o que importa agora é que eles assumam as suas responsabilidades. Sob pena de estarmos a fomentar a impunidade.
É isso que o Presidente tem feito?
Não.
Só admite uma saída legal para esta crise? Não há opções políticas?
Admito que possa existir uma saída política. Só que, do meu ponto de vista, ela deve ter alguns parâmetros. E um deles é o respeito pela lei. Será que esta crise se resolve com a demissão do primeiro-ministro? E se isso acontecer, não estaríamos a abrir um precedente ou a criar condições para que existam novas crises a prazo? É sobretudo nisto que temos de pensar.
Acredita que o primeiro-ministro Mari Alkatiri sobreviverá a esta crise?
O primeiro-ministro Mari Alkatiri tem de sobreviver para que Timor-Leste possa sobreviver. Caso contrário, assistiremos a uma sucessão de governos sempre que umas quantas pessoas se reunirem para protestar.
na Pessoa esteve em Lisboa para participar na reunião da CPLP, organização que a ministra timorense acredita poder vir a influenciar a composição e o desenho da nova missão da ONU em Timor- -Leste. Sobretudo se os Estados lusófonos decidirem concertar posições, como foi anunciado. Esta entrevista foi realizada em dois momentos distintos, tendo em conta os desenvolvimentos da crise timorense, e actualizada ontem, véspera do regresso da ministra a Díli.
“Existem centenas de armas fora de controlo”
Há muitas armas à solta em Timor-Leste. Tem ideia de quantas são?
Não. Para isso era preciso saber quantas armas é que a polícia tinha anteriormente e o levantamento ainda estava a ser feito quando deixei Dili. Mas há muitas armas fora do controlo. E algumas estão, efectivamente, nas mãos de civis. Eram sobretudo armas que estavam com as unidades de Reserva da Polícia (URP) e de Intervenção Rápida (UIR), onde houve deserções.
Estamos a falar de dezenas ou de centenas de armas?
De centenas. A nossa polícia tinha cerca de 3.500 homens…E mesmo que nem todos tivessem armas, estaríamos sempre a falar de centenas.
As forças australianas admitem ter recuperado já cerca de 500 armas…
Pois, mas creio que isso inclui também armas brancas…
Num país como Timor-Leste não deve ser muito difícil perceber onde é que essas armas andam…
Pois não. Mas é preciso terminar o inventário das armas da polícia. A partir daí podemos trabalhar com as estruturas comunitárias e perceber onde é que houve tiros e chegar até às pessoas que detém essas armas.
Como membro do Governo, como é que interpreta as denúncias sobre os “esquadrões da morte”?
Temos assistido, desde o princípio da crise, a uma campanha tremenda contre o primeiro-ministro Mari Alkatiri, em que tudo serve para denegrir a sua imasgem.
Não acredita que o ex-ministro Rogério Lobato tenha distribuído armas por civis?
Não creio. As acusações contra Rogério Lobato são instrumentais. O que a campanha visa é a Fretilin e Mari Alkatiri. Porque a Fretilin não tem, de certeza absoluta, grupos armados. A Fretilin não é, nem nunca foi, uma organização terrorista. Nem mesmo durante a luta armada.
Tem lido a imprensa australiana?
Desta vez, o que é que diz a imprensa australiana? Que somos impopulares? Que não ouvimos o povo? Ou que escolhemos o português como língua oficial?
Há colegas seus de governo, como Ramos-Horta que defendem um inquérito às acusações?
Claro que é preciso investigar. Quanto mais não seja para as desmascarar. Senão é todo o Governo que fica sob suspeita. E, como é óbvio, não estamos disponíveis para ser enxovalhados.
Com ou sem “esquadrões da morte”, admite que existam militantes da Fretilin que tenham sido armados?
Não.
Nem que tenha sido feito à revelia da direcção do partido?
Não creio. Eu também já fui acusada de ter distribuído armas. Isso não tem sentido nenhum.
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quinta-feira, junho 22, 2006
Não existe alternativa a Mari Alkatiri"
Por Malai Azul 2 à(s) 21:46
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
DN, 21/08/06
Na entrevista de ontem do DN do João Pedro Fonseca com o PM de Timor-Leste Mari Alkatiti constava ainda esta peça que não estava on-line.
Os protagonistas da crise, segundo Mari Alkatiri
Taúr Matan Ruak: “Esteve muito bem. No início não estava no país. Foi um profissional que tentou defender a Constituição.”
Paulo Martins: “Ou perdeu o controlo ou, intencionalmente desistiu do comando. Concentrou em si o comando e depois abandonou-o. A polícia ficou muito afectada. Devia estar em Dili a participar no processo de reorganização da polícia, mas continua na sua terra, em Aileu, com polícias armados. O que não o ajuda em nada.”
Tenente Gastão Salsinha: “Conheço-o mal. Falei com ele em Abril, notei que perdera o controlo dos manifestantes.”
Major Alfredo Reinado: “Apareceu um pouco como um cowboy, a tentar projecção, porque fala bem inglês. Os seus objectivos não são claros, estou convencido de que é instrumentalizado mas não sei por quem.”
Bispos de Dili e Baucau: “Têm sido discretos. Estão preocupados com a situação e acredito que vão continuar a participar na busca de uma solução”.
Rogério Lobato: “Tornou-se figura principal na crise porque o seu ministério tutela a polícia, que ficou descomandada. Naturalmente que o ministro é responsável. Não quero dizer que não tenha culpas, todos nós teremos”.
Roque Rodrigues: “É um caso diferente. É um ministro político. Nunca quis intervir nas forças armadas. Nunca se substituiu ao comando. Pecou por defeito. Por ausência”.
Leandro Isaac: “Figura com altos e baixos. Busca sempre protagonismo nos momentos de crise. Lembro-me que nas manifestações da Igreja foi apoiante do Governo. Mantinha boa ligação comigo até ao dia em que começou o congresso da Fretilin. A partir daí, excluiu-se. Dizem que tem estado envolvido com os polícias. Não tenho provas.”
Mário Carrascalão: “Esteve ausente.”
Fernando Lassama Araújo: “Esteve muito perto, mas escondido.”
Majores Alves Tara e Marcos Tillman: “Não tenho informações sobre eles. Vi-os num programa australiano dizerem que tinham provas de que eu distribuí dez armas a cada delegado da Fretilin no congresso – 600 delegados. Acho que é uma loucura.”
Vicente da Conceição (Railós): “Foi delegado ao congresso da Fetilin, em Maio. Esteve cinco minutos comigo. Falámos da segurança em Liquiçá. Mal o conheço. Soube agora que foi afastado das FDTL, no primeiro grupo de 40 expulsos. Há aqui um bocadinho de vingança.”
Tantos maus contra um imaculado! A coisa mais ridicula que ja vi na minha vida.
Timor e o Alkatiri e o resto e paisagem.
Alkatiri andou 24 anos a lutar no mato para conquistar a independencia. Chora e sofre pelo povo que jurou defender e soube defender ate a morte. Viu muitos dos seus companheiros tombar ao seu lado e as inumeras dificuldades que atravessou no seio do solo sagrado de timor aprendeu a ser democratico e amante da paz. Isto tudo mereceu-lhe a confianca do seu povo que jamais o abondonara. Foi preso pelo barbaro invasor e ainda na prisao nunca traiu a sua patria. Soube sempre ser fiel ao pedido que o seu povo outora lhe tinha feito em solo patrio. Continua a luta Alkatiri porque es a chama do povo massacrado.
viva mari alkatiri.
Comandante em chefe da Fretilin
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