quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Zangam-se as comadres...

(Tradução da Margarida)
Radio Australia
28/02/2007

TIMOR: Cercado o líder amotinado procurado

O presidente de Timor-Leste Xanana Gusmão autorizou a captura do líder amotinado Alfredo Reinado. Mas o antigo major das forças armadas diz que se continuará a defender-se a ele próprio de ser preso seja qual for o custo.


Apresentador - Hidayat Djajamihardja, Entrevistado - Alfredo Reinado, líder amotinado e antigo major das forças armadas de Timor-Leste

REINADO: Respeito a decisão do presidente, mas estou triste e sinto vergonha de ouvir isto que uma pessoa como o Presidente Xanana é muito famosa e respeitada pelas pessoas à volta do mundo, decidir uma coisa sem pensar duas vezes, sem ver a realidade no terreno.

Tenho pena quando ele diz que eu sou estúpido. Muito obrigada por isso mas até agora eu fui a única pessoa que afirmou muitas vezes que sempre respeitei e segui as suas ordens e que continuo dado que ele é o meu comandante supremo.

Ele deve ser mais estúpido do que eu por ter confiado em mim, este gajo estúpido, até agora. Tenho muita pena de dizer isto.


DJAJAMIHARDJA: Foi acusado de ter atacado postos da polícia de fronteira e de ter roubado as armas deles. Pode responder?

REINAIDO: É muito fácil responder a isso. É melhor ouvir primeiro a investigação, porque eu visitei-os como amigo, sem apontar armas a ninguém. Tivemos uma boa conversa. Eles prepararam café para nós e também alguns dos meus homens almoçaram com eles e tivemos uma boa discussão. Depois pedi-lhes para me entregarem as suas armas grandes, as armas automáticas, porque precisava delas para defender o povo, porque o povo agora mesmo precisa muito disso e eu estou cá para defender o povoe.

DJAJAMIHARDJA: Agora tem 25 armas, correcto?

REINAIDO: Talvez, se eu quiser apanhar mais aras do que estas, sei onde elas estão, mas não quis. E não tirei as armas a qualquer pessoa. Pedi-lhes para me darem (as armas) e tenho aqui algum do pessoal de polício que veio voluntariamente comigo, que me seguiu. Eles têm de ter liberdade agora, aqui. Eles também estão a fazer segurança à minha volta e há também alguns tipos que deixaram o complexo e que estão a caminho para se juntarem a mim. É assim.

DJAJAMIHARDJA: Está a dizer que eles estão a desertar os postos deles?

REINAIDO: Esperaremos uns dias. Há mais notícias que estão para vir, meu amigo.

DJAJAMIHARDJA: A força internacional liderada pelos Australianos foram agora autorizadas a capturá-lo. Esteve em contacto armado com eles?

REINAIDO: No meu coração nunca desejei ter um contacto com nenhum Australiano. Porque o povo na Austrália deixaram as forças vir para cá, vir para cá para defender o povo deste país e não fazerem derramamento de sangue com ninguém. E eu sei que nesta altura, eles estão a cerca de 800 metros de mim de onde eu estou. Fecharam todas as saídas, entradas, a toda a gente e a cidade é como uma cidade congelada, não se pode entrar, não se pode sair. Assim muitos civis têm as suas casas cercadas e não autorizam o proprietário a entrar ou a sair. É engraçado, não é.

Mas eu prometo-lhe, toda a gente tem o seu direito de defender a sua vida e somos todos militares. Não somos profissionais como eles são bem treinados, mas espiritualmente este é o meu país, esta é a minha casa e eu sou mais forte do que eles são. Prometo ao povo da Austrália, eu não quero ter nenhum confronto com os vossos soldados Australianos e fico envergonhado por fazer isso. Mas se eles vierem, eles atravessaram a linha. Tenho o direito de me defender a mim próprio.

DJAJAMIHARDJA: Se e quando as tropas Australianas tentarem capturá-lo. Vai lutar?

REINAIDO: Como lhe disse, toda a gente tem o direito de se defender a si próprio. Nunca me entregarei ou serei capturado por alguém. Gosto de falar. Eles apontam a arma, apontam a arma a mim, lutarei até à última gota de sangue e fico aqui. Não vou para nenhum outro sítio.

DJAJAMIHARDJA: Quer dizer que não hesitará em matar tropas Australianas? Não hesitará? Não hesitará em matar tropas Australianas?

REINAIDO: Não (só) Australianas, seja quem for que queira pôr em risco a minha vida, eu responderei.

NOTA DE RODAPÉ:

Até que enfim que a imprensa australiana, chama a Reinado "antigo major militar"...

3 comentários:

Anónimo disse...

Depois de ler o discurso de Reinado, ainda não percebi se ele é louco ou se realmente acredita naquilo que diz. Se esta última hipótese for verdadeira, então fica a dúvida no ar: se não é louco, porque se engana a si próprio? Ele sabe que terá que prestar contas à Justiça e, consequentemente, toda e qualquer justificação que invocar para o seu comportamento não tem sustentação. Ele sabe que está só, terrivelmente só.

Aparentemente, parece ser um homem corajoso. Se assim for, dá certamente pena ver um homem desperdiçar assim essa rara qualidade por uma causa perdida. Mas, dadas as circunstâncias, parece que essa hipotética coragem está completamente fora de contexto. Ela surge como uma reacção equívoca, contra as pessoas erradas e no momento errado - cronológica e historicamente. Faz-nos lembrar o Sancho Pança lutando desesperadamente contra os moinhos de vento.

Então, o que o move? Ele sabe que foi completamente abandonado, quando diz que "Respeito a decisão do presidente, mas estou triste e sinto vergonha de ouvir isto"; "sempre respeitei e segui as suas ordens e que continuo dado que ele é o meu comandante supremo."; "Ele deve ser mais estúpido do que eu por ter confiado em mim".

Reinado está ferido no seu orgulho. Sente-se traído por aquele em quem confiou cegamente, tendo levado os seus actos para além do ponto de não retorno e agora sabe que é tarde demais para se livrar da má sorte que o espera, seja ela qual for. Venha o diabo e escolha.

Reinado é neste momento um homem perdido, desesperado e encurralado. Esperemos que os deuses, quando se reunirem em concílio para decidirem o desfecho deste drama, sejam benevolentes e que não haja sangue derramado ou perda de vidas, que a ninguém aproveitaria.

Anónimo disse...

Eu sinto-me muito mal e envergonhado como cidadão timorense quando um crimonoso como Alfredo dizia que o sr.Xanana é estúpido.É uma vergonha para o nosso país.sinceramente!O meu amigo Alfredo !tenha de medir as palavras!Pois essa frase não é normal para dizer aos nossos dirigentes.é uma questão moral e dignidade.

Anónimo disse...

O Alfredo é um homem perdido.luta por lutar que não valerá para ninguém nem para ele próprio.Que pena a fazer dessas coisas.o seu comportamento julgará amanhã.Eu como timorense e neste momento estou a estudar fora do país-(portugal)mas sinto-me muito mal e vergonha quando os meus amigos fazem coisas fora do habitual.estou fora mas sou vítima dos comportamentos dos meus amigos timorenses.Parem...! parem..! com violência.Vamos juntar para construir o nosso país.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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