quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Major Reinado garante que prefere morrer a render-se

Jornal de Notícias, 28/02/07

A Fretilin acusou o major Alfredo Reinado, que ontem foi cercado pelas forças internacionais e que disse preferir morrer a render-se, de querer parar o processo eleitoral com os seus recentes ataques às esquadras da Polícia, no interior sul de Timor-Leste, de onde roubou 17 armas.

"Os assaltos às três esquadras fazem parte de uma orquestração destinada a criar uma atmosfera de instabilidade e terror para parar o processo eleitoral", afirmou Sahe da Silva, porta-voz da Fretilin, num comunicado divulgado ontem ao fim do dia e onde alertava para a necessidade de se prender o mais rápido possível Reinado para "acabar a instabilidade e o terror".

Sahe da Silva alerta que os homens de Reinado pertencem a um grupo de opositores da Fretilin. "Estão preocupados por termos o apoio da maioria da população e, por isso, querem usar a violência para exigir o adiamento das eleições presidenciais" marcadas para o próximo dia 9 de Abril, acrescenta Sahe da Silva, que teme que os dirigentes da Fretilin tenham a sua vida ameaçada pelos homens de Reinado.

"Esta charada já foi longe de mais. Ele deve ser capturado e levado à justiça", acrescentou o porta-voz da Fretilin, que acusou o antigo comandante da Polícia Militar timorense de ter mantido contactos com as forças australianas desde Agosto último, em que fugiu da cadeia de Díli

E desde então, Reinado e algumas dezenas de polícias e militares expulsos após a rebelião de Maio refugiaram-se nas montanhas do interior sul de Timor-Leste, onde ontem foram cercados por soldados australianos das Forças Internacionais de Estabilização (FIE).

"Só lhe resta a rendição", afirmou o brigadeiro Mel Rerden à agência Lusa. "O Governo timorense tomou uma decisão corajosa em tentar uma solução pacífica", acrescentou o comandante da força internacional que ontem sobrevoou a zona onde estava refugiado Reinado com os seus homens, nos arredores da cidade de Same, no Sul do país.

Na resposta ao repto do brigadeiro Rerden, o deputado independente Leandro Isaac diz que telefonou a Reinado e que aquele lhe terá garantido"Render-me, nunca. Prefiro morrer".

Perfil Alfredo Reinado

Idade 40 anos

Situação Major, fugitivo desde Agosto do ano passado

O antigo comandante da Polícia Militar timorense Alfredo Reinado, de 40 anos, volta a ser notícia pela negativa. Em Agosto do ano passado fugiu da cadeia onde estava detido após chefiar a rebelião de Maio que culminou com a matança de 21 pessoas, na sua maioria polícias que o queriam capturar. Então, conseguiu com o seu protesto armado levar à demissão do então primeiro-ministro Mari Alkatiri. Rendeu-se após se submeter às ordens do carismático presidente Xanana Gusmão, que pediu ajuda à Comunidade Internacional para organizar o seu corpo policial e militar. Agora, o mais célebre fugitivo timorense que nunca integrou a resistência que lutou pela independência, sucumbe à tentação de querer ser um desajeitado Robin dos Bosques com o seu séquito de sessenta rebeldes nos montes da ilha. Educado na Austrália (a sua mulher trabalha na embaixada australiana em Díli), é tido por alguma imprensa australiana como um "fanfarrão" visto como herói por muitos timorenses.

http://jn.sapo.pt/2007/02/28/mundo/major_reinado_garante_prefere_morrer.html

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Australianos cercam Reinado em Same
Diário de Notícias, 28/02/07
Armando Rafael

O major Alfredo Reinado, cuja captura foi ordenada pelas autoridades timorenses, estava ontem cercado pela Força de Estabilização Internacional (ISF) em Same, localidade situada a cerca de 80 quilómetros de Díli. Um facto que torna mais credível o cenário de um assalto das tropas australianas, apesar de o antigo comandante da Polícia Militar (PM) de Timor-Leste estar, segundo o DN apurou, rodeado de dezenas de populares. Parte deles participou numa manifestação de apoio ao foragido, refugiando-se na casa do administrador do distrito.

O que talvez explique as declarações do comandante das forças militares australianas, brigadeiro-general Mal Rerden, quando ontem à tarde afirmava que Reinado só tinha uma saída - a rendição. Uma declaração que deixa pressupor que ainda haveria um compasso de espera, destinado a negociações, antes das forças internacionais passarem à acção. Até porque o rebelde timorense e aqueles que o rodeiam sabem que o tempo não lhes é favorável, à medida em que a água e a comida forem escasseando, estando, como aparentam, totalmente cercados.

Mesmo que o deputado Leandro Isaac - eleito pelo PSD de Mário Carrascalão e que, entretanto, passou a independente - se desdobrasse em entrevistas para garantir, a partir de Same, que Reinado não se encontrava no local cercado pelos australianos. E que, além disso, contava com a ajuda de muitos dos 600 peticionários que há um ano foram expulsos das forças armadas timorenses (F-FDTL), dando origem a uma crise que se prolongou por vários meses e que acabou com a substituição de Mari Alkatiri no cargo de primeiro-ministro.

O problema é que as informações de Leandro Isaac têm sido desmentidas pela realidade. A começar pela questão dos peticionários, que Alfredo Reinado sempre se ofereceu para liderar, sem sucesso algum, não havendo, pois, razões para que eles se encontrem hoje ao lado de alguém, cuja captura foi ordenada pelo Presidente Xanana Gusmão e apoiada por todos os quadrantes políticos timorenses.

Mais complexa é a afirmação do mesmo deputado, desmentindo que Alfredo Reinado esteja cercado, quando é o antigo comandante da PM que dá a a entender à televisão australiana que não tem grandes hipóteses de fuga, garantindo, apesar disso, que não tenciona render-se e que está preparado para morrer. Sobretudo se as tropas australianas tentarem um golpe de mão, reforçando a tese já exposta por Isaac de que se trata de uma luta de David (Reinado) contra Golias (Austrália), e procurando, com este tipo de slogan, puxar pela animosidade crescente dos timorenses face às tropas australianas, que parecem temer agora algumas retaliações esporádicas. Nomeadamente em Díli, onde as suas forças estão mais expostas. Ao ponto de Camberra estar preparada para retirar as pessoas que trabalham para as organizações internacionais ou que se encontram em Timor-Leste, ao abrigo de diferentes acordos de cooperação.

Uma medida preventiva que abrange igualmente os cooperantes portugueses, cinco dos quais foram ontem retirados de Same, onde davam aulas, e transportados para Díli, sob protecção australiana.

Resta saber quanto tempo mais é que irá durar este braço-de-ferro que está a verificar-se em Same, região de onde é natural a família da segunda mulher de Alfredo Reinado, explicando as razões porque o antigo comandante da PM se refugiou naquela localidade e até a natureza dos apoios que ali recebeu.

http://dn.sapo.pt/2007/02/28/internacional/australianos_cercam_reinado_same.html

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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