sexta-feira, junho 16, 2006

Obrigado, Margarida.

Tradução:

Timor-Leste: quando a construção de nação destrói
Spiked
Thursday 15 Junho 2006

Philip Cunliffe


Em 14 Junho 2006, o SG da ONU Kofi Annan anunciou que capacetes azuis da ONU têm de regressar a Timor-Leste, somente um ano depois de terem sido retirados. Perto de 2,000 tropas Australianas – mais do que a força Australiana no Iraque – já estão a patrulhar as ruas da capital Dili (1). Foram chamadas para ajudar a restaurar a ordem, depois do país começar a espirolar em lutas mais cedo neste ano, no seguimento do despedimento de soldados em greve.

Em todas as contas, a situação é grave. Mais de 100,000 pessoas fugiram de Dili e algumas foram mortas nos distúrbios. Perturbador como é, somente a violência não pode ser contabilizada para o nível de atenção que tem atraído, quando comparada com a situação no Iraque ou no Sudão.

Portanto o que é que há neste minúsculo Estado do Pacífico que o torna tão importante?

Timor-Leste é um dos mais novos Estados do mundo, tendo-se tornado independente em 20 Maio de 2002. Mas o que fez esta ‘independência’ diferente é que lhe foi doada pela ONU. De Outubro de 1999 a 2002, Timor-Leste foi governado por um governador-geral da ONU, Sergio Vieira de Mello (mais tarde morto no Iraque), como parte da Administração Transitória da ONU em Timor-Leste. A UNTAET foi estabelecida depois de imensa pressão Ocidental sobre a Indonésia para promover um referendo sobre a independência dos Timorenses do Leste em Agosto de 1999.

A UNTAET foi bastante aclamada como um exemplo de sucesso de construção de nação, como mostra o facto que ter sido Vieira de Mello que foi despachado para representar a ONU em Baghdad. Além de que, a chegada de uma força de intervenção liderada pelos Australianos em Timor-Leste em 1999 foi visto por muitos como uma intervenção oportuna para defender os Timorenses da violência das forças Indonésias retirantes.

Timor-Leste foi mostrado como um exemplo brilhante duma intervenção humanitária de sucesso, em contraste com os falhanços percebidos para reagir aos conflitos no meios dos anos 1990 (principalmente no Rwanda e na Bosnia). ‘Nunca antes o mundo se uniu tão determinado e tão firme para ajudar uma pequena nação a estabelecer-se’, proclamou Kofi Annan no dia em que a ONU concedeu a Timor-Leste a sua independência. Semanas antes de o conflito eclodir este ano, o Presidente do Banco Mundial Paul Wolfowitz descreveu o país como uma ‘democracia vibrante’ (2).

Jonathan Head da BBC retrospectamente admite a extenção da compaixão pelos Timorenses que infectou a cobertura dos media em 1999: ‘é suposto que os jornalistas se mantenham desligados das suas histórias mas, obviamente, isso é um mito. Em 1999 cada jornalista disparava por Timor-Leste durante o seu heróico lanço pela independência. Timor-Leste era uma história fora do vulgar de um “país em crises” por causa dos extraordinários níveis de simpatia que provocava ... foi uma história que teve um final feliz.’ (3) Com as correntes imagens da TV de Dili reminiscentes de 1999, mas sem os Indonésios a quem culpar, parece que a fotografia do postal de “final-feliz” dos correspondentes estrangeiros e dos dignitários internacionais, descaminhou horrivelmente mal.

Muitos comentadores denunciam que a incompetência e a divisão da liderança Timorense são responsáveis por esta crise (4). Na verdade, a crise expôs o falhanço da construção de nação da ONU, e o vazio da independência que se propôs oferecer.

Jarat Chopra, Chefe da administração de distrito na operação UNTAET até 2000, escreveu: ‘O estatuto da ONU em Timor-Leste é comparável com a dum monarca-pré -constitucional num reino soberano.’ (5) Mesmo depois da independência, a presença da ONU continuou no país ‘para providenciar assistência em estruturas administrativas fundamentais críticas para a viabilidade e a estabilidade política de Timor-Leste’ (6). O poder excessivo empunhado pelo vice-rei da ONU Vieira de Mello sufocou efectivamente a auto-determinação Timorense. Em 2000, uma das figuras chave da resistência anti-indonésia Timorense, Xanana Gusmão, denunciou a ONU por estar a construir uma ‘república de bananas’ em Timor e por acusar os líderes Timorenses por problemas que estavam inteiramente fora do seu controlo. Ao mesmo tempo que fora concedido o poder supremo sobre Timor, a UNTAET criticava a liderança Timorense pelo seu autoritarismo (7).

Hoje, muitos analistas apontam a extrema pobreza de Timor como uma das causas da violência corrente. Mas a dependência de Timor-Leste na comunidade internacional é mais do que económica; é politica. O projecto de construção da nação da ONU no país cultivou uma liderança cuja autoridade e poder deriva da sua relação com a comunidade internacional mais do que com o seu próprio povo. O resultado final é o espectáculo bizarro de antigos líderes de guerrilha como o Presidente Timorense Gusmão, que resistiu durante décadas às forças armadas Indonésias, agora a suplicar por tropas estrangeiras e à ONU para re-ocupar o país que ele tanto lutou para libertar (8).

Timor-Leste junta-se agora à lista crescente de sociedades arruinadas pela construção de nação através do mundo: Iraque, Afghanistão, Kosovo, Haiti, Bosnia. A tragédia da brutalidade de Timor-Leste ilustra a futilidade de se contar com forças externas para ganhar a auto-determinação em proveito próprio.

Philip Cunliffe é co-convenor do grupo de trabalho da Soberania e os seus Descontentes. Email him at philip.cunliffe@kcl.ac.uk.

(1) BBC News, ‘Australia beefs up E Timor force’, 28 May 2006

(2) John Aglionby, ‘Back to square one’, Guardian, 6 June 2006

(3) Jonathan Head, ‘No happy ending for East Timor’, BBC News, 3 June 2006

(4) Linda Polman, ‘Trappings of State’, Guardian, 31 May 2006

(5) Jarat Chopra, ‘The UN’s kingdom of East Timor’, Survival 42:3, 2000, p.29

(6) See the UNTAET homepage

(7) See pages 140-142 in Simon Chesterman, You, The People: The United Nations, Transitional Administration, and State-Building (Oxford University Press, 2004)

(8) BBC News, ‘Gusmao “shaken” by E Timor unrest’, 14 June 2006
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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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