terça-feira, junho 20, 2006

Dos leitores

Educação: o desafio de Timor

O Governo de Timor-Leste é exemplar entre nações de baixo rendimento ao continuara eleger a Educação como sector prioritário no conjunto das suas políticas. Após o período 1999 a 2002, em que se lançaram os fundamentos desta jovem nação num esforço conjunto da UNTAET (a administração transitória, conduzida pelas Nações Unidas), timorenses e países doadores, continua a ser importante que os actuais Orçamento de Estado (OE) e plano trienal dêem ao sector educativo o maior peso relativamente a outros sectores. Portugal, ainda que muito mal classificado nos ankings da OCDE para a Educação, ironicamente pode dar um contributo decisivo para a melhoria da actual situação timorense nesta vertente.
Timor-Leste é constituído por cerca de 900 mil habitantes, dos quais pelo menos 300 mil, estima-se, vivem em meios urbanos, essencialmente em Dili. A população com idade inferior a 18 snos é cerca de metade da totalidade e 10 por cento desta vive abaixo do limiar de pobreza. Acresce que o crescimen-.o da população total se processa ao ritmo de três por cento ao ano e que o desemprego (estimado em seis por cento) pode aumentar drasticamente nos meios urbanos com a saída prevista da UNMISET (a missão das Nações Unilas em Timor-Leste) em Maio de 2005.
Não é necessário ser sociólogo para entender que um conjunto de indivíduos carenciados, muito jovens e urbanos, se não tiver um nível médio de escolaridade que facilite a inserção na sociedade, pode rapidamente tornar-se numa receita explosiva. Por isso a prioridade colocada neste sector que, a apresentar resultados no espaço de uma geração, poderá melhorar signi ficativamente a produtividade e nível de desenvolvimento do país. ,
A política do Governo timorense para este sector é, pelo menos, clara: atingir a escolaridade primária universal (de acordo com o consagrado na constituição) em 2015; desenvolver os níveis subsequentes de escolaridade, em particular o ensino técnico-profissional, de acordo com as necessidades do país; e promover a alfabetização dos adultos, tudo isto mantendo preocupações de igualdade de acesso entre meios urbanos e rurais. Os indicadores-base de escolaridade em Timor-Leste mostram uma evolução positiva, ainda que sejam dos piores relativamente à região do sueste asiático. Se metade dos adultos e 23 por cento dos jovens são analfabetos, as matrículas de crianças em idade escolar no ensino primário aumentaram de 51 para 75 por cento entre 1999 e 2003. Na vizinha Indonésia, bem como nos restantes países da zona, essa percentagem é de 99 por cento. A construção de escolas nos meios rurais e a reabilitação de muitas outras tem trazido muitas crianças ao sistema educativo. No entanto, não chega que lá estejam: deve-se melhorar os níveis de reprovação e de abandono, que são elevados (20 e 10 por cento, respectivamente).
O Governotimorense tem o mérito de ser explícito relativamente à grande prioridade da sua actuação. Com cerca de 43 milhões de dólares anuais para ela pretendidos em ajudas externas para os próximos três anos, e cuja obtenção dependerá em grande parte da vontade dos países doadores, a educação recolhe 18 por cento do OE, seguida pelos sectores da saúde (12 por cento), transportes (11 por cento) e energia (10 por cento). Entre os países de baixo rendimento, TimorLeste destaca-se pela positiva ao apostar nos seus recursos humanos. Também em Portugal se fala de tempos a tempos do exemplo irlandês na educação, mas a impaciência (criada pelos ciclos eleitorais) pelos resultados de curto prazo tem impedido a mobilização nacional emtorno do desígnio constante, de longo prazo, da educação como fonte de prosperidade de toda a sociedade.
Talvez por isso seja irónico pensarmos que Portugal teve emTimorumpapelifindamental nos anos 1999a2002 (em que o panorama era desolador) na reconstrução e reabilitação do sector educativo básico e que em fase agora de consolidação desses fundamentos possa desempenhar umpapel crítico -mas pode mesmo. Enquanto parceiro prioritário neste sector, Portugal deve estar atento às novas necessidades deste paísirmão e colaborar no desenvolvimento de programas escolares em português, na formação de professores (preterindo a favor destes o ensino directo aos alunos do ensino básico), porque não complementando a presença local de alguns formadores portugueses com muitos mais (e menos onerosos) à distância, através de sistemas de vídeo-conferência. Mais ainda, Portugal deve planear (e não mais ou menos remediar) esta sua colaboração com base nos desafios dos próximos anos, que serão já os do ensino secundário e universitário, bem como a gestão das expectativas profissionais destes jovens. Deve por tiltimofazer avaliações atempadas dos programas financiados, a fim de colaborar com ainda mais resultados no futuro.
Entre 1999 e 2004, Portugal foi o país que mais contribuiu para a educação em Timor, com cerca de 35 milhões de euros, ou seja 25 por cento do total gasto com a educação em Timor. Através do planeamento e coordenação com as autoridades timorenses, importa que esse contributo passe da importância do montante financeiro à eficácia dos resultados.

Margarida Matos Rosa, M.P.A. (Master in PublicAdministration) pela Princeton University;
Responsável pela área de gestão de activos institucional no BNP Paribas e membro de missão possível, grupo cívico de informação e opinião.

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5 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de ler... mas trata-se da Margarida que tem feito as traduções para o blog?

Anónimo disse...

Não, Eu não sou essa Margarida. O seu a seu dono.

Anónimo disse...

ENTRE 1999/2004 PORTUGAL CONTIBUIU ....
ORA AQUI PODE ESTAR A CAUSA DE TODO O PROBLEMA DE TIMOR.
DEPOIS DE 500 ANOS DERAM A SOLA.
DEPOIS DE TANTO DINHEIRO GASTO NA EDUCACAO DE TIMOR SO CRIARAM MALCRIADOS, ATEADORES DE FOGOS,E SORNECAS A SOMBRA DA BANANEIRA A ESPERA DA AJUDAJINHA ETC...
VAO TRABALHAR MEUS MALANDROS.
SE TIVESSE SIDO A AUSTRALIA JA TINHAMOS EXPLORADORES DE PETROLEO, ENGENHEIRO DE MINAS, POLIGLOTAS E DEMAIS GAIVOTAS.

Anónimo disse...

Acho que não é relevante comparar com o pais vizinho Indonesia. Era bom comparar os paises ex-colonia Portuges. Não imagino o que aconteça se consiguimos a nossa inedepndencia em 1975. Na altura apenas temos cerca 1-3 licenciados. Até a data ainda temos analfabetismo 46% na população com idade menos de 11 anos, já e bom.. Se nos olharmos para trás em 2000 quando optamos a lingua portuguesa como lingua oficial apenas temos 5% falantes. Isto significaria que provavelmente até 1975 apenas temos mais ou menos 5-7% não analfabetos, mais de 90% analfabeto. Durente 25 anos da ocupação indonesia reduziu bastante, não podemos ignar isso. Embora conforme o nosso PM, muitos deles são SUPERMIS. Mas uma coisa certa estes licenciados SUPERMIS que estão em Timor não são criminosos. Distribuir armas para assegurar o poder. Timor é para todo o povo de Timor Leste.
VIVA TIMOR LESTE

Anónimo disse...

E a única arma admissível em democracia é o voto.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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