segunda-feira, setembro 24, 2007

Ensinar português em Timor II

Público - Quinta-feira, Setembro 20, 2007
João Paulo Esperança

«Posso ter a minha opinião sobre muitos temas, sobre a maneira de organizar a luta; de organizar um partido; uma opinião que se formou em mim, por exemplo, na Europa, na Ásia, ou ainda em outros países da África, a partir de livros, de documentos, de encontros que me influenciaram. Não posso porém pretender organizar um partido, organizar a luta, a partir das minhas ideias. Devo fazê-lo a partir da realidade concreta do país.»

Amílcar Cabral (citado no livro “Cartas à Guiné-Bissau – Registo de uma experiência em processo”, de Paulo Freire, [p. 9])

O ensino do português em Timor andaria melhor se fosse organizado ouvindo as opiniões de quem está no terreno e conhece a situação real do país, mas muitas vezes os apelos e sugestões dos professores que lá labutam há muitos anos caem nos ouvidos moucos de técnicos de gabinete agarrados em Lisboa às rotinas que criaram noutras eras e noutros cenários (como p.ex. Angola e Moçambique, que são contextos muito distintos) e mais preocupados com o protagonismo das suas instituições do que com o futuro dos timorenses. As declarações do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, que esteve recentemente em Timor em contactos com o actual Governo do país, parecem indicar que as autoridades portuguesas estão empenhadas em que isso mude. O governante referiu-se nomeadamente, de acordo com os jornais, à necessidade de os professores aprenderem tétum, o que parece demonstrar intenção de promover a aquisição de competências específicas para o labor docente destes e para uma melhor integração na sociedade timorense.

Um dos maiores obstáculos à eficácia dos esforços de ensino da língua portuguesa em Timor tem sido o paroquialismo das instituições envolvidas, o arreigado hábito lusitano de “cada um puxar a brasa para a sua sardinha”. Quando cheguei a Timor há seis anos, ao serviço de uma instituição lusa para dar aulas na universidade nacional pública, o “rival” era o Ministério da Educação português, que tinha uma centena e meia de docentes no terreno e se tinha disponibilizado para ceder alguns para darem aulas aos universitários. O Instituto Camões (ICA) é que em Portugal tem a responsabilidade de promover o português no ensino superior no estrangeiro, pelo que houve que recrutar rapidamente aqui um grupo de professores para irem dar aulas para a UNTL, a recibos verdes. Pouco depois o “adversário” passou a ser a Fundação das Universidades Portuguesas (FUP), que arrancou com um conjunto de cursos superiores leccionados por docentes idos de universidades daqui, por períodos de dois meses, incluindo um curso de formação de professores de português. Como o Instituto Camões também apoiava um curso com os mesmos objectivos, passaram a existir ao mesmo tempo, na mesma faculdade, dois cursos superiores apoiados por Portugal e leccionados por portugueses para formar docentes timorenses de português, que funcionavam em portas contíguas, mas de costas voltadas. Esta caricata situação só terminou alguns anos mais tarde quando alguém no Governo, em Lisboa, decidiu que só haveria financiamento para um curso e que as instituições tinham que se entender umas com as outras. A coordenação científica do novo curso foi entregue à professora Mariette Bolina da FUP, que trouxe uma inovadora e benvinda postura dialogante para as reuniões, e que conseguiu uma coisa nova importante: exames de selecção de candidatos que permitem excluir os piores, mas mantendo a possibilidade de os jovens que não dominam ainda o português poderem frequentar um ano propedêutico, onde adquirem as bases que lhes permitirão depois passar nas provas para ingresso na licenciatura. Actualmente as cadeiras de língua portuguesa do curso são leccionadas por docentes do ICA, e as restantes (linguísticas, literaturas, didácticas,...) por professores da FUP. Ah!, e entretanto ao longo destes anos, deixou de haver “veto” sobre a presença de docentes do Ministério da Educação português a ensinar na universidade. Agora há finalmente uma boa cooperação entre as instituições, mas muita energia foi inutilmente desperdiçada antes de se chegar a este ponto.

Situação actual da língua portuguesa e do seu ensino

Em Timor a situação real da língua portuguesa é bastante melhor do que dizem os australianos e pior do que gostam de pensar os portugueses (a wikipédia em português diz que 25% da população fala a língua! hahaha!). Todos os timorenses têm pelo menos algum grau de conhecimento passivo do idioma da lusofonia devido à grande quantidade de empréstimos lexicais do português que entraram para o tétum e para as outras línguas timorenses através dos séculos, mas há uma diferença entre compreender vagamente o assunto de um discurso e ser capaz de ler um livro. É um facto que se fala agora muito mais português do que quando lá cheguei, mas oito anos depois da saída dos indonésios os sucessos estão muito aquém do que seria de esperar tendo em conta o investimento que foi feito. Como diz Flávia Ba no editorial de um Várzea de Letras recente, há uma realidade nova que é o “o aparecimento de jovens que falam a língua portuguesa e que a aprenderam já depois do fim da ocupação indonésia” e “uma geração nova nas escolas primárias timorenses que, principalmente na montanha, não fala já fluentemente a língua dos ocupantes”, uma vez que “no interior do país há muitas crianças que fizeram toda a escola primária em tétum e português e que da língua da integrasi e da otonomi não sabem mais do que algumas palavras”. Porém, esses jovens são em percentagem ainda muito reduzida (boa parte deles alunos nos cursos da FUP e do ICA na UNTL). Poderiam ser mais se não tivesse havido durante bastante tempo nos cursos de formação de professores uma aposta clara (e a meu ver inadequada) num público-alvo de velhos lusófilos. Muitos destes timorenses mais idosos são pessoas extraordinárias (mesmo que o aproveitamento de alguns nas diferentes disciplinas deixe frequentemente bastante a desejar) que mantiveram a língua portuguesa viva em Timor apesar de todas as pressões dos indonésios. Bastantes deles têm até um certo prestígio nas suas comunidades por serem os que sabem português, e sentem-se particularmente embaraçados quando ao voltarem à escola como alunos depois de trinta anos ou mais acabam por não conseguir passar de ano, porque não basta falar razoavelmente um idioma para tirar um curso superior. Talvez a solução fosse preparar cursos especiais de reciclagem para estes aprendentes, com objectivos distintos dos outros. Parece-me que se deveria olhar seriamente para as estatísticas do corpo discente dos diversos projectos de formação de professores que Portugal patrocina, uma grande percentagem dos formandos estará reformada daqui por cinco anos. Todos os graduados até agora como professores nos dois cursos abertos em 2001 pelo ICA e pela FUP são, com uma única excepção, pessoas de idade madura, todos já falavam português antes de entrarem para a UNTL, e a grande maioria já dava aulas desse idioma antes de iniciar esta formação académica. Serão agora talvez melhores docentes, e fizeram um percurso de valorização pessoal importante, pelo que merecem ser elogiados. Mas em relação ao problema global de escassez de professores a sua graduação não resolveu muita coisa. Não seria boa ideia apostar preferencialmente na formação de jovens, mesmo que entrem para os cursos sem saber nada de português? O currículo teria que ser adequado para esse público. Um aluno em Portugal pode entrar para um curso superior que forma professores de italiano, por exemplo, sem saber nada desse idioma; a ideia é que o aprenda durante o curso.

Elites culturais, cena literária, livros e bibliotecas

Os graduados que mencionei fazem parte de uma elite cultural e intelectual leste-timorense, a mesma a que pertence grande parte dos principais líderes políticos actuais, uma geração de quadros cuja formação de base é lusófona. O curso não foi desperdiçado neles, já que vários estão na linha da frente do combate pelo português, acumulando empregos e ajudando a formar novas fornadas de falantes. Mas há outra elite em Timor, que vêm da geração educada sob influência indonésia e que vai controlar as rédeas do país a curto-prazo, à medida que forem desaparecendo de cena os líderes históricos. Alguns portugueses não confiam neles, acham que eles estão só à espera de uma oportunidade para tirar o estatuto oficial à língua portuguesa. Alguns líderes timorenses da velha-guarda também não os apreciam muito, o ex-Primeiro Ministro Mari Alkatiri referia-se a eles nos jornais como “sarjana super-mi”. O super-mi é uma massa instantânea indonésia a que basta juntar água quente, é muito barato e também se consome imenso em Timor, portanto a expressão pode traduzir-se mais ou menos por “licenciados massa instantânea”. Os adversários de Mari Alkatiri retorquiam que o ensino universitário em Moçambique – onde ele se formou – também não prima pela excelência. De qualquer maneira, a razão porque ele lhes chamava isso tem a ver com a má qualidade e corrupção que existe nas universidades indonésias, onde esses quadros se formaram. Mas nem tudo é mau no ensino superior indonésio, também aí há gente bem formada, e existem instituições onde muitos docentes têm doutoramentos feitos em algumas das melhores universidades dos Estados Unidos, Austrália ou União Europeia. E há a vivência académica fora das aulas, que teve um papel importante na formação política e pessoal de muitos jovens quadros timorenses. Recordemos que esses eram os tempos da militância em organizações como a Renetil e a Impettu, e de concertação de estratégias com o movimento indonésio pró-democracia que veio a varrer o país, e principalmente as universidades, numa mobilização sem precedentes contra o regime de Suharto.

Contrariamente ao que alguns portugueses pensam, a Indonésia não é um deserto cultural. Antes tem uma cena artística e literária pujante, onde coexistem colectivos e grupos literários alternativos que organizam sessões públicas de declamação de poesia e leitura de contos ou representação de peças teatrais com cadeias de edição, distribuição e venda de livros que cobrem o país, como a Gramedia (do tipo FNAC). Ofereci a amigos em Timor vários exemplares da tradução indonésia de “O Nome da Rosa” de Umberto Eco, que de resto são vendidos a um preço bastante inferior ao da edição portuguesa. Também ofereci dois exemplares da tradução indonésia do “The Da Vinci Code”. Escritores indonésios como Ayu Utami chegam a vender mais de 100.000 exemplares de um livro. Alguns jovens timorenses que estudavam na Indonésia durante a ocupação moviam-se nesses meios de activistas políticos apreciadores e produtores de literatura alternativa, e viveram nesse país o equivalente do que foi a experiência da geração da Casa dos Estudantes do Império para os movimentos independentistas dos PALOP. Alguns vieram a congregar-se em Díli em organizações como o Sahe Institute for Liberation, a Yayasan HAK, a (entretanto extinta) revista Talitakum, e o partido PD. O Instituto Sahe publicou em língua indonésia alguma literatura política ligada aos países lusófonos, nomeadamente uma tradução de uma obra de Samora Machel sobre poder popular e uma outra de um livro de Ronald H. Chilcote sobre Amílcar Cabral. Na mega-Feira do Livro que o Instituto Camões organizou em Díli em 2003, que foi um enorme sucesso, encontrei um destes jovens activistas à procura de livros. Trazia na mão para comprar um exemplar do “Creole” (tradução inglesa do “Nação Crioula” de José Eduardo Agualusa) e um do “The first global village – How Portugal changed the world” de Martin Page. O moço não falava português e por isso o evento tinha pouco para lhe oferecer. Parece-me que os esforços portugueses na área da educação lusófona e da cultura se têm concentrado principalmente na terceira idade e, a um nível diferente, nas crianças. Esta geração foi bastante esquecida, e é bom lembrar que eles serão os próximos líderes de Timor.

Havia estudantes timorenses na Indonésia que faziam de vez em quando coisas como dizer orações em português um ao outro em ritmo de conversa para fazer crer aos colegas indonésios que dominavam a língua. O objectivo era marcar a diferença cultural. Vários tentavam aprender alguns rudimentos de português com recurso a velhos catecismos ou qualquer outro texto a que deitassem as mãos. Esses jovens davam uma grande importância simbólica à língua de Xanana e dos seus comunicados. Hoje em dia muitos são adultos com menos disponibilidade do que nos tempos da mocidade, sem tempo para frequentar assiduamente e com aproveitamento os cursos de língua portuguesa que aparecem, e consomem principalmente produtos culturais indonésios, porque a lusofonia não coloca à sua disposição produtos culturais oriundos da CPLP em formato que possa ser consumido por eles. Falo de filmes e telenovelas legendados em tétum (ou mesmo em indonésio, formalmente destinados à divulgação no país vizinho mas disponibilizados também em Timor), de literatura lusófona traduzida… Por isso compram parabólicas para ver os canais indonésios, e a elite lê livros de autores de língua inglesa, espanhola, etc… traduzidos para indonésio. Os filhos e sobrinhos deles andam na escola primária, onde muitos já não aprendem indonésio, e falam mais português do que eles, mas quando chegam a casa toda a família se senta a ver a telenovela venezuelana dobrada em língua indonésia.

De vez em quando o programa da RTP Internacional “Timor Contacto” mostrava umas reportagens sobre peças de teatro em português organizadas por portugueses ou brasileiros em Timor, e era deprimente ver como o público era quase inteiramente constituído por malais, com uma ou outra entidade timorense a marcar presença. Eram literalmente “para malai ver”. E nos eventos organizados por timorenses em tétum também era raro aparecer público português. Uma excepção a isto era o jornal literário “Várzea de Letras”, que publicava textos originais em português e tétum e traduções de excertos de obras lusófonas para tétum. Foi fundado por Sóstenes Rego como um jornal de parede para publicar trabalhos dos seus alunos na UNTL, e depois deu um passo em frente sob a orientação de Flávia Ba e, com patrocínio do Instituto Camões, passou a ser publicado em papel como jornal literário do Departamento de Língua Portuguesa da UNTL. Sinto-me orgulhoso de ter contribuído também com textos para o “Várzea” enquanto por lá andei. Creio que a Flávia Ba está de partida, espero que isso não signifique a morte do projecto. Quando estava prestes a vir para Portugal fui contactado por um investigador galego que queria saber mais sobre a cena literária local, sugeri-lhe que conversasse com o poeta timorense Abé Barreto, que frequentemente está ligado à organização de eventos como noites de declamação de poesia, e com a Mara do Instituto Camões, uma das poucas pessoas da comunidade portuguesa que frequenta habitualmente estes meios.
Faltam livros em Timor. Livros em português são necessários e úteis, mas é preciso também um investimento sério na publicação de livros em tétum. Urge um Plano Nacional de Leitura para Timor, bilingue, com uma forte componente em tétum, com livros escolhidos por quem tem experiência no terreno, com base não nas leituras preferidas dos organizadores mas sim naquilo que os aprendentes são capazes de ler. E faz muita falta uma biblioteca em Díli. Uma biblioteca de qualidade, não os muitos quase depósitos de livros que por lá há. Numa área de poucas centenas de metros quadrados no centro da capital timorense há duas bibliotecas do Instituto Camões, uma mediateca do BNU/CGD, a biblioteca da Faculdade de Ciências da Educação da UNTL com livros oferecidos por Portugal (e que passa uma boa parte do tempo fechada)…
porém nenhuma delas tem bibliotecários. Há vários funcionários zelosos, que têm normalmente outras responsabilidades na área da gestão e contabilidade, mas seria desejável formação específica de biblioteconomia. A pessoa que na prática toma conta da biblioteca pode ter sido contratada, por exemplo, para fazer limpezas e falar muito pouco português, apesar de noventa e nove por cento dos livros estarem nesse idioma. Quando um utente entra na biblioteca não há um apoio adequado para o orientar (e note-se que a maior parte dos utilizadores não tem experiência prévia nenhuma a lidar com livros e bibliotecas). A minha sugestão? Fechar estas bibliotecas todas (estão a três minutos a pé umas das outras!) e concentrar todo o acervo numa única grande biblioteca da Cooperação portuguesa, num edifício suficientemente grande, transferindo para lá os funcionários administrativos, de limpeza, motoristas, etc… Depois contratar bibliotecários ou dar formação adequada a alguns dos que já existem. Dado que mexer em livros é uma vocação, que não nasce de repente só porque há uma vaga para trabalhar numa biblioteca, poderia ser feita a selecção de candidatos entre os finalistas dos cursos que a FUP, Ministério da Educação português e ICA mantém em Timor, e poderia preparar-se um curso intensivo de biblioteconomia de um semestre a ser leccionado pela BAD (Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas) ou pela própria FUP (muitas universidades portuguesas têm hoje cursos de biblioteconomia). Depois era só dar-lhes um salário suficientemente atractivo para eles não terem que acumular empregos e para não irem rapidamente trabalhar para alguma outra instituição.


Falar com todos ou só com alguns?

Procuro habitualmente falar português com os meus alunos, mesmo fora das aulas (há alguns que são excepção a isto porque nos tornámos amigos antes de eles aprenderem português e agora é estranho mudar da língua doméstica para um idioma mais formal – uma questão de hábito), porém nas aulas de iniciação à língua portuguesa repetia as explicações em tétum e quando eles me abordavam nos corredores com alguma dúvida esclarecia-os nessa língua quando o português impedia a comunicação. Acontecia-me com alguma frequência haver estudantes que me vinham pedir que lhes explicasse em tétum alguma coisa que um colega meu tinha acabado de leccionar em português noutra disciplina e que eles não tinham compreendido.

Falo em tétum com os taxistas, e com as tias que vendem no bazar, e com as empregadas de mesa (a não ser que eles tomem a iniciativa de usar o português) – o que me evita muitos mal-entendidos. As moças que trabalham nos restaurantes são um dos grupos de jovens que mais rapidamente aprendem a desenrascar-se na língua de Camões (só são ultrapassadas pelos putos que vendem CDs e isqueiros nas ruas), por necessidade, porque uma percentagem grande da clientela é constituída por gente lusófona. A aprendizagem do português é necessária para a estabilidade no emprego, ou para poder mudar para um estabelecimento com mais nível, e com melhor salário. Assim, é perfeitamente correcto que os portugueses se dirijam a elas neste idioma. Menos correcta é a atitude intolerante e mesquinha a que infelizmente se assiste de vez em quando nos restaurantes de Díli quando algum “cooperante” pouco disposto a cooperar provoca cenas constrangedoras repreendendo alarvemente em voz alta as empregadas por não compreenderem um pedido, esquecendo-se de que não está num restaurante chique de Cascais (ou quiçá de Freixo de Espada à Cinta) e de que o português que as raparigas sabem tem vindo a ser aprendido numa de formação contínua “on the job”, como agora se diz. Invariavelmente a moça acaba por se retirar resmungando entre dentes palavrões em tétum contra a arrogância do malai. Nos Correios de Díli falo normalmente português porque há lá umas senhoras simpáticas que dominam a língua, mas uma vez em que lá estava entrou um americano do “Peace Corps” a falar tétum pelos cotovelos e a senhora que me estava a atender começou a dizer que todos os malais aprendiam a língua nacional timorense menos os portugueses, de forma que continuei a conversa em tétum para lhe mostrar que há excepções. Mas na vez seguinte que lá fui continuei a usar o português, claro. Como falo bem tétum e não tenho aspecto de australiano nem faço os “r” esquisitos da pronúncia deles, os timorenses costumam perguntar-me se sou brasileiro – não estão habituados a que os cooperantes portugueses aprendam a língua daqueles com quem cooperam…

Os professores portugueses, principalmente os que labutam nos distritos fora da capital, devem ser louvados pelo seu sacrifício e esforço. Trabalham frequentemente em lugares de difícil acesso, a muitas horas de viagem da capital, fazem muitos quilómetros por más estradas para cobrir as diversas escolas da sua zona de actuação, não têm acesso fácil a bibliografia adequada… Além de tudo isso, quando a situação se torna mais complicada, como aquando dos confrontos do ano passado, não reagem com pânico histérico e não fazem evacuações relâmpago, como fizeram os australianos e os americanos. Os timorenses em geral gostam deles. Para melhorar mais ainda o seu desempenho, creio que será útil dar-lhes as condições para que aprendam tétum e incentivá-los a que o façam. Não apenas porque isso tem reflexos nas competências profissionais específicas para o exercício da sua função em Timor (ainda que haja às vezes uma tendência para o ensino do português no estrangeiro privilegiar o professor-turista em vez do professor-especialista, o volume de investimento em Timor justifica que as coisas sejam feitas com uma abordagem diferente), mas também porque isso os tornará pessoas mais felizes. Muitos dos docentes portugueses são jovens e é normal que gostem de fazer amigos entre pessoas da mesma faixa etária, ora, se não souberem tétum não poderão facilmente socializar de forma normal com timorenses que tenham menos de cinquenta anos. Saber tétum promove uma melhor integração. E ninguém gosta de viver sozinho numa ilha. Um professor de línguas, como um tradutor, é um construtor de pontes entre culturas.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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