Jornal de Notícias, 08/08/07
Pedro Olavo Simões
Kay Rala Xanana Gusmão assumirá um cargo complexo, o de primeiro-ministro, ministro da Defesa e Segurança e ministro dos Recursos Naturais. Além de chefiar o Executivo, toma em mãos as pastas mais delicadas, ou seja, as que se prendem com o cobiçado petróleo e com a precária segurança de Timor-Leste. E o segundo destes factores está em permanência na ordem do dia, com uma continuidade de distúrbios como os que, especialmente em Baucau, se seguiram à indigitação anunciada pelo presidente da República, José Ramos-Horta.
A escolha do anterior presidente, líder emblemático da resistência à ocupação indonésia, foi mal acolhida pela Fretilin, o partido mais votado nas legislativas, que acusou Ramos-Horta de levar a cabo um "golpe de Estado constitucional". Mas, contrariamente ao que seria de supor, não foi em Díli que a reacção popular foi mais violenta. Enquanto a capital do jovem país adormecia calmamente após alguns incidentes de pouca monta, Baucau, cerca de 120 quilómetros na direcção do sol nascente, estava em ebulição e parcialmente paralisada, com ataques a vários edifícios públicos e episódios de intimidação.
Segundo dados recebidos pelo correspondente da agência Lusa, foram incendiadas, em Baucau, as instalações da Fundação Alola, uma organização não-governamental fundada por Kirsty Sword Gusmão, a mulher de Xanana. A fúria incendiária dos simpatizantes da Fretilin estendeu-se, na mesma cidade, ao restaurante Benfica, ao edifício da Administração Central e à antiga gráfica da diocese. Segundo habitantes da cidade, cerca de mil manifestantes estariam ali concentrados, vociferando contra a indigitação de Xanana.
De acordo com Mateus Fernandes, um chefe de Polícia citado pela Reuters, as autoridades detiveram 15 pessoas, tendo usado gás lacrimogénio para dispersar os contestatários.
Na capital timorense, registaram-se, mais cedo, dois episódios com relevo a tentativa de ocupação do terminal do aeroporto, imediatamente neutralizada pelas forças de segurança, e um novo incêndio na alfândega, em pleno centro da cidade, que, de acordo com a ministra do Plano e Finanças, Madalena Boavida, terá sido um aproveitamento por parte de cidadãos envolvidos em processos, que quiseram destruir provas.
Mari Alkatiri, antigo primeiro-ministro e secretário-geral do partido mais votado, encontrou-se ontem com Horta e Gusmão. À saída, apelou à calma "Admitimos que os protestos sejam feitos por apoiantes da Fretilin, mas eles estão a agir sem a nossa autorização".
De resto, em termos políticos, o único desenvolvimento foi o anúncio dos governantes escolhidos por Xanana, mantendo-se a expectativa quanto ao que o Tribunal de Recurso determinará sobre a decisão de Ramos-Horta. O Governo está, tudo o indica, pronto para assumir funções. Tendo havido primeiras escolhas recusadas pelo presidente, certo é, também, que, numa inovação introduzida por Ramos-Horta, todos têm de fazer prova de não terem antecedentes criminais.
Troca de cadeiras
Da Fretilin, que agora parece ser o inimigo de estimação de ambos, saíram José Ramos-Horta e Xanana Gusmão, protagonistas da governação timorense que agora trocam de lugares. Embora não tenham passado tantos anos, rapidamente os tempos da resistência se tornaram estranhamente distantes. Num pequeno país assente em petróleo e mergulhado em miséria, as dissensões parecem insanáveis e, embora o novo presidente da República clame independência, muitos são incapazes de imaginar algum tipo de separação entre estes dois homens. Os resultados das "legislativas" não foram claros, uma vez que, embora permanecendo a força política mais votada, a Fretilin não garantiu uma base de apoio que lhe permitisse governar sozinho. E uma coligação a quatro permitiu o, afinal, nada supreendente episódio desta troca de cadeiras.
quinta-feira, agosto 09, 2007
Escolha de Xanana revolta partidários da Fretilin
Por Malai Azul 2 à(s) 07:34
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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