sábado, junho 30, 2007

Xanana tenta desalojar a Fretilin do poder

Público – 30.06.2007 - 08h11

Legislativas em Timor: Urnas já fecharam mas não se prevê uma maioria absoluta

Adelino Gomes
As urnas de voto para as legislativas, a que concorrem 12 partidos e duas coligações, encerraram às 8h00 de hoje (hora de Lisboa), em Timor-Leste, após uma campanha que decorrreu, segundo a ONU, de forma "largamente pacífica", embora marcada pela morte duas pessoas, uma das quais segurança de Xanana Gusmão, e por actos intermitentes de violência, que provocaram dezenas de feridos, quase todos ligeiros.
O ex-primeiro-ministro, Mari Alkatiri, e o ex-presidente, Xanana Gusmão, polarizaram a campanha eleitoral, com o antigo comandante supremo da resistência a liderar uma nova formação política, o CNRT, que pretende desalojar do poder a Fretilin, detentora da maioria absoluta de lugares no Parlamento Nacional.

Tanto os responsáveis da Fretilin como os do CNRT se manifestam convencidos da vitória, mas observadores citados pela imprensa internacional não acreditam que qualquer dos contendores obtenha maioria absoluta de modo a governar sozinho.

Independentemente dos resultados, o Presidente e Nobel da Paz, José Ramos-Horta, aliado do seu antecessor na crise de Abril de 2006, quando um terço do contingente militar abandonou as Forças de Defesa do país (F-FDTL), apela à constituição de um governo de unidade nacional, pois não há, em Timor-Leste, hoje, "um único partido capaz de erguer um único governo pacífico, de assegurar a estabilidade e uma boa economia, obtendo a confiança e a ajuda da comunidade internacional". O CNRT concorda com esta proposta, tendo anunciado já que, se vencer as eleições, convidará o dirigente do PSD e antigo governador no tempo indonésio, Mário Carrascalão, para a chefia do Governo, entregando a presidência do Parlamento a Xanana Gusmão.
Embora os seus dirigentes se mostrem mais reservados, a Fretilin poderá aceitar igualmente a proposta presidencial.

Em declarações aos jornalistas no comício de encerramento da campanha do CNRT, Ramos-Horta disse que a maioria dos partidos com quem falou sobre ela "inclusive a Fretilin, estão abertos para formar um governo de unidade nacional".

Apesar das chuvas, que dificultam as deslocações, e da maior complexidade de processos do que nas recentes eleições presidenciais, os responsáveis da Missão das Nações Unidas para Timor-Leste (UNMIT) declararam que a votação tinha "todas as condições para começar e terminar à hora marcada", nas 708 estações e nos 520 centros de voto espalhados pelo país.

O acto eleitoral - o terceiro em menos de três meses - está a ser fiscalizado por 3 mil observadores de 45 países e organizações nacionais e internacionais. Portugal, a União Europeia e a CPLP enviaram delegações. Os resultados oficiais só devem ser anunciados a meio da próxima semana.

Dinheiros do petróleo

Atravessada pelo choque de personalidades mais do que de programas, a campanha eleitoral assistiu ao esgrimir de argumentos sobre os grandes problemas que Timor-Leste enfrenta (a pobreza e o desemprego à frente de todos) e ao modo como o futuro Governo deve aplicar os dinheiros gerados pelo petróleo.

A oposição, e em particular o CNRT, na linha das posições de Ramos-Horta e de outros candidatos presidenciais, acusa o partido ainda no poder de ter deixado milhões de dólares a apodrecer numa conta no estrangeiro, enquanto o povo timorense sofre as maiores privações.
"Não é apenas uma questão de gastar o dinheiro do fundo do petróleo, mas de gastá-lo responsavelmente", respondeu a Fretilin, lembrando que os mil milhões de dólares de que o país dispõe neste momento no Fundo Petrolífero - aliás, aprovado por unanimidade no Parlamento - "foi gerado por recursos não-renováveis", pelo que "precisa de ser investido em actividades que sejam sustentáveis".

Após propostas concretas de distribuição de dinheiro pelos mais necessitados, vindas do lado dos seus adversários e do presidente Ramos-Horta, a Fretilin anunciou que se dispõe a entregar 10 mil dólares por cada suco (equivalente a freguesia) dos 13 distritos do país e a investir 100 milhões de dólares na criação de empregos.

Governar com "transparência", "privilegiar" a justiça, saúde e educação e "combater" a corrupção foram as bandeiras apresentadas por Xanana Gusmão.

Para além dos resultados do CNRT (o mesmo é dizer de Xanana Gusmão, a sua única cabeça de cartaz), os analistas olharão com especial interesse para o número de lugares que obterá o Partido Democrático (PD), o segundo partido mais votado nas últimas legislativas.

O seu líder, Fernando "Lasama" Araújo, conquistou o terceiro lugar na primeira volta das presidenciais, a escassa distância de Ramos. É visto, neste momento, como a principal figura da geração de políticos que se prepara para suceder aos velhos líderes da resistência, representados por Xanana, Horta e Alkatiri.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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