terça-feira, fevereiro 27, 2007

Dos leitores

H. Correia deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Ataque do major Reinado motiva caça ao homem":

Faz bem a Drª Pascoela em nos alertar, pois a situação em Timor-Leste é sem dúvida preocupante. Eu diria mais: é muito grave.

Mas o pior são alguns espíritos porventura bem-intencionados, dentro e fora do País, que se recusam a ver a evidência. O fascínio pelo mito chamado Xanana é muito forte, ao ponto de esses seus admiradores acharem correctas algumas decisões arbitrárias que não aprovariam em nenhum outro país do mundo. Esses simplórios, sem o saberem, são o melhor instrumento daqueles, maliciosos, que se escondem na penumbra e exploram a sua ingenuidade. Na imprensa, nas universidades, nas ruas, nos fóruns da internet, etc, dizem exactamente aquilo que se espera que digam e são veículos de frases feitas, mentiras, meias-verdades ou slogans repetidos mil vezes para entrarem bem no ouvido.

O estado hipnótico em que se encontram impede-os de analisarem fria e objectivamente o que se está passando. A morte de dois cidadãos timorenses inocentes às mãos de um exército estrangeiro que supostamente devia protegê-los e em vez disso serve de guarda pretoriana aos inimigos da democracia e da independência de Timor-Leste é encarada com tanta naturalidade que ninguém parece importar-se com isso. E se alguém insistir em obter uma reacção, há até quem invoque o velho e gasto bode expiatório da culpa de Alaktiri e do seu Governo, que já não convence ninguém, agora que sabemos por experiência própria qual foi a alternativa que lhe sucedeu: apesar da boa vontade de alguns ministros, sérios, a situação piorou com o actual Governo.

É grave que Timor-Leste esteja refém de um novo exército ocupante, que dita as leis em país alheio. É grave que o exercício da Justiça dependa do poder discricionário de um Presidente, como dependia a vida dos gladiadores do polegar dos imperadores romanos.

É grave que um Presidente, já obcecado com o próximo 2º acto da sua tragicomédia, não seja capaz de assumir as suas responsabilidades quando diz que Reinado passou dos limites.

Não era esse o seu entendimento quando tomava chá com o foragido e lhe escrevia bilhetes, nem quando tentou impedir a GNR de proceder à sua detenção. Não era esse o seu entendimento quando os seus amigos australianos deixaram fugir Reinado da prisão, arranjando assim uma maneira airosa para sair do embaraço da sua detenção. Não era esse o seu entendimento quando o Procurador e seu amigo Longuinhos Monteiro assinava acordos com o foragido, passando por cima das leis de Timor-Leste.

Há muito que Reinado passou dos limites. E ao fazê-lo, pôs a nu as limitações do Xanana político, que não é a mesma pessoa que o Xanana combatente. O segundo foi capaz de derrotar um exército 300 vezes mais poderoso.

Mas o primeiro sucumbe à fraqueza e à falta de carácter perante o mínimo obstáculo, confundindo autoridade com eufemismos como "reconciliação" e outros, que repete maquinalmente.

Há muito tempo, por isso, que tanta gente pedia a captura de Reinado! Há muito tempo que ninguém percebia porque é que o comandante australiano dizia não ter ordens para capturá-lo e porque é que as suas forças confraternizavam com ele. Há muito tempo que ninguém percebia porque é que um foragido à Justiça podia participar numa conferência, ao lado de um ministro e porque é que era transportado num helicóptero australiano cada vez que queriam falar com ele, para além das vénias e da passadeira vermelha que lhe estendiam.

Será que o Presidente Xanana não sabia disto tudo? Não achava ele na altura que os limites já haviam sido ultrapassados há muito? Ou teria estado ausente... em que planeta?

O seu orgulho e narcisismo impedem-no de assumir as responsabilidades e pedir desculpas públicas pelos erros que cometeu. A sua esposa, que há não muito tempo jurava que Reinado não era nenhum criminoso, agora está prudentemente calada. O silêncio às vezes é muito esclarecedor.

A incoerência de Xanana é confrangedora, quando obriga um primeiro-ministro a demitir-se, escandalizado com uma acusação falsa de armas distribuídas, e fica impávido e sereno quando um energúmeno assalta um posto de polícia de verdade e rouba armas de verdade. Ainda para mais quando esse personagem era, até há pouco tempo, seu protegido.

A sua política de tapinhas nas costas e paninhos quentes levou a este descalabro. Há muito tempo que Reinado passou dos limites. Mas o Xanana político também. Dos limites e de prazo de validade.

3 comentários:

Anónimo disse...

Debrucas-te no relatorio da Comissao de Inquerito.
Estas tambem envolvido pois nao? Era um golpe Constitucional com o objectivo de quebrar tudo e recompor de novo a laia da FRETILIN radical.

Ubar

Anónimo disse...

Tu so ficas relaxando nos cafes de Dili sem a minima coragem de ir convencer os Milicias pro Autonomia. Estao todsos ai no Timor Ocidental. E perigoso se vancarmos com justica formal. Nem te preocupes elaborar um trabalho para esclarecer a definicao corecta da Justica. Eu penso que a reconciliacao faz parte da justica em materia filo-psicologica. Para ja com instigacoes como fizeste ao longo dos 4 anos no poleiro.

Rohan

Anónimo disse...

Parabéns a H. Correia pelo excelente post. Há de facto um fascinio do Reinado pela figura do Xanana. E grande parte desta confusão radica no facto de Reinado ver em Xanana "o comandante supremo das forças armadas" numa leitura literal do texto constitucional e o Xanana nunca ter percebido que o ser presidente da república não é o mesmo que mandar num grupo de guerrilha.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.