JORNAL NACIONAL SEMANÁRIO
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João Porventura
Basta ler “O Príncipe”, essa obra maior de Maquiavel, para se saber como se reina na anarquia sem que os reinados percebam!
É uma miséria nacional aquilo a que se assiste em Díli. A grande ofensiva australiana está em marcha e parece ter vindo para ficar. A violência subiu de tom. Qual a razão de tamanho desespero? Porquê, para justificar a saída às ruas de Díli dos mais vergonhosos esforços do país vizinho, a Austrália? Sempre que se chegam à frente é para provocarem piores situações do que as resolverem. Estamos bem recordados da pressa tida para entrarem no nosso país apoiados por uma carta “verde” assinada pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, para dominarem a segurança e no país e eles assim se mantém sem estarem sob a “batuta” das Nações Unidas. A Austrália está em Timor-Leste a assumir um reinado de desgraça. E a forma, basta ler “O Príncipe”, essa obra maior de Maquiavel, para se saber como se reina na anarquia sem que os reinados percebam! Não defendemos a expulsão de tropas estrangeiras amigas, defendemos sim a retirada imediata dos soldados australianos e seus chefes cujo exército se tem mostrado inoperante, ineficiente por negligência e absoluta coincidência com o escalar da violência. O exército australiano parece ser, em definitivo – até basta ler a imprensa australiana-, um motor contra a FRETILIN, contra um partido político cuja legitimidade nacional é indesmentível.
Os australianos mataram mais um timorense. Desde que entraram muitos mais morreram pela notória e afirmada falta de vontade dos australianos em verdadeiramente ajudarem os timorenses nesta crise. Quem legitima a morte a tiro dentro de uma tenda de um nacional do nosso país? A pergunta que fica é que respostas e justificações nos dão para esta morte? Será a filosofia da “perfídia”? Ser duro, aniquilar todos para protegermos o nosso poder exterminando os que podem representar poder ao poder? Saberão os australianos e os seus amigos cá dentro que a única coisa que não se vence numa guerra é a dignidade humana assente em convicções profundas? Acharão os australianos que matando mais um dos nossos que mostram o poder do gigante vizinho? Timor jamais se curvará aos ocupantes tenham eles ou não cartas de autorização sejam elas de que forem. A hora é de unir o país e dizer basta em definitivo. Aqueles que desejam o poder do país têm de se sujeitar à sabedoria popular em escrutínio geral e secreto. A inviabialização das eleições é o que mais agrada a quem nos quer ocupar e que já para cá foi trazido. Este cenário que aqui se vive está em qualquer livro que relata ou exemplifica estratégias de ocupação de um país. O nosso tem o azar de ter muitos maus filhos cujo sentido de Pátria e de povo ficou longe nas sequelas de 24 anos de jogos de poder e de sedução.
A vida de um Povo não se pode dedicar ao protagonismo dos seus líderes fora do trilho do bem servir.
Esta morte no aeroporto não tem desculpa e não é justificável! Os militares australianos devem sair de Timor-Leste. Falharam no objectivo declarado internacionalmente, mas não estarão a falhar no cumprimento da agenda que para cá os trouxe. Por muito que tentem vender outra verdade esta é aquela que eles deixam nas ruas da nossa capital.
Timor-Leste perdeu a soberania e a independência, perdeu inclusivamente a razão. Reparem como surge a violência nos pontos de distribuição e de venda de arroz. Estamos recordados da intervenção da Igreja Católica sobre a matéria através do Padre Domingos Soares? Afinal o que se passa aqui? Vamos continuar a fazer de conta que nada passa? Que é tudo inocente e natural? No Vaticano ninguém diz nada? Onde estão os Bispos cá da terra? Concordantes, com a crescente instabilidade nacional? Tipo: não interessa de onde vem? Os Padres têm sempre razão? Não é papel da Igreja ser um moderador neutral em nome da Paz? Ou estamos de volta à Igreja do Papa Alexandre?
Estamos a escrever a vergonha nacional a cada dia que passa. As gerações vindouras estão a ser ameaçadas na sua existência. Maldito petróleo, maldito Mar de Timor! E que azar ter vizinhos expansionistas mais interessados na subjugação do que no desenvolvimento sustentado no respeito entre os povos.
Estamos já no abismo, diria estarmos quase no ponto de não retorno. Maquiavel esse visionista das realidades políticas concretas. Não se evita o conflito maior provocando conflitos mais pequenos, o grande acabará sempre por provir e vingar.
Perdemos um rumo que nos levava pela rotatividade democrática a outros modelos de gestão nacional que surgiriam da prática da democracia. Mas não, o assalto ao poder nacional, iniciado em Abril de 2006 parece não estar ainda terminado. Lamentamos que assim seja pois as bases da confiança internacional, caíram por terra e o nosso país hoje só já interessa a alguns falantes de língua inglesa que estão “com a mão no mel” – alguns destes até falam uma das duas língua oficiais.
Violência
A forma como nos utlimos dias tem vindo a aumentar o clima e ambiente de violência na capital faz-nos pensar uma vez mais sobre o papel de quem veio para Timor-Leste supostamente para garantir a ordem e estabilidade nacional. Mas não. Está tudo ao contrário. Resta saber até quando o Povo vai aguentar com as provocações da Austrália por terras nossas. Disseram-me um dia na Austrália que este país não quer democracias sólidas à sua volta. A Austrália só pode reinar na Oceania se tiver uma cintura de protectorados. Papua Nova Guiné, as Fiji, as ilhas Salomão, não interessam organizados aos australianos. Mas Timor-Leste também não. Sobretudo, se a ordem política for a que eles mesmo ajudaram a combater em 1975: a FRETILIN. A Austrália tem um ódio de estimação à FRETILIN. Cá dentro temos políticos fundadores da FRETILIN que parece odiarem a FRETILIN. Então como fica esta história de ódios? Parece-nos muito simples. Um ódio pelo poder que representa na região. Malfadado país.
Presidenciais
Estamos em acreditar que a candidatura de Ramos-Horta conta que Lúcia Lobato, Manuel Tilman, José Avelino, entre outros desistam das suas e o apoiem a si mesmo para o Palácio das Cinzas. Parece ser este um cenário com alguma razão, mas não queremos acreditar que o PST apoie Ramos-Horta hoje ou amanhã – tem convicções políticas de qualidade raras por cá.
Lúcia Lobato
É forte e tem o apoio do histórico Mário Carrascalão que emergerá durante a campanha - se se realizar…*. Mário Carrascalão é respeitado e amado por muita gente que o recorda como um bom irmão. Lúcia vai lucrar com esse capital de simpatia e respeito do seu presidente de Partido. Por outro lado, Lúcia Lobato, jamais dará a José Ramos Horta esse prazer. Aliás, parece que o PSD não é daqueles que têm memória histórica curta daí não perdoar incumprimentos para consigo. Assim lá se vai o apoio ao cidadão Ramos-Horta.
Ramos-Horta, presidente?
Nem tudo são favas contadas. Logo estaríamos a dizer que os outros não prestam. A Ramos Horta há o reconhecimento internacional pois é hábil a mexer-se nos corredores aqui e acolá. Joga com a comunicação social e fez uma boa gestão da sua imagem junto dos media internacionais. Porém, não tem experiência de Povo. Não passou 24 anos de arma na mão a defender a soberania do país cá dentro. Fê-lo lá fora com muitos outros irmãos de luta pela libertação. Teve um papel importante na estratégia lá fora, mas não foi o único, mas era o que mais se metia à frente da câmara de televisão e que mais jantava com os jornalistas – cumpriu bem o seu papel a esse nível. Mas os internacionais seus amigos não votam… quem vota é o Povo e esse decidirá em quem vai votar – se o deixarem exercer esse desígnio maior da democracia. Portanto, hábil como é sabe bem que não será uma luta fácil. Estará na memória de Horta a derrota que um dia Manuel Carrascalão lhe infligiu na Constituinte.
Horta tem o apoio de Xanana Gusmão e dos Bispos. Outra coisa não seria de esperar. Mas, não tem o apoio da FRETILIN, do PSD, da UDT, do PD, da ASDT, do PST, do KOTA, dos Trabalhistas, do Partido Nacionalista entre outros. Como vai Horta recuperar a confiança destes partidos políticos? Parece demasiadamente sozinho nesta corrida…
Lu'olo
Representa a luta armada de 24 anos de morte, dor e acreditar. Representa 24 anos de dedicação ao valor Pátria. Quando alguns só já usavam a palavra Timor para se servirem, num jantar e terem uns Escudos, dólares americanos ou australianos, nos bolsos para gastar…, ali no mato, nas montanhas resistentes do nosso país estavam homens simples movidos pela força da vitória. Pela força de se ser razão. Esta é a mais valia de Lu'olo na corrida às presidenciais. Fá-lo como democrata e não como salvador, fá-lo como patriota. Só tem um problema: pouco jeito para falar para as câmaras.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
Miséria Nacional
Por Malai Azul 2 à(s) 18:23
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
Pode ter pouco geito para as câmaras mas em contrapartida Lu'Olo tem um perfil de muita dignidade e uma tocante sabedoria humilde. E os seus discursos são duma qualidade e profundidade exemplares.
Só posso concordar que as mortes no campo de deslocados do aeroporto não têm desculpa, não têm justificação e que foram crimes de lesa pátria. Só espero é que na próxima conferência de imprensa da UNMIT os jornalistas daí saibam colocar com toda a firmeza a questão ao responsável e que o próximo governo da Fretilin não deixe cair o esclarecimento deste crime odioso junto da ONU. Porque deste PM e deste Ministro dos Estrangeiros nada espero para defender os interesses de Timor-Leste.
Este excelente artigo do Semanário levanta questões muito pertinentes que têm sido evitadas por muita gente, nomeadamente como é que RH (e mais tarde o tal CNRT) conseguirá resolver as dissonâncias entre os vários partidos, para garantir o seu apoio unânime. Parece-me que essa fragmentação do espectro partidário timorense assenta em divergências demasiado profundas e uma candidatura de RH (ou do CNRT) só seria aglutinadora dessa massa tão heterogénea se conseguisse incorporar um denominador comum, ou seja uma única ambição, projecto ou objectivo. Tal parece-me pouco provável - e a mera fobia à Fretilin não me parece ser suficientemente forte para isso, mas a ver vamos...
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