TIMOR-LESTE
Fonte: Diário de Notícia
26-02-2007
pag. 11
Autor: Cadi Fernandes
Numa altura em que os timorenses se preparam para escolher, em Abril, um novo presidente, o espectro da violência volta a pairar sobre o país. O antigo comandante da Polícia Militar de Díli assaltou a esquadra de Maliana, roubando as armas que lá se encontravam. Ao DN, a embaixadora Pascoela Barreto não esconde a sua preocupação: "O que está por detrás disto?"
Uma verdadeira caça ao homem foi lançada, ontem, em Timor-Leste, depois de forças do major Alfredo Reinado terem assaltado um posto da policia em Maliana, a sudoeste de Díli, perto da fronteira com a Indonésia, roubando armas que lá se encontravam. Isto numa altura em que, na frente política, o actual primeiro-ministro timorense e Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, acaba de oficializar a candidatura à Presidência da República (ver caixa).
Nesta operação estão envolvidas forças timorenses e também militares australianos e neozelandeses das Forças de Estabilização Internacionais (ISF), sem que se perceba, ainda, se estão a funcionar em sintonia ou de forma independente.
"Não houve confrontos nem resistência", afirmou à agência Lusa a comissária Mónica Rodrigues, porta-voz da Policia das Nações Unidas (UNPo1). O que pode ser justificado pelo facto de as forças policiais terem sido literalmente surpreendidas pelos homens do major Reinado ou, em alternativa, pela dimensão do ataque perpetrado no posto Junction Point Charlie, em Tonubibi, Maliana, dado que os assaltantes estavam fortemenfe armados. Mais: o major terá dito que precisava das armas "para defender o país". Um país que, a 9 de Abril, será chamado às urnas para a primeira volta das presidenciais.
A comprovar a volatilidade da situação - na sexta-feira registaram-se confrontos entre homens munidos de setas metálicas e soldados australianos armados, que resultaram na morte de dois timorenses -, as Nações Unidas decidiram prolongar por mais um ano, até Fevereiro de 2008, a sua missão em Timor-Leste (UNMIT), cujo mandato expiraria ontem.
A tensão adensa-se. Os australianos, que não hesitam em disparar, se necessário - como terá acontecido num campo de deslocados junto ao aeroporto de Díli -, estão conscientes da possibilidade de novos ataques. E os indonésios intensificam as operações de vigilância junto à fronteira.
Este é mais um episódio da saga de Reinado, ex-comandante da Polícia Militar, com contornos violentos e estranhos, que inquieta sobremaneira os timorenses, como afirma, em entrevista ao DN, a embaixadora Pascoela Barreto. No fundo, está em causa perceber porque é que Reinado, que passou de polícia a bandido, figura marcante da crise político-militar que abalou Timor em Abril, Maio de 2006, permanece livre. Uma situação tanto mais enigmática quanto se sabe que Reinado e o procurador-geral da República timorense, Longuinhos Monteiro, terão assinado, há três semanas, em Gleno, um "acordo explícito", nos termos do qual o foragido se comprometia a prestar contas à justiça, como revelou, no sábado, Ramos-Horta à Lusa.
No blogue Timor Online, por exemplo, dá-se conta desta estupefacção: "A PNTL (Polícia Nacional de Timor-Leste) em Maliana está sozinha ou quantos UNPo1 estão lá?"
Em Arouca, onde está de visita, o bispo D. Ximenes Belo, administrador apostólico emérito de Díli, disse: "Rezo pelo meu país."
Ramos-Horta oficializa candidatura presidencial
O primeiro-ministro timorense, e Prémio Nobel da Paz, José Ramos-Horta, fez ontem em Laga o anúncio formal e oficial da sua candidatura às eleições presidenciais de Abril: "Hoje [ontem], aqui, nesta terra de Laga, anuncio a todo o povo de Timor-Leste, lorosae e loromu, tasifetu e tasimane, e ao resto do mundo, a minha candidatura a presidente da República." José Ramos-Horta referia-se aos quatro pontos cardeais da geografia timorense: Lorosae, o Leste e o seu povo; Loromu, o povo do Oeste do país; Tasifetu, literalmente "o mar mulher", na costa norte; Tasimane, "o mar homem"", da bravia costa sul. Estas categorias, sobretudo a suposta divisão entre lorosaes e loromus, têm sido o pretexto e o contexto de violência e tensão em Timor, desde o início de 2006. Foi contra uma alegada discriminação étnica que cerca de 600 militares das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste assinaram, há quase um ano, uma petição ao actual Presidente, Xanana Gusmão, e às chefias militares, lançando as bases de uma crise que rebentaria em finais de Abril. Vários mortos e algumas detenções depois, José Ramos-Horta deixou ontem uma mensagem clara sobre o assunto ao abandonar Laga - como relatou o correspondente da Lusa, Pedro Rosa Mendes -, afirmando, em tétum, que "Timor é um ou uno".
Seis perguntas a… Pascoela Barreto – Embaixadora de Timor
“Urge repor a autoridade do Estado”
Que análise faz da situação?
Estou muito preocupada com as notícias dos últimos dias, dando conta de que a violência tem vindo a aumentar. Houve um assalto à polícia em Maliana e roubaram armas. Porquê? As pessoas pensam logo em grupos armados fora do controlo das forças de segurança. Todos nos questionamos por que razão o grupo de Reinado está em liberdade, continua a monte. O que está por detrás disto? Por que razão a violência começa a subir de tom? Urge repor a autoridade do Estado e das instituições.
A quem aproveita a violência?
Àqueles a quem a desestabilização interessa para reinarem.
A comunidade internacional esqueceu Timor?
Não. Ainda há simpatia e apoio internacionais. Mas estas eleições podem ser determinantes, pois é sabido que há muitos problemas no mundo, como no Iraque, no Sudão, na antiga Jugoslávia... Temos consciência disso.
E Portugal?
Portugal tem estado sempre presente em todas as situações. Ainda recentemente foi aprovado o envio de mais forças da GNR. Tem sido o maior doador em termos bilaterais e, mesmo, multilaterais. Também vai enviar observadores para as eleições, como, aliás, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Que pensa da candidatura de Ramos-Horta à Presidência?
Faz parte da aprendizagem da democracia a apresentação de candidaturas por quem se sente capaz de dirigir o país.
É um ciclo que se fecha?
Sim, mas esta fase não será menos difícil do que a luta armada.
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
Ataque do major Reinado motiva caça ao homem
Por Malai Azul 2 à(s) 19:25
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
6 comentários:
Caça a um homem bem armado e municiado, inclusivé com armas anti-carro como o LAW, mais do que capaz de destruir um M113 Australiano.
Referência sobre os LAW do Reinado (FAS):
http://www.fas.org/man/dod-101/sys/land/m72.htm
O meu comentário: se o desertor do ex-Major Reinado se foi abastecer de armas de guerra, foi porque quer fazer a guerra.
Não havendo vontade política para o fazer entregar-se (o que implicaria seguir-lhe o rasto e cercá-lo com forças militares motivadas e treinadas, dado que se encontra bem armado e municiado), esse menino -que deve estar a preparar alguma para as elições- vai continuar a gozar com o Estado de Direito em Timor-Leste...
Interrogação: será que o papel dos militares Australianos nos últimos meses tem sido o de o acompanhar para o controlar, ou para dissuadir as FALINTIL de o cercar e fazê-lo render-se?
26/02/2007 GMT 9
TIMOR-LESTE "DANÇA RITMO DO BAILE REINADO"!
timor-lorosae-nacao @ 20:48
por: Malae Belu
REINADO DÁ “CARTAS” E ASSALTA POSTO FRONTEIRIÇO
Considerando a anormalidade, tudo parece normal em Timor-Leste e os louricos continuam a cantar na pacatez das montanhas rasgadas pelas ribeiras que teimam em desaguar no imenso oceano. Também normal é a vida em Dili, capital desta República dos Xananas, apesar das agitações, violências praticadas por bons, maus e vilões, uns fardados outros não.
Ontem foi confirmado que o renegado Reinado assaltou um posto da PNLT em Tonubibe, Maliana, perto da fronteira com a Indonésia, tendo invadido o posto acompanhado por mais oito homens do seu grupo, fortemente armados, levando cerca de vinte armas automáticas daquele posto fronteiriço assim como de outro situado no Suai. Em declarações feitas por Reinado “tudo aconteceu pacificamente”.
Aquilo que se pergunta é o que poderiam ter feito meia-dúzia de homens das PNLT perante os homens de Reinado fortemente armados, sendo a resposta óbvia: absolutamente nada!
O armamento que foi posto á disposição de Reinado é superior ao usado pela polícia timorense, o número de homens que actuaram nesta operação também era superior e o elemento surpresa foi determinante. Até porque não existem ordens oficiais para que Reinado seja detido devido á protecção especialíssima que lhe é dada pelas individualidades “superiores” de Timor-Leste!
SÓLIDOS APOIOS Á FRETILIN CAUSAM DESASSOSSEGO
Reinado sempre pôde contar com a “benevolência" do Presidente Xanana, do primeiro-ministro Horta, do Procurador-geral da República, Longuinhos Monteiro e até do beneplácito da Igreja Romana… pelo menos. Porque assim é, nunca explicaram convenientemente ou com uma razoabilidade que justifique a protecção posta á disposição de Reinado e dos seus homens.
Muito menos os responsáveis do exército australiano implantado em Timor-Leste diz coisa com coisa, preferindo divagar desde que permitiu a fuga de Reinado e dos mais de cinquenta homens do grupo, da prisão de Becora em Agosto de 2006. Tudo aconteceu por acaso.
Tudo tem acontecido por acaso, querem fazer-nos querer, insistindo em passarem um atestado de insanidade mental aos observadores nacionais e internacionais que acompanham a novela Reinado e o golpe de estado que não resultou conforme o planeado e de acordo com as ambições dos seus mentores, por demais conhecidos e auto-denunciados.
A acção “guerrilheira” de Reinado comprova o “desassossego” dos que tudo têm feito para aniquilar a Fretilin e que estão uma vez mais a concluir que fizeram o golpe de estado para quase nada ao verificarem a continuação da implantação e apoio da população àquele partido, facto também comprovado pelas aderências aos últimos comícios eleitorais pela Fretilin realizados em várias cidades e localidades do país.
Há´vários meses que no Timor Lorosae Nação a análise dos acontecimentos timorenses tem sido posta nestes termos e a previsibilidade destas e outras acções foram referidas, apontando intenções e responsáveis que para vários observadores não passaram despercebidos.
PORCA POLÍTICA DOS AMIGOS DE REINADO
Quem lucra com as acções desestabilizadoras do Grupo Reinado não é a República Democrática de Timor-Leste. Aqueles que lucram são os que tudo fazem e fizeram para afastar a Fretilin das decisões do país. Sabemos da “antipatia” manifestada pelo governo Howard e sabemos das posições de pura chantagem assumidas pelo Presidente Xanana Gusmão para que Mari Alkatiri se demitisse da chefia do governo timorense em meados de 2006. Sabemos do empenho do Presidente para provocar a aniquilação política da Fretilin. Em política, aquilo que parece… quase sempre é!
O somatório de todos estes acontecimentos, desde o início de 2006, não permite que se tirem outras conclusões, nem com muito boa vontade! Alfredo Reinado, ao inaugurar as acções de guerrilha, atesta o previsto por muitos observadores e comprova o conluio que desde sempre com ele existiu por parte de responsáveis políticos timorenses, australianos e os militares desse país que acorreram em força para “ajudar o país vizinho amigo” já lá vão dez meses.
Não se pense que as acções Reinado agora inauguradas um pouco mais a sério vão terminar, que os australianos vão capturá-lo (vivo!), porque ainda agora o triste espectáculo começou.
A remota possibilidade de os inimigos da República Democrática de Timor-Leste recuarem nas suas acções desestabilizadoras e desactivarem Reinado irá ter por consequência a sua morte – porque o renegado sabe demais – e não passará de uma conveniente acção de cosmética, outro ou outros ocuparão o seu lugar em momento oportuno.
Costuma-se dizer que a política é porca e não há dúvida, senão repare-se quanto Timor-Leste tem sofrido por via de interesses mesquinhos dos grandes países seus vizinhos! Tudo por causa da porca da política!
Ver/Escrever Comentários (2)
A embaixadora põe o dedo na ferida. A situação é mesmo preocupante. E o que tem a dizer a comunidade timorense sobre o assunto, bem como todos os opinion makers portugueses? Timor merece bem a vossa atenção.
Malai Azul, haja quem em Portugal ainda vá escrevendo assim sobre Timor, não deixando cair o Lorosae que nos levou às ruas, emocionados.
Faz bem a Drª Pascoela em nos alertar, pois a situação em Timor-Leste é sem dúvida preocupante. Eu diria mais: é muito grave.
Mas o pior são alguns espíritos porventura bem-intencionados, dentro e fora do País, que se recusam a ver a evidência. O fascínio pelo mito chamado Xanana é muito forte, ao ponto de esses seus admiradores acharem correctas algumas decisões arbitrárias que não aprovariam em nenhum outro país do mundo. Esses simplórios, sem o saberem, são o melhor instrumento daqueles, maliciosos, que se escondem na penumbra e exploram a sua ingenuidade. Na imprensa, nas universidades, nas ruas, nos fóruns da internet, etc, dizem exactamente aquilo que se espera que digam e são veículos de frases feitas, mentiras, meias-verdades ou slogans repetidos mil vezes para entrarem bem no ouvido.
O estado hipnótico em que se encontram impede-os de analisarem fria e objectivamente o que se está passando. A morte de dois cidadãos timorenses inocentes às mãos de um exército estrangeiro que supostamente devia protegê-los e em vez disso serve de guarda pretoriana aos inimigos da democracia e da independência de Timor-Leste é encarada com tanta naturalidade que ninguém parece importar-se com isso. E se alguém insistir em obter uma reacção, há até quem invoque o velho e gasto bode expiatório da culpa de Alaktiri e do seu Governo, que já não convence ninguém, agora que sabemos por experiência própria qual foi a alternativa que lhe sucedeu: apesar da boa vontade de alguns ministros, sérios, a situação piorou com o actual Governo.
É grave que Timor-Leste esteja refém de um novo exército ocupante, que dita as leis em país alheio. É grave que o exercício da Justiça dependa do poder discricionário de um Presidente, como dependia a vida dos gladiadores do polegar dos imperadores romanos. É grave que um Presidente, já obcecado com o próximo 2º acto da sua tragicomédia, não seja capaz de assumir as suas responsabilidades quando diz que Reinado passou dos limites. Não era esse o seu entendimento quando tomava chá com o foragido e lhe escrevia bilhetes, nem quando tentou impedir a GNR de proceder à sua detenção. Não era esse o seu entendimento quando os seus amigos australianos deixaram fugir Reinado da prisão, arranjando assim uma maneira airosa para sair do embaraço da sua detenção. Não era esse o seu entendimento quando o Procurador e seu amigo Longuinhos Monteiro assinava acordos com o foragido, passando por cima das leis de Timor-Leste.
Há muito que Reinado passou dos limites. E ao fazê-lo, pôs a nu as limitações do Xanana político, que não é a mesma pessoa que o Xanana combatente. O segundo foi capaz de derrotar um exército 300 vezes mais poderoso. Mas o primeiro sucumbe à fraqueza e à falta de carácter perante o mínimo obstáculo, confundindo autoridade com eufemismos como "reconciliação" e outros, que repete maquinalmente. Há muito tempo, por isso, que tanta gente pedia a captura de Reinado! Há muito tempo que ninguém percebia porque é que o comandante australiano dizia não ter ordens para capturá-lo e porque é que as suas forças confraternizavam com ele. Há muito tempo que ninguém percebia porque é que um foragido à Justiça podia participar numa conferência, ao lado de um ministro e porque é que era transportado num helicóptero australiano cada vez que queriam falar com ele, para além das vénias e da passadeira vermelha que lhe estendiam.
Será que o Presidente Xanana não sabia disto tudo? Não achava ele na altura que os limites já haviam sido ultrapassados há muito? Ou teria estado ausente... em que planeta?
O seu orgulho e narcisismo impedem-no de assumir as responsabilidades e pedir desculpas públicas pelos erros que cometeu. A sua esposa, que há não muito tempo jurava que Reinado não era nenhum criminoso, agora está prudentemente calada. O silêncio às vezes é muito esclarecedor.
A incoerência de Xanana é confrangedora, quando obriga um primeiro-ministro a demitir-se, escandalizado com uma acusação falsa de armas distribuídas, e fica impávido e sereno quando um energúmeno assalta um posto de polícia de verdade e rouba armas de verdade. Ainda para mais quando esse personagem era, até há pouco tempo, seu protegido.
A sua política de tapinhas nas costas e paninhos quentes levou a este descalabro. Há muito tempo que Reinado passou dos limites. Mas o Xanana político também. Dos limites e de prazo de validade.
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