terça-feira, abril 01, 2008

"Se Português falhar aqui, falharemos noutros países"- Gomes Cravinho

Díli, 01 Abr (Lusa) - Se a Língua Portuguesa "falhar" em Timor-Leste "será por falta de recursos e acontecerá o mesmo noutros países", afirmou hoje o titular da pasta da Cooperação à Agência Lusa.

"Temos um desafio pela frente, um desafio que tem que ser resolvido no próximo par de meses, que é encontrarmos os recursos necessários para estarmos à altura das nossas responsabilidades", declarou, em Díli, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português.

João Gomes Cravinho afirmou que Portugal "tem que saber encontrar os meios" para apoiar o ensino do Português.

"Caso contrário, estaremos a falhar em relação a algo que é de longo-prazo e é importante para a projecção de Portugal no mundo e para a consolidação de Timor-Leste como Estado independente", declarou João Gomes Cravinho à Lusa.

O secretário de Estado, cujo último encontro em Timor-Leste foi com o ministro da Educação, João Câncio, anunciou à Lusa um reforço de 30 professores portugueses no país, passando de 120 para 150 formadores.

"Se falharmos aqui, será por não termos tido os recursos necessários. E, nesse caso, o mesmo se passará com outros países e outras partes do mundo", admitiu o governante português.

"Estou, no entanto, confiante que saberemos estar à altura desta responsabilidade histórica".

"Em termos de quantificação, podemos apontar para investimentos mínimos que são necessários e podemos identificar maneiras de gastar bastante mais do que o mínimo", respondeu o secretário de Estado quando questionado sobre os valores em causa.

Segundo João Gomes Cravinho, o Programa de Reintrodução da Língua Portuguesa em Timor-Leste, em 2008, precisa de "pelo menos" dois milhões de euros suplementares.

"Em relação a outros países, outros números serão necessários", adiantou João Gomes Cravinho, acrescentando que se gasta "qualquer coisa como nove ou dez milhões de euros, quase 15 milhões de dólares", anualmente, com o ensino do Português no mundo.

"Não tenho nenhuma dúvida de que Timor-Leste é hoje independente porque a população e a liderança soube diferenciar-se daquilo que está mais próximo", defendeu o secretário de Estado no final de uma visita oficial de três dias ao país.

"A prazo, a Língua Portuguesa é um elemento fundamental da manutenção de Timor-Leste como país independente", sublinhou.

João Gomes Cravinho considera que "são responsabilidades extremamente elevadas (de Portugal) que condicionarão o futuro deste país e 2008 é um ano absolutamente 'chave'" para a estratégia da Língua Portuguesa.

O secretário de Estado português admitiu que as difiiculdades do ensino do Português em Timor-Leste são semelhantes às que vieram a público esta semana em relação à Venezuela, onde a oficialização do idioma como língua estrangeira opcional esteve em risco por falta de professores.

"Estamos exactamente nessa situação em que há enormes oportunidades. Há enorme vontade da parte timorense no refoço do ensino da Língua Portuguesa aqui", adiantou.

"Nós temos uma grande exiguidade de recursos, aliás temos recursos que têm vindo a diminuir ao longo dos últimos anos", afirmou o secretário de Estado português.

"Estamos a viver um período de definição da Língua Portuguesa em Timor-Leste", acrescentou João Gomes Cravinho.

"Houve uma decisão política ainda antes da independência e depois confirmada depois da independência. Estes primeiros anos têm sido anos de progresso da Língua Portuguesa mas ao mesmo tempo com alguma fragilidade que resulta também da exiguidade de recursos", referiu.

"Os professores (portugueses) têm feito um trabalho heróico. Não tenho dúvidas que, com mais recursos, mais se fará", sublinhou João Gomes Cravinho.

"Ao fim de seis anos de independência, há condições necessárias para que se tire o máximo proveito dos apoios de Portugal", salientou o secretário de Estado, referindo a aprovação da Lei de Bases da Educação, que espera discussão no Parlamento, e a promessa do Governo timorense de apressar os "curricula" em falta.


PRM/MDR/EL
Lusa/fim

2 comentários:

Anónimo disse...

Engana-se, Sr. Secretário de Estado!
Um eventual falhanço do aumento do uso do Português em Timor-Leste em nada afecta o uso do mesmo noutros países.
Mais: se houver falhanço a culpa não será de Portugal e da sua (histórica) falta de meios (a não ser durante a época áurea do comércio com o Oriente e quando aproveitámos o ouro do Brasil para fazer igrejas e conventos em vez de criar verdadeira riqueza!) mas sim dos dirigentes timorenses que não são capazes de fazer uma opção clara neste domínio --- como em quase todos os outros --- e actuar em conformidade!
Que dinheiro gastámos com o ensino do Português em Moçambique? Nem um chavo! E em Angola? Idem, idem, aspas, aspas! E no entanto!...
Qual a diferença? Ela reside apenas e tão somente no facto de os dirigentes daqueles países terem tomado a decisão de usar o Português a assumido as consequências disso! Não andaram com mariquices de dizer que umas línguas eram oficiais e que as outras eram "de trabalho" e a pactuar com tudo o que seja pôr em dúvida o uso da língua portuguesa!
Nem o Tetum, que é deles, o tratam como deve ser! O que é feito da implementação das decisões de que o Tetum oficial é o do INL? Toda a gente se "borrifa" nisso, a começar pelos jornais e por muitos dos documentos oficiais e o governo assobia para o ar!
Estão à espera de quê?
E v. ainda diz que o falhanço é nosso? O tanas!... Que culpa temos de os responsáveis pelo assunto não terem, como dizem os brasileiros, "nascido com saco preto"? Percebe, não percebe? Pois se eles até tomam cházinho (terá sido às 5h da tarde?) com os que atentaram contra os órgãos de soberania!... Onde é que isto já se viu?!... Infelizmente para o povo timorense tudo isto parece uma "ópera buffa" de 23ª categoria.

Anónimo disse...

Estou absolutamente de acordo com o colega Anónimo.

Portugal não tem que se preocupar se algo vai ou não correr mal em Timor, no que diz respeito à política linguística (ou outras). Isso incumbe exclusivamente aos timorenses.

A única coisa com que Portugal deve preocupar-se é em fazer um bom trabalho, seja ele qual for - e já não é pouco.

Esse trabalho será aquilo que os timorenses acharem que é importante ou útil para eles. Claro que Portugal pode e deve apresentar sugestões, devido à sua maior experiência, mas não mais do que isto.

Se Portugal fizer esse trabalho bem feito, então poderemos responsabilizar os políticos timorenses, se algo correr mal.

Por isso, não achei muito adequadas as declarações de João Cravinho, quando prevê a hipótese de falhanço ("SE Português falhar aqui..."). Essa hipótese nem deveria ser considerada por alguém que acredita em Portugal e nos portugueses.

Quanto a "identificar maneiras de gastar bastante mais do que o mínimo", sugiro a JC coisas tão simples como financiar jornais, revistas e rádios bilingues em Timor; financiar edições bilingues de obras literárias portuguesas e timorenses; financiar grupos de teatro; apoiar a recolha e registro da fabulosa literatura oral timorense, antes que se perca definitivamente; apoio à codificação e utilização do Tétum nas escolas e noutros aspectos da vida quotidiana; inserção de telenovelas portuguesas, brasileiras e africanas na RTPi e TVTL, legendadas em Tétum; inserção de programas noticiosos e recreativos sobre Timor na RTPi, em substituição das xaropadas tipo "Praça da Alegria"; apoio ao envio de contentores com livros, material didáctico e médico da AADB (Associação Apoio à Diocese de Baucau); financiar bibliotecas em massa para equipar as escolas timorenses; retomar o programa de bolsas de estudo para alunos de licenciaturas, interrompido inexplicavelmente este ano; promover intercâmbios diversos (escolares, desportivos e de várias profissões) entre timorenses e portugueses, para melhor conhecimento mútuo; apoiar projectos de investigação histórica, de que é exemplo o trabalho fantástico feito por J. Mattoso... etc., etc.

Pergunte também aos professores portugueses e aos próprios timorenses, Sr. SecEstado. Não seja por falta de ideias.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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