quarta-feira, março 21, 2007

Timor-Leste: O sonho do padre carpinteiro no Mundo Perdido

Pedro Sousa Pereira (texto) e António Cotrim (fotos), da Agência Lusa Baucau, Timor-Leste, 19 Mar (Lusa) - Um homem pequeno de calções, sapatilhas e uma camisola do FC Porto anda de um lado para o outro de martelo na mão, arrasta máquinas, sobe escadas, ajuda a soldar tubos no tecto e a cortar toros de teca.

O equipamento está a funcionar na nova oficina de Baucau, entre as montanhas do Mundo Perdido e o mar, sob as ordens do padre Feliciano Garcês, do seminário de Rio Tinto, filho de um carpinteiro de Paredes, vestido como um operário, de camisola do Futebol Clube do Porto, e que diz adormecer embalado ao som das plainas.

"Eu nasci numa carpintaria. O meu pai é carpinteiro, os meus irmãos trabalham na mesma actividade e eu desde muito novo aprendi o ofício a ajudar o meu pai. Lembro-me de adormecer ao som da plaina. Embala-me. Para mim é quase música", diz o padre Feliciano à agência Lusa, em Baucau.

O ruído das máquinas e o barulho da chuva são tudo menos música. Mais, não deixam dormir ninguém.

Com a chegada do equipamento terminam quatro anos de trabalho que envolveu o bispo D. Basílio do Nascimento, a Câmara Municipal de Paredes e Governo português.

A ideia de construir uma carpintaria surgiu em 2000, altura em que o padre Feliciano se encontrava em Baucau.

"Um dia, na companhia do bispo D. Basílio, vi que um padre que visitamos fora da cidade só tinha uma cadeira de plástico e uma porta improvisada. O bispo explicou-me que era o que tinham. De regresso a Baucau fomos falando e eu foi-lhe dizendo que, em Paredes, de onde sou natural, não teria qualquer dificuldade em conseguir apoios para fazer uma carpintaria", recorda o padre Feliciano.

O sacerdote do seminário de Rio Tinto entrou então em contacto com o município de Paredes, que já tinha um projecto para ajudar a montar uma fábrica em Timor.

De carpintaria, o projecto passou a fábrica e, depois, a Centro Tecnológico.

"Esta fábrica pretende formar carpinteiros e criar também uma política de replantação de teca na ilha, através de uma mensagem muito simples: por cada árvore cortada devem-se plantar três, para abastecer a população de mobiliário essencial, sobretudo as escolas", disse o padre Feliciano enquanto ajudava os trabalhadores timorenses.

Jaime Soares, natural de Baucau, 41 anos, vai ser o chefe da carpintaria. "Tenho experiência do tempo indonésio como carpinteiro, em Fatumaka, e agora vou ajudar os outros a serem homens, aqui", disse.

Jaime Soares vai ganhar 155 dólares por mês (cerca de 120 euros) e dirigirá uma equipa de 25 homens, 18 dos quais já têm alguma experiência como carpinteiros.

O padre Feliciano Garcês tem 38 anos e pertence à congregação dos padres Dehonianos, com seminário em Rio Tinto, distrito do Porto, onde se encontra quando não está em Timor-Leste.

Nos anos 90 do século passado foi missionário em Madagáscar, onde colaborou igualmente na edificação de estruturas.

Em Timor-Leste, depois do sonho da carpintaria, o padre Feliciano quer partir para a recuperação de casas, sobretudo das antigas construções coloniais portuguesas da região.

"Gostava, dentro de ano e meio, ter por cá fornos para cozer barro e fazer telhas de meia-cana e máquinas para construir tijolos. Gostaria também que em Baucau surgisse uma pequena barragem para a produção de energia para ajudar a implementar um projecto agrícola, porque o solo é fértil e a chuva ajuda. Mas agora não há nada", afirma.

De acordo com o padre Feliciano, é possível fazer com que as populações sejam auto-suficientes no que diz respeito a produtos agrícolas mas, em Baucau, uma cidade que desce de um planalto até à praia, as hortas são pobres e não existem sistemas de regadio ou mesmo pequenas albufeiras para a rega durante os meses mais secos.

Chove em Baucau desde a semana passada mas a água da chuva passou pelas hortas desordenadas, frente à nova carpintaria, e perde-se em mil riachos pela encosta a baixo.

Lusa/Fim

1 comentário:

Anónimo disse...

Estão de parabéns o padre Feliciano, o Presidente da Câmara de Paredes, os empresários deste concelho e todos os que contribuiram para a concretização deste projecto.

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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