Timor, 21 Mar (Lusa) - Cornélio Gama, líder da Sagrada Família, um grupo religioso com base em Laga, no leste de Timor-Leste, que apoia Ramos Horta, disse à Lusa que é preciso disciplina e garante que não se encontra armado.
"Eu não tenho armas. Tinha 50 mas assaltaram-me em 2000 em Aileu, e por isso, fiquei chateado. Não tenho nem sequer pistola, só espada. Mas agora não quero nada. A guerra já acabou e é preciso deixar o gatilho, é preciso pegar na enxada. O gatilho é crime", disse à Lusa Cornélio Gama.
Antigo comandante das FALINTIL, Cornélio Gama conhecido como Comandante L7, vive em Laga onde se instalou com a Sagrada Família, um grupo religioso que surgiu em 1989 e que integra igualmente outros antigos guerrilheiros da resistência timorense.
Após a saída dos militares indonésios, em 1999, Cornélio Gama que se encontrava no acantonamento de Aileu, admitiu não entregar o armamento de que dispunha o que fez com que as FALINTIL lhe tivessem retirado as armas durante uma operação militar. Desde então dedica-se à Sagrada Família, em Laga a 140 quilómetros a leste de Díli.
"A Sagrada Família é um povo, uma só família, de Los Palos até à fronteira. Respeitamos uma só ideia, uma só língua, um só pensamento. Não matar nem bater uns nos outros e não fazer mal uns aos outros", explicou Cornélio Gama que acrescentou que formou igualmente um movimento para poder intervir na vida política timorense.
"Como nós não queremos cometer erros contra o nosso Estado eu formei um partido chamado União Nacional Democrática da Resistência Timorense, com veteranos e 600 pessoas em todo o país".
A Sagrada Família de Cornélio Gama apoia a candidatura de José Ramos-Horta à Presidência da República, que apresentou em Laga a sua corrida às eleições do dia 9 de Abril. "Conheço bem o Ramos-Horta, e é melhor ele ficar como Presidente e salvaguardar a nação e trazer fábricas para Timor", diz Cornélio.
Instalado em Laga, Cornélio Gama defende que as Forças de Defesa de Timor-Leste devem intervir para evitar eventuais momentos de violência, sobretudo provocados pelos jovens que vivem nos bairros da capital.
"Todo o país está calmo mas Díli é confusão porque o governo não usou a força. É um problema. O Estado devia bater com o punho e o governo podia utilizar as forças de timorenses, das FDTL (Forças de Defesa de Timor Leste), porque eles conhecem quem faz confusão e depois entregar esses homens ao tribunal".
Em Díli, os deslocados mantêm-se instalados em tendas improvisadas, sobretudo junto ao aeroporto, ao porto, e ao edifício do hospital. O número excessivo de deslocados na capital preocupa Cornélio Gama que considera que é preciso uma solução para fazer com que as pessoas regressem às casas onde viviam.
"Quem vai resolver o problema do povo que está debaixo das barracas? É preciso mandar todo esse povo para as suas casas anteriores e depois começar a procurar e a apanhar todos aqueles que estragam e entregá-los à Justiça porque se não os entregam, eles estragam a nação".
Apesar dos acontecimentos provocados pelo major Alfredo Reinado, militar fugitivo e que se evadiu de uma prisão de Díli em 2006 e que se encontra armado na região de Same, Cornélio Gama afirma que existem condições para a realização da campanha eleitoral que começa na próxima sexta-feira.
Mesmo assim pediu a Alfredo Reinado para se entregar e dialogar com as autoridades. "Eu fui até lá no mês de Fevereiro e encontrei-me com o Alfredo da Mata (Reinado) e disse-lhe para haver diálogo mas vim-me embora para não dizerem que quero confusão e que sou mau".
Cornélio Gama, que recorda constantemente os tempos da guerrilha, diz ainda que as armas devem estar com os militares das FDTL.
"Comprar armas para quê? Nós anteriormente tínhamos Mauser, G 3 e pistolas FBP e depois capturávamos armas aos indonésios e agora compram armas para estragar a nação. É perigoso. Podiam ter comprado as armas durante a guerra para as FALINTIL e mandar para o mato, no tempo indonésio. Agora comprar armas é para os irmãos se matarem uns aos outros, parece-me perigoso".
Cornélio Gama, tem 58 anos foi comandante das FALINTIL. Várias vezes ferido em combate acredita que foi o respeito pelo catolicismo e pelos valores tradicionais timorenses o que o salvou das balas do exército indonésio durante os 24 anos de ocupação.
"Muitas balas entraram no corpo mas não mataram. Por todo o corpo, e não mataram porque respeitei os valores sagrados de Timor e as orações. O Pai Nosso três vezes, a Avé Maria três vezes, e o Salvé Rainha três vezes, e basta. Depois, é preciso pôr nove velas no bolso da direita. É preciso fazer todas as orações, todos os dias".
PSP Lusa/Fim
quarta-feira, março 21, 2007
"O gatilho é crime" - Cornélio Gama, líder da Sagrada Família
Por Malai Azul 2 à(s) 22:57
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
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