segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Na capital timorense, a insegurança e a tensão política manifestam-se hora a hora. Em Janeiro houve seis homícidos

Dili via SMS

Expresso, 09/02/07
Por: Pedro Rosa Mendes, em Dili

Em Dili, o instante leva sempre a melhor sobre o acontecimento. A realidade, como nas tarifas da Timor Telecom, tem facturação ao minuto e as surpresas acontecem em horário económico – quando o dia cai e começam a circular as más ou as meias-notícias. Exemplo: “20h33 Distúrbios em Kampong Alor. Evitar esta área. Polícia a caminho. Proibido sair à noite,”.

Cada minuto conta nestes dias cardíacos de pré-campanha presidencial (“23h56 Combates perto do heliporto. Dois mortos comunicados. UNPOL no local. Evitar esta área”), de instabilidade social, de seca em estação de chuvas, de penúria alimentar no interior (“0h17 Luta em Bidau. Intervenção policial. Evitar esta área”), de fragilidade do Estado na lenta reconstrução da sua soberania nas Forças Armadas e na Polícia Nacional, epicentro de quase guerra civil em que o país ia caindo em Abril de 2006.

Cada minuto conta e o tempo parece avançar por negação, em contra-relógio. Assim: são exactamente 20h04 de quarta-feira passada, está escuro porque caiu a noite e não há iluminação pública. Num cruzamento central, no sítio onde os faróis das viaturas do subagrupamento Bravo da GNR encontram centenas de manifestantes chegados em camiões de Liquiçá (a oeste da capital), um militar português negoceia a um palmo da cara do deputado Leandro Isaac.

Novas informações. O pessoal entra para as viaturas e vai para o estádio municipal de Dili. “É para onde vocês querem ir, não é?” “Não, não, o que nós queremos é atravessar…” “Não vamos passar em frente ao hotel Timor! Mandem embarcar o pessoal. Diga-lhes que vão atrás de nós!”.

Em frente ao hotel Timor há deslocados oriundos do leste. ‘O pessoal’ são cerca de dois mil manifestantes eufóricos – cálculo informal de operacionais envolvidos na resposta das autoridades, na base de 50 viaturas x 40 passageiros – que entraram em Dili esta semana. Entraram com o pôr-do-sol, às 19 h, gritando insultos contra Mari Harakiri, “contra o actual Governo e contra a conspiração política”. A ordem para a UNPOL impedir a entrada da coluna foi posterior à sua chegada ao centro. O chefe da coluna de Liquiçá era Vicente da Conceição “Rai Lós”, principal testemunha no processo contra Alkatiri, acusado de liderar, em 2006, um esquadrão armado sob ordens do ministro do Interior.

Díli, cidade pequena, tem um lado mau de metrópole neste ano de eleições: a cidade nunca dorme, pelo menos num bairro ou dois por noite. O mapa de Dili está retalhado por áreas de influência de grupos de artes marciais que se confrontam cada dia, ou cada noite. A violência de rua deixou seis mortos em Janeiro. São mortes de grande violência – incluindo duas decapitações confirmadas.

É um tempo saturado de possibilidades, escolhas e cálculos: os tribunais decidem o que fazer com processos ligados à entrega de armas a civis em Abril e Maio de 2006, às ‘tentativas de revolução’ ou à fuga do major Alfredo Reinado de uma prisão de Dili, em Agosto. E, claro, há as escolhas dos políticos: as campanhas, os apoios, as candidaturas. Nenhum dos presidenciáveis avançou até esta semana: nem o primeiro-ministro, José Ramos-Horta, que pode candidatar-se “apenas in extremis”, nem o presidente do Parlamento, Francisco Guterres ‘Lu-Olo’, ou o próprio Mari Alkatiri, ambos recordando que “preenchem os requisitos constitucionais” para a Presidência.

Fora deste tabuleiro, existe um país em situação delicada: além do resto, 25 mil deslocados em Dili e 45 mil nos distritos.

Mas é a segurança a maior inquietação. É quase sempre a horas tardias que os combates entre grupos acalmam e os helicópteros das forças australianas, que apoiam a UNPOL no solo, deixam de perseguir ou fotografar elementos perigosos e locais suspeitos (“00h24 É melhor dormirem. Isto está muito violento por aqui. Ouço alguém a disparar e pessoas a gritar”).

Dili atravessa então mais uma madrugada curta, largando os telemóveis e descongestionando a rede e os receios. Sonhando, talvez, com uma cidade – ou um dia – sem “áreas a evitar”.

Exclusivo Expresso/Lusa
.

Sem comentários:

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
This is my blogchalk: Timor, Timor-Leste, East Timor, Dili, Portuguese, English, Malai Azul, politica, situação, Xanana, Ramos-Horta, Alkatiri, Conflito, Crise, ISF, GNR, UNPOL, UNMIT, ONU, UN.