Díli, 09 Nov (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, José Ramos-Horta, reconheceu hoje, em entrevista à Lusa, que os primeiros 100 dias de governação f oram muito difíceis, porque não se cumpriram as expectativas de rápida estabiliz ação e de maior segurança que todos esperavam.
Empossado primeiro-ministro a 10 de Julho, José Ramos-Horta apresentou hoje no Parlamento Nacional um relatório sobre as medidas executadas e as que te nciona aplicar até à realização de eleições legislativas, em 2007, de que sairá o III Governo Constitucional.
"Estes primeiros 100 dias foram muito difíceis, porque as expectativas de todos nós era uma rápida estabilização da situação no plano da segurança e da tranquilidade das pessoas. Isto não foi possível conseguir-se tão rapidamente q uanto se queria", disse à Lusa.
A chegada das forças internacionais entre finais de Maio e princípios d e Junho, na sequência de um pedido de apoio das autoridades timorenses à Austrál ia, Malásia, Nova Zelândia e Portugal para pôr termo à violência, não impediu a "destruição de grande parte de alguns bairros de Díli".
"Ao mesmo tempo, tentou-se o diálogo e também fazer andar a economia. F oram, portanto, 100 dias muito difíceis", repetiu.
Para Ramos-Horta, os responsáveis pela violência são antigos membros da s milícias, que puseram o país a ferro e fogo em 1999.
"Posso dizer que, certamente, ninguém do actual 'establishment' polític o de Timor-Leste, ninguém ligado aos partidos políticos timorenses [está envolvi do nos actos de violência], mas certos elementos que em 1999 defendiam outras op ções para Timor-Leste, que não ficaram satisfeitos em 1999 e continuam a não est ar satisfeitos, tentam vingar-se, entre aspas, patrocinando alguma violência", a cusou.
Esses elementos não estão ligados à Indonésia, sublinhou.
"Trata-se de elementos que já em 1999 usavam da violência. São timorens es milícias que em 1999 fugiram para a Indonésia, mas que em 2000 e 2001 regress aram no quadro do repatriamento", precisou, referindo que nesse sentido foram id entificados alguns desses antigos milícias.
Relativamente aos entre 23 mil e 30 mil deslocados que ainda se encontr am nos cerca de 60 campos de acolhimentos espalhados por Díli, Ramos-Horta reafi rmou a política governamental, que garantiu ter o apoio da Presidência da Repúbl ica, Parlamento, sociedade civil e comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas.
"Não existem condições de insegurança que justifiquem a continuação dos deslocados", vincou, sublinhando que essa posição tem sido transmitida aos resp onsáveis dos campos de acolhimento.
"Temos transmitido muito claramente aos líderes dos campos que é altura do regresso às suas casas. Se, porventura, ainda não tenham confiança, o que sã o preocupações legítimas, nós já estamos a construir barracões temporários para onde se podem transferir por alguns meses, durante a época das chuvas", destacou .
Aos que optarem por regressar aos distritos do interior do país, o gove rno disponibilizará apoio para o transporte e assegurará a alimentação durante a lguns meses.
"Temos também prevista a reparação de casas. Temos um armazém cheio de equipamentos para distribuir a cada um, para arranjar a sua casa e temos também já identificadas áreas onde vamos construir bairros novos", acrescentou.
Para persuadir os deslocados a abandonarem os campos espalhados pela ca pital, a aposta assenta no fim da assistência humanitária.
"Vamos fechar a luz e a água. Até por razões de segurança, para evitar curto-circuitos", garantiu.
Além dos riscos de saúde pública, a aproximação da estação das chuvas, ao longo deste mês, levanta perigos resultantes do abastecimento provisório de e lectricidade.
"Avisámos os líderes dos campos que deverão assumir responsabilidades p elos seus actos. Se têm alguma agenda e não querem colaborar para o esvaziamento dos campos, eles têm que assumir a responsabilidade pelo que acontecer a cada p essoa dentro do campo", afirmou.
Quanto à troca de acusações entre a FRETILIN, o partido maioritário, e o Presidente da República, Xanana Gusmão, o primeiro-ministro disse preferir man ter-se à parte.
"Não quero entrar nesse debate. O Presidente é uma pessoa muito frontal e não quer que as verdades sejam escamoteadas. Então, seja que tema for, vindo da FRETILIN ou de outras instituições, ele acha que tem de se pronunciar enquant o chefe do Estado, para repor os factos. É quase um debate interminável", disse.
Até às eleições, a realizar até 20 de Maio de 2007, Ramos-Horta elegeu como prioridades a consolidação da segurança e estabilidade no país.
"As eleições avizinham-se e a sua realização está condicionada pela questão de segurança", frisou.
Para assegurar a reconciliação nacional, a aposta assenta no diálogo e, nesse sentido, o primeiro-ministro louvou a iniciativa de Xanana Gusmão de se e ncontrar com as chefias das forças armadas e com os quadros da Polícia Nacional, dizendo que hoje se juntaria ao Presidente da República num encontro conjunto c om os responsáveis daquelas duas instituições.
Estes encontros, salientou, enquadram-se no esforço de estabilização das forças de defesa e de segurança, fortemente afectadas com a crise político-mil itar de Abril passado.
Quanto ao papel que reserva para si nas eleições de 2007, José Ramos-Horta descarta uma corrida presidencial ou continuar como primeiro-ministro.
"Se for eu a decidir, digo que não estou minimamente interessado nem num nem noutro cargo. Durante toda esta crise, e mesmo antes da crise, não fiz senão diálogo e mais diálogo. Provoquei o diálogo entre o Presidente a liderança da FRETILIN, entre o Presidente e as forças armadas, dialoguei com os peticionário s, com os majores, com os jovens", asseverou.
"Tentei as mais variadas soluções para evitar a resignação de Mari Alkatiri [seu antecessor no cargo], dialogando com os que se lhe opõem, os organizadores das manifestações e apesar de tudo isso ainda pairavam dúvidas ou insinuações que Ramos-Horta estava interessado no lugar de primeiro-ministro", lamentou.
"Se puder evitar a politiquice timorense, eu prefiro, no dia 20 de Maio [de 2007] assistir à cerimónia de posse do novo Parlamento, do novo governo, cumprimentar e abraçar e dia 21 ou 22, sair de Timor uns meses: Talvez para Paris ou Roma, para uma licença sabática, para estudo e descanso. Talvez escrever um l ivro", acrescentou.
EL-Lusa/Fim
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sexta-feira, novembro 10, 2006
Primeiros 100 dias de governo foram muito difíceis - Ramos-Horta
Por Malai Azul 2 à(s) 02:15
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
4 comentários:
Esta e nenhuma outra é a raíz donde brota um tirano; quando aparece pela primeira vez é um protector. – Platão
"Para Ramos-Horta, os responsáveis pela violência são antigos membros das milícias, que puseram o país a ferro e fogo em 1999."
Afinal Ramos Horta faz as mesmas afirmações que Alkatiri fez quando ainda era 1º Ministro e que na altura quase iam provocando um incidente diplomático, devido à reacção do Presidente indonésio...
Cadê a reacção agora?
O MNE que deu a estocada final para a saída do Alkatiri de PM, lançando a moda da cadeia de demissões por mensagem SMS; o que cozinhou com o Paulo Martins da PNTL a treta do Alkatiri saber da distribuição de armas, aconselhando-o a escrever ao PM e levantando ele próprio a alegação no decurso da violência de Maio, contra o seu compadre Rogério; o mesmo que no dia 28 de Abril falhou à reunião que marcara com os peticionários dando-lhes pretextos para atacarem o palácio do Governo; o co-actor com Railos e seu bando da encenação do Four Corners, para darem um pretexto ao Xanana tem a distinta lata de vir agora tentar-nos convencer que não queria o que conseguiu, i.e. USURPAR-LHE o lugar? Tenha paciência. Não nos tome por parvos.
E quando diz agora: “Se for eu a decidir” está a gritar aos quatro ventos: “Apoiem-me! Eu serei o melhor PR para TL”. Claro que depois do Xanana qualquer calhau com dois olhos será sempre um melhor PR. Mas o Horta ou o Xanana serão sempre os PIORES PR que TL possa ter. Porque não estão ao serviço dos Timorenses mas de quem lhe quer roubar os recursos.
Em 23-06-2006 em entrevista ao Diário Digital a Ana Gomes fazia de porta-voz dos bispos, Xanana e Horta e dizia que em Timor: «Solução só com demissão de Alkatiri». E também – tal e qual como os seus amigos e correligionários preconizava - que era impensável que em Timor-Leste fosse o povo a escolher os seus governantes. Deixo o link dessa reveladora entrevista da Gomes e algumas das frases que revelam a cultura terrorista, incendiária e aldrabona que certos “democratas” tipo Gomes, Xanana, Horta e quejandos têm andado a espalhar sobre Timor e a sua crise:
“A solução da «grave crise» em Timor-Leste tem de passar pela demissão do primeiro-ministro, disse ao Diário Digital a eurodeputada Ana Gomes, que responsabiliza Mari Alkatiri pela situação e adverte que se Xanana Gusmão abdicasse da presidência se instalaria o caos e a guerra civil no território, comprometendo a sua independência.
«Alkatiri não tem condições para continuar» à frente do Governo e a crise «não será ultrapassada se ele não se demitir», afirmou (…)
«Ninguém pode governar em Timor à margem da Igreja», afirmou, frisando o papel preponderante que esta tem na sociedade timorense. «Mais a mais um primeiro-ministro que é muçulmano, laico mas muçulmano», diz. (…)
Para a eurodeputada, o anúncio de Xanana Gusmão na quinta-feira de que se resignaria foi motivado pelo desespero de ver o sofrimento do povo timorense (…) e para exercer uma pressão máxima sobre Alkatiri para que se demita, passo que se tem recusado insistentemente a dar, no que é apoiado pela FRETILIN.
«Eu compreendo o presidente Xanana», afirma.
«A FRETILIN, partido maioritário e vanguarda incontornável em Timor-Leste, não pode mais tolerar este impasse», considera Ana Gomes.
Ana Gomes mostra-se ainda indignada com os que em Portugal insinuam que Alakatiri está do lado de Portugal e da língua portuguesa, enquanto que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ramos Horta, por exemplo, se «teria vendido aos interesses australianos».
«É uma leitura estúpida e ignorante da realidade timorense», frisa, afirmando que «esta é sobretudo uma crise política criada pelos timorenses». (…)"
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=233441
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