Fernando de Araújo
DN, 23/02/08
Por: ABEL COELHO DE MORAIS
"Não haverá mais diálogo" com os rebeldes envolvidos nos ataques de 12 de Fevereiro, "tendo sido dadas instruções" às forças de segurança timorenses e internacionais para os capturarem "no espaço de um mês". O Presidente interino Fernando "Lasama" de Araújo disse-o em tom determinado num encontro com a imprensa na segunda-feira, referindo que o responsável das Forças de Defesa de Timor-Leste, brigadeiro-general Taur Matan Ruak, devia actuar sem demora.
O tom de "Lasama" de Araújo após os ataques contra o Presidente Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão não é inédito nele. Nas campanhas para as presidenciais e legislativas de 2007, Araújo cultivou tom semelhante. "O que eu digo aos meus simpatizantes" é que, após as eleições, "não haverá mais um governo de Mari Alkatiri" e "teremos de imediato uma reforma política", disse num comício em Manatuto, em finais de Março.
A previsão do líder do Partido Democrático (PD) - que obteve 77 459 votos na primeira volta das presidenciais, ficando em terceiro lugar a seguir a Francisco Guterres da Fretilin e Ramos-Horta, sendo o PD o quarto mais votado nas legislativas de Julho, com 11,65% dos votos - teve confirmação nas urnas e nos factos.
Os resultados vão determinar a passagem à oposição da Fretilin (ainda que fosse o partido mais votado), um Governo de coligação, com a presença do PD, e para Fernando de Araújo a presidência do Parlamento, cujo titular substitui o Presidente da República nos impedimentos deste. Menos de um ano após a eleição para aquele cargo, Araújo, de 46 anos, está no centro dos acontecimentos em Timor-Leste.
Tendo nascido em 1963 na região de Ainaro, no sul do território, Fernando de Araújo tinha pouco mais de 12 anos na época dos acontecimentos que vão culminar na invasão indonésia, em Dezembro de 1974. Cresceu nos "anos de chumbo" da ocupação, assistiu a todas as metamorfoses por que passou a resistência timorense - os grupos nas montanhas e as redes clandestinas nos centros populacionais; viu muitos familiares serem mortos pelas forças indonésias, lembrou-o nas campanhas de 2007.
Como muitos jovens na época, vai estudar na Indonésia, em Bali. Com o tempo, assumirá funções de liderança na Resistência Nacional dos Estudantes de Timor-Leste (Renetil); é preso e condenado a uma pena de seis anos e quatro meses a cumprir na prisão de Cipinang, um dos principais centros de detenção política na Indonésia. Aqui, segundo declarações suas, convive com o líder da resistência, Xanana Gusmão. "Foi nos anos de Cipinang que aprendi com Xanana e com outros prisioneiros políticos. A minha formação política vem de Cipinang", disse à Lusa em 2007.
Libertado em 1998, foi ainda na prisão que conheceu uma activista da Amnistia Internacional, Jacqueline Aquino Siapno, uma filipina com formação jurídica, hoje docente na Universidade de Melbourne e na Universidade da Paz, em Díli.
Autora de várias obras sobre aspectos políticos e sociais do Sudeste Asiático, Jacqueline foi alvo de críticas de Mari Alkatiri e Ramos-Horta durante a crise de 2006 pela publicação de textos na imprensa australiana contra o Executivo da Fretilin. A casa do casal foi incendiada naquela época, acusando Jacqueline "elementos do Governo e chefes militares de se esconderem atrás de civis numa tentativa de encobrirem os verdadeiros responsáveis por estes actos criminosos" e de "terem marginalizado" com "recurso à violência e intimidação" os 591 peticionários, na origem da crise, e os restantes partidos, entre os quais o PD.
Hoje, a situação sofreu uma reviravolta de 180 graus. É Araújo que surge entre os vencedores, a Fretilin, Alkatiri e o seu grupo entre os derrotados. No jogo de sombras característico da política timorense, Araújo é visto como alguém imune às clivagens entre os dirigentes da primeira geração e bom conhecedor da nova realidade timorense - resultado de 25 anos de ocupação indonésia e de uma apressada gestão da independência e construção do Estado após 1999.
Ele é dos poucos que, na presente conjuntura, não parece atingido pela radical erosão de legitimidade de que sofre a maioria dos políticos timorenses reféns de projectos ancorados numa concepção tradicional da sociedade, ainda que forçados à prática das formalidades externas de uma sociedade democrática contemporânea. Numa sociedade profundamente pobre, maioritariamente jovem, com taxas de desemprego acima dos 50%, traumatizada pela ocupação passada e pela sombra de um futuro projecto neocolonial, Fernando de Araújo pode estar no limiar de uma nova forma de estar na política em Timor-Leste.
É ousado presumi-lo, mas as suas declarações da passada segunda-feira permitem sugeri-lo.
Araújo tem agora três semanas para as ver transformadas em realidade.
sábado, fevereiro 23, 2008
O futuro de um líder político
Por Malai Azul 2 à(s) 18:20
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Traduções
Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.
Obrigado pela solidariedade, Margarida!
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Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006
"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
2 comentários:
Se Lasama quisesse, poderia ser um político de grande futuro. Tem qualidades para isso. No entanto, esta sua frase faz-nos ter grandes dúvidas:
"Foi nos anos de Cipinang que aprendi com Xanana e com outros prisioneiros políticos. A minha formação política vem de Cipinang"
Será?? será que sr.Gusmão permite?,ele não passa de um coelho mandado do Gusmão,como é que vai ter oportunidade.Quando Gusmão enfrentar justiça ele também vai com sr.Gusmão!!São dois criminosos! não podem ser governantes do povo de timor.Nós militantes do PD,ficamos arrependidos com a opção política que o Lasama está a seguir,está na altura de fazer uma mudança dentro do partido PD,PD tem que ser um partido da luz do povo,um partido que procura tentar dizer a verdade ao povo,não é juntar com os criminosos e incriminar o povo em beneficio dos interesses pessoais.
PD tem que seguir o seu rumo político,PD não pode ser um partido que alquem manda ou desmanda quando quizer. Apelando aos militantes do PD,a política que o Lasama está optar é o caminho errado,se queremos ser um partido para o futuro,temos que colaborar com o povo,trabalhar com a justiça,apurando todas as verdades,não podemos cobrir mais os criminosos da nação.
Abraços a todos
Viva PD
Viva Timor-leste
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