sábado, novembro 17, 2007

Portugal e a Língua Portuguesa em Timor

Diário de Notícias – 15 de Novembro de 2007

João Gomes Cravinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros

Não foi por razões emotivas ou irreflectidas que as autoridades timorenses escolheram o português como língua oficial, a par do tétum.

O português foi, por excelência, a língua da Resistência, não por ser a mais falada, mas por ser aquela que melhor exprimia a vontade de independência. O seu valor simbólico era profundo e, depois da Independência, ganhou um valor prático que nenhuma outra língua poderia ter: cumpria, em simultâneo, as funções de veículo de acesso ao mundo e de diferenciação geoestratégica, ajudando assim a consolidar e a perpetuar a soberania nacional. Ora, ao fim de um quarto de século de proibição da língua portuguesa, que por sua vez se seguiu a um período colonial que deixara bastante a desejar em matéria de escolaridade, o arrojo e a coragem das autoridades timorenses merecem o nosso respeito e exigem o total apoio e empenho por parte de Portugal e dos restantes países da CPLP.

Esse apoio tem existido ao longo destes primeiros anos de independência, e os progressos são visíveis. Em média, o investimento da Cooperação Portuguesa no apoio à reintrodução da língua portuguesa tem sido de mais de seis milhões de euros por ano. Depois de uma primeira fase, de emergência, em que os professores portugueses leccionavam directamente nas escolas, a aposta passou a centrar-se na formação de professores e no ensino directo a funcionários públicos.

Actualmente, os 120 professores portugueses em Timor ensinam a língua a cerca de 6500 docentes timorenses, havendo no total 7200 docentes no sistema de ensino. Há cursos de três níveis distintos, consoante a capacidade dos formandos. E muito, como se vê, mas quem conhece a realidade timorense sabe que e simultaneamente pouco, face ao desafio existente. Com efeito, muitos dos professores que melhor dominam a língua portuguesa estão hoje à beira da reforma, e muitos dos que frequentam as aulas de português não são, ainda, capazes de utilizar essa língua corno instrumento de trabalho. A isto não é alheio o nível médio de formação dos docentes timorenses. Os muitos anos de descuido na formação de professores não permitem, hoje, soluções rápidas e fáceis. Pelo contrário, a aposta tem de ser dirigida para a qualidade da formação, e é por isso que a Cooperação Portuguesa irá investir fortemente na formação das novas gerações de professores.

A grande batalha joga-se no médio e no longo prazo, mas há também iniciativas de curto prazo que nos permitem corresponder aos apelos das autoridades timorenses. Assim, estão previstas diversas iniciativas que, nestes próximos meses, acentuarão a nossa solidariedade com Timor.

1. O reforço da língua portuguesa na administração pública, através da criação de células de tradução, interpretação e formação ao nível dos ministérios. Correspondendo aos pedidos feitos por vários ministros, a Cooperação Portuguesa apoiará o uso da língua portuguesa como instrumento de trabalho.

2. A criação de conteúdos em língua portuguesa para rádio e televisão. Esta iniciativa constitui a sequência lógica do recente investimento da Cooperação Portuguesa em antenas emissoras para que a televisão chegue à generalidade do território (Actualmente não vai para além de Díli).
3. O apoio à comunicação social escrita em língua portuguesa, incluindo-se aqui a formação de jornalistas.

4. A multiplicação dos cursos livres de língua portuguesa, captando públicos que até agora não tiveram acesso à escolaridade em português. É fundamental que o português seja, sempre, a língua de abertura e acolhimento, e nunca de exclusão.

5. O apoio à criação de bibliotecas distritais, descentralizando deste modo o acesso à leitura.
6. A instituição de uma Feira do Livro em Língua Portuguesa, que possa percorrer diversas cidades e vilas de Timor, aproximando assim os timorenses do convívio literário com os países da CPLP.

Entramos, agora, numa nova fase de consolidação da língua portuguesa em Timor-Leste, e estas iniciativas, todas elas previstas para 2008, fazem parte desta aposta renovada.

Ninguém está esquecido da emoção com que todos acompanhámos a extraordinária caminhada de Timor-Leste para a Independência. A solidariedade em língua portuguesa foi uma peça essencial desse processo. Hoje, a consolidação da escolaridade em língua portuguesa, em Timor, representa o mais importante investimento desse país no seu próprio futuro. A nós, compete-nos saber estar ao lado dos timorenses, apoiando-os como mais ninguém o poderá fazer. E não duvido que saberemos corresponder.

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Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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