quinta-feira, agosto 10, 2006

Timor-Leste: problemas presentes; estratégias futuras

Tradução da Margarida:


The Guardian 9 Agosto, 2006

Timor-Leste: problemas presentes; estratégias futuras
Andy Alcock*

Para os que têm apoiado a independência de Timor-Leste (TL) há 30 anos, Timorenses e outros, os eventos que lá ocorrem nos últimos meses são de partir o coração. Muitos líderes do mundo descrevem TL como um Estado falhado — assim o fazem particularmente líderes políticos da Austrália que têm trabalhado sem descanso para empurrar a remoção do antigo Primeiro-Ministro de TL Mari Alkatiri.

Muitas das análises dos media acerca dos eventos em TL têm-se centrado à volta da performance e da personalidade de Alkatiri. A meu ver isto é muito naïve e tem escondido tentativas para realçar os muitos outros factores que contribuíram para a crise.

Tem de ser admitido que os líderes de TL fizeram alguns erros. Provavelmente, o pior foi o despedimento de quase 600 membros das FDTL (as forças de defesa de TL) no seguimento de protestos sobre condições em Março 2006.Isto levou a divisões que podiam ter sido evitadas se tivesse havido algumas tentativas para responder às suas queixas com mais simpatia. Um FALANTIL (Forças Armadas Nacionais para a Libertação de Timor-Leste) que conheço pessoalmente queixou-se-me que Alkatiri não escutou as preocupações dos veteranos e não os tratou com respeito.

Muitos dos problemas dentro da PNTL (a força de polícia de TL) têm sido imputados ao antigo Ministro do Interior, Rogério Lobato, caído em desgraça, que tem sido acusado de ter treinado os seus membros para ser uma força opositora das FDTL.

Tem de ser dito que os políticos da Austrália contribuíram largamente para os problemas que TL enfrenta. Durante os 24 anos da ocupação militar Indonésia (TNI), a Austrália deu apoio militar e diplomático à Indonésia.

Em 1999, quando a ONU estava a planear o referendo para a independência de TL, foram os líderes Australianos que insistiram que não eram necessários capacetes azuis da ONU e que uma operação de policiamento providenciaria segurança suficiente. O resultado foi que TL ganhou a sua independência, mas viu a morte de mais 2000 dos seus cidadãos e a destruição de 80 por cento da sua infra-estrutura.

Pobreza

TL, a mais pobre nação no SE Ásia, tem o mais baixo PIB per capita GDP do mundo ($400 pa) com cerca de 40 por cento da sua população a viver abaixo da linha de pobreza de 55 USA cêntimos por dia.

Oitenta por cento da população tem menos de 18 anos de idade e o desemprego excede 50 por cento. Em adição, o British Medical Journal Lancet, que fez um estudo sobre as necessidades de saúde mental em TL identificou que números significativos de pessoas têm desordens de stress pós traumático e outros problemas psicológicos porque testemunharam a tortura, violação ou homicídio de familiares ou amigos.

A acrescentar às acções de membros amotinados da PNTL e das FDTL, pouca menção tem sido feita nos media principais a antigos grupos de milícias e a grupos milenários (ex. Colimau 2000) que têm contribuído para muita da violência oportunística.

Apesar dos criticismos dele, tem de se reconhecer que Alkatiri jogou um papel vital na liderança de TL. Foi um dos principais arquitectos do Conselho Nacional da Resistência Timorense (CNRT). A razão porque é detestado pelos líderes políticos Australianos é porque enfrentou as suas fanfarronadas nas negociações do petróleo e gás do Mar de Timor. Tem jogado um papel principal em manter a economia de TL fora das mãos do Banco Mundial e do FMI. Seria interessante ver se o PM interino José Ramos Horta terá o mesmo sucesso em relação a isto.

Alkatiri é responsável por trazer médicos Cubanos para TL para trabalharem nas áreas rurais e fundarem uma nova escola médica na universidade nacional. É sabido que tem preocupações com questões ambientais e das mulheres e é um opositor da privatização de electricidade de TL.

Se for provado que foi responsável pelo armamento de milícias não oficiais, obviamente que isso é uma matéria séria. Contudo, na maioria das democracias, ser-lhe-ia pedido que se afastasse — não que resignasse — até as alegações serem refutadas. Penso que a decisão de Xanana de o forçar a resignar foi errada e insensata. Antagonizará ainda mais os da linha dura na FRETILIN que têm sido seus críticos.

Com todos estes problemas, que passos é preciso dar para o desenvolvimento e a reconstrução de TL?

Segurança

É preciso tomar as seguintes medidas para apoiar TL a proteger a sua segurança:

Capacetes azuis da ONU precisam de permanecer em TL durante alguns anos

TL precisa certamente de mais assistência com o recrutamento e treino da sua força policial

Capacetes azuis e polícias internacionais precisam de continuar presentes na região da fronteira até a polícia de fronteira de TL e as FDTL terem capacidade para pararem efectivamente incursões da TNI, das suas milícias e dos seus contrabandistas

A ONU precisa de pressionar o Governo Indonésio para assegurar que todos os grupos de milícias treinados pelo TNI na fronteira de TL/Oeste Timor sejam desmantelados e que seja removidas para longe das fronteiras as presentes divisões da TNI

A ONU deve insistir que todas as nações membros cessem todas as formas de cooperação militar com o TNI até todos os criminosos de guerra nas suas fileiras terem sido trazidos à justiça

A ONU precisa de fundar um tribunal internacional para crimes de guerra para julgar os criminosos de guerra que estão nas fileiras do TNI e as suas milícias

Este tribunal precisa de ter poderes de extradição e as nações membros da ONU têm de compelidas a cooperar com o tribunal e a extraditar qualquer alegado criminoso da TNI que seja encontrado no interior das suas fronteiras

A economia

O Governo Australiano precisa de ser pressionado pela ONU e pela comunidade internacional para:

Assinar a Lei Internacional do Mar

Entregar todos os ganhos do petróleo/gás que tem tirado da metade de TL do Mar de Timor desde que começaram as perfurações

O Governo Indonésio deve ser obrigado a pagar compensações por toda a destruição que foi causada pelos seus militares em TL.

A ONU devia providenciar empréstimos sem taxas e dádivas para:

financiar programas humanitários urgentemente necessários

fundar indústrias e esquemas de criação de empregos

reconstruir a indústria de cultivo de arroz

Treino e administração

Será necessário que a ONU com o apoio de nações amigas permaneça mais tempo em TL para providenciar apoio administrativo e treino à nova nação.

A ONU presentemente está comprometida em ficar mais dois anos. O PM Ramos Horta acredita que é necessário um compromisso de 10 anos.

Respeito pela soberania de TL

Tem havido muito debate sobre os motivos da Austrália querer enviar os seus soldados antes de tal ter sido pedido pelos líderes políticos de TL. Tem de haver acordo internacional entre todas as nações que lidam com TL para respeitar a sua soberania tanto em terra como no mar e não procurar lucrar injustamente à custa desta nação neste inicial e tão precário estádio da sua reconstrução e desenvolvimento.

Acredito que se as estratégias acima (descritas) forem tomadas, TL será capaz de ultrapassar os seus muitos problemas e construir um futuro com mais sucesso para os seus corajosos e há muito sofredores cidadãos.

*Andy Alcock é o responsável de Informação da Associação de Amizade Austrália-Timor-Leste (South Australia Inc) Inc

9 comentários:

Anónimo disse...

Estou 100% com seu comentário
Alfredo
Brasil

Anónimo disse...

"Tem de ser admitido que os líderes de TL fizeram alguns erros. Provavelmente, o pior foi o despedimento de quase 600 membros das FDTL (as forças de defesa de TL) no seguimento de protestos sobre condições em Março 2006.Isto levou a divisões que podiam ter sido evitadas se tivesse havido algumas tentativas para responder às suas queixas com mais simpatia. Um FALANTIL (Forças Armadas Nacionais para a Libertação de Timor-Leste) que conheço pessoalmente queixou-se-me que Alkatiri não escutou as preocupações dos veteranos e não os tratou com respeito."

Ora bem assim e que se falam as verdades! Se nao fossem essas divisoes terem sido agravadas pela decisao do antigo governo de despedir 1/3 das Forcas Armadas e ainda por cima ter mobilizado ilegalmente as restantes F-FDTL (maioritariamente lorosae) para confrontarem, com armas em punho, os seus ex-colegas (de loromonu) em Tasitolo causando mortes talvez esta crise nunca tinha chegado ao ponto que chegou.

O uso da forca militar em questoes de seguranca interna e controlo de populacoes civis deve ser sempre a ULTIMA opcao e sempre em ESTRITA OBSERVANCIA DAS LEIS RELEVANTES que regulam essa possivel intervencao. O que aconteceu foi exactamente o contrario.
A PNTL nunca foi usada ao maximo da sua existente capacidade de intervencao, e o dispositivo militar foi mobilizado sem terem sido exaustas todas as outras opcoes e em violacao da Lei Organica das F-FDTL.

Acredito que a mobilicao de forcas militares para a malograda intervencao em Tasitolo foi o factor determinante para o agravamento descontrolado da crise que seguiu. Uma vez iniciado o caos muitos foram os que aproveitaram a situacao e por fim o governo nao conseguiu controlar a situacao e repor a normalidade devido ao desmoronamento da principal instituicao de ordem publica.

Anónimo disse...

"A PNTL nunca foi usada ao maximo da sua existente capacidade de intervencao, e o dispositivo militar foi mobilizado sem terem sido exaustas todas as outras opcoes"

Ao invés, à PNTL foi ordenada a imobilização. A ideia foi desde o princípio não a usar.

Porque o governo não confiava nela para o propósito pretendido, que ra reprimir a manifestação de Tasi-Tolu a qualquer preço.

Exactamente a mesma opção do governo chinês em Tienamen, ou já estamos esquecidos?

Só que na China, toda a estrutura governativa está na mesma linha e em Timor existem órgãos democraticamente eleitos para a função, que sentiu o pêso da responsabilidade de não deixar acontecer Tienamen II.

A FRETILIN cometeu um erro de avaliação, na correlação de forças. Ainda conseguiu impedir o PR de se deslocar a Tasi-Tolu, mas não foi o bastante. E o povo, mais uma vez, pagou a aventura da FRETILIN.
Mas do sangue derramado, sai pelo menos a certeza de que vai ser ouvido em eleições livres em 2007.
O que de outro modo não era seguro e muito menos que fossem livres e justas. Tal como não foram as locais de 2005.

Anónimo disse...

Anónimo das: 1:35:27 e das 9:55:26 PM: como diz o outro, o “demónio” está no “pormenor” e o “pormenor” neste caso está no facto de não ter sido o governo a despedir ninguém, rigorosamente ninguém, mas sim uns tantos elementos das F-FDTL a porem-se ao fresco, desertando dos quartéis e alguns até o fizeram levando com eles armas, munições e outro equipamento militar. Alguns, apanhados com a boca na botija, já estão a bom recato no Centro de Detenção da força conjunta lideradaas pelos australianos. Espero que para sossego dos Timorenses não tarde a detenção dos restantes.

Anónimo disse...

O que é estranho nestes cérebros de anénoma, é não se interrogarem. Propagam as coisas que lhes mandam, mas são incapazes de se interrogarem.

Nem se pede que façam grandes deambulações filosóficas. Podiam ficar com um esgotamento e não quero ser respoonsável por isso.

Coisas simples e singelas que até o mais lerdo humanóide é capaz de se interrogar.

Como por exemplo.

Num país em que reina o desemprego, especialmente naquela faixa etária, o que pode levar a que 600, quase 1/3 do exército abandone as fileiras?

Excesso de trabalho não foi, que Taur se queixava de não terem orçamento para exercícios.

Atraso nos salários também não, porque eram pagos a horas.

Que diabo terá levado 600 a quererem sair?

E a maior parte quase ao mesmo tempo?

Se saísse um agora, outro daqui a dias, e regressassem às suas famílias mortos de saudade.....

Agora 600 em 2000 homens? Quase de uma assentada?

E ninguém se questiona porquê?

Limitam-se a encolher os ombros como se numa instituição militar isto fosse pão nosso de cada dia?

Páre de mentir. Não misture o Reinado nisto. Não teve nada a ver.

Ele desertou depois dos acontecimentos de Tasi-Tolu e na sequência deles.

Essa teoria de misturar tudo para confundir as pessoas já cheira mal.

Explique primeiro, porque RL não quis a PNTL a proteger o palácio e depois Mari tornou a não os querer, agora em Tasi-Tolu, mandando para lá as FDTL.

Explique se for capaz.
E não venha com a patranha do Paulo Martins. Ele abandonou a cidade, justamente na sequência dos acontecimentos de Tasi-Tolu.

Vamos lá a respeitar a cronologia dos acontecimentos.

Explique se for capaz. Ou então cale-se em vez de inventar.

Se não sabe não invente.

Papaguear o que vem no Avante não chega. É preciso que seja verdade.

Eu também espero que não tarde a detenção dos restantes. Sabendo que 2 já estão em prisão domiciliária, e que um deles até tentou escapar e foi detido no aeroporto antes de embarcar.

Mas explique lá. Em ves de vomitar propaganda, explique os porquês.

Anónimo disse...

Anónimo das 12:43:24 AM:

Como disse antes o demónio está mesmo nos pormenores. Então agora diz que o “Paulo Martins abandonou a cidade, justamente na sequência dos acontecimentos de Tasi-Tolu”, que foram como sabe em 28 de Abril e esquece-se que ele tinha entretanto dito à fulana da ABC, a Anne Barker que ele em 19 de Maio tinha escrito ao PM? Pode confirmar neste link:

http://www.abc.net.au/worldtoday/content/2006/s1668457.htm

Anónimo disse...

Claro. E mantenho.

Na sequência não significa no dia seguinte.

Significa que se apercebeu que era alvo a abater pelos torcionários a soldo do RL.

E gostando de manter o pescoço em cima dos ombros, pôs-se a recato.

Mas olhe, os porquês ficaram como de costume.... para as calendas.

Ou vai citar outro artº da Constituição?

Anónimo disse...

Anónimo das 9:49:43 AM : mentiu consciente e deliberadamente mas é tão tótó que pensa que os outros não percebem que está a mentir. Mente exactamente como o Salsinha, Alfredo, Tara, Tilman, todos os que para levar a água ao seu moinho não se importaram de matar os seus irmãos timorenses e até os camaradas de armas e que levaram mais de 150,000 cidadãos Timorenses, a maioria crianças a sair das suas casas.

Anónimo disse...

Margarida pare com essa tactiga agora de tentar mudar o foco da conversa! Responda se puder ao anonimo das 12:43:24 AM. Ou senao fique calada como ele disse em vez de inventar.

Voce faz sempre a mesma coisa. Essa sua tactica ja foi usada tantas vezes para se escapar com o rabinho a seringa que ja nao pega.
Quando nao e conveniente responder as questoes, porque uma mentira seria obvia demais, a menina comeca logo por procurar maneiras de desviar as atencoes. Comigo ja nao pega. Vamos la a responder as questoes e se nao souber ou se nao for conveniente para a sua sardinha para de vomitar essas mentiras.

Estamos todos a espera de uma resposta razoavel sua as questoes levantadas pelo anonimo das 12:43:24 AM.

VAMOS LA!! NAO DESVIE A CONVERSA!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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