terça-feira, junho 27, 2006

Saída de Alkatiri ajudou a serenar os ânimos em Díli (Será?)

João Pedro Fonseca Em Díli

Desanuviou a tensão em Díli. O primeiro-ministro pediu a demissão, Xanana Gusmão aceitou-a e marcou uma reunião do Conselho de Estado para a manhã de hoje para se iniciar o processo de formação de um Governo provisório até às eleições. A Fretilin terá de apresentar um nome consensual, que, se for aceite por Xanana, escolherá a sua equipa ministerial e, dentro de um mês, apresentará um programa de governo.

Fora da esfera política, os milhares de manifestantes que estão em Díli têm ordens para cá permanecer. Uns dizem que a demissão de Alkatiri não basta, é preciso que seja "julgado pelos crimes que cometeu." Outros alegam que "Xanana terá de dissolver o Parlamento, porque um Governo da Fretilin mantém tudo na mesma."

Perante este jogo de forças, a Fretilin não hesitará em apresentar um nome que reúna consensos: assim não perderá a face e pode nos próximos meses reconquistar, até às eleições que deverão realizar-se em Fevereiro ou Março de 2007, a imagem muito positiva que o partido tinha na sociedade timorense. Por outro lado, mostrará que sempre esteve de boa--fé na tentativa de se encontrar uma solução política no quadro constitucional.

A dissolução da Assembleia impediria a realização de eleições, já que não há lei eleitoral e Xanana teria de governar por decreto ou, como disse ao DN Mário Carrascalão, "poderia recorrer ao regulamento eleitoral do tempo da UNTAET". Só que seria um retrocesso, mais um argumento para aqueles que acusam Timor de ser um Estado falhado.

De manhã bem cedo, os manifestantes começaram o carrossel habitual. Grupos de centenas de motorizadas por umas ruas, camiões apinhados por outras, jovens todos pintados de branco simbolizando os mortos dos incidentes de 28 de Abril e 25 de Maio, grupos a pé empunhando cartazes pedindo a "prisão para Alkatiri".

Neste ambiente, chega a informação de que vários ministros vão apresentar a sua demissão. São cinco. O Governo está a desintegrar-se. Ramos-Horta chama os jornalistas para informar que também se demite. Mas é a meio da conferência de imprensa que recebe um telefonema muito importante. Pede desculpa, sai por uns segundos, volta e diz: "Sou uma pessoa insignificante, sem consequências, há outra pessoa muito mais importante que precisa de ser ouvida, façam o favor de ir a casa do senhor primeiro-ministro." Na hora, confirma que é a demissão de Alkatiri. O primeiro-ministro explica, ponto por ponto, as razões da sua demissão, mas deixa um pormenor: "Estou pronto para resignar..." Mas demitiu-se ou está apenas pronto para? Jornalistas e pessoal internacional avaliam a declaração e não estão seguros. "Uma escrita refinada", diz, sorrindo, um assessor político da Fretilin.

Na Presidência da República ainda não confirmam a demissão. "Estamos a estudar o documento, mas diga-me, qual é a sua interpretação?" Bem, o problema ficou ultrapassado quando Ramos-Horta chamou os jornalistas de novo para explicar os futuros passos políticos e disse, claramente, que a carta de demissão já estava na posse de Xanana Gusmão, que emitiria uma nota a qualquer momento.

Na rua o ambiente é de histeria. Os jovens cantam, dançam, apitam, circulam em grande velocidade pelas ruas. Sempre sem incidentes. O ambiente está mais distendido. Muita gente sorri nas ruas. Os manifestantes, questionados sobre se vão voltar às suas terras, dizem que não: "A comissão organizadora ainda não deu ordens", afirma o senhor Antonino, de Same. Egídio Maia, de Ermera, confirma: "Vamos ficar mais uns dias, até que Alkatiri seja julgado pelos crimes que cometeu."

O major Tara, que encabeça a Frente Nacional Justiça e Paz, diz ao DN que "ninguém sairá de Díli enquanto o Presidente não dissolver o Parlamento".

Pelo meio, Ramos-Horta deslocou-se ao centro da manifestação, junto ao Palácio do Governo, e transmitiu as últimas notícias. Que Alkatiri já não era primeiro-ministro e que podiam continuar a protestar mas sem violência. Pede mesmo para terem respeito pela Fretilin, que é um grande partido: "Dêem à Fretilin uma oportunidade."

3 comentários:

Anónimo disse...

Tara e Xanana
Mas ainda há dias estavam juntos no mesmo palco a festejar "vitória" ?!
Mas então não estava tudo resolvido?!
O PM já se demitiu e a guerra está ganha.
Afinal o que é que agora não agrada ao comandante Xanana?!

Anónimo disse...

this has nothing to do with Mari Alkatiri. it's all about removing FRETILIN from power altogether. FRETILIN is the only political organisation able to gather massive grassroot support. As long as FRETILIN is around, no other political party or individual will get their hands on power or money flowing from the Timor Gap. They want FRETILIN eliminated or FRETILIN leadership replaced with one off their own. Ramos-Horta has indicated he wants the become the next leader of FRETILIN. In 2001 they wanted CNRT to become a political party with Xanana as the leader, but this came to nothing. Then they formed political parties which put Xanana as their main candidate for the president. Posters of Xanana and Mario Carrascalao were placed all over Dili. They tried to lie to people that Xanana supported or even a member of their party. Still, this didn't work. Now everything seems to be in motion towards the elimination of FRETILIN. Or they take the helms of FRETILIN. Good luck. The people will raise and this time it will be worse than 1975.

Anónimo disse...

e sim o PM resignou e apresentou o papel... de todos esses que "se" demitiram, ainda ñ vi nenhum papel apresentado... tá se mesmo a ver a jogada....

já agora
"Sou uma pessoa insignificante..." jrh said..
nisso tens razão pk kndo já ñ valeres pévia e já ñ poderás dar contributo aos teus mestres, tu meu caro marioneta serás deitado ao lixo como o insignificante que és!!!

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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