segunda-feira, agosto 07, 2006

Observação e cronologia da crise de Timor-Leste em 2006 (III) - trad.

Tradução da Margarida:

O protesto dos soldados

Fontes do governo dizem agora que oficiais das forças armadas foram abordados no ano passado para retirarem o apoio ao governo, mas que recusaram.

O foco para a dinâmica politica que finalmente explodiu no final de Maio foi a queixa de soldados do 'oeste' que eram injustamente tratados. Isto começou com uma petição anónima para o comandante das forças armadas, o Brigadeiro General Taur Matan Ruak à volta de 11 de Janeiro. Ele imediatamente a referiu ao Presidente Gusmão que por escrito lhe ordenou que resolvesse o assunto rapidamente.

Numa inspecção mais próxima, a queixa de tratamento injusto não tinha base, e foi usada como um pretexto para uma campanha de desestabilização política. 'Leste' e 'Oeste' em Timor-Leste grosseiramente corresponde a rivalidades entre Estados Australianos, ou a más anedotas à custa dos Tasmanianos. Não tem base étnica. Há 16 grupos étnicos em Timor-Leste, não dois.

As forças armadas têm 1,500 membros. Há dois batalhões regulares e dois batalhões de reserva. Os soldados do 1º Batalhão foram mudados para mais perto da área das suas casas quando foram relocalizados de Lospalos, do longínquo leste, para Baucau. Eles mudaram para quartéis renovados. Muitos destes soldados foram seleccionados para programas de treino especial na Austrália, nos USA, China e Malásia.

Longe de lhes ser dada pouca consideração, foi-lhes dado opções atraentes. Não eram veteranos da resistência, mas tropas mais jovens a quem foi dado treino especial.

Ao soldado que emergiu como seu líder, o Tenente Salsinha, foi recusada a promoção a capitão porque ele foi encontrado a fazer contrabando de madeira de sândalo para a Indonésia e a trazer cerveja no regresso, em veículos militares. Ele não tem capacidades politicas. O sistema da justiça militar não foi criado, e requer uma nova lei, e por isso o Tenente Salsinha não foi rapidamente preso e julgado pelo alegado contrabando.

O comando das forças armadas abriu imediatamente um inquérito à petição, mas o Tenente Salsinha assegurou que não mais do que uns poucos soldados cooperassem. Depois de um protesto pelos soldados em Dili em 8 de Fevereiro, quando o Presidente compreendeu que os soldados não cooperariam, ele sustentou-os e trouxe imputs alargados à investigação. Mesmo assim continuou a não haver cooperação. O Tenente Salsinha exigia que o comandante do Batalhão fosse demitido. Os 594 soldados foram demitidos pelo comandante das forças armadas, General Matan Ruak, em meados de Março, mas isso foi usado para escalar o protesto e para exigir que o comandante das forças armadas fosse suspenso pelo Presidente.

O padrão de reclamações ao Presidente para agir unilateralmente contra o governo emergiu. É justo dizer-se que o Tenente Salsinha geriu a disputa de modo a garantir que não pudesse haver acordo para a resolver.

Desde o princípio o governo tinha reparado em envolvimento politica por detrás da disputa dos soldados, mas sentiu que podia gerir isso como tinha feito em 2002, 2004 e 2005. Havia unanimidade alargada entre o Presidente, o Primeiro-Ministro, o Ministro dos Estrangeiros Horta e o comando das forças armadas e a maioria dos partidos políticos que os soldados não deviam ter desertado ou estado em greve. Este entendimento só se rompeu em 23 de Março quando o Presidente adoptou uma posição equivoca sobre o despedimento dos soldados. Isto encorajou a escalada que se seguiu dos protestos e das reclamações, que mudou para a suspensão do General Matan Ruak e a demissão do governo.

Mesmo assim, as principais instituições estatais trabalharam próximas para gerirem a manifestação de 24 a 27 de Abril e o que aconteceu depois do choque violento em 28 de Abril, e até mesmo ao colapso da polícia em 25 de Maio. Em 28 de Abril, um relativamente pequeno grupo de cerca de 120 manifestantes foi contido por apenas cerca de 20 polícias e partiram fúria queimando carros, partindo o Palácio do Governo e depois numa fúria de incêndio de casas e de assaltos físicos no lado oeste de Dili á volta de Tasi Tolu. Somente uma pequena parte dos soldados tomaram parte nisto. O governo ordenou às forças armadas para conterem a violência em 28 de Abril quando a polícia não aguentou. Os manifestantes armados com granadas e espingardas atacaram a polícia que respondeu ao fogo. Quatro pessoas foram confirmadas mortas e houve cerca de 70 feridos em todos os lados.

Havia um sentido profundo de crise quando o Major Reinado liderou uma pequena força de cerca de 17 polícias militares para fora de Dili com as suas armas, por volta de 3 de Maio. Os soldados peticionários não tinham armas, mas o Major Reinado estava bem armado, e a jogar o mesmo jogo de rejeitar o governo mas dizendo que era leal para o Presidente. O Major Reinado tinha beneficiado de treino no Staff College na Austrália no final de 2005,e não se podia queixar acerca de promoções. Justificou o que fez com a acusação de que o Primeiro-Ministro ordenara às tropas para disparar contra civis 28 de Abril. Mais tarde mudou para queixas políticas dizendo que a FRETILIN e Alkatiri eram comunistas e tinham de ser destruídos.

Em meados de Junho dizia que a FRETILIN era para todos os Timorenses e que devia ser abraçada, mas depois “metida num museu” e substituída por novos partidos. Dizendo que estava a ser comandado pelo Presidente, entregou as 12 armas do seu grupo às forças Australianas em 16 de Junho.

Rapidamente o foco mudou para o Congresso da FRETILIN entre 17-19 de Maio, que re-elegeu Mari Alkatiri e Lu-Olo como Secretário-Geral e Presidente. Apesar de haver diferenças reais no interior da FRETILIN sobre o desenvolvimento económico, e ambições pessoais, houve um apoio esmagador à liderança de Alkatiri – Lu-Olo. Houve ameaças dos soldados amotinados nas montanhas contra o Congresso, mas não se materializaram.

A base para a confiança dos líderes era a lealdade dos comandos das forças armadas e da polícia. Quando o comando da polícia mudou para o lado dos amotinados em 24-25 de Maio, o governo, a presidência e o parlamento convidaram forças armadas e policiais da Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Portugal para restaurar a ordem. O tiroteio contra 39 polícias desarmados com 12 mortos, perto do complexo da ONU em Dili em 25 de Maio foi o pior incidente, e está agora a ser investigado pela polícia internacional, particularmente a Polícia Federal Australiana. Dois desses que abriram fogo eram soldados das F-FDTL, mas dois civis numa motorizada foram também vistos a abrir fogo contra a polícia e os soldados antes de escaparem.

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9 comentários:

Anónimo disse...

"O sistema da justiça militar não foi criado, e requer uma nova lei, e por isso o Tenente Salsinha não foi rapidamente preso e julgado pelo alegado contrabando."

Nao foi preso porque o chefe da rede era o entao Ministro do Interior, Rogerio Lobato, que ja tinha ate muita experiencia com trafico de diamantes em Angola, crime que o viu cumprir 2 anos de prisao.
Seria giro ver o salsinha a abrir a boca e implicar esses fulanos em tribunal.

Ja agora uma pergunta. Se o exercito era assim tao disciplinado e capaz de despedir quase 600 soldados de uma so vez porque e que o Salsinha nao foi despedido imediatamente das F-FDTL para poder responder num tribunal civil? Sera que nao convinha a muita gente que isso acontecesse?

Anónimo disse...

Isto nao e nenhuma analise seria. E uma tentativa vergonhasa da Fretilin para escrever a historia a sua maneira ilibando o governo de toda e qualquer culpa. Apesar de ser sua a responsabilidade pela governacao, a culpa e sempre e totalmente de terceiros? Assim nem vale a pena estarem no governo. Vergonhoso.

Exemplo:

"Dois desses que abriram fogo eram soldados das F-FDTL, mas dois civis numa motorizada foram também vistos a abrir fogo contra a polícia e os soldados antes de escaparem."

Se estavam dois civis armados com armas militares na proximidade de outros efectivos das F-FDTL QUEM OS ARMOU? Sabemos que as -F-FDTL tambem distribuiram armas a civis. Querem agora lavar as maos das responsabilidades destes assassinatos?
Vergonhoso!!!

Estas tentativas desajeitadas da Fretilin em continuar a mentir ao publico so demonstra que nao servem para governar!

Anónimo disse...

anonimo 11:16:37 AM

NO coment for you.

Anónimo disse...

Para leitores menos atentos:

O documento foi recebido por um leitor identificado como referido em:
http://timor-online.blogspot.com/2006/08/overview-and-chronology-of-timor-leste.html

Overview and chronology of Timor Leste crisis in 2006
(Recebido de um leitor identificado)

E é engraçado como alguns ficam nervosos com a descrição do que aconteceu. Lá vem a respectiva lista de insultos, não é? Se tivessem uma catana ou uma pedra à mão já se sabe...

Anónimo disse...

A descricao do que aconteceu? Atraves das lentes de quem? De "um leitor identificado"? Hahahaha.... E esse o seu nome? "de um leitor identificado"? Nao nos facam rir!

Anónimo disse...

Leitor identificado com quem? Com a FRETILIN?
Como podemos aquilatar a credibilidade da fonte?

Misturar ficção com partes seleccionadas da realidade para lhe dar um ar de credibilidade é manobra conhecida de uma esquerda passadista e moribunda.

Por exemplo: "Dois desses que abriram fogo eram soldados das F-FDTL, mas dois civis numa motorizada foram também vistos a abrir fogo contra a polícia e os soldados antes de escaparem."

Foram vistos por quem? Alguém testemunha isso?

O desespero tomou conta dos Frentistas. É mais um "muro de Berlim" que rui aos olhos de todos.

Podem começar a escrever as "memórias de um assessor desempregado" com a queda da FRENTE.

Anónimo disse...

As verdades sempre ferem aqueles que vivem no mundo das mentiras e olhem para os feridos todos a aparecerem com a publicacao da Cronologia acima.
Fote Make Riba

Anónimo disse...

"Em 28 de Abril, um relativamente pequeno grupo de cerca de 120 manifestantes foi contido por apenas cerca de 20 polícias e partiram fúria queimando carros, partindo o Palácio do Governo e depois numa fúria de incêndio de casas e de assaltos físicos no lado oeste de Dili á volta de Tasi Tolu. Somente uma pequena parte dos soldados tomaram parte nisto. O governo ordenou às forças armadas para conterem a violência em 28 de Abril quando a polícia não aguentou. Os manifestantes armados com granadas e espingardas atacaram a polícia que respondeu ao fogo. Quatro pessoas foram confirmadas mortas e houve cerca de 70 feridos em todos os lados."

So 120 manifestantes participaram nas demonstracoes e foi necessario mobilizar as Forcas Armadas para os conter quando se encontravam cerca de 500 policias em Dili?
E como e que tal situacao justifica o uso das Forcas Armadas que so podem ser mobilizadas em situacoes de grave e GENERALIZADA perturbacao da ordem publica e, contrariamente ao que foi feito, em concertacao com o Presidente da Republica? E so para cooperar com a PNTL e nao para as substituir conforme manda a lei.

"Quando a policia nao aguentou"? Em 28 de Abril a policia nem sequer foi mandada a Tasitolo. Dili ainda tinha 500 policias e quem foi mandado para Tasitolo foram as tropas que selaram o local e ate impediram o Presidente, o seu comandante supremo, de aceder o local para averiguar o que la tinha acontecido.

Quanto aos manifestantes possuirem armas e granadas so tenho uma pergunta. Como e que sendo eles ex-soldados com treino militar e na posse de armas e granadas, como dizem, nao atingiram nenhum soldado das F-FDTL e os mortos foram so do lado dos manifestantes? Os soldados das F-FDTL devem ser todos uns RAMBOS.
Ainda nao esquecemos que quando os peticionarios abandonaram o QG deixaram la as suas armas.

Enfim, este e so um exemplo que demonstra o facciosismo do autor deste artigo.

Anónimo disse...

O título do artigo devia ser: " A crise, como a FRETILIN y sus muchachos gostariam que fosse vista por todos."

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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