quinta-feira, julho 20, 2006

Advogados de Mari Alkatiri manifestam "prudente optimismo"

Díli, 20 Jul (Lusa) - Os advogados do ex-primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri, a quem foi aplicada a medida de coacção de Termo de Identidade e Residência (TIR), manifestaram hoje "prudente optimismo" no desfecho do processo-crime em que este foi constituído arguido.

Mari Alkatiri foi acusado de ter ordenado ao seu ex-ministro do Interior, Rogério Lobato, a distribuição de armas para a eliminação dos seus adversários políticos, dentro e fora da FRETILIN, partido maioritário em Timor-Leste, de que é secretário-geral.

O ex-primeiro-ministro foi hoje ouvido durante cerca de duas horas na Procuradoria-Geral da República pelo Procurador-geral adjunto Luís Mota Carmo, e no final, em declarações à Lusa e à RTP, os seus advogados, José António Barreiros e Arnaldo Matos, sublinharam a "simplicidade e a dignidade" registada na audição.

"Foi um acto que decorreu com bastante simplicidade. Estamos com prudente optimismo e confiamos que a justiça vai continuar", salientou José António Barreiros.

"Timor-Leste demonstrou que se pauta pelo critério da legalidade e uma jovem nação só se credibiliza se seguir o Estado de Direito e da legalidade", frisou.

"A audição foi um acto processual que decorreu com grande dignidade. (Mari Alkatiri foi) tratado com dignidade pelo Ministério Público. Respondeu a tudo o que lhe foi perguntado, rejeitando os factos que lhe são imputados. Respondeu a tudo e expressou o seu ponto de vista, segundo o qual não tem nenhuma responsabilidade nem culpabilidade nesses actos", acrescentou Arnaldo Matos.

O processo-crime em que Mari Alkatiri e Rogério Lobato foram constituídos arguidos compreende a prática de quatro crimes:

associação criminosa, posse ilegal de armas, conspiração e tentativa de revolução, que prevêem pena de prisão até 15 anos.

Rogério Lobato, que já prestou declarações à juíza de investigação, encontra-se sob a medida de coacção de obrigatoriedade de permanecer em casa, por razoes da sua própria segurança.

A medida de coação executada ao ex-primeiro-ministro timorense é a que é legalmente obrigatória, segundo o Código de Processo Penal, aplicada a quem seja constituído arguido em qualquer processo-crime.

Com a aplicação do TIR, Mari Alkatiri não fica interditado de sair de casa ou mesmo do país, mas terá de comunicar previamente que o tenciona fazer, indicando a forma de ser contactado, em caso de necessidade de notificação judicial.

Depois de ser ouvido, Mari Alkatiri regressou à sua residência, sendo confrontado, à saída das instalações do Ministério Público com uma concentração hostil, em que cerca de 50 pessoas, da auto- denominada Liga dos Estudantes Pró-Reforma, que exigiram a sua prisão e posterior julgamento.

Apesar das fortes medidas de segurança aplicadas pelos militares australianos, que interpuseram vários blindados no controlo dos acessos, os manifestantes puderam concentrar-se e gritar palavras de ordem, sem que se tivessem registado incidentes.

A distribuição de armas a civis foi um dos episódios que marcou a crise político-militar em Timor-Leste, desencadeada em finais de Abril com a deserção de cerca de 40 por cento das forças armadas.

Os actos de violência alargaram-se para áreas fora de Díli, tendo resultado na desintegração da Polícia Nacional e em divisões no seio das forças armadas, e ainda na actividade de grupos de civis armados, de que resultou a morte de 30 pessoas e mais de 150.000 deslocados, distribuídos por vários campos de acolhimento, a maior parte dos quais na capital.

Em consequência desta crise, que assumiu contornos institucionais, Mari Alkatiri demitiu-se do cargo em 26 de Junho, sucumbindo a um "braço de ferro" com o Presidente Xanana Gusmão, tendo sido substituído na chefia do governo por José Ramos Horta.

EL.

7 comentários:

Anónimo disse...

E os militares australianos procuraram saber se a manifestação estava autorizada de acordo com a lei?

Ah, pois, desculpem...

Esqueci-me que em Timor a legalidade não interessa para nada.

Já cá não está quem falou.

Anónimo disse...

Com tanta segurança e blindados por onde passaram as 50 pessoas?

Anónimo disse...

Também acho que ja estão a exagerar com os comentarios em relação a Timor.
Com todos os seus problemas e constrangimentos exteriores penso que estão a fazer um esforço louvavel para manter o pais de pé. Falo com conhecimento de causa, estou agora a trabalhar num pais de africa que, com mais de 30 de independencia ainda nao enfrentou problemas gravissimos como a reforma das forças armadas, depois da luta pela independencia. Aqui os militares continuam a meter o nariz na politica. Timor fe-lo na altura certa. Vamos rezar para que sejam bem sucedidos. Mas ja parte com a vantagem de te-lo feito cedo!
JA

Anónimo disse...

Graças a Taur Matan Ruak que expulsou os desertores!
A história irá reconhecer a importância deste homem na manutenção da soberania timorense.

Anónimo disse...

"Graças a Taur Matan Ruak que expulsou os desertores!" O que ha de ser das F-FDTL depois desta crise toda?
Um exercito exclusivamente com efectivos de "lorosae" ou um exercito para sempre dividido por desconfiancas entre "lorosae-loromonu"?

As consequencias desta polarizacao que se foi agravando ao longo dos ultimos anos sao gravissimas e potencialmente desastrosas para a futura estabilidade de Timor-Leste.

Anónimo disse...

Loro Sae, Loro Mono, a nova Rosa dos Ventos inventada pelos golpistas. Tenham vergonha!

Tata Mai Au

Anónimo disse...

Anónimo das 12:52:43 AM: sabe que não é sério dizer que todos os do oeste foram desertores e que nas F-FDTL só se mantém gente do leste. Sabe que nas F-FDTL há gente de todo o país. Está com a sua a dizer que quem prevaricou não deve ser punido? Era bom para estragar o resto não era? Quem saiu, saiu voluntáriamente, pelo seu pé, ninguém foi empurrado. O importante é acabarem com as tentativas para minar a autoridade castrense. O que ela decidiu está decidido e se não concordem queixem-se à justiça. Certamente que o comando das F-FDTL obedecerá ao que a justiça decidir, tem alguma dúvida a esse respeito?

Traduções

Todas as traduções de inglês para português (e também de francês para português) são feitas pela Margarida, que conhecemos recentemente, mas que desde sempre nos ajuda.

Obrigado pela solidariedade, Margarida!

Mensagem inicial - 16 de Maio de 2006

"Apesar de frágil, Timor-Leste é uma jovem democracia em que acreditamos. É o país que escolhemos para viver e trabalhar. Desde dia 28 de Abril muito se tem dito sobre a situação em Timor-Leste. Boatos, rumores, alertas, declarações de países estrangeiros, inocentes ou não, têm servido para transmitir um clima de conflito e insegurança que não corresponde ao que vivemos. Vamos tentar transmitir o que se passa aqui. Não o que ouvimos dizer... "
 

Malai Azul. Lives in East Timor/Dili, speaks Portuguese and English.
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